Os povos do Jequitinhonha no viés da Educação
Publicado em 01 de dezembro de 2015 por LEANDRO GERALDO MAGALHÃES DE ALMEIDA
Os povos do Jequitinhonha no viés da Educação
Leandro Magalhães
Lutar é preciso! Principalmente quando grupos e minorias sofrem com a omissão e com a opressão, quando seu espaço é invadido e seus costumes são desrespeitados ou ignorados. É necessário sim se organizar e resistir. Lutar é preciso mesmo em um país onde as elites, os alienados e os acomodados entendem isso como rebeldia, demagogia, vandalismo, ou mesmo, banditismo.
Sabiamente, o revolucionário Ernesto Che Guevara nos deixou a seguinte reflexão: “É preciso lutar todos os dias para que esse amor à humanidade viva e se transforme em fatos concretos, em atos que sirvam de exemplo de mobilização...”.
É preciso lutar pela nossa, ainda frágil democracia; tão ameaçada pelas obscuras forças conservadoras que circundam e contaminam nossa sociedade. A luta é justa e legítima quando se dá pelo direito a terra e à dignidade humana. Mas a luta por se só não basta, ela deve ter um significado, deve ser compreendida como uma força ideológica. Força essa que faz através do pensar, do criticar e da reflexão para poder agir.
Cidadãos críticos se fazem com Educação! A Educação que educa, que ensina, que faz pensar e refletir. A Educação, aquela que liberta, tem o poder de transformar uma sociedade, dando aos sujeitos nela inseridos a capacidade de questionar, discordar e se reconhecerem como agentes ativos e participativos em busca, entre outros, da igualdade e da justiça social.
“Somente quando os oprimidos descobrem, o opressor, e se engajam na luta organizada por sua libertação, começam a crer em si mesmos, superando, assim, sua convivência com o regime opressor. Se esta descoberta não pode ser feita em nível puramente intelectual, mas da ação, o que nos parece fundamental é que esta não se cinja a mero ativismo, mas esteja associada a sério empenho de reflexão, para que seja práxis”. (Freire. 1970, p. 52.)
A Educação não pode ser negada, dificultada ou protelada; sua oferta deve ser ampla, democrática e com qualidade, não podendo ser restrita a camadas, ou faixa etária, específicas. A Educação deve ser acessível a todos e todas, devendo atender a sua função social. Por isso ela tem que atender as especificidades e necessidades de cada grupo e suas demandas. É inegável, porém, que os jovens, por serem os transmissores de conhecimentos às suas famílias e comunidades, devem ter esse acesso de forma prioritária e que aconteça de forma prazerosa, significativa e construtiva.
Os jovens do Vale do Jequitinhonha, filhos de ribeirinhos e pequenos agricultores, devem ter a chance de fixar e se desenvolverem em seu próprio espaço; dando continuidade ao trabalho da sua família e da sua comunidade. Adquirindo novos conhecimentos, profissionalizando-se e fazendo do seu acesso à Educação uma prática libertadora, de reflexão, de questionamentos e lutas e que irá livrá-los do ostracismo e da opressão. São os novos sujeitos, portadores de ideias e atitudes; a eles a Educação vai ser um caminho não só de esperanças, mas também de dignidade.
Ainda nas palavras de Freire (2003) “A pessoa conscientizada tem uma compreensão diferente da história e de seu papel nela. Recusa acomodar-se, mobiliza-se, organiza-se para mudar o mundo...”.
No Vale do Jequitinhonha algumas importantes iniciativas têm sido tomadas, seja por parte do poder público ou até mesmo por ações de organizações não governamentais, no sentido de democratizar o acesso a Educação, seja na formação básica, técnica profissionalizante ou superior.
São iniciativas importantes e ainda não suficientes, pois muito ainda deve ser feito; são os primeiros e imprescindíveis passos a serem dados diante da urgente necessidade de reverter o histórico quadro de atraso econômico e abandono social vivido por comunidades e indivíduos espalhados ao longo dessa rica e aguerrida região do nordeste mineiro.
Referências bibliográficas:
ALMEIDA, L. G. M. Vazanteiros do rio Jequitinhonha - a luta das populações tradicionais pelo resgate da cultura e do espaço. Artigonal. www.artigonal.com.
LA SERNA. Ernesto Guevara. Contribuição ao Pensamento Revolucionário. In: Manolo Monereo Perez. Editora Expressão Popular. São Paulo. SP. 2001.
FREIRE. Paulo. Cartas a Cristina. Editora Unesp. 2ª Edição. São Paulo. SP. 2003.
_________Pedagogia do Oprimido. Editora Paz e Terra. 11ª Edição. São Paulo. SP. 1970.
RIBEIRO, E. M. Para repensar a história e o desenvolvimento rural do Jequitinhonha. Fortaleza: BNB/UFLA, 2007.