OS RISCOS DA LIBERDADE
Geraldo Barboza de Carvalho
Muitos preferem viver escravos com segurança a viver livres correndo risco. O escravo vive sob a proteção de quem o escraviza ou de quem ele escolheu para escravizá-lo. Os livres no risco são donos de suas vidas e impulsionados pelo destemor e autoconfiança. Osque fizeram a primeira opção aparentemente vivem sem problemas, pois contam com o apoio de uma pseudo-segurança. Os que optaram pelo risco da liberdade vivem cercados de dificuldades, problemas, aparentam infelicidade. Mas, apesar dos riscos reais, são leais no trato e defensores da liberdade, têm paz no coração e são felizes até em meio às piores tribulações. Os escravos da segurança são azedos, legalistas, julgadoras das pessoas livres que consideram temerários e intempestivos. Por medo, tornam-se covardes e traem os livres de verdade. A segurança dos medrosos está nos homens; a segurança dos livres está na auto-confiança de quem se sabe aliado de Deus, o Ser mais livre e libertador. O medo é o maior inimigo da liberdade e da fé. "Por que tendes medo, homens de pouca fé? Crede em Deus (Pai e Mãe), crede em mim". Pessoas com medo não são livres. Vencer o medo é o primeiro passo para conquistar a liberdade. A aparente segurança do medroso é paralisia comportamental. A liberdade impele à luta. Quem é livre assume o risco da liberdade e se
torna libertador. Os escravos são geradores de morte, porque não ousam apostar na vida e seus riscos. Os escravos vivem ansiosos pelo temor de perderem sua falsa segurança. Mas os livres esperam e confiam em Deus. Por isso vivem sem ansiedade e temor, sem desejos e manipulações pra que as coisas aconteçam como querem, mas remetem tudo à soberana vontade do Senhor. Sua segurança está nas mãos do Senhor da vida; daquele que não se prevaleceu do fato de ser Deus para ficar encastelado na segurança do céu, mas preferiu se arriscar tornando-se um de nós na terra pela Encarnação. "Por isso não se envergonha de nos chamar seus irmãos". Ele veio nos ensinar a verdadeira liberdade dos filhos de Deus; Ele aprendeu a ser Filho curtindo grandes sofrimentos por amor à missão que o Pai lhe confiou de conquistar muitos filhos pela entrega do Filho uma vez por todas. Jesus Cristo é o nosso verdadeiro libertador, o novo Moisés da nova e definitiva aliança. Ante as reais ameaças do faraó e o medo que infundiram no povo, em Nome de Javé Moisés disse ao povo: "Javé combaterá por vós. Quanto a vós, nada tereis de fazer. Confiem no Senhor e vamos caminhar". Perdendo o referencial de fé em Javé que o tirou da escravidão, da falsa segurança do Egito, da opressão com mão forte, o povo entrou em pânico ante um inimigo mais forte que ele. O papel de Moisés é dizer ao povo sem fé que Javé não o abandonará após a libertação do cativeiro, mas continua com ele e os egípcios não terão a palavra final sobre o destino do povo, mas Javé: "Javé combaterá convosco: nada façais que atrapalhe a luta de Javé". Se o inimigo perceber que o povo está com medo verá que não tem alguém a seu favor, que Javé o abandonou, e poderá ser presa fácil do inimigo. Ora o povo, toda pessoa que fraqueja na fé, tende a entrar em pânico e se comporta como se Javé não mais estivesse com ele. "A mão de Javé não é mais a mesma. É a mão de Javé que não é mais a mesma ou é tua fé que é pequena"? Conquistar a fé em Deus e auto-estima é o primeiro passo para viver pela fé, sem medo, com liberdade. Isto evita que fiquemos preocupados com tomar providências na hora do pânico e perder o referencial com o Senhor que nos ama e protege as 24 horas do dia. Depende de nós fazer nossa parte: confiar no Senhor e agir como se tudo dependesse de nós. Mas os resultados nem sempre dependem de nós, mas de Deus. Por isto, nada de desespero se o resultado contraria nossa expectativa, mas abandonar-se em suas mãos, esperar com paciência o tempo certo dele agir. Deus trabalha dia e noite cuidando das criaturas. Firmes na fé, tenhamos paz e deixemos o mundo girar.
A fé nos faz livres para agir, sem esperar que Deus faça o que nos compete fazer. Ele Conosco, não em nosso lugar. A confiança dos libertos pela fé vem da certeza que Jesus está com ele. Como sabe disto? Arrimado na Palavra: "Não tenhais medo. Eu estou convosco todos os dias até o fim". Não precisa de mais prova para crer, basta a Palavra fidedigna de Jesus. É pegar ou largar, é assumir a liberdade com riscos, ou fechar-se na Falsa segurança da escravidão. "No mundo tereis tribulações. Não fosse assim, eu vos teria dito. O discípulo não é maior que o mestre. Basta-lhe ser igual. Se me perseguiram, vos perseguirão também. Se me receberam e ouviram, vos receberão e ouvirão também". Quem crê na Palavra de Jesus e age com liberdade sabe que as coisas acontecerão assim como ele diz. Por isto, vão à luta sem medo, certos da vitória.
"Coragem, eu venci o mundo e vós também o vencereis. Vossa vitória sobre o mundo é a vossa fé. Aquele que crê em mim faz o que eu faço, faz até mais, porque eu vou para o Pai", que me enviou ao mundo como eu vos envio hoje.
Ser livre é ser enviado por alguma causa, para anunciar, viver e defender valores éticos, com tosos os riscos. O enviado não o é por conta, não se auto-envia, mas é enviado por outro. É enviado por Jesus Cristo pra dizer o que ouviu e viu dele, ser enviado para ser testemunha. Jesus é a Testemunha fiel do Pai, porque nos diz só o que ouviu e viu o Pai dizer. Ele não veio ao mundo porque quis, mas enviado pelo Pai. "Quando chegou a plenitude do tempo enviou Deus seu Filho numa carne semelhante à do pecado, nascido de uma mulher. Sacrifícios e holocaustos não foram do teu agrado. Então eu disse: Eis que venho, ó Pai, para fazer tua vontade. Sem se prevalecer de sua condição divina, assumiu a condição humana, na qual se humilhou até a morte de cruz" por obediência ao Pai e por amor por nós. Igualmente o missionário é enviado por Jesus, com o mesmo poder dele, para continuar sua missão no mundo. Os discípulos dos fariseus escolhiam um mestre para si, que os acompanhava na formação. É o inverso com os discípulos de Jesus: "Não fostes vós que me escolhestes, eu vos escolhi e vos constituí para que vades e deis muito fruto". O poder do enviado para falar e fazer boas obras é o Espírito Santo. "Como o Pai me enviou, eu vos envio também, com poder de arrancar e destruir, replantar e reconstruir. Recebei o Espírito Santo. Tudo que ligardes na terra, será ligado no céu. Tudo que desligardes na terra, será desligado no céu". Paulo tinha consciência clara disto: "Paulo, apóstolo de Jesus Cristo pela graça de Deus, escolhido para ser embaixador de Jesus Cristo em Nome da Trindade, encarregado do ministério da reconciliação. Nossa capacidade vem de Deus, que realiza o querer e o executar em nós, segundo seu beneplácito. É Deus mesmo quem vos exorta através de nós". Jesus chama pessoa livremente e lhe atribui missão de colaborador na construção do Reino de Deus na terra. A missão de alguém pode ser a de Maria: contemplar, interceder. Missão pontifical como a de Jesus, nosso Sumo Sacerdote e Intercessor junto ao Pai. Seu trabalho é este: interceder pelos pecadores. O trabalho visível na Igreja e no mundo é feito pelos enviados dos novos tempos, inspirados e impulsionados por Deus Mãe comunicada a eles diretamente por Jesus, como Moisés comunicou o Espírito de Javé aos 72 anciãos. O Espírito dos enviados é o mesmo de Quem os envia, e cria neles as mesmas condições para anunciarem as mesmas coisas que Jesus anunciou. "Se me ouviram, vos ouvirão também. Se receberam minha palavra, também receberão a vossa. Se me rejeitaram, vos rejeitarão também. Mas farão tudo isto por minha causa. Se não vos receberem num lugar, fugi para outro" e ficai em paz. O que se exige do enviado é que seja fiel a Quem o enviou. Não importa o julgamento das pessoas sobre seu trabalho. É Jesus Cristo quem o julgará. É normal que quem anuncia a boa nova viva em permanente conflito com o mundo, correndo todos os riscos vindos das pessoas de má fé. Jesus passou a vida brigando com os fariseus e doutores da Lei. Mas ficou fiel ao mandato que o Pai lhe confiou, pelo qual deu a vida. Como Jesus, o enviado prega a paz, mas vive em conflito provocado pela Palavra e o testemunho de vida. Este provoca a ira dos ímpios, que se comprazem em desautorizar o anúncio do enviado, maquinar sua queda, desmoralizar e tirar sua calma e paciência. A perseguição e o sofrimento são a regra sem exceção na vida dos justos. "No mundo tereis tribulações. Se me perseguiram, vos perseguirão também. Se não fosse assim eu vos teria dito. Mas farão tudo isto por causa do meu Nome. Coragem! Eu venci o mundo", vós também já o vencestes por vossa fé em mim. "A vossa fé é vossa vitória sobre o mundo". Não esqueçais que vos envio como cordeiros ao meio de lobos. Mas não estais sós nessa guerra: "Estarei convosco até o fim. No abatimento Jesus se lembra de nós e nos livra dos inimigos, porque sua misericórdia é eterna". Por isso não precisamos exasperar-nos ante os ataques do mundo, mas guardar a chama da esperança acesa, mesmo contra todas as probabilidades. Jesus é maior que tudo. Se não pudemos falar, recolhamo-nos em silêncio junto dele. "Meu servo não gritará, não elevará a voz, ninguém ouvirá sua voz nas praças públicas. Ele não apagará a mecha que ainda fumega", não destruirá o menor fio de esperança. Mesmo sendo humilhados, e até se fracassarmos, o Senhor levará adiante Sua causa. Não podemos desanimar, mas esperar a hora de Deus revelar seu poder. Ele sabe a hora certa das coisas aconteceram e elas acontecerão. É preciso paciência de esperar e saber sofrer as demoras de Deus, que tarda, mas não falta. "A esperança não decepciona, pois o Espírito Santo foi derramado em nossos corações, como penhor da liberdade dos filhos de Deus".