O olha eurocentrista permanece em relação à Amazônia, o enxergar a natureza sem ver o homem, Visão esta que está impregnada no sul do país, no sudeste e principalmente no planalto de Goiás. Dos ângulos postos, todos vêm a natureza exuberante, mas não percebem o Amazônida neste contexto. Como rever esse comportamento?

INTRODUÇÃO:

Perceber os olhares sobre a Amazônia pelos olhos de Hideraldo Lima da Costa é sem sombra de dúvida; olhar diferenciado, um parecer apurado da discriminação varada pelos séculos, flagrantes do etnocentrismo posto e acabado por pressupostos dispostos na versão daqueles que pela força das armas deram-nos:- A fé, o rei e o julgo da língua.

A visão sacra oferecida tão cruel quanto à laica, expõe o olhar dos importantes dos séculos que nos antecederam e seus erros apontam-nos o caminho de valorar o que temos de mais importante na Amazônia, o Amazônida. O julgar do aculturamento jesuítico e sua eficácia em produzir tapuias banindo do novo mundo a ignorância e o paganismo. A Amazônia brasileira ainda espanhola por celebração do Papa Alexandre VI no final do século XV; e invadida por portugueses no raiar do século XVI.

Dos olhos cansados do Frei Gaspar de Carvajal propagou-se a lenda das Amazonas por seus relatos de 1542. Assim como o atesto de Cristobal de Acuña cronista da expedição de Pedro Teixeira em 1637. Propaga a existência do rio de ouro na Amazônia. E a tolerância da igreja para com a miscigenação e o desprezo da mesma para com o miscigenado que muito facilitou o aldeamento na região, tal qual fará o protestantismo após o período pombalino.

La Condamine, em meados do século XVIII. O primeiro dos naturalistas na Amazônia sob comando do Rei da França e consentido pelo rei de Espana e Portugal trazendo o racionalismo e a ciência para este lado do Novo Mundo, derruba o relato do rio do ouro feito pela expedição de Pedro Teixeira. Contudo permanece na busca da homérica Amazonas saídas da imaginação do Frei Gaspar de Carvajal. Afirma-nos (LA CONDAMINE 2000- P. 114; 15; 18)

"Afigurava-se-nos, chegando ao Pará, e saídos das matas do Amazonas, ver-nos transportados à Europa. Encontramos uma grande cidade, ruas bem alinhadas, casas risonhas, a maior parte construída desde trinta anos em pedra e cascalho, igrejas magníficas (...). Recebem as mercadorias da Europa em troca de gêneros do país, que são, além de algum ouro em pó que transportam do interior das terras ao lado do Brasil, todos os diferentes produtos úteis, quer dos rios que vêm perder-se no Amazonas, como das margens deste último a casca do pau de cravo, a salsaparrilha, a baunilha, o açúcar, o café, e, sobretudo o cacau, que é a moeda corrente do país, e que constitui a riqueza dos habitantes (...). O hábito que têm esses índios de se tingirem o corpo de urucum, de jenipapo e de diversos óleos gordos e espessos, o que deve com a continuação obturar-lhes os poros, contribui talvez para aumentar também a dificuldade (...). É bem verdade que ainda não tinha morrido metade dos índios. tal conjectura é confirmada por outro fato".

Charles ? Marie de La Condamine (1701 ? 1774), foi o primeiro naturalista do século XVIII. O olhar de La Condamine sobre a Amazônia é um misto de Ciência e crença no maravilhoso como define (COSTA 2000- p.235) "apesar de serem científicas e modernas as expedições acontecem no século XVIII e ainda foram marcadas por lógica colonial". Molda-se a figura do viajante naturalista. Em seu relato, encontram-se observações sobre a região, sobre a fauna e a flora, e sobre os hábitos indígenas: "os macacos são a caça mais comum e mais apreciada pelos índios do Amazonas. Em todo o decorrer da minha navegação por esse rio, vi tantos e ouvi falar de tantas espécies diferentes que a simples enumeração seria longa" (Apud FIGUEIREDO - 2004- LA CONDAMINE, 1992 [1745],p. 102). Era o final do período pombalino os seculares substituíam os jesuítas.

Alexandre Rodrigues Ferreira 1786, o único brasileiro entre estes notáveis da época é o naturalista mais científico do século XVIII, como afirma (COSTA. 2000. P. 234) "... Uma atitude plenamente cientifica não deixando margem nem espaço para raciocínio que não fosse totalmente basilado em termos totalmente racionais".

Sobre ele afirmam (BARBOSA; FERREIRA) Naturalista brasileiro, oficialmente designado pelo governo português para avaliar o potencial econômico das terras que abrangiam o Vale do Rio Branco. Seu objetivo também era o de descrever a situação em que se encontravam os aldeamentos indígenas; poucos anos antes um levante de índios fez regredir o então sistema de ocupação portuguesa que, por sua vez, estava tentando se reconsolidar (...). Fez reconhecimentos nos rios Brancos, Uraricoera, Tacutu, Surumu, Maú e Pirara, além de curtas excursões por localidades próximas a estes rios. Descreveu uma grande coleção faunística e florística desta região que, em parte, foi perdida devido a invasão francesa à Portugal em 1808. Também possui documentação sobre os usos e costumes dos indígenas locais, além de excelente material iconográfico do Forte São Joaquim e dos aldeamentos (diretórios de índios) espalhados pelo rio Branco

Ronald Raminelli diz: A farta bibliografia dedicada à Viagem Filosófica e a Alexandre Rodrigues Ferreira prima por exaltar seus feitos, tornando-se, por vezes, obras apologéticas, estudos de exaltação ao naturalista esquecido e abandonado pela sorte. Ao final do estudo sobre as expedições científicas portuguesas, o estudioso americano William J. Simon destacou a importância de Alexandre Rodrigues Ferreira para o progresso do conhecimento na História Natural. Para tanto, recorreu ao testemunho de um Alexander Von Humboldt e Étienne Geoffroy Saint-Hilaire. Contudo, essas personalidades da comunidade científica oitocentista impressionaram-se com o material recolhido na Amazônia e não com a capacidade de produção e sistematização do conhecimento por parte do naturalista luso-brasileiro. Não diferente agia contra o nativo.

(ROMINELLI) As tribos "pacificadas" não despertaram a atenção do naturalista, foram apenas nomeadas ou identificadas como grupos em extinção. Os ameríndios submetidos à colonização eram praticamente invisíveis aos olhos de Ferreira. Em contrapartida, os muras considerados corsários da floresta ? receberam um enorme destaque do explorador luso- brasileiro. A imagem dos muras recupera os estereótipos do bárbaro. Esses índios comentam o naturalista, mordem as pedras contra eles atiradas, cortam cabeças e arrancam os dentes dos mortos e guardam como troféus. Seus prisioneiros eram logo transformados em escravos que, em currais, serviam de sustento a seus senhores antropófagos. Entre eles, o espírito de vingança é o maior de todos: "Dentre todo o gentio é esse o que menos se alinha. Por vezes, Ferreira considera-os irreversivelmente bárbaros, incapazes da pacificação, contrários à agricultura e ao comércio, máximas dos planos pombalinos para a Amazônia. Aos renitentes, conclui o comandante da Viagem Filosófica e doutor de Coimbra, somente resta à guerra de aniquilamento, o extermínio.

O século XIX vai raiar com a chegada da família real em fuga da Europa, novo tempo vislumbra na colônia, o interesse do velho mundo pelo novo mundo vai intensificar. Segundo Hideraldo Costa diferem-se das expedições as de cunho geográfico econômico tornado possíveis pelo financiamento particular e ou oficiais. Outro olhar deve-se ter pelo mesmo prisma Johan Batist Von Spix e Carl Friedrich Von Martius membros da Academia de Ciências de Monique, chegam no Rio na Comitiva da Princesa Leopoldina de Habsburg no ano de 1617. É necessário se ter esta leitura, bem definida por Hideraldo Estes viajantes que vão iniciar suas pesquisas são a elite do mundo. É verdadeiramente o inicio da globalização da Amazônia.

(FIGUEIREDO;RUCHMAN.2004 P.164) "Johann Emanuel Pohl, botânico e geólogo, fez parte, junto com Spix e Martius, da missão científica que acompanhou a princesa Leopoldina em uma viagem ao Rio de Janeiro, Minas Gerais e Goiás. Além de Spix, Martius e Pohl, a expedição trazia o zoólogo e etnógrafo Johann Natterer, o pintor botânico Johann Buchberger, e o pintor e paisagista Thomas Ender. A expedição permaneceu no Brasil de 14 de julho de 1817 a 1.º de julho de 1818. Percorreu vários estados brasileiros. Spix e Martius visitaram a Amazônia e publicaram Viagem pelo Brasil. O pintor Thomas Ender produziu uma série de aquarelas e desenhos, que hoje fazem parte do acervo do Museu da Áustria".

No olhar de Hideraldo essa visão diminuída do nativo fica implícita, valorizam a espécie e não a espécime. A nobreza olha para o amazônida, principalmente para o negro, o tapuia e o mameluco no mesmo patamar da criadagem e com o pensamento da ineficiência; essa clareza vai ocorrer mais severa no momento que observarmos quem são estes naturalistas. Nobres a serviço de seus reis e não raro a serviço da metrópole. Carl Martius e Johan Spix chegam com a princesa que há de se tornar Imperatriz do Brasil. É esse olhar extrativista por trás da ciência que Hideraldo Lima da Costa percebe e traduz como ninguém no texto "Amazônia paraíso dos naturalistas". Estes olhares vão trazer investimento e Exploração sem consideração ao ser que habita este paraíso.Helena Toledo esclarece-nos a proximidade das visões oitocentistas sobre a Amazônia brasileira. O olhar de Agassiz traz de certoa bagagem de seu mestre, vide Machado:

(MACHADO. 2007 P71) Além disso, ao alistar-se na Universidade de Munique como aluno de botânica do famoso naturalista-viajante Carl Friederich Von Martius, que nos anos de 1817-20 havia empreendido a primeira grande viagem naturalista pelos territórios da então colônia portuguesa do Brasil, o jovem Louis Agassiz teve logo oportunidade de se enfronhar nos estudos da natureza e dos seres tropicais. (...) Seguindo a autorização do mestre, Agassiz estudou minuciosamente a coleção brasileira de peixes coletada por Johann Baptist Von Spix, companheiro de Martius na viagem da missão austríaca ao Brasil, que havia permanecido inédita devido à morte inesperada de Spix em 1826. Tão preciso foi o estudo desenvolvido pelo jovem estudante que, em 1829, o trabalho saiu publicado com o título Peixes do Brasil, qualificando-o precocemente para vôos mais altos.

Como o homem da Amazônia iria ter alguma importância para esses naturalistas se consideravam a mistura do Europeu com o nativo uma aberração. Os valores que tinham eram destoantes do conhecimento que buscavam que interesse haveria de ter a casta "superior" por estes miscigenados habitantes deste paraíso. Atentemos para "o chamamento que nos faz Hideraldo, quando diz: - Ao colocarem em funcionamento este olhar classificatório nas regiões onde estavam pesquisando, e ao conseguirem espécimes da natureza catalogando-os devidamente, e o passo seguinte era remeter regularmente o resultado desses trabalhos às instituições financiadoras na Europa e Estados Unidos". Exatamente como se faz nos dias de hoje. Não havia interesse no habitante humano olhado como inferior, mistura.

Henry Lister Maw: Viajou pela Amazônia a serviço da Inglaterra, focado na agricultura na viabilidade da exploração econômica. Desceu os rios do Solimões até Belém suas observações foram realizadas entre 1827 e 1828. Tenente da Marinha inglesa. Olhar do naturalista partia do civilizador para o civilizando, que jamais alcançaráa civilidade.

Daniel Parish Kidder ? (1839-1845)- Esse pastor Metodista descreve Belém: "No terceiro quartel do século XVIII, a cidade sofre grandes mudanças, com as intervenções do governo do Marquês de Pombal, principalmente pela construção de edifícios, favorecidas pela grande circulação da produção de cacau do interior. Nos primeiros anos ruas mais afastadas estão repletas de "casinholas" insignificantes e feias, Kidder (1943, p.168 Apud C. Leite). A cidade se confronta com a força da mata, pois dentro do perímetro urbano "é perfeitamente possível ao viandante embrenhar-se em espessa floresta sem qualquer indício que denuncie a proximidade de uma habitação humana" (Kidder, 1943, p.169). A obra de Kidder e Fletcher, ambos missionários metodistas no Brasil, onde residiram muitos anos, foi durante muito tempo a obra clássica de autores americanos sobre o Brasil. Teve inúmeras edições (cf.Kidder). Não esquecer que o Pastor Daniel foi um grande vendedor de Bíblias, e como os jesuítas foi um grande vendedor da fé.

Adalbert da Prússia (1842-1843)- Subiu o rio Amazonas de Belém a Manaus visitou Santarém e Porto de Moz Vale ressaltar que essas são cidades assentadas em grandes áreas de Terra Preta, onde fragmentos de cerâmica podem ser vistos facilmente na superfície até hoje; o Príncipe Adalberto da Prússia, em 1842 permaneceu no Amazonas convivendo com índios por mais de dois meses, descreveu a geografia da região e os solos, mas a Terra Preta parece não ter chamado sua atenção À coloração escura deve-se principalmente à presença de material orgânico de composto, em parte na forma de carvão residual de fogueiras domésticas e da queima da vegetação para uso agrícola do solo. Os elevados teores de Corgânico, bem como os de P, Ca e de Mg, são resultantes da deposição de cinzas, resíduos de peixes,conchas, caça, dejetos humanos, entre outros compostos orgânicos. Por essa razão, a fertilidade química da TP é significativamente superior à maioria dos solos amazônicos não perturbados pela atividade humanos pré-histórica, geralmente ácidos e pobres em nutrientes. O que indica que suas intenções eram outras dadas à produção de imagens de sua expedição. Conviveu no Xingu e no seu olhar o índio Amazônida era superior ao índio do sul do Brasil e considerando-se a sua índole pacífica.

Henry Walter Bates esteve na Amazônia por onze anos de 1848 a 1859. Naturalista inglês que viveu onze anos viajando pela Amazônia ? observa que a "população tapuia", mestiço de português com o indígena, foge da cidade "logo que o tumulto da civilização começa a se fazer sentir". Aponta ainda que residissem famílias de índios em Belém, "pois a vida era semelhante a uma grande aldeia, e não de uma cidade. Mas logo que começaram os vapores e houve mais atividade comercial, foram aos poucos abandonando a cidade" (Bates 1944, v.1, p.114). A partir do material bibliográfico reunido para esse fim, verificou-se que tal processo foi bem-sucedido, como evidencia a ampla circulação das obras publicadas por Bates. Transcorridos 156 anos dessa expedição, a produção científica de Bates continua a participar do circuito acadêmico de produção de conhecimento sobre a Amazônia na contemporaneidade, qual seja no campo da biologia, da zoologia, da sociologia, da história ou da antropologia. No que peseseu olhar descriminador em relaçãoao nativo.

O turismo nasceu no meio do século XIX, quando o mundo passava por sua mais contundente transformação. Os países europeus, principalmente a Inglaterra, passavam por uma grande mudança, em razão do início do capitalismo industrial. O aparecimento de grandes indústrias, extremamente ligadas ao desenvolvimento científico e tecnológico. Sem formação Superior Bates ao retornar a Londres exerce funções colaboradoras para com os Acadêmicos da época, morre em 16 de fevereiro de 1892. Seus trabalhos continuam como referência de biossociodiversidade na Amazônia.

Alfred Russel Wallace- Antropólogo, geógrafo, biólogo e naturalista, biólogo, antropólogo, geógrafo, topógrafo e arquiteto. Por volta de 1840 começou a interessar-se por botânica. Em 1848, iniciou viagem pelo Amazonas, ali permanecendo até 18521. A valiosa coleção acumulada nessa expedição foi consumida pelo fogo na viagem de volta, embora Wallace tenha conservado as anotações que lhe permitiram escrever um livro sobre a Amazônia. Daí esse olhar diferenciado ao povo nativo Alfred Russel Wallace fica na Amazônia de 1848 a 1852. Na visão de Hideraldo percebe a arrogância da Aristocracia alemã, na cruel percepção de Von Martius um criacionista, que tem na atitude a crença que era superior posto que nasceu para tal. Como influência Até Henry Walter Bates. E depois dele estes aristocratas vão influenciar o Casal Agassiz, principalmente Lois.

Percebe-se na leitura antropológica de Russel Wallace uma visão de mundo evolucionista. "Confrontando a teoria da degeneração Martius defendida por Walter Bates, Wallace diz:" o genuíno habitante da selva está muito longe de ser um degenerado ( Apud Costa 2000 p.248)"

Este olhar será novamente confrontado, quando o discípulo Spix, Louis Agassiz. Passar pela Amazônia.

Grande parte dos viajantes que estiveram no Brasil oitocentista estava participando de expedições científicas que visitariam diversos países. Entre esses pesquisadores destacaram-se geólogos, botânicos, zoólogos, etnólogos e mineralogistas. Na maioria dos casos, eles desejavam completar pesquisas já iniciadas em seu país de origem. No entanto, apesar de os naturalistas representarem a maioria, eles não foram os únicos estrangeiros a aportar em terras brasileiras. Muitos artistas, jornalistas, missionários religiosos, representantes diplomáticos, comerciantes, técnicos, engenheiros, médicos, educadores, profissionais liberais, pessoas com a finalidade de visitar parentes e aventureiros estiveram no Brasil a trabalho ou a passeio (PIRES, 2001. Apud DIAS 2006).

Robert Christian Berthold Avé-Lallemant- 1859 era de nacionalidade alemã e médico de formação. No Brasil, interessou-se, sobretudo, pela condição de vida dos colonos alemães. Indignado com algumas situações que presenciou nas colônias, seu relato ganhou tom de denúncia, de modo que ele procurou defender os interesses dos imigrantes junto às autoridades brasileiras e de seu país, suplicando-lhes ajuda. Denunciou "o comércio de carne" estabelecido entre Brasil e Alemanha e tentou alertar seus compatriotas quanto ao caráter enganoso das propagandas que circulavam em seu país sobre a situação dos imigrantes. Apesar de ser médico e haver demonstrado interesse por diversas áreas da ciência, não era um naturalista. Apresentou seu diário como uma "[...] narração dum médico de hospital, que nunca teve pretensões ao nome de naturalista, seja zoólogo, botânico ou mineralogista" (AVÉ-LALLEMANT, 1961, p.7 Apud DIAS 2006. P 426.). Este viajante diferente da maioria dos que o antecederam, percebeu-se na posição de Agassiz.

Jean Louis Rodolph Agassiz visitou o Brasil de 1865 a 1866, juntamente com sua esposa, Elizabeth Cary Agassiz e com a comitiva científica que chefiou composta de aproximadamente quinze pessoas. O naturalista suíço, naturalizado norte-americano, desde a infância nutria o desejo de conhecer o Brasil, vislumbrando a oportunidade ideal para realizar esse sonho quando seu médico lhe recomendou que mudasse de clima. 1865 e 1866. O relato publicado pelo casal e a repercussão da viagem indicam que o material produzido sobre o Brasil buscou atingir um público mais amplo do que o de leitores especialistas em história natural. A expedição pela Amazônia deu destaque à atividade científica de Agassiz e reforçou as estratégias de legitimação de suas teorias raciais e biogeográficas. Os problemas suscitados por sua viagem não são tratados como meramente locais.Os peixes do Amazonas e seus Afluentes são utilizados para solidificar os argumentos dos criacionistas contra os evolucionistas, além de possibilitarem a defesa de uma biogeografia estática, onde cada ser teria sido designado para habitar uma região específica do planeta. Suas observações sobre a mestiçagem brasileira apóiam sua opinião de que as raças não devem se misturar, e fortalecem o campo político de parte da elite norte-americana que pregava a segregação dos negros. Na visão de Agassiz na Amazônia nada podia ser feito, pois o processo de mestiçagem haviachegado a um ponto que era impossível separar o branco do índio e o índio do negro. O uso da técnica iconográfica na Amazônia tanto quanto a fotográfica nascem sob o olhar cienticifista de capturar informação, posto que a fotografia era neutra, segundo se cria na época, o uso da fotografia viria ser indispensável nas expediçõescientificas. A pintura tinha a posição subjetiva do autor. Podia-se pela fotografia mostrar a etnia do Amazônida. Foi assim que imortalizou sua criada Alexandrina, para supostamente provar pela fotografia o que fazia a mistura de raça do negro com o índio.

Ermano Stardelli- Conde Italiano viveu no Amazonas durante 43 anos, de 1879 até sua morte, entremeados de curtos períodos na Itália. Publicou alguns trabalhos sobre a região, mas sem rigor científico; são relatos e impressões de viajante que deixaram Cascudo encantado pelas descrições "literárias e amorosas" dos costumes e do dia-a-dia dos nativos da região. Chega a ser engraçada a maneira como o escritor tenta definir as narrativas de Stradelli, expostas, por exemplo, na introdução o seu "Vocabulário Nhengatu-Português e Português-Nheengatu", espécie de dicionário da língua falada pelos povos indígenas do Norte, ainda hoje utilizado como referência por pesquisadores. Além do "Vocabulário", Stradelli publicou, em italiano, "La Leggenda Dell'jurupary", sobre o demônio mitológico que assombra os índios, "Rio Branco" e "L'UAUPES et gli Uaupes", todos fora de catálogo no Brasil. "Como narração de viagem, Stradelli é desconcertante", escreve Câmara Cascuda. "Não traz um só episódio sensacional. (...) Nem serpentes, jacarés e onças aparecem nas páginas tranquilas da história singela. (...) O extremo valor de sua jornada está justamente na nobre simplicidade com que a fotografou."

A vida do conde Stradelli, morto pela hanseníase (Cascudo usa a palavra "morféia" para a doença) aos 64 anos, foi pesquisada por Câmara Cascudo estudou durante 18 meses, por meio de cartas e informações que vinham da Itália e dos lugares do Brasil, por onde passou. É de se imaginar como seria hoje pesquisar a biografia do conde, cuja trajetória daria, sem dúvida, um filme e tanto. A edição traz alguns problemas, como a falta de tradução para os trechos que Cascudo transcreve em italiano, diretamente dos livros de Stradelli.

Henri Anatole Coudreau- Explorador francês esteve na região 28 de julho de1895 a 07 de janeiro de 1896. Escreveu Viagem ao rio Tapajós Morreu às margens do rio Trombeta. Henry Coudreau é um dos primeiros exploradores a importar para a América equatorial o material necessário para a tomada de vista e retratos. Mais tarde, quando servia ao governo do Pará, recentemente casado, passa a dividir a tarefa de fotógrafo com sua mulher Octavie Coudreau, que o acompanhou em todas as suas viagens até a sua morte. Esta sim, seguramente foi a primeira mulher a fotografar a Amazônia e suas gentes.

Henri Coudreau e Octavie Coudreau não eram fotógrafos por ofício. Geógrafos e Cartógrafos, o casal, no entanto, utiliza-se do recente invento para registrar melhor o seu trabalho igualmente geográfico, orográfico, hidrográfico, topográfico, histórico, ecológico e etnográfico. Tudo é registrado pela dupla nas suas diversas incursões pela Amazônia: rios, acidentes geográficos, cachoeiras, povoados, populações ribeirinhas, a sua própria expedição e as dificuldades por que passavam; embarcações e, finalmente, índios, o que vem a ser suas maiores predileções.Etnógrafo romântico, Coudreau, apesar de suas contradições, é um apaixonado pela vida indígena. Chega a acreditar piamente no mito do bom selvagem e o busca incessantemente a cada expedição, apesar de se impacientar muitas vezes na busca deste homem original.Os trabalhos destes dois fotógrafos-etnógrafos configuram-se em excelente documentação etnográfica. Além de etnógrafo, preocupado em assimilar todas as informações possíveis sobre os diversos grupos indígenas que teve contato. Percebe-se aqui também a preocupação em registrar a diferença entre o ser superior o europeu e os povos da mata.

Conclusão:

Olhar estes viajantes e naturalistas pelo olhar de Hideraldo Lima da Costa é reler tudo que se tenha lido, é sem revanchismo perceber o quanto a arrogância e do europeu, que do seu ângulo se percebe superior, quando por ignorância nos impõe sua cultura, via selvageria de atos pelo instrumento cruel da religião no caso dos Jesuítas e pela espada impiedosa dos conquistadores. Vem-nos a pergunta: - O quê mudou? Qual a diferença assassina da espada aço laborada para o filme direcionadamente produzido. A força da imagem utilizada no século passado ainda é mesma, que mudou foi sua função jurídica. Alterou-se a credibilidade jurídica mas mantêm-se o impacto. A mídia brasileira hoje, encarrega-se de fazer o trabalho do casal Agassiz no passado.

As Alexandrinas são expostas todos os dias e cabe ao Amazônida mudarmos esses olhares ainda tão cruéis e descriminantes, pois para o Europeu e para o Norte Americano continuamos destoando a paisagem e ainda somos incapazes de cuidarmos do que é nosso por direito.

Hideraldo aponta-nos o caminho para resistir quando pela sutileza expõe a crueldade mesmo quando disfarçada de defesa. Nossa região foi é e será sempre objeto de cobiça e o homem da Amazônia sempre estará sendo considerada parte dissonante do contexto dos pretensores que a defraudam, espoliam, desmatam, roubam e pousam de defensores, pois o nosso governo não tem competência nem responsabilidade social para defendê-la, partindo-se da premissa de um congresso nacional corrupto e corrompido. Abre-nos as portas para novas leituras e releituras fazendo novas percepções das boas intenções que tanto nos ladeiam.

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