OS HERÓIS DO ANONIMATO

Numa tarde tranquila, onde se ouvia apenas o arrastar de passos dos transeuntes ou, vez por outra, o seu voo rasteiro, um gavião resolveu radicar-se no centro da cidade, próximo do relógio da praça, adotando como moradia provisória um dos galhos de um velho e pardacento coqueiro. Ali estavam eles, homens de diversas idades, a maioria de velhos e cansados pais de família, oriundos do coração da nossa amazônia que se viram obrigados a abandonar seus pertences, tão ardorosamente adquiridos, iludidos com promessas de capitalistas sulistas... Desajeitadamente pegam nos cabos do carrinho de asfalto, indo e vindo, em meio a uma espessa nuvem de fumaça, fazendo do cansaço um instrumento de sobrevivência; sapatos velhos e furados pelo uso constante na quentura asfáltica, camisas e calças em desuso, olhos fundos pela visão do tempo, gestos cadavéricos e frontes por demais bronzeadas.

SERINGUEIROS, NÃO ASFALTADORES. Homens nascidos para viverem no âmago de nossas florestas, viram seus pertences e os seus sonhos irem por água abaixo... Hoje frustrados, nada mais que trapos, farrapos de vida, “feras” engradadas por uma jaula que se chama... CIDADE.