Fundação Educacional de Divinópolis – FUNEDI/UEMG

Instituto Superior de Educação de Divinópolis – ISED

Ensino de História II

História

Andressa Ruana Braga

Os Miseráveis: Da Literatura e do Cinema à Realidade Social da Era Pós-Revolução Francesa

Divinópolis/MG

06/2013

Andressa Ruana Braga 

Os Miseráveis: Da Literatura e do Cinema à Realidade Social da Era Pós-Revolução Francesa 

Artigo Temático apresentado à disciplina de Ensino de História II, ministrada pelo Mestre Professor João Ricardo Ferreira Pires, para obtenção de nota no curso de História do Instituto Superior de Educação de Divinópolis – ISED. 

Divinópolis/MG

06/2013

Introdução 

            Em fevereiro de 2013 estreava no Brasil um novo musical, baseado na literatura, em antigos filmes, e na história. Este novo musical, produzido no cinema e que demorara meses para se tornar um filme, entre filmagens, edições e pesquisa, ele se tornou o um espetáculo cinematográfico digno de toda a especulação da mídia e dos fãs de um bom filme.

            Porém, o musical que estreava com o nome de “Os Miseráveis”, dirigido por Tom Hopper e com um belíssimo elenco, não era apenas um simples filme cantado, era uma parte da história baseada na obra de um dos maiores gênios da literatura francesa, Victor Hugo.

            Bem recebido pelos críticos de cinema, “Os Miseráveis” trouxe muito mais do que uma obra adaptada da literatura, trouxe um espetáculo de sons e cores, trouxe para a atualidade a paixão da Revolução que tanto contagiou leitores nas páginas de Hugo.

            “Os Miseráveis” representa muito além de um simples romance antigo, ele representa toda uma história de um povo, o povo francês, miserável, doído, que vivia a margem de uma sociedade que tentava se transformar em um Estado justo e liberal em uma época tão tumultuada, “Os Miseráveis” é um pedaço da história da França, e um pedaço da história de todos aqueles que lutam pela liberdade... Sendo ricos ou pobres, nobres, plebeus ou burgueses, intelectuais ou analfabetos, não importava, todos lutavam por algo que ansiavam, a liberdade, o bem supremo do ser humano.

            Este artigo temático tem como o objetivo principal destacar a sociedade da época dos conflitos retratados tanto no texto de Victor Hugo quanto na produção cinematográfica de Tom Hooper. Aqui, os personagens queridos como Cosette, Marius, Gavroche e Valjean, serão representados de uma maneira quase real. Eles serão comparados com a sociedade da época, será um meio de demonstração para o que seria a vida de pessoas reais que possuíam o mesmo nível social de cada um deles.

            “Os Miseráveis” é uma obra ficcional, e nunca deixou de ser um meio de se conhecer um pouco mais sobre aquela sofrida e miserável sociedade do século XIX, a sociedade da era Pós-Revolução Francesa.

 

Está ouvindo as pessoas cantarem?

Cantarem a música dos homens furiosos?

É a música de um povo

Que não será escravo novamente

Quando a batida do seu coração

Ecoa nas batidas dos tambores

Há uma vida prestes a começar

Quando o amanhã chegar!

Você se juntará à nossa cruzada?

Será forte e ficará comigo?

Além da barricada

Há um mundo que deseja ver?

Junte-se a luta

E ganhará o direito de ser livre!

Está ouvindo as pessoas cantarem?

Cantarem a música dos homens furiosos?

É a música de um povo

Que não será escravo novamente

Quando a batida de seu coração

Ecoa nas batidas dos tambores

Há uma vida prestes a começar

Quando o amanhã chegar!

Você dará tudo de si

Para que nossa bandeira possa ir em frente?

Alguns irão morrer e alguns irão viver

Você se erguerá e pegará sua chance?

O sangue dos mártires regará os prados da França!

E ganhará o direito de ser livre

Está ouvindo as pessoas cantarem?

Cantarem a música dos homens furiosos?

É a música de um povo

Que não será escravo novamente

Quando a batida de seu coração

Ecoa nas batidas dos tambores

Há uma vida prestes a começar

Quando o amanhã chegar!

(Do You Hear The People Sing? - Os Miseráveis)

 

A Obra Literária

 

Les Miserábles (Os Miseráveis – Título em português) é uma das principais obras escritas pelo autor francês Victor Hugo, publicada na França e em alguns países em 3 de abril de 1862.

            Victor Hugo foi um escritor, nascido em Besançon, no dia 26 de fevereiro de 1802, tendo falecido em 22 de maio de 1885 na cidade de Paris na França. Hugo foi um novelista e ativista pelos direitos humanos francês de grande atuação política em seu país. Em seu principal romance, “Os Miseráveis”, que traz claramente enraizado em si a filosofia política de Victor Hugo. É um mundo onde há cooperação – e não luta – entre as classes; onde o empreendedor desempenha uma função essencialmente benéfica para todos; onde o trabalho é a via principal de aprimoramento pessoal e social; onde a intervenção estatal por motivos moralistas – seja do policial ou do revolucionário obcecado pela justiça terrena – é um dos principais riscos para o bem de todos que será gerado espontaneamente pelos indivíduos privados. Victor Hugo viveu em um período que a sociedade francesa se encontrava em reestruturação após umas das maiores revoluções da Europa. E assim, utilizando sua própria história cotidiana, Hugo retrata em suas páginas uma história, que retrata a realidade social e política de um século de transições.

            A história de “Os Miseráveis” se passa entre duas batalhas, a de Waterloo de 1815 e os Motins de junho de 1832.

            A Batalha de Waterloo foi um confronto militar ocorrido em 18 de junho de 1815, próximo a Waterloo, na atual Bélgica. Um exército do Primeiro Império Francês, sob o domínio do Imperador Napoleão, cerca de 72 mil homens, foram derrotado pelos exércitos da Sétima Coligação, que incluía uma força britânica, eram cerca de 118 mil homens. Este confronto marcou o fim dos Cem Dias e foi a ultima batalha de Napoleão; a sua derrota terminou com o seu governo como Imperador.

            A primeira publicação na obra de Victor Hugo, contou com 5 volumes, atualmente a publicação completa da obra, conta apenas com 3 volumes, apesar de ainda serem encontradas algumas versões de publicação com 5 volumes. A obra conta em primeiro, a história de Jean Valjean, um condenado posto em liberdade condicional até a sua morte. Em torno de sua história, giram alguns personagens que vão dar seus nomes para alguns volumes da obra literária, como: Fantine, Cosette, Marius, os Thénardier (incluindo Éponine e Gavroche) e o Inspetor Javert, além de demais secundários, que também são muito relevantes com o avançar da história revolucionária e miserável retratada pela obra.

 

O Som e a Imagem

 

            “Os Miseráveis” além de ser uma obra literária conhecida, foi adaptada para o cinema diversas vezes, sendo suas principais produções a de 1907, “On The Barricade”, dirigido por Alice Guy Blache, adaptação de uma parte do romance; a de 1935, “Os Miseráveis”, filme dirigido por Richard Boleslawski; em 1998, “Os Miseráveis”, filme dirigido por Billie August; em 2000, “Os Miseráveis”, minissérie da TV Francesa dirigida por Josée Dayan e co-produzida por Gérard Depardieu; e a de 2012, “Les Miserables”, que foi uma adaptação britânica baseada no musical, dirigido por Tom Hooper, com Hugh Jackman (Jean Valjean), Amanda Seyfried (Cosette), Russel Crowe (Javert), Samantha Barks (Éponine), Aaron Tveit (Enjolras), Helena Bonham-Carter (Madame Thénardier), Anne Hathaway (Fantine), Eddie Redmayne (Marius), Sasha Baron Cohen (Monsieur Thénardier) e Daniel Huttlestone (Gavroche). Além de produções cinematográficas, o livro “Os Miseráveis” inspirou musicais, o primeiro surgiu na França, em 1980, “Os Miseráveis”, um musical, inaugurado em Paris no Palais des Sports. Ele se tornou um dos musicais de maior sucesso da história. Foi dirigido por Robert Hossein, a música foi composta por Claude-Michel Schonberg e o libreto foi escrito por Alain Boublil. Em 1985, uma versão em inglês foi inaugurada em Londres no Barbican Arts Centre. Foi produzido por Cameron Mackintosh e adaptado e dirigido por Trevor Nunn e John Caird. A letra foi escrita por Herbert Kretzmer e o material adicional por James Fenton. Em 1987, o musical estreou na Broadwayem Nova York na Broadway Theatre. O filme de 2012, dirigido por Tom Hooper, baseou-se na versão inglesa deste sucesso, além de ser uma bela homenagem aos 25 anos de estréia do musical na Broadway.

           

Os Miseráveis

 

            Surge nas linhas de Victor Hugo, a história de Jean Valjean, um homem simples e honesto, que por roubar um pão para sustento dos sobrinhos e da irmã, passa dezenove anos de sua vida na prisão. Jean Valjean, tendo servido durante 19 anos nas galés (cinco por roubar um pão para sua irmã e seus sete sobrinhos passando fome, e mais catorze por inúmeras tentativas de fuga) acaba sendo libertado. Valjean é marginalizado por todos que encontra por ser um ex-presidiário, sendo expulso de todas as estalagens. Ele iria dormir na rua, mas é recebido na casa do benevolente Bispo Myriel (conhecido como senhor Benvindo), o Bispo de Digne. Mas em vez de se mostrar grato, rouba-lhe os talheres de prata durante a noite e foge. Logo é preso e levado pelos policiais à presença de Benvindo. O Bispo salva-o alegando que a prata foi um presente e nessa altura dá-lhe dois castiçais de prata também, repreendendo-o por ter saído com tanta pressa que esqueceu essas peças mais valiosas. Após esta demonstração de bondade, o bispo o "lembra" da promessa (que Valjean não tem nenhuma lembrança de ter feito) de usar a prata para tornar-se um homem honesto.

            O tempo se passa e anos mais tarde, Valjean é o prefeito de uma pequena cidade francesa, ele possui um novo nome, Madeleine, – que apesar de aparentar ser um nome feminino, na França deste contexto, é um nome aparentemente comum –, assim, depois de idas e vindas, ele conhece a prostituta Fantine, que se vendia nas ruas pelo sustento de sua pequena filha Cosette. Valjean culpado e solidário após descobrir que Fantine passava por essa situação por uma parte de culpa dele mesmo, ele a ajuda, e após ter contraído uma doença grave, Fantine morre, então, compadecido, Valjean vai à procura de sua filha Cosette, criando-a como sua própria filha.

            Anos mais tarde, Cosette é uma linda e graciosa jovem, que desperta a paixão de um nobre estudante revolucionário, Marius, cujo pai havia sido morto na Batalha de Waterloo, o avô de Marius sempre o repreendera por seus ideais revolucionários. Apaixonados, Cosette e Marius despertam a inveja da jovem Éponine, garota que havia sido criada junto com Cosette quando crianças. Com o desenvolver da história, Javert, o inspetor que perseguia constantemente Valjean, o descobre em Paris, então Valjean é obrigado a se esconder com Cosette. Na mesma noite, a população revolta francesa se prepara para o enterro do General Lamarque, o símbolo da Revolução, então, no dia seguinte, ocorre as Barricadas Parisienses, onde quase todos os revoltos morrem, sobrevivendo Marius, pois fora salvo por Valjean.

Já no final da História e após diversas mortes e reviravoltas, Marius e Cosette estão juntos, e Valjean, em seu leito de morte, revela toda a verdade para Cosette, e em paz, morre.

 

A Sociedade Pós-Revolução

 

A Sociedade da França Pós-Revolução estava bem dividida, havia classes definidas, onde os indivíduos pertenciam de acordo com a sua classe econômica. Apesar da miséria das ruas francesas, e de uma grande população passar fome mendigando um pedaço de pão, havia os abastados da sociedade, aqueles nobres e aristocratas, os burgueses, os camponeses, e apesar que a Revolução tenha dissolvido a nobreza, com a retomado do poder pelo rei, as nobres casas estavam novamente no poder.

Antes de finalmente entrarmos no perfil social de personagens importantes da obra literária de Victor Hugo, temos de comentar como a sociedade Francesa desta época era dividida, para então podermos traçar uma comparação entre os personagens de Hugo com a sociedade da época. A sociedade Francesa estava divida em: Cléricos, Nobreza, Burguesia, Camponeses, Proletariado e Militares.

 

- Os Cléricos:

 

                        O Direito Divino se entrelaçava ao trono e ao altar, o governante impunha sua religião aos súditos. A Igreja oficial (neste caso a católica) detinha o privilégio de culto público e o estado civil, ela dirigia a assistência ao povo, censurava a atividade intelectual, etc. Do ponto de vista social, a riqueza do Clero Católico comprometia sua influência e coesão. Entrando em conflito com os reis, o Papa expunha-se a perder suas possessões territoriais; os nobres colocavam seus filhos nos bispados (geralmente seu segundo filho mais velho, ou o mais novo, pois, cabia ao mais velho assumir o título de nobreza e fazer um casamento a altura de suas posses e título); o baixo-clero e os fiéis queixavam-se que os rendimentos da Igreja não eram empregados em beneficio de ajuda ao próximo, mas sim para a benfeitoria própria; o clero dividia-se entre a nobreza e os plebeus. Vale lembrar que os plebeus que pertenciam ao clero nunca alcançavam as posições mais altas dentro dele, essas posições de maior reconhecimento dentro da Igreja eram específicas para a nobreza.

 

- A Nobreza:

 

                        A Nobreza era a classe nobre da sociedade, dispunham de empregados em suas belas casas e palácios, se vestiam e comiam melhor que qualquer outra classe (talvez os burgueses até tivessem mais poder aquisitivo que a nobreza, porém, os nobres eram superiores, pois eram escolhidos para nascer no seio do poder estatal). A Nobreza conservava seus costumes, notadamente assinalados pelo direito de primogenitura. Da antiga autoridade senhorial. A Nobreza era hereditária, em princípio era conferida pelo nascimento (pois, após a Revolução, o Imperador Napoleão beneficiou alguns de seus generais com títulos de nobreza, o pai me Marius, de “Os Miseráveis” fora beneficiado por Napoleão com um desses títulos de Nobreza), e o sangue nobre deveria ser preservado de casamentos desiguais. Vemos que após a Revolução, este paradigma que era uma regra da Nobreza se parte, e vimos alguns casamentos entre membros da Nobreza e da Burguesia, motivo que se dava pelo grande número de falência entre os nobres.

 

                        - A Burguesia:

 

                        Era composta por não-nobres, plebeus e camponeses que ao longo do tempo, conseguiram acumular bens, como terras, imóveis, indústrias, etc. É uma classe considerada inferior, apesar de alguns burgueses terem o patrimônio igual ou superior a alguns nobres. A Burguesia teve grande importância no declínio do sistema absolutista apoiando diversas revoluções, que ficariam conhecidas como Revoluções Burguesas, como, por exemplo, a Revolução Inglesa e a Revolução Francesa, deixando assim, o caminho livre para a expansão do capitalismo para a propagação da “filosofia burguesa”, da qual se originou os conceitos de comércio, liberdade pessoal, direitos religiosos e civis.

            - Camponeses:

                       

Os camponeses permaneciam como era ainda na Idade Média, uma classe naturalmente destinada, seguindo a tradição, a sustentar as classes dominantes, a alimentar principalmente o tesouro real, a nutrir as populações urbanas. O historiador Georges Lefebvre, explica que a maioria das pessoas que prevaleciam nos motins revolucionários não eram bandidos ou criminosos, mas sim pequenos camponeses, trabalhadores sem terras e artesãos rurais que viam naquele ato uma chance de modificarem sua situação. Para Lefebvre, a fome foi a principal causa da Revolução.

                        A colheita para o camponês representava sua fonte de vida, seu trabalho, seu futuro. No inverno, período em que ela era comprometida, eles viviam de acordo com o estoque de grãos produzidos que eram guardados da colheita, e caso esta não tivesse sido muito proveitosa, tinha-se a certeza de tempos de fome. A vida desses homens e mulheres era vulnerável, não apenas pelas variações climáticas que afetavam a produção de alimentos, mas também pelas guerras que geravam aumento de impostos, a maior exploração do campo e a devastação das terras.

 

             - O Proletariado

 

                        As cidades que se industrializaram no século XIX não se tornaram em aglomerados de operários de imediato, mas progressivamente, à medida que as antigas oficinas foram sendo substituídas por fábricas. As primeiras cidades operárias serão principalmente as que cresceram, ou surgiram de pequenas vilas ou aldeias, atraindo massas de camponeses em êxodo para esses novos centros econômicos. Outra faceta do proletariado nesta fase da história era o trabalho feminino, doméstico, principalmente na área dos têxteis, por via do aperfeiçoamento da máquina de costura. O trabalho doméstico entregue a mulher era cada vez mais incoerente, uma das mais acabadas formas de exploração do proletariado. Este conhecia, porém, alguns grupos de operários, os especializado, com melhores condições de vida e de trabalho, mas também uma massa de sub-proletariado, trabalho instável e servil, com níveis de insegurança laboral e social enormes e subsequentes da pobreza familiar. Na primeira metade do século XIX, provenientes deste povo assalariado urbano, muitos deles ligados ainda às oficinas artesanais e ao comércio e trabalho em casa de famílias bastadas. Possuía estes ainda alguns enraizamentos sociais e mantinham padrões culturais e tradições próprias, ao contrário do proletariado industrial, cada vez mais numeroso, desenraizado da sua cultura rural e sem calores citadinos, resistindo às normas e disciplina das fábricas, em nome dos seus melhores valores campestres, não adaptados em sua nova condição laboral.

 

- Os Militares:

 

            Os militares desta época, ainda viviam sob a sombra de Napoleão. O General Lamarque o símbolo da Revolução lutava a favor do povo contra a monarquia opressora. Lamarque foi um general que serviu ao lado de Napoleão, e após a sua derrocada continuou seguindo os princípios do Bonapartismo.

            O Bonapartismo foi uma ideologia política de origem francesa, inspirada na forma em o Napoleão governou. No modelo Bonapartista, o governante quer ser um ditador, porém busca construir uma imagem carismática de um representante popular.

           

 

Os Miseráveis de Victor Hugo

 

            Após identificarmos as diversas classes sociais francesas no século XIX, podemos perceber como são diferentes e diversificadas entre si. Victor Hugo, ao escrever a obra, ele estava inserido nesta sociedade, vivendo junto a ela, talvez por esse motivo, seus personagens representem tão bem as diversas classes presentes da Pós-Revolução.

            No decorrer do livro, aparecem diversos personagens, que retratam perfeitamente o perfil social dessa época, além dos principais, há outros que são relevantes para a história, sempre Hugo entrelaçando a ficção com a realidade social, podemos identificá-los a partir de:

- Jean Valjean (Senhor Madeleine, Ultime Fauchelevent, Senhor Leblanc, Senhor Jean, nº 24601, nº 9430) - Condenado por roubar um pão, ele é posto em liberdade após dezenove anos de prisão. Rejeitado pela sociedade por ser um ex-presidiário, após uma fática noite, ele encontra o Bispo Myriel, que muda a sua vida. Valjean demonstra ser um personagem perturbado, que após ficar tantos anos preso em Galés, ele saiu com um ódio mortal de todos os homens. Ao ver que a sociedade lhe virava as costas por ser um ex-presidiário, ele encontra uma alma caridosa, que transforma a sua história. Com a ajuda do Monsenhor Benvindo, o Bispo de Myriel, Valjean assume uma nova identidade para seguir uma vida honesta, tornando-se proprietário de uma fábrica e prefeito. Ele adota e cria a filha de Fantine, Cosette, salva Marius da barricada, e morre com uma idade avançada. Valjean no início do romance era um simples prisioneiro, porém, após a benevolência do bispo, ele se transforma e assume a identidade de um novo homem, tornando prefeito e dono de uma fábrica de terços, ou seja, um burguês, fazendo parte de uma classe social que detinha poder financeiro, porém, após sua fuga de Javert, Valjean se esconde em um convento com Cosette, tornando-se um trabalhador da terra, um jardineiro, ou seja, um proletário. Depois de anos, aproximadamente nove anos, ele volta a se tornar um burguês, apesar de Hugo não definir qual era a atividade que ele retirava seu sustento, lendo o texto, percebe-se que ele leva uma vida de posição superior, demonstrando que ele pertença a classe burguesa.

 

- Fantine – Era uma costureira parisiense abandonada com uma filha pequena pelo seu amante Félix Tholomyès. Fantine deixa sua filha Cosette aos cuidados dos Thénardiers, estalajadeiros em uma aldeia chamada Montfermeil. Infelizmente, Sra. Thénardier mima suas próprias filhas e abusa de Cosette. Fantine encontra trabalho na fábrica de terços de Madeleine (Valjean), mas a supervisora descobre que ela é uma mãe solteira e a demite. Para atender às exigências de dinheiro dos Thénardiers, ela vende o seu cabelo, e depois os seus dois dentes da frente e, finalmente, acaba na prostituição. Valjean tem conhecimento de sua situação quando Javert ia prendê-la por atacar um homem que a insultou e atirou neve em suas costas. Ela morre de uma doença que pode ser tuberculose antes que Valjean possa reuni-la com Cosette. Fantine representa a mulher. Aquela mulher proletária que trabalhava horas na produção para que pudesse sustentar os filhos, sem um marido ou um companheiro presente, aquela mulher que sem apoio da sociedade se via excluída, a margem. Como perde seu emprego na fábrica, que era o seu único modo de sustento, Fantine então resolve fazer o que muitas mulheres em sua situação fizeram, recorreu à prostituição. A prostituição neste ou em qualquer outro contexto, principalmente nesta época, era considerado humilhante, inclusive em uma cena no musical de Tom Hooper, quando Fantine, interpretada por Anne Hathaway, onde canta “I Dreamed a Dream”, retrata perfeitamente seu sofrimento como prostituta nas ruas francesas. O mais triste da história, é que quando finalmente ela consegue ajuda de Valjean, morre, antes mesmo de reencontrar sua amada filha Cosette.

 

- Cosette (Euphrasie, Cotovia, Ursule, Senhora Pontmercy) - A filha de Fantine e Tholomyès. Entre a idade de três a oito anos, ela é espancada e obrigada a trabalhar para os Thénardier. Após a morte de Fantine, Valjean a resgata dos Thénardiers e ela se torna a sua filha adotiva. Ela é educada por freiras do convento Petit-Picpus, em Paris. Mais tarde, ela cresce até tornar-se muito bonita. Ela se apaixona por Marius Pontmercy, e se casa com ele no final do romance. Durante a sua infância sofrida, Cosette poderia ser considerada como uma empregada doméstica, executando todas as tarefas da casa dos Thénardiers, tratada como escrava, seus tutores não se comoviam nem ao vê-la realizar as mais árduas tarefas para alguém de sua pouca idade. Porém, quando é “resgatada” por Valjean, vê a sua humilde vida se transformar, e assim pode ter uma melhor condição de vida. Cosette foi educada em um convento, onde apenas as moças burguesas ou nobres eram educadas, pois, aquelas que pertenciam às classes menos abastadas, eram semi ou praticamente analfabetas. A educação nas classes inferiores era considerada algo desnecessário, apesar de que algumas damas de companhias nascidas pobres, porém davam a “grande sorte” de servirem a alta burguesia ou a nobreza tinham a chance de aprender a ler e escrever. Cosette em algumas cenas do musical aparece bem servida e ajudando as camadas mais pobres da sociedade, representando que ela era sim de uma classe bem superior da sociedade, dando em vista que seu tutor e pai de criação era um burguês, Valjean, educou e cuidou para que Cosette possuísse o que uma garota da idade dela tinha de melhor, educação, classe, etiqueta, roupas, uma boa casa, etc. Cosette, ainda, ao final do romance casa-se com Marius, neto de um aristocrata, de uma família nobre e rica, vivendo assim o mesmo padrão social que tivera do pai durante todo o tempo que estivera com ele.

 

- Javert - Um inspetor de polícia obsessivo que sempre persegue e perde Valjean. Ele se disfarça por trás da barricada, mas é descoberto e desmascarado. Valjean tem a chance de matar Javert, mas o deixa ir. Mais tarde, Javert permite que Valjean escape. Pela primeira vez, Javert está em uma situação na qual ele desrespeita a lei. Seu conflito interior leva-o a tirar sua própria vida, saltando para o Rio Sena. Javert é um militar, um inspetor de polícia que começa o romance humilhando Valjean na prisão. Javert tem seu prazer pessoal em perseguir Valjean e tentar prendê-lo durante os muitos anos que segue a história. Javert também, durantes as barricadas de 1832, ele perseguiu e se disfarçou entre os revoltosos, sendo descoberto por Gavroche. Durante as revoluções era comum que alguns inspetores de polícia se disfarçassem e se tornassem “espiões” do Estado dentro da Revolução. O que Javert fez no ato da revolta, representa um pouco da realidade da polícia francesa a época da Revolução. Apesar de ter feito um desafio próprio de sua vida prender Valjean pensando que ele era um monstro, ao descobrir que ele não era realmente a figura por ele desenhada se mata, atirando-se em um dos principais rios da França.

 

 

- Marius Pontmercy - Um aristocrata de segunda geração (não reconhecido como tal porque foi Napoleão que fez o pai de Marius um nobre) que se desentendeu com seu avô monarquista por causa de suas ideias liberais. Estuda Direito, se junta aos estudantes revolucionários do ABC (a sigla ABC não é definida em significado tanto no romance quanto no musica), e depois se apaixona por Cosette. É o único dos revolucionários dos "Les Amis de L'ABC" a sobreviver à barricada. Acaba por casar com Cosette e fazer as pazes com o seu avô. Marius não era apenas um revolucionário, era um nobre, ele representa todos aqueles que abdicaram sua origem nobre para servir aos seus ideias, em uma cena magnífica do musical, Marius encontra seu avô durante um discurso em frente a casa do General Lamarque, e após uma breve discussão entre ambos, Marius continua com seus ideais, continuando gritando a plenos pulmões: “Viva General Lamarque, Viva a França... Viva a França!”. Marius, durante o romance, finge ser pobre para seus amigos, escondendo sua origem nobre, porém, Éponine acaba descobrindo sua verdadeira identidade. Marius sobrevive às barricadas após muita luta. Ele se apaixona por Cosette usufruindo da nobreza após fazer as pazes com seu avô, e com a benção de Valjean casa-se com Cosette e sendo feliz ao seu lado.

 

- Thénardier (Jondrette, Senhor Fabantou, Senhor Thénard) - Um estalajadeiro corrupto e sua esposa. Eles têm cinco filhos: duas filhas (Éponine e Azelma) e três filhos (Gavroche e dois filhos mais jovens não identificados nem na obra literária e nem no musical). Eles cuidam de Cosette em seus primeiros anos, maltratando e abusando dela. Eles também escrevem cartas sobre Cosette a Fantine, a fim de extorquir dinheiro dela. Eles acabam por perder a pousada, devido à falência e se mudam para Paris, vivendo como os Jondrette. A família Thénardier também vive ao lado de Marius, que reconhece Thénardier como o homem que "salvou" seu pai na Batalha de Waterloo. Eles são presos por Javert após Marius frustrar suas tentativas de roubar e matar Valjean na casa Gorbeau. No final do romance, com a senhora Thénardier morta na prisão, ele e Azelma viajam aos EUA com a ajuda de Marius, onde Thénardier se torna um traficante de escravos. Burgueses de uma classe inferior possuíam a pousada como um meio de sobrevivência, porém, após a falência, eles se tornam marginais nas ruas parisienses, junto aos filhos que também participam dos crimes dos pais. Eles são encenados várias vezes durante o musical como pessoas feias e sujas, que cometem pequenos furtos para sobreviver, porém, quando avistam Cosette e seu pai, Valjean, na cidade, eles tentam assaltar sua casa, sendo mal sucedidos por vista que Éponine grita e frustra os planos dos pais. Os Thénardiers representam a escória da sociedade francesa, os ladrões, estelionatários, aquelas pessoas sem caráter que usam a Revolução para se dar bem. Marius pensa que o Sr. Thénardier salvou seu pai, porém na verdade, ele não salvou a vida de seu pai, estava na verdade tentando assaltá-lo no campo após a Batalha de Waterloo, qual o seu pai era um comandante das tropas de Napoleão, um militar. Ao perceber que o pai de Marius estava vivo, Thénardier tentou se afastar, porém, ele segurou em sua perna, e o único método que Thénardier conseguiu se livrar dele foi salvando-o. Ao fim do romance de Hugo, com a morte da Sra. Thénardier, seu esposo e sua filha sobrevivente se mudam para os EUA para se tornar traficantes de escravos, uma profissão rentável, já que nas colônias um escravo custava uma pequena fortuna.

 

- Éponine - Filha mais velha dos Thénardier. Quando criança, ela é mimada por seus pais, mas acaba como uma menina de rua, quando chega à adolescência. Ela participa de crimes de seu pai e elabora esquemas para conseguir dinheiro. Ela é cega de amor por Marius. Por um pedido de Marius, ela acha o endereço de Cosette para ele e leva-o até lá. Após disfarçar-se de garoto, ela manipula Marius em ir para as barricadas, esperando que eles morram juntos. No entanto, ela salva a vida de Marius, parando com a mão uma bala que o atingiria, e é mortalmente ferida quando a bala atravessa-lhe a mão e as costas. Como ela está morrendo, seu último pedido a Marius é que, uma vez que ela morra, ele a beije na testa. Ele não cumpre o seu pedido porque gostava dela, e sim por piedade. Diferente de Cosette, Éponine não teve uma educação diferenciada, não possuía bens, roupas caras, classe ou etiqueta. Enquanto Cosette desfilava pelas ruas de Paris bem vestida, limpa e perfumada, dentro de carruagens, Éponine usava farrapos, sua pele era suja, andava pelos cantos, pertencia à classe mais baixa da sociedade. Enquanto criança possuía uma vida confortável, mas ao chegar à adolescência, com a falência de seus pais, viu a sua vida confortável se transformar em uma situação precária, sem suas bonecas e porcelanas e seus vestidos coloridos, como retrata no musical e no livro. Éponine morre durante a barricada, ainda apaixonada por Marius, homem qual descobrira que era de origem nobre. Éponine tem uma belíssima cena no musical, onde canta “On My Own”.

 

- Gavroche - O filho mais velho dos Thénardier, que não é amado pelos pais. Ele mora sozinho na rua e é um moleque. Ele rapidamente toma conta de seus dois irmãos mais novos, desconhecendo que estão relacionados a ele. Ele participa das barricadas e é morto durante a recolha de balas dos mortos da Guarda Nacional para os alunos do ABC na barricada. Tanto no livro como no musical, Gavroche é retratado como um garoto franzino que conhecia muito bem as ruas de Paris. Entrava em becos e confeitarias, roubando comida dos ricos, fugindo da polícia e guiando os outros moleques de rua. No musical uma das principais canções é representada por ele, “Look Down”, onde se percebe muito de sua personalidade, de criança de rua que luta pela sobrevivência. Gavroche representa aquelas crianças que mesmo não possuindo uma visão total do que seria a liberdade, luta para consegui-la. Gavroche morre quando o exército dos rebeldes estava desistindo da luta, sua morte trouxe um novo fôlego para a luta, que, mesmo que os revolucionários tenham perdido a luta nas barricadas, sua participação foi de uma importância significativa para a Revolta. A figura do Gavroche (a criança que luta por liberdade) foi representada no quadro “A Liberdade Guiando o povo” de Eugène Delacroix, ao qual o lado da figura feminina da liberdade, está uma criança com uma arma em punho, pesquisadores afirmam que fora dali que partira a idéia de Hugo em colocar uma criança como Gavroche na história. Gavroche era uma criança que andava cantando suas canções revolucionárias pelas ruas, vândalo, sujo, moleque. Sem dúvidas, um menino de rua em plena Revolução.

 

- Enjolras - O líder dos Amigos do ABC no levante de Paris. Um jovem charmoso e de beleza angelical, ele é apaixonadamente dedicado à democracia, a igualdade e a justiça. Enjolras é um homem de princípios que acredita em uma causa - a criação de uma república, libertando os pobres - sem qualquer dúvida. Ele e Grantaire são executados pela Guarda Nacional após a queda da barricada. Enjolras é um jovem como Marius, que luta na Revolta por liberdade. Ele acredita tão fielmente em sua causa que não se importaria de perder a vida para vê-la se concretizar, ou seja, perderia a vida na Revolta para que o povo se visse liberto da monarquia e do poder opressor. Enjolras, luta durante a barricada e como líder, perde a sua vida, assim como tantos revolucionários que lutavam por liberdade.

 

- General Lamarque – Nascido em 1770, com o nome de Jean Maximilien Lamarque, ele era um comandante francês durante as Guerras Napoleônicas, que mais tarde tornou-se membro do Parlamento Francês. Lamarque serviu com distinção em muitas campanhas de Napoleão. Tornou-se um dos maiores críticos da nova monarquia constitucional de Louis Philippe, argumentando que ele não conseguiu apoiar os direitos humanos e a liberdade política. Ele também defendeu o apoio francês para as lutas de independência na Polônia e na Itália. Pontos de vista de Lamarque fizeram dele uma figura popular. Lamarque era a símbolo da luta popular em 1832, e sua morte – apesar de ter sido por causas naturais -, desencadeou a Revolta nos dias 5 e 6 de junho de 1832, conhecidas como as Barricadas de Paris. General Lamarque era um Bonapartista, e após a morte de Napoleão ele tomou para si o cargo de guiar o povo, lutava pela liberdade. Em uma cena do musical de Tom Hooper, os revolucionários estão concentrados em frente a sua casa nas vésperas de sua morte, e gritam a plenos pulmões: “Viva General Lamarque! Viva General Lamarque! Viva a França!”.

 

            Os Miseráveis de Victor Hugo é uma bela obra sobre a revolta de um povo, sobre como indivíduos de classes distintas lutaram contra o regime opressor. Personagens como os de Hugo fizeram parte desta luta, não importando as classes que pertenciam, apenas ansiavam por um ideal comum, a Liberdade, a Igualdade e a Fraternidade, lemas de Rousseau que foram tema da Revolução Francesa quase um século antes das Barricadas de Paris de 1832.

A luta por liberdade não terminou após as barricadas, a população francesa ainda esteve anos sob o poder da monarquia, porém, com o passar dos séculos, a França é, atualmente, uma República, porém, as idéias de liberdade que serviram como “pano de fundo” do romance histórico de Victor Hugo não se apagaram do coração dos Franceses.

 

Os Miseráveis e a Atualidade

               

                Em 1987, estreava na Broadway, em Nova York na Broadway Theatre. O filme lançado no final de 2012 nos EUA e em alguns países da Europa, e no Brasil em fevereiro de 2013 foi uma homenagem aos 25 anos de sua estréia.

                Os Miseráveis é de longe um dos musicais mais famosos de todos os tempos, talvez perdendo apenas para “O Fantasma da Ópera” e “Chicago” que também foram muito rentáveis na história dos musicais. “I Dreamed a Dream” é uma música muito famosa, apresentada em teatros, concertos e até mesmo em séries de TV. Na primeira temporada de uma famosa série de televisão nos EUA, “Glee”, produzida pela FOX, reproduziu a canção “I Dreamed a Dream”, pelas vozes de Lea Michele e Idina Menzel. “Bring Him Home”, uma das canções do musical, interpretada pelo personagem Valjean, também foi representada em “Glee” em sua quarta temporada, pelas vozes de Lea Michele e Chris Colfer.

                “Os Miseráveis” recebeu diversas críticas positivas, porém, alguns críticos o chamaram de: “Uma exaustiva cantoria sem fim”. Porém, nas bilheterias, o musical foi um verdadeiro sucesso.

                O musical foi também bem recebido pela crítica de cinema de academias, como a Academia do Oscar em 2013, já que o mesmo recebeu 8 indicações, arrematando 3 das estatuetas, entre elas a de “Melhor Atriz Coadjuvante” para Anne Hathaway. Recebeu também 4 indicações para o Globo de Ouro de 2013, conseguindo vencer em 3 categorias, de “Melhor Filme”, “Melhor Ator” e “Melhor Atriz Coadjuvante”.

                Muito além de um musical e uma obra de literatura escritas há quase dois séculos, “Os Miseráveis” é uma obra que resgata a “Revolução”, a chama revolucionária que estava presente naquele povo tão miserável que lutava por melhores condições. O que talvez ainda buscamos mesmo após quase dois séculos.

 

Conclusão

               

                Em suma, a história de “Os Miseráveis” está longe de ser apenas mais um filminho que fez sucesso no cinema, não é apenas um musical ou um livro antigo. As mensagens escritas nas páginas e a sutileza dos diálogos apresentados por meio de música são muito além do que apenas ficção. É a realidade. É o que foi e o que é. Pessoas viveram e morreram para que a bandeira azul, branca e vermelha tivesse um significado real, o significado de Liberdade, Igualdade e Fraternidade que não havia se firmado ainda na Revolução Francesa de 1789.

                As classes sociais da França no século XIX foram muito bem representadas por Victor Hugo neste romance, existem ainda personagens que apesar de não serem principais, aparecem no decorrer da história e representam bem o seu papel, e através desses personagens temos representações de diversas classes. Hugo demonstra uma realidade tão original pois ele estava presente durante toda a revolta, nasceu em meio dela, e faleceu quando um novo amanhecer surgia na França.

                “Os Miseráveis” é uma das ficções mais realistas já lançadas, baseadas em uma realidade social e política de um século que povo clamava por liberdade, direitos, condições básicas de sobrevivência.

                Para o encerramento deste artigo temático, há uma bela música ao meio do musical, interpretada por parte do elenco, mas principalmente por Gavroche, que destaca a situação enfrentada por grande parte da sociedade da época, o descaso, a fome e a marginalização. Ela é “Look Down”, em tradução livre “Olhem para Baixo”, onde na cena, Gavroche canta para um casal com uma boa condição financeira, e depois para a câmera, e termina quando se junta à multidão de revoltosos:

“Olhem para baixo e vejam os pedintes aos seus pés

Olhem para baixo, e se puderem, demonstrem misericórdia

Olhem para baixo e vejam a vastidão das ruas

Olhem para baixo, para baixo, para os irmãos humanos

Como vai? Meu nome é Gavroche

Este é o meu povo

Este é o meu remendo

Não há muito para ver

Não tem nada chique

Nada bom o bastante para você

Esta é minha escola, minha alta sociedade

Aqui nas Favelas de Saint Michel

Vivemos de migalhas de humilde piedade

Duro de roer, mas e daí?

Acham que são pobres? Acham que são livres?

Sigam-me

Sigam-me

Olhem para baixo, e se puderem, demonstrem misericórdia

Olhem para baixo, para baixo, para os humanos camaradas

Houve uma época que matamos o rei

Tentamos mudar o mundo rápido demais

Agora temos outro rei

Ele não é melhor que o último

Esta é a terra que lutou pela liberdade

Agora só lutamos quando disputamos o pão

A questão sobre igualdade

É que todos são iguais quando morrem

Assuma seu papel, agarre a chance

Viva a França! Viva a França!”.

Referências Bibliográficas

 

ROCHE, Daniel; O Povo de Paris: Ensaio sobre a Cultura Popular no Século XVIII; São Paulo: edusp, 2004.

LEFEBVRE, Georges; A Revolução Francesa; 2ª ed; São Paulo; IBRASA; 1989.

HUNT, Lynn; Política, Cultura e Classe na Revolução Francesa; São Paulo; Editora Schwarcz; 2007.

AGUIAR, Ofir Bergemann de; A Recepção de Os Miseráveis no Brasil do século XIX; UNESP/ São José do Rio Preto, 1996.

ALMEIDA, Cleide R. S. de; Leitura, Cinema e Complexidade; CEMOrOC-Feusp/ IJI – Universidade de Porto; maio-agosto 2010.

http://www.passeiweb.com/na_ponta_lingua/livros/resumos_comentarios/o/os_miseraveis

http://pt.wikipedia.org/wiki/Os_Miser%C3%A1veis

http://picodavigia.blogs.iol.pt/2013/01/13/os-miseraveis-de-victor-hugo/

http://cinemacomrapadura.com.br/criticas/289797/os-miseraveis-2012-um-musical-bem-acima-do-tom-ideal/