Os "rios voadores" da Amazônia e a influência sobre as chuvas em outras regiões do país

Anderson Azevedo Mesquita*

Elisandra Moreira de Lira**

Segundo José A. Marengo, pesquisador do CPTEC – INPE, os "rios voadores", também conhecidos cientificamente por "jatos de vapor de água de baixos níveis", são caracterizados como correntes de ar que transportam umidade proveniente da evaporação e da evapotranspiração dos corpos líquidos e vegetais, sobretudo, da Amazônia, que se deslocam para as regiões centro-oeste, sudeste e sul do país. Os rios voadores possuem capacidade de transportar volumes de umidade superiores a vazão de muitos rios encontrados na região sudeste e centro-oeste do país, como o Tietê em São Paulo por exemplo.

Este fenômeno está intimamente relacionado a capacidade que a floresta amazônica tem em fornecer umidade, esta especificidade ocorre devido a mesma localizar-se na região equatorial do globo terrestre, recebendo portanto intensa radiação solar durante todo ano, além é claro da disponibilidade de corpos líquidos - bacias hidrográficas- encontrados nesta região. Estes fatores são determinantes para a formação dos jatos de vapor d'água, uma vez que a energia recebida pela radiação solar de formaintensa fomenta o processo de mudança física da água. A grande quantidade de superfícies líquidas forma a bacia hidrográfica Amazônica, que são aquecidas formando o processo de evaporação, mudança da água do estado líquido para o gasoso, logo, este processo de mudança física, desencadeia outro processo conhecido como expansão adiabática, aqui compreendido como processo de elevação da umidade proveniente da evaporação e da evapotranspiração para camadas superiores da troposfera onde ocorrem os principais fenômenos atmosféricos(AYOADE, 1998).

Entretanto, não somente os corpos líquidos são determinantes para a formação dos rios voadores, mais também a massa florestal grandiosa e exuberante da floresta amazônica. O processo de evapotranspiração é similar ao processo de evaporação das superfícies líquidas, entretanto, a evapotranspiração ocorre pela capacidade dos corpos vivos (plantas, animais e o próprio homem) em "perder água" de sua composição biológica e fisiológica.

A imensa floresta amazônica é capaz de gerar diariamente níveis de vapor d'água oriundos do processo deevapotranspiração, em quantidades altamente significativas, alimentando a atmosfera com umidade e formando os "rios voadores", que conforme os movimentos da circulação geral da atmosfera são deslocados para a região centro-oeste, sudeste e sul do país, logo, os regimes de chuvas dessas regiões estão intimamente relacionados a este fenômeno (HUCHE apud MARENGO, 2010).

Por sua vez, o planeta demonstra mais uma vez como se configura sua estrutura biótica, pautada sempre no equilíbrio e na inter-relação de fenômenos diversos que em conjunto mantém a estrutura geral do planeta. A floresta amazônica neste contexto surge como elemento fundamental para os regimes de chuvas nas regiões centro-oeste, sudeste e sul do país, através dos rios voadores ou "jatos de vapor de água de baixos níveis".

Preservar a floresta amazônica significa manter esta estrutura em equilíbrio, caso contrário, a realidade poderá mudar para quadros catastróficos, tanto para o bioma amazônico, bem como para os demais biomas que são influenciados diretamente pelos regimes climáticos oriundos dos regimes de chuvas dos "rios voadores". Assim, não somente a Amazônia poderá ser extinta, mas, também outros ecossistemas integrados. Nãose sabe ao certo se a influência pode ser ainda mais abrangente, vários estudos estão direcionados a esta linha de pesquisa, inclusive o projeto dos "rios voadores amazônicos" desenvolvidos pelos ambientalistas Gérard e Margi Moos desde 2007, que tem como objetivo caracterizar a origem do vapor d'água, das chuvas e dos rios nas regiões banhadas pelos "rios voadores", e assim, identificar a interação deste fenômeno em diversas escalas e contextos.

Por fim, todas as discussões referentes a este contexto devem levar em consideração a interação destes fenômenos, e as catástrofes que poderiam ocorrer frente à destruição deste bioma, tão importante para o Brasil e também para o mundo. Logo, políticas de desenvolvimento sustentável devem ser buscadas, levando em consideração a conservação deste sistema, entretanto, atendendo as necessidades humanas, ou seja, um equilíbrio mútuo e integrado de tais elementos.

* Graduado em Geografia pela Universidade Federal do Acre – UFAC

** Prof.ª Assistente da Universidade Federal do Acre – UFAC

Referências Bibliográficas:

AYOADE, J. O. Introdução à Climatologia para os Trópicos. São Paulo: Difel,1986.

DREW, D. Processos interativos homem-meio ambiente. São Paulo: Difel, 1986.

TOLENTINO, Mario; FILHO, Romeu C. Rocha; SILVA, Roberto Ribeiro da. O azul do planeta: um retrato da atmosfera terrestre. 4ª. ed. São Paulo: Moderna, 1995.

HUCHE, Marcella. Caça aos rios voadores. Ciência Hoje. Rio de Janeiro. Disponível em: <http://www.cienciahoje.uol.com.br/revista-ch/revista-ch-2009/260/caca-aos-rios-voadores> Acesso em: 01 mar. 2010.

EXPEDIÇÃO RIOS VOADORES. Rios voadores – apresentação. Disponível em: <http://www.riosvoadores.com.br/show_projeto.php?id_media=945> Acesso em: 02 mar. 2010.

BARBOSA, Denis. Amazônia ganhará torre de 300 metros para monitoramento do clima. Globo Amazônia. São Paulo. Disponível em: <http://www.globoamazonia.com/amazonia/0,,mul1042116052amazonia+ganhara+torre+de+metros+para+monitoramento+do+clima.html> Acesso em: 02. Mar. 2010.