Ultimamente temos ouvido muito falar sobre fazer justiça com as próprias mãos, se combatermos fogo com fogo, morreremos todos queimados! Concorda? Partindo deste pressuposto, será mesmo que combater a violência com a própria violência nos faz mais justo, mais honesto? Ou será que nos torna tão criminoso quanto os que a cometem ?

Os pseudo justiceiros do século XXI são pessoas comuns que em comum tem uma única coisa, o “senso de justiça”. E que diante de fatos inusitados se revelam pessoas violentas e cruéis que estão saturadas com a falta de segurança e com a ousadia dos bandidos, e acabam assim decidindo, ainda que arbitrariamente, o que é certo e o que é errado, muitas vezes de forma precipitada e inconsequente, e quem se opõe a isso arrisca a própria vida. Não podemos tratar como normalidade o que não é digno deste termo.

Diante de um Estado omisso para com seu povo, é compreensível que um cidadão se revolte diante de um crime, todavia, não é, em hipótese alguma, aceitável tal violência. Pois nada, absolutamente nada justifica tais comportamentos, não podemos voltar aos tempos da barbárie, das milícias, tampouco podemos reagir passivamente ao presenciar um espancamento e a tortura em via pública, por mais grave que tenha sido o crime cometido, como se fosse uma coisa normal e corriqueira. Me pergunto, onde iremos chegar agindo desta forma? Eliminaremos de uma vez por todas a violência ou a incitaremos ainda mais? Gerando uma carnificina. Nem sempre o que é aparentemente bom para a sociedade significa a saúde dela.

Não digo que devemos esperar passivamente pela chegada da policia diante de um assalto ou algo similar, se pudermos, dentro dos limites de nossa segurança, podemos detê-lo até a chegada das autoridades. O que não podemos é torturar e assassinar pessoas que, por algum motivo, que talvez nunca o saberemos, caíram no mundo do crime. Não temos este direito, por mais corrupta, insuficiente e despreparada que venha a ser a nossa policia, ainda é dever dela fazer cumprir a lei aos que vão de encontro a ela, desafiando-a e pondo em risco a nossa segurança.

E não se trata de uma questão de ser politicamente correto ou de direitos humanos, o que está em jogo é o princípio de civilidade, direi até de humanidade, que ainda resta dentro de nós cidadãos de bem. Esse comportamento instintivo que podemos controlar, é o que nos difere dos outros animais.

Sim, sou de acordo, vivemos em um Estado omisso, cujo nossos representantes legislam em causa própria para assegurar suas impunidades. O Brasil é um dos poucos países no mundo onde o crime compensa, pois nossas leis são falhas e beneficiam, sobretudo, aos bandidos e políticos. Vivemos acuados em nossas casas, desarmados e com medo, e o Estado ao invés de combater a delinquência desde o berço, dando assistência e condições dignas de vida aos marginalizados, pois ninguém nasce mau ou bandido, ao invés disso continua semeando pequenos marginais para futuramente castiga lós em presídios superlotados. Também sabemos que a maioria das penitenciarias do Brasil não reeducam os criminosos, ao contrário, são as universidades do crime, aprendem mais ali dentro que fora dela, de forma que, quando ganham a liberdade, são PhD em bandidagem, prontos e livres para recuperar o tempo perdido, sobretudo os mais jovens.

Tampouco sou a favor da pena de morte, como muitos a defendem, não num país como o nosso onde as injustiças sociais e a corrupção já fazem parte da nossa paisagem. Muitos inocentes seriam condenados para encobrir os verdadeiros culpados.

Nós fazemos política o tempo todo, nós somos a política, e cabe a nós exigir dos nossos representantes: A reformulação das leis e o cumprimento delas, atitudes mais eficientes e menos paliativas no combate a delinquência e a adoção de projetos sociais que as previnam, bem como uma melhor preparação da policia. É o mínimo que se espera no intuito de amenizar a situação.

Como disse o político e revolucionário Pierre Vergniaud, os grandes apenas são grandes porque nos andamos todos de joelhos, levantemo nos. A sociedade pode e deve caminhar rumo à civilidade, agir como criminosos significa nos igualar a eles, e certamente esse não é o caminho.