Os problemas sociais acarretados pela seca na região nordeste 

                                                                   Por Luiz Eduardo C. Levy

                A área territorial da Região Nordeste é quase três vezes maior que a da França, o terceiro mais extenso país europeu. Com 1 556 001, 1 km² de extensão, o Nordeste abrange mais de 18% do território brasileiro e está dividido em nove estados. A Região Nordeste é economicamente subdesenvolvida, o que explica a intensa emigração populacional para outras regiões, especialmente, o Sudeste em busca de trabalho e melhores condições de vida.

Esse alto índice de desenvolvimento deriva, em grande parte, de problemas econômico- sociais, agravados pelas adversidades do meio natural, principalmente no sertão, de clima semi-árido.E, o mais grave problema de todos é a seca.

                Mas, quando falamos em seca, não devemos vincular apenas aos fenômenos naturais a responsabilidade pela fome, pelas perdas na pecuária, agricultura, etc, e, sim a falta de uma política que realmente resolva esse problema histórico. Acontece, que o Nordeste brasileiro vive o contexto da seca e suas consequências há muito tempo, mais precisamente desde o século XIX durante o império, surgiram as primeiras idéias de combate à seca, como no ano de 1831, quando o governo imperial adotou providências para combater a seca, como por exemplo a decisão da regência trina, que autorizava abertura de poços artesianos profundos(Coelho, 2004). No ano de 1847, surge a primeira idéia relativa à uma transposição do rio São Francisco, projeto de autoria do engenheiro  Marcos de Macedo, que a defendeu no Parlamento e também ao imperador Pedro I, como um meio de combate aos problemas gerados pela seca, porém não obteve apoio(Caúla e Moura,2006). A dinâmica social e política nordestina, e porque não dizer brasileira, permite de certa forma que as políticas governamentais sejam influenciadas por interesses de certos setores da sociedade, que submetem grupos desprovidos de poder econômico aos seus interesses comerciais e políticos, ou seja, durante séculos promoveram o impedimento de diversas ações de combate á miséria do sertanejo; A isso se dá o conhecido nome de “indústria da seca”. O termo indústria da seca é utilizado para designar a estratégia de alguns políticos que aproveitam a tragédia da seca para obter vantagens próprias. Esse termo passou a ser utilizado na década de 60 por Antônio Callado que já denunciava no jornal “Correio da Manhã” os problemas sociais e econômicos da região do semi árido nordestino. Os problemas sociais do sertão são bastante conhecidos por todos , mas nem todos sabem que não precisava ser assim. A seca em si,não é o problema. Países como EUA que cultivam áreas imensas e com sucesso em regiões como a Califórnia, onde chove sete vezes menos do que no chamado polígono da seca, e Israel, que consegue manter um nível razoável de vida em uma área desértica (Negev), são provas disso. Os “industriais da seca” se aproveitam da situação calamitosa para conseguir e desviar verbas, incentivos fiscais,concessões de crédito e perdão de dívidas aproveitando-se da miséria da população. Enquanto isso, o pouco dos recursos que realmente são empregados na construção de açudes e projetos de irrigação, torna-se inútil quando estes são construídos em propriedades privadas de grandes latifundiários que os usam para fortalecer seus poderes políticos. Um bom exemplo de empreendimento da indústria da seca é o açude do cedro, em Quixadá (CE): com capacidade para aproximadamente 126 milhões de m³, foi construído em pedra talhada à mão, com esculturas e barras de ferro importadas, mas que chegou a secar completamente no período de 1930 a 1932, durante um dos piores períodos de seca enfrentados na região; mais uma obre faraônica da indústria da seca, que hoje é patrimônio histórico e cultural, mas é como distribuir talheres de prata para quem não tem o que comer. Assim chegamos a mais uma história: a transposição do rio São Francisco, um dos principais pontos de discussão dos últimos governos. A obra, que anda à passos lentos, já garantiu três eleições e tenta conseguir uma quarta, é uma questão que como tudo que visa minorar os problemas dos menos favorecidos, causa muita polêmica. De um alado estão os que defendem a legitimidade da obra para acabar com os problemas causados pelas estiagens. E, de outro os “industriais da seca”, que tentam obstruir o projeto à todo custo, pois vêem ameaçados os seus interesses políticos.

                Entre o final do século XIX e todo o século XX, existiram três momentos em que a transposição do rio São Francisco foi colocada em debate. No primeiro momento, entre 1882 e 1985, e no segundo entre 1993 e 1994, predominou somente a questão política eleitoral. Sendo criticado pela Companhia Hidroelétrica do São Francisco - CHESF, por não terem fundamentação e consistência, pois previam uma retirada absurda de 300 a 500m³/s e serviam como parte de campanhas eleitorais, não tendo qualquer compromisso com os problemas sociais daquelas pessoas que vivem em extremo estado de pobreza naquela região. Não há nenhum interesse por parte dos governantes em resolver essa situação, no entanto, se houvesse vontade política seria de fácil resolução. As conseqüências mais evidentes das grandes secas são a fome, a desnutrição, a miséria e a migração para os grandes centros urbanos(êxodo rural). A transposição será de grande importância pelos seguintes motivos:

 

1-   Eliminaria ou reduziria drasticamente o fantasma do êxodo rural. O sertanejo está acostumado àquele modo de vida e produção, vindo a seca destrói não só a sua sobrevivência  como a sua dignidade.

 

 

 

2-   O êxodo rural traz outro problema social grave: o desemprego; o sertanejo não foi acostumado a lidar com o sistema de vida do Sudeste ou de qualquer outra região que não seja a sua, não tendo preparo, experiência em nenhum ramo daquela terra que lhe é estranha (exceto na agricultura e/ ou pecuária) fica completamente sem rumo, tornando-se, em muitos casos, mais um forte candidato a marginalidade ou às drogas.

 

       3-Além dos problemas causados aos sertanejos que emigram, o êxodo rural também causa um excesso populacional nos grandes centros urbanos, ou seja, mais um problema social.

               

 

           Também não é com os minúsculos auxílios disponibilizados pelos governos federal e estadual que vai se obter uma solução para estes problemas. A única ação eficiente por parte dos governos para resolver este problema social do povo sertanejo é ofertando-lhes àquilo que é a base da sobrevivência desse povo tão sofrido ao longo da história: água. Como podemos ver nos versos de “vozes da seca”:

 

“Seu doutor os nordestinos tem muita gratidão,

Pelo auxílio dos sulistas, na seca do sertão,

Mas, doutor, uma esmola, a um homem que é são,

Ou lhe mata de vergonha ou vicia o cidadão”.

                                                           Luiz Gonzaga e Zé Dantas

 

              Nesses versos pode-se ver explicitamente a vontade que o povo sertanejo tem de sobreviver à custa de seu trabalho, ele não quer ser um fardo na sociedade, um inútil, e sim, alguém que produz sua subsistência e mantém sua dignidade. A transposição vai ser de vital importância para a região, já que o polígono das secas, já depende do abastecimento de água proveniente do rio São Francisco, e assim já acontece com os que habitam em suas margens ou para aqueles que vivem nas poucas localidades, que por serem próximas, tem um sistema de encanamento da água do rio, e apenas nessas localidades não existe falta de água. Também podemos citar o próprio vale do São Francisco, que após ser irrigado com as águas do rio tornou-se um grande pomar, inclusive exportando vinhos da melhor qualidade. É preciso estender esse benefício a todos, promovendo a irrigação de milhares de hectares de terra e beneficiando mais de um milhão de pessoas diretamente, só na área do semi-árido; pois os problemas da estiagem atingem também as capitais, como se pode observar nas absurdas elevações dos preços de produtos oriundos da própria região, a exemplo da farinha mandioca,que já chega a R$ 7.00/kg, o queijo de coalho custando R$ 20.00/kg, o tomate por R$ 6.00/kg, tudo impulsionado pela seca.

              Surgiram diversas discussões da validade ou não do projeto, alguns defendiam que esses canais de transposição passariam nos grandes latifúndios, beneficiando os ricos. Entretanto, já esta mais que provado que isso não é verdade, já que os grandes latifúndios dispõem de grandes poços e, não sofrem tanto com as estiagens como o pequeno agricultor, que por má vontade política vive orando e tendo que depender, em pleno século XXI, da boa vontade de São Pedro, esperando que caia água do céu para sua salvação. Será um projeto que trará importantes benefícios aos pequenos agricultores, ou seja, a agricultura de subsistência que é a atividade predominante no sertão nordestino, se temos um sistema de irrigação eficiente o ano inteiro, algo que só pode ser conseguido com a transposição do São Francisco por este ser o único rio perene da região, o sertanejo poderá sobreviver com dignidade, pois a fome, além de ser o grande problema social do sertanejo, ainda acarreta diversos outros problemas sociais como já citado.

             Em suma, a seca além de ser apenas um problema climático, é uma situação que gera grandes dificuldades sociais para as pessoas que habitam a região do semi-árido nordestino. Com a falta de água, torna-se difícil o desenvolvimento da agricultura e a criação de animais. Desta forma, a seca provoca a falta de recursos econômicos, gerando fome e miséria no sertão nordestino, que são os maiores problemas sociais e, os desencadeadores de muitos outros.

             Este trabalho tem como objetivo demonstrar que a única solução para resolver, ou, talvez, erradicar a seca e os grandes problemas sociais acarretados por ela é a transposição do rio São Francisco, não adianta o governo construir cisternas e poços artesianos, cujas águas só servem aos proprietários das terras onde estes são construídos, proprietários estes que não tem o mínimo interesse na resolução dos problemas sociais do sertanejo. O certo é que o problema da seca no sertão é pura falta de vontade política, tentam vender a idéia ao sertanejo, ao longo dos anos, que a seca e suas conseqüência sociais são problemas meramente naturais, e disso fizeram uma espécie de marketing, por isso quando se fala em seca, nunca se vê os sertanejos atribuindo a culpa a quem realmente tem,no sentido de conseqüências, que são os políticos. Isso tem que mudar, não é possível que o povo sertanejo passe a vida a esperar que caia água do céu para que possa alimentar a si e a sua família, e continue culpando São Pedro pelas estiagens e os problemas acarretados por ela, pois isso é o cúmulo do atraso e da falta de vontade política.