Os povos do Jequitinhonha no viés da Educação

Leandro Magalhães

Lutar é preciso! Principalmente quando grupos e minorias sofrem com a omissão e com a opressão, quando seu espaço é invadido e seus costumes são desrespeitados ou ignorados. É necessário sim se organizar e resistir. Lutar é preciso mesmo em um país onde as elites, os alienados e os acomodados entendem isso como rebeldia, demagogia, vandalismo, ou mesmo, banditismo.

Sabiamente, o revolucionário Ernesto Che Guevara nos deixou a seguinte reflexão: “É preciso lutar todos os dias para que esse amor à humanidade viva e se transforme em fatos concretos, em atos que sirvam de exemplo de mobilização...”.

É preciso lutar pela nossa, ainda frágil democracia; tão ameaçada pelas obscuras forças conservadoras que circundam e contaminam nossa sociedade. A luta é justa e legítima quando se dá pelo direito a terra e à dignidade humana. Mas a luta por se só não basta, ela deve ter um significado, deve ser compreendida como uma força ideológica. Força essa que faz através do pensar, do criticar e da reflexão para poder agir.

Cidadãos críticos se fazem com Educação! A Educação que educa, que ensina, que faz pensar e refletir. A Educação, aquela que liberta, tem o poder de transformar uma sociedade, dando aos sujeitos nela inseridos a capacidade de questionar, discordar e se reconhecerem como agentes ativos e participativos em busca, entre outros, da igualdade e da justiça social.

“Somente quando os oprimidos descobrem, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua convivência com o regime opressor. Se esta descoberta não pode ser feita em nível puramente intelectual, mas da ação, o que nos parece fundamental é que esta não se cinja a mero ativismo, mas esteja associada a sério empenho de reflexão, para que seja práxis”. (Freire. 1970, p. 52.)

            A Educação não pode ser negada, dificultada ou protelada; sua oferta deve ser ampla, democrática e com qualidade, não podendo ser restrita a camadas, ou faixa etária, específicas. A Educação deve ser acessível a todos e todas, devendo atender a sua função social. Por isso ela tem que atender as especificidades e necessidades de cada grupo e suas demandas. É inegável, porém, que os jovens, por serem os transmissores de conhecimentos às suas famílias e comunidades, devem ter esse acesso de forma prioritária e que aconteça de forma prazerosa, significativa e construtiva.

            Os jovens do Vale do Jequitinhonha, filhos de ribeirinhos e pequenos agricultores, devem ter a chance de fixar e se desenvolverem em seu próprio espaço; dando continuidade ao trabalho da sua família e da sua comunidade. Adquirindo novos conhecimentos, profissionalizando-se e fazendo do seu acesso à Educação uma prática libertadora, de reflexão, de questionamentos e lutas e que irá livrá-los do ostracismo e da opressão. São os novos sujeitos, portadores de ideias e atitudes; a eles a Educação vai ser um caminho não só de esperanças, mas também de dignidade.

Ainda nas palavras de Freire (2003) “A pessoa conscientizada tem uma compreensão diferente da história e de seu papel nela. Recusa acomodar-se, mobiliza-se, organiza-se para mudar o mundo...”.

No Vale do Jequitinhonha algumas importantes iniciativas têm sido tomadas, seja por parte do poder público ou até mesmo por ações de organizações não governamentais, no sentido de democratizar o acesso a Educação, seja na formação básica, técnica profissionalizante ou superior.

São iniciativas importantes e ainda não suficientes, pois muito ainda deve ser feito; são os primeiros e imprescindíveis passos a serem dados diante da urgente necessidade de reverter o histórico quadro de atraso econômico e abandono social vivido por comunidades e indivíduos espalhados ao longo dessa rica e aguerrida região do nordeste mineiro.

Referências bibliográficas:

ALMEIDA, L. G. M. Vazanteiros do rio Jequitinhonha - a luta das populações tradicionais pelo resgate da cultura e do espaço. Artigonal. www.artigonal.com.

LA SERNA. Ernesto Guevara. Contribuição ao Pensamento Revolucionário. In: Manolo Monereo Perez. Editora Expressão Popular. São Paulo. SP. 2001.

FREIRE. Paulo. Cartas a Cristina. Editora Unesp. 2ª Edição. São Paulo. SP. 2003.

_________Pedagogia do Oprimido. Editora Paz e Terra. 11ª Edição. São Paulo. SP. 1970.

RIBEIRO, E. M. Para repensar a história e o desenvolvimento rural do Jequitinhonha. Fortaleza: BNB/UFLA, 2007.