INTRODUÇÃO

Os veículos de comunicação visual têm tomado conta dos espaços onde há grande concentração e circulação de pessoas. Não é raro deparar-se nas ruas, avenidas e rodovias, além de inúmeras lojas e shoppings com um grande número de cartazes e outdoors, anunciando seus produtos através de imagens, já que essas se “comunicam de forma mais direta e objetiva do que as palavras” (MARTINS et. al, 2005, p.38).

O signo1 ali representado, captado pelos olhos e absorvido pela mente, leva à compreensão da mensagem muito mais rápido do que a leitura da própria escrita.

 

Um signo ‘representa’ algo para a ideia que provoca ou modifica... é um veículo que comunica à mente algo do exterior.” (PEIRCE, apud LANGER, in PLAZA, p. 17).

 

O simples olhar para a imagem já permite saber o sentido da mensagem, o que possibilita o estabelecimento da relação entre os signos e a sua significação.

 

psicólogos frequentemente atribuíram o uso de signos à descoberta espontânea, pela criança, da relação entre signos e seus significados” (VIGOTSKI, 1998, p.31).

 

Os artefatos visuais são veículos que nos ajudam a compreender o mundo, a vida contemporânea e nos aproxima do outro. No contexto educacional o uso de recursos visuais, assim como os anúncios que despertam o interesse em consumir algum produto, é extremamente importante. O trabalho com imagens no ambiente de aprendizagem reforça o aprendizado do discente e amplia seus conhecimentos de mundo, bem como sua capacidade de percepção cognitiva.

O uso de fotografias sejam elas, da cidade, da família, de paisagens, pinturas e recortes de revistas são meios estratégicos de conduzir o aluno a descobertas inovadoras para o seu crescimento cultural e intelectual. Nesse ambiente, em situações das várias disciplinas ali ministradas, pode-se dizer que o uso dos recursos visuais, os diferentes modos semióticos, torna-se imprescindível ao docente no momento de transmitir o conteúdo curricular de ensino aos seus alunos. Tais recursos permitem ao discente a se localizar e identificar o e com o seu mundo, além de compreender as representações através das imagens.

Como sustenta Freire (2011, p.19) “a leitura do mundo precede a leitura da palavra”. Neste caso, toda leitura é influenciada pela experiência de vida do leitor.

Considerando que os recursos semióticos fazem parte do mundo e tem se desenvolvido vertiginosamente, integrando socialmente as pessoas, relacionamos essa transformação no ambiente educacional inclusivo. Muito se tem falado em inclusão, e quando a mencionamos, esse termo soa como algo desafiador cheio de obstáculos. Ao contrário disso, a inclusão possibilita o desenvolver do alunado proporcionando a sua autonomia e valorizando a sua pessoa, não como alguém limitado, mas como um sujeito que possui inúmeras habilidades.

O educador deve ter em mente que seu aluno surdo, possui um canal de aprendizagem diferente dos demais, e que o uso da escrita bem como da oralidade, não faz parte de seu mundo no primeiro momento. Para alunos surdos adultos inseridos na Educação de Jovens Adultos - EJA, o uso dos recursos didático-pedagógicos auxilia no seu aprendizado, e esses devem contemplar a sua vivência, a sua cultura, o seu mundo. Esses artifícios propiciarão maior interação e socialização coletiva entre alunos independente de sua condição cognitiva.

Atender a diversidade da sala de aula, onde todos têm direito de aprender não é tarefa fácil. O educador da escola inclusiva, deve se adequar ao currículo ao planejar suas atividades conforme o grupo e o contexto onde está inserido o aluno com deficiência, no nosso caso, o aluno com surdez. As possibilidades de o atendimento ter êxito são enormes, desde que o educador esteja empenhado e desejoso de enfrentar o “novo”, independentemente se ele estiver capacitado ou não. Compartilhar conhecimento é socializar-se. A formação de leitores acontece a partir dos métodos e recursos utilizados pelo professor, a inclusão acontecerá quando houver esforço individual e coletivo (MARINI, 2012).

Tendo por base esta abordagem, o presente trabalho apresenta, através de pesquisa bibliográfica, algumas ações necessárias para a efetivação do trabalho pedagógico dentro dos muros da escola, quais sejam: estimular a leitura de textos da literatura brasileira e promover a formação de leitores surdos e ouvintes; aproximar os alunos da literatura brasileira através de recursos visuais: “paginados”, “CD-ROM” e/ou “virtual”; explorar os recursos didático-pedagógicos disponíveis em apoio à educação inclusiva e utilização das fontes bilíngues na promoção do bilinguismo no ambiente educacional. 

  1. REFERENCIAL TEÓRICO

É sabido que a produção e exibição de imagens no mundo contemporâneo têm um efeito facilitador na comunicação. Estas, por sua vez, como mecanismos educativos, favorecem o desenvolvimento da linguagem visual e intelectual, facilitando a comunicação entre sujeitos surdos e ouvintes, além da projeção de sentimentos e emoções e a produção de conhecimento a partir da apreciação, decodificação e interpretação das mesmas (SARDELICH, 2006).

 

na medida em que a imagem passa a ser compreendida como signo que incorpora diversos códigos, sua leitura requer o conhecimento e a compreensão desses códigos [...] as imagens não cumprem apenas a função de informar ou ilustrar, mas também de educar e produzir conhecimento.” (SARDELICH, 2006, p. 453-459)

 

Quando refletimos sobre a alfabetização e o letramento2 de sujeitos no ambiente educacional, consideramos o seu desenvolvimento na prática de leitura dos vários gêneros literários. Reconhecendo que, dentro dos muros da escola há uma grande diversidade cultural e linguística, o educador se depara com um desafio contemporâneo: a inclusão educacional dos tempos modernos.

As intervenções pedagógicas e estratégias de ensino devem contemplar um roteiro organizado para o ensino de qualidade, planejamento e elaboração dos recursos didático-pedagógicos que serão utilizados no decorrer das atividades propostas. Das muitas disciplinas, priorizamos o ensino-aprendizado de alunos Surdos no ambiente educacional. Sabendo que a Língua Portuguesa é a segunda língua (L2) na educação dos surdos, esta se torna fundamental no seu desenvolvimento cognitivo, social e cultural. Mas, para que isso se efetive, é imprescindível o uso de métodos, estratégias e recursos visuais que venham a contribuir no seu desenvolvimento educacional, resultando em qualidade satisfatória do ensino-aprendizagem do aluno surdo.

O acesso de todos na educação de qualidade é assegurado nos Artigos 2º e 5º da Resolução nº 2 do Conselho Nacional de Educação, que diz:

 

Os sistemas de ensino devem matricular todos os alunos, cabendo às escolas organizar-se para o atendimento aos educandos com necessidades educacionais especiais, assegurando as condições necessárias para uma educação de qualidade para todos. [...] Consideram-se educandos com necessidades educacionais especiais os que, durante o processo educacional, apresentarem: I - [...] limitações no processo de desenvolvimento que dificultem o acompanhamento das atividades curriculares [...] b) ...relacionadas a condições, disfunções, limitações ou deficiências; II – dificuldades de comunicação e sinalização diferenciadas dos demais alunos, demandando a utilização de linguagens e códigos aplicáveis (BRASIL, 2001).

 

 

Diante de toda demanda e do acesso às informações o educador deve se empenhar no uso de recursos visuais em suas estratégias de ensino. Com o processo da educação inclusiva, há, no espaço escolar, o profissional tradutor intérprete que faz a mediação da comunicação entre professor, alunos surdos e ouvintes, isso “rompe a barreira comunicativa entre [...] surdos e ouvintes não fluentes na língua de sinais” (LACERDA, 2000 apud QUADROS & PIZZIO, 2013, p.3).

Mas nem sempre as informações traduzidas por este profissional são tão precisas como os recursos semióticos. Tais recursos devem fazer parte das estratégias de ensino e estar agregado ao conteúdo disciplinar, principalmente nas aulas de língua portuguesa, foco principal3 do presente trabalho. Valorizar a experiência visual do aluno surdo, é reconhecer o seu status linguístico, um outro universo de aprendizagem, e sua cultura. (KARNOPP, 2012).

O contato com o mundo semiótico possibilita o aprendizado do aluno surdo e a proposta pedagógica que utiliza recursos visuais favorece a apropriação de significados de maneira construtiva e com sentido, bem como possibilita a representação mental de experiências. Esta proposta dirigida pelo educador deve abranger e conceder metodologias curriculares às necessidades educacionais do aluno, entre estas a utilização de imagens visuais é imprescindível no cotidiano escolar (NERY & BATISTA, 2004).

Por ter um atraso no aprendizado devido ao início tardio da escolaridade, o aluno surdo muitas vezes é considerado como deficiente. O surdo é um ser visual, sua aprendizagem é através da visão, e esta deve ser explorada pelos agentes facilitadores de leitura e escrita, como as imagens, recursos semióticos4, por exemplo. (DOMINGUES, 2006).

Na sala de aula inclusiva, o intérprete educacional (IE) estabelece, primordialmente, a intermediação comunicativa no contexto escolar entre professor/aluno/professor. Esta função no processo educacional deve ser articulada e compreendida pelo regente que é conhecedor das propostas e orientações da Secretaria de Educação. Ao realizar atividades em apoio à sua disciplina, o docente deve reconhecer o nível de aprendizagem de seus alunos e, principalmente, dos discentes surdos. Levando em consideração o canal de aprendizagem dos mesmos, o docente utilizará, em sua prática de ensino, recursos visuais indispensáveis e indissociáveis ao conteúdo ministrado que enriquecerão o processo de ensino-aprendizagem. (MINAS GERAIS, 2008).

 

Paralelamente Reily (2003) afirma que, com adequação didática e metodológica, o docente beneficiará o aluno surdo em sua plena compreensão do conhecimento.

 

O processo de ensino do aluno surdo se beneficia do uso das imagens visuais e que os educadores, devem compreender mais sobre seu poder construtivo para utilizá-las adequadamente... porque a imagem permeia os campos do saber, traz uma estrutura e potencial que podem ser aproveitados para transmitir conhecimento e desenvolver o raciocínio.” (Reily apud NERY & BATISTA, 2004, p. 290).

 

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