OS NOVOS MODELOS DE FAMÍLIA E O DESENVOLVIMENTO ESCOLAR DE CRIANÇAS DO ENSINO FUNDAMENTAL MENOR

Cildene Pereira França de Araujo[1]

Cláudia Márcia de Oliveira Godoy[2]

RESUMO

No presente trabalho abordam-se como os novos modelos de família interferem no desenvolvimento escolar de crianças do ensino fundamental menor. Primeiramente apresenta-se a instituição família, suas modificações e sua função na formação pessoal e social da criança. Fala-se ainda da escola e de seu papel na formação do aluno na contemporaneidade, além de apresentar algumas transformações pelas quais a escola passou para que todos pudessem ter direito e acesso a ela. Discutem-se as principais dificuldades, relacionadas com a participação familiar atual, encontradas pelos alunos. Explica-se também a importância da afetividade entre pais e filhos para auxiliar no processo de aprendizagem. Apresentam-se ainda propostas para a melhoria da aprendizagem por meio da parceria entre família e escola.

1 INTRODUÇÃO

Desde os tempos mais antigos ocorreram inúmeras transformações no contexto familiar, a inserção da mulher no mercado de trabalho e a instabilidade nas relações familiares por diversos motivos culminaram no surgimento dos novos modelos de família e cada uma com características diferentes.

A sociedade atual passa por modificações, seja nos aspectos da política, economia ou cultura, que reflete profundamente em todos os aspectos da vida pessoal e social. Tais modificações repercutem intensamente na vida familiar.

Na sociedade burguesa, a família era associada aos laços sanguíneos e os membros limitavam-se ao pai, a mãe e o filho, sendo o pai o provedor pelo sustento da família e a mãe preocupava-se com as obrigações domésticas (POSTER, 1979).

Em consequência das inúmeras transformações na sociedade atual, o modelo tradicional de família ganhou novos rumos, diversas necessidades ligadas aos aspectos sociais e econômicos levaram ao surgimento de novos modelos de família, Influenciando na inserção da mulher ao mercado de trabalho, tornando-se importante na aquisição da renda familiar.

Com isso, surgem os problemas na família, pois o compromisso da mulher com o trabalho fora de casa induz ao distanciamento precoce dos filhos da convivência familiar. Na maioria das vezes, isso ocasiona conflitos no casamento, refletindo fortemente no desenvolvimento da criança tanto na esfera pessoal e social quanto educacional. Em muitos casos, sem a imagem do pai ou da mãe, a responsabilidade de educar fica por conta da escola (SZYMANSKI, 2001).

Entende-se que a família é responsável pelo desenvolvimento das pessoas não por garantir sua sobrevivência, mas porque é dentro dela que se realizam os ensinamentos básicos imprescindíveis para o seu convívio no âmbito social e educacional (MORENO e CUBERO, 1995).

Diante do exposto, sentiu-se a necessidade de realizar o presente estudo para a obtenção de um conhecimento acerca das principais dificuldades encontradas pelos alunos decorrentes dos novos modelos de família. Esses conhecimentos permitirão auxiliar o aluno, a família e o professor na resolução de eventuais problemas no âmbito escolar.

Portanto, neste estudo aborda-se um assunto de grande relevância para o aluno, para a família e para a escola, pois reflete sobre os novos modelos de família e o desenvolvimento escolar de crianças do ensino fundamental menor e os possíveis obstáculos que os alunos encontram na aprendizagem.

2 INSTITUIÇÃO FAMÍLIA E SUA INFLUÊNCIA NO DESENVOLVIMENTO COGNITIVO DA CRIANÇA

Falar da instituição família é refletir sobre as modificações ocorridas nesse contexto, e da sua importância na vida da criança, pois, esta é quem direciona e é responsável pela conquista de um desenvolvimento saudável ajudando nos aspectos da socialização, da educação e da personalidade da mesma. Esta, junto com a escola, transfere saberes necessários para o desenvolvimento de uma aprendizagem contínua para a vida.

Ao longo dos anos, grandes transformações ocorreram no contexto familiar. A família, chamada nuclear – aquela composta por pai, mãe e filho – que se organiza atualmente, não existia há alguns séculos. Ela surgiu em decorrência de modificações na maneira de pensar do Estado e da Igreja, dando assim novo valor ao sentido de família. No entanto, a formação familiar tornou-se reconhecida pela sociedade e a responsabilidade de educar e cuidar ficaram por conta dela (ARIÉS, 2006).

Diante disso, percebe-se então que a criança não tinha o valor e os ensinamentos básicos necessários para o seu desenvolvimento oferecido no âmbito familiar. Durante a Idade Média, as famílias ficavam juntas umas das outras, não tendo a intimidade familiar de pai, mãe e filho. As crianças eram inseridas precocemente no mundo dos adultos para a prática doméstica, em que a família acreditava ser esse meio o mais adequado para a sua evolução. Elas eram desconsideradas em todos os aspectos que lhes eram importantes, uma vez que não tinham uma educação formal (ARIÉS, 2006).

Szymanski (2001, p. 14) afirma que:

Foi por volta do século XVIII que a família começou a delimitar uma área de vida particular e os costumes contemporâneos foram fortemente influenciados pelo sentimento de família, que se desenvolveu na Europa a partir do século XVI, especialmente nas classes mais abastadas. Entre esses costumes está o de cada família morar na sua casa e ser responsável pela educação de seus filhos [...].

Aos poucos a instituição família foi ganhando novos rumos, tornando-se reconhecida como fundamental para ajudar na criação e na educação da criança, dessa forma, os pais começaram a estabelecer uma relação de preocupação e cuidado com os filhos, nascendo assim um sentimento de afeto entre ambos.

Portanto, foi no século XIX e começo do século XX, que todas as famílias, incluindo a categoria dos trabalhadores, assumiram o modelo de família chamada nuclear, constituída por pai, mãe e filho (POSTER, 1979).

De acordo com Szymanski (2001), a família consolidou-se diante da imagem do pai, propondo modelo de educação para os filhos, desvalorizando a autonomia da mulher. Porém, aos poucos esta foi conquistando seu espaço em consequência das modificações ocorridas na sociedade contemporânea e, com a influência da industrialização, a mulher entrou para o mercado de trabalho, conquistando praticamente os mesmos direitos dos maridos, tornando-se importante no contexto familiar, tanto na educação da criança quanto no sustento da família. No entanto, atualmente, com os novos modelos de família, as mulheres muitas vezes assumem o papel de pai e mãe, devido às grandes modificações ocorridas nesse âmbito. Hoje em dia existem vários tipos de famílias como José e Coelho (2001, p. 187) citam:

A família encabeçada por um dos pais devido a separação ou morte [...], a família constituída também pelos avós[...], a família em que os cônjuges são de raça ou religião diferente [...], a família formada de um segundo casamento de um dos pais [...].

Nesse sentido, essas novas configurações familiares podem interferir de forma negativa em todos os aspectos do desenvolvimento da criança, pois, de acordo com os mesmos autores citados acima, na família encabeçada por um dos pais devido à separação ou morte, a criança necessita do outro, ou seja, da mãe ou do pai para se sentir bem; na família constituída também pelos avós, a criança relaciona-se de forma diferenciada de como se relaciona com os pais, o que acaba ocasionando problemas na aprendizagem; na família em que os cônjuges são de raça ou religião diferentes, gera na criança contestações quanto “[...] as linguagens, os aspectos físicos e a formação religiosa” (JOSÉ e COELHO, 2001, p. 187). E, por último, na família formada de um segundo casamento de um dos pais, a criança necessita de uma nova adaptação ao outro sujeito que se apresenta (JOSÉ e COELHO, 2001).

Percebe-se então, que a dinâmica familiar modificou-se completamente, visto que os indivíduos podem viver à sua maneira dando credibilidade a ideologia de igualdade entre as pessoas. Porém os novos modelos de famílias surgem a todo o momento.

De acordo com estudos realizados por Szymanski (2001) com famílias da periferia de São Paulo, a autora constatou através de sua análise e observações dois tipos de família: “a família pensada e a família vivida”. No modelo de família pensada o relacionamento entre as pessoas segue de forma agradável e cada membro assume seu papel, o pai preocupa-se com o sustento da família e a mãe com o cuidado da casa e dos filhos.

A família vivida espelha-se no modo de viver de outras pessoas, de outras famílias, isto é, acompanha os padrões da sociedade como solução para possíveis situações que vão surgindo.

Além dos tipos de famílias já mencionados, existem outros que Gallart (1999, p. 155) explicita: “a família nuclear ou conjugal e a família extensa”. A família nuclear ou conjugal é constituída pelo casal e pelos filhos, mas, esse modelo se modifica a cada dia nas sociedades desenvolvidas por causa das transformações na estrutura familiar, surgindo um novo nome, chamada hoje de “família restringida”. A família extensa relaciona-se aos lares onde vive mais de um núcleo conjugal, ou seja, onde estão incluídas várias pessoas.

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