OS NÍVEIS DO PENSAR E A CONSCIÊNCIA HUMANA

No texto “OS NÍVEIS DO PENSAR E A CONSCIÊNCIA HUMANA”, os autores Clérisson Torres e Renata Torres, fazem uma reflexão sobre os três tipos do pensar humano e suas ligações com a consciência e a conduta, dando ênfase a importância das  expressões do ato de pensar, levando em consideração que nosso agir  é um reflexo consciente ou inconsciente dos nossos sentimentos e imaginações, conforme veremos adiante.

O pensamento evoluiu bastante em virtude de todas as mudanças pelas quais a humanidade passou, refletindo a diversidade cultural, o progresso da ciência, procurando sempre entender à vida,  e tudo que envolve-a para garantir a satisfação, segurança e felicidade.

Busca-se uma integração do corpo físico com o espírito a alma e mente humana, orientados pela ciência, pela filosofia e as diversas religiões, para encontrar a beleza das coisas, sejam naturais ou espirituais, mas sempre desejando o que nos faz bem e que acrescenta o belo a nossa existência, às vezes a qualquer preço, atestando a fragilidade do pensar humano por vezes corrompido por dogmas e conceitos pré-estabelecidos.

Pensar então, foi definido como o ato de refletir, formar idéias, raciocinar, cogitar; ter certo parecer; julgar; prever;  supor, conjecturar; calcular; ter no espírito, sonhar, imaginar.

E qual seria a diferença entre a imaginação e a inteligência? A imaginação pode vir envolta em fantasias e delírios, como pode ser também utilizada para criação, por estar “visceralmente” ligada as idéias e aos pensamentos e ser responsável pela coisa nova no mundo do saber, naturalmente que resultante de uma mente saudável, produtora final de inteligência.

A inteligência que é o  resultado da construção de percepções e soluções de problemas  e conta com a ajuda também do pensamento. E ai entra a educação com o papel primordial de estimular o saber, o pensar com participação da inteligência, influenciando a conduta humana nas suas diversas maneiras de expressar-se buscando a razão, o bom senso as boas intenções, permeadas por princípios universais dos direitos humanos.

E a arte de imaginar, de pensar do ser humano e interagir sobre suas faculdades são os pressupostos básicos para o conhecimento, a vida e tudo que a envolve. E isso só se torna realidade quando o homem busca sua relação com o universo, com o todo,  de forma racional também, revelando a diversidade das coisas que alteram nossos emoções e sentimentos...

O sentir que nos leva a questionar o que é, e ai entra o pensar, e este pensar pode expressar-se de forma utópica ou  racional, criando uma imagem do que sentimos e que reflete como a nossa verdade na busca de segurança, perdendo por isso o contato com o desconhecido, que pode não ter correspondência com o que pensamos e o que poderíamos sentir dando lugar a falta de experiência que em muito acrescenta o saber particular de cada um de nós.

Quando sentimos algo que nos perturba, a nossa imaginação nos leva a relembrar fatos, produzir opiniões, enfim, coisas que nos instigam o desejo de controlar tal situação e eliminar o que nos traz insatisfação, caracterizando o devir humano, desejando com isso a segurança,  o prazer, como algo natural e necessário à vida humana. 

Quem busca isto a qualquer preço encontra-se naturalmente com a dor, porque deixa de refletir sobre as suas ações. E é ai, no momento difícil, que podemos perceber mais nitidamente a existência de valores e princípios universais, que nos dão margem a conscientemente ou inconscientemente nos perguntarmos: quem somos? De onde viemos?

São nestes momentos da nossa vida, que aplicamos a nós mesmos tantos questionamentos, e procuramos entender a vida com toda sua complexidade. É a dor que melhor nos instiga ao uso das nossas forças psíquicas para construirmos o pensar, delineando métodos, meios e recursos para equacionarmos problemas e administrarmos  nossos sentimentos.

E qual é a diferença entre pensar e pensamento? Pensar é a ação e pensamento é o produto desta ação. E quais seriam os níveis do pensar?

O autor nos elucida que são três os níveis do pensar, a saber:

- O pensar com pensamento fixo/rígido; o pensar com pensamento flexível e o pensar sem pensamento, eles estariam ligados à conduta e aos estados da consciência humana.

O objetivo do autor ao colocar os três níveis do pensar é puramente para instigar a reflexão sobre o poder do pensamento e a sua ligação com a consciência e a conduta humana. E este pensamento pode ser o nosso sucesso, a nossa segurança ou a nossa destruição, senão tanto, mas motivador de muitas mazelas.

O pensar com pensamentos fixos/rígido reflete a nossa imaginação, os símbolos e idéias que ditam a nossa conduta de forma inflexível. A este nível do pensar estão condicionadas algumas atitudes do nosso dia-a-dia, como tomar banho, por exemplo, e esta é uma conduta saudável e importante para nossa sobrevivência, em virtude de prevenir males à nossa saúde.

 Porém, quando este pensar fixo se traduz, não só numa memória técnica, mas psíquica, de algo ou alguém, que nos causa asco, pavor, que nos deprime e ficamos presos a isso, são acionados então métodos de defesa não apropriados que mascaram nossa inteligência e agimos aquém da razão, tendo por conseqüência transtornos psíquicos e em estágios mais avançados, até surtos psicóticos.

É o pensamento fixo que denuncia o quão pouco conhecemos a nós mesmos e como a partir desta conduta nos tornamos suscetíveis a sofrimentos vários. E, de uma maneira dolorosa, somos obrigados a refletirmos, nos concentrarmos, buscando uma melhor qualidade de vida, um querer melhor.

Este nível do pensar fixo/rígido, também está presente na educação e sua conseqüência tem sido desastrosa, porque restringe à imaginação, a construção do novo, a criação, em detrimento do que já está estabelecido, castrando o autoconhecimento e inibindo a busca por si mesmo, o conhecimento interior.

O conhecimento cobrado aí, é uma mera e vã repetição. Esquecem-se as relações transpessoais, incentiva-se pouco as intrapessoais e passa-se o mais básico para as interpessoais, como se o conhecimento fosse suficiente para resolver nossos problemas sociais.

Já o pensar com pensamento flexível está diretamente ligado à imaginação humana que produz pensamentos com inteligência, possibilitando questionar valores, rever métodos, e darmos oportunidade a nós mesmos a fazermos uma viagem interior na busca do autoconhecimento, além de refletirmos sobre diversidades. Nesta maneira de pensar só se guarda a memória técnica, dirimindo a psicológica através da compreensão.

É na educação que este nível de pensar (flexível), tem sua aplicação no construtivismo, como um exemplo do bem formar. Ali, é incentivado o “construir” e desconstruir” conceitos, não só contemplando a história, como a sociedade, a ciência, e a parte espiritual, representada nas diversas religiões, dando oportunidade ao educando, lidar melhor com suas dúvidas, seus questionamentos, descobrir do que é capaz, conhecer-se melhor,  e enfim, o despertar da sua consciência.

E esta consciência dá melhor oportunidade para o ser humano entender valores, a realidade que o cerca e as relações com o seu semelhante.

E o pensar sem pensamentos? É a inteligência na sua concepção pura manifestada. Não existem lembranças destes momentos, transcende a razão e o conhecido, enriquece a sabedoria interior através de suas experiências e sentimentos, promovendo intuições.

A mente está vazia, plena e ai o homem percebe que teve uma intuição, flexibiliza o pensar rígido e expressa o pensar flexível.

É interessante observar que o ser humano por suas próprias necessidades, pela dinâmica das relações, precisa mover-se  entre os níveis do pensar, dando oportunidades aos três níveis em momentos da nossa vida e o que podemos perceber é que precisamos saber quando e como melhor aproveitá-los.

Ainda refletindo sobre o pensar sem pensamentos, é importante salientarmos que quando o ser humano  adentra no pensar sem pensamentos, faz com que tenha conhecimento que a sua consciência é a pura manifestação das Leis Universais e ele tem Deus dentro de si mesmo.

Eis a mais pura expressão dos seres que refletem uma Luz Maior que  brilham dentro de si mesmos. 

Influências no Direito

É impossível nos dias atuais que um operador do direito, seja um advogado, um procurador, um juiz, limite as suas funções decidindo apenas com o uso das leis: os princípios gerais do direito e os valores sociais são de suma importância e traduzem as necessidades em inovar, contemplando um direito que se acomoda as carências do cotidiano que não estão tipificadas nos códigos, mas explícitas e implícitas na nossa Constituição Federal.

Um profissional do direito que faz uso nas suas decisões, nos processos que instrui, de princípios e valores, que por serem fluidos, exigem uma tarefa criativa em seu manejo, necessita ter a compreensão que não pode atuar tão somente com um pensar rígido que a lei determina, mas de maneira flexível, buscando o perfeito equilíbrio entre estas maneiras de pensar, visando à construção de uma decisão ajustada, nos diversos ramos que o direito atua.

Lega-se, com isso, a um segundo plano, a potencialidade transformadora desses instrumentos, que certamente seriam bem usados, se existisse uma proporção devida entre os níveis de pensar, não elevando ao mais alto grau a legislação fria, em detrimento de um agir flexível, criativo, contemplando valores éticos e sociais, formadores de uma consciência que busca entender o ser humano, como humano que é, passível de falhas, mas com uma história de vida que às vezes favorece a construção da violência, da brutalidade. Não para inocentá-los, mas para atenuar-lhes os rigores da lei.

É de suma importância a busca deste ideal do pensar, equilibrando o pensar rígido/fixo, com o pensar flexível, para evitar que existam profissionais do direito que atuem de forma impiedosa, formalista e mecânica, como meros aplicadores de leis, mas que estejam conscientes de que a Justiça deve ser feita com coerência, unindo flexibilidade, criatividade e firmeza nas suas decisões, e isso só se consegue quando existe mais de um nível de pensar.

Conclusão

É inerente ao ser humano o ato de pensar. A vida que brota do homem, a sua própria vida e o que ele reflete no seu meio social, requer dele, dentre outras virtudes, a necessidade de pensar.

Pensar para compreender o sentido da vida, da sua existência, do seu futuro e do futuro da humanidade, e principalmente como ele vai escrever a sua história, de maneira a fazer parte desta grande história da humanidade como alguém que pensou na vida contemplando as diversas dimensões do viver, sua afetividade, seus conhecimentos, suas emoções, sua contribuição à sociedade, suas emoções, sua espiritualidade.

Os três níveis do pensar mostram três maneiras diferentes de expressar o pensamento humano, todas altamente necessárias, enquanto bem dosadas e bem aplicadas, contemplando os momentos distintos da vida e as suas necessidades, primando pela busca do conhecimento do “eu” interior.

Neste processo, a dor pode e deve estar presente, porque ela instiga a uma reflexão mais apurada, que é imprescindível para nossa evolução.

O pensar fixo é necessário em momentos específicos, mas às vezes temos uma necessidade falsa para justificar atitudes, discriminatórias, por exemplo, e negamos a nós mesmos rever valores, estamos dizendo não a evolução de um processo de conscientização, tão necessário a nossa evolução como seres humanos inteligentes.

Percebemos, entretanto que existe uma exceção que leva pessoas a um estado de graça, mesmo pensando de maneira fixa. Alguns seres humanos têm um pensar fixo em determinada coisa, que para ele é sumamente importante, como a crença em Deus, por exemplo, em Jesus Cristo como Deus, continuando o exemplo, com um pensar rígido, e este pensar traz para ele, segurança, felicidade e bem estar, que perduram por toda vida.

Não estamos defendendo o fanatismo, mas um pensar fixo que remete o homem a refletir sobre seu “eu” interior quando recebe um ensinamento como a da necessidade em “nascer de novo no espírito”, a praticar ações que dignificam sua vida a ter sentimentos nobres, coisas que estimulam sua inteligência e domínio de emoções. Não existe, entretanto, nenhuma “janela aberta” para flexibilização, nem a mais remota possibilidade em mudar seu pensamento.

Pensar de forma fixa/rígida, buscando o equilíbrio, tomando para si os valores que trazem conforto, segurança e felicidade, respeitando a diversidade de pensamentos do outro homem, pode ser algo extremamente saudável.

Pensar de maneira flexível, é se apropriar de valores universais, é questionar dogmas que trazem comportamentos extremistas, é reconhecer que existe algo além do conhecimento físico e além da ciência. Algo muito maior. Pensar flexível é entender a diversidade cultural, a diversidade no mundo das idéias, é não se propor a ser o dono da verdade, mas deixar que a verdade se apresente ao nosso “eu” interior e faça brilhar a nossa aura .Pensar flexível é não ser um mero repetidor de informações, mas viver suas experiências, é não amar a arte da crítica e da dúvida, quando elas se fazem pertinentes.

E o que dizer do pensar sem pensamento? Podemos refletir sobre este nível do pensar como um meio para dissolver traumas, complexos, vícios, contemplando o “eu” interior em estado de transformação, de iluminação.

Aprendemos a explorar os detalhes do átomo e as forças que regem o universo, mas não sabemos ainda explorar o “mundo de dentro” com a sabedoria que nos foi outorgada, e com grande e misteriosa capacidade guardada na nossa mente. Temos informações que outra geração jamais imaginou ter, mas não sabemos pensar como deveríamos transformar a informação no conhecimento que precisamos, e o conhecimento em experiência á medida das nossas necessidades.

Eis o grande desafio para esta geração: Tornar-se ávida do saber e aberta a pensar o mundo, e a própria vida.

Rosany Mary Souza