OS GÊNEROS TEXTUAIS NO PROCESSO DE CONSTRUÇÃO DO LEITOR NA EJA

Teoniza Leite Amorim

                                                           Maria Aparecida Valentim Afonso

 Resumo:                                                  

 

O presente trabalho versa sobre‘’Os Gêneros Textuais no Processo de Construção do professor Leitor da Educação de Jovens e Adultos’’-Eja e reflete sobre a importância do trabalho que o docente  pode desenvolver priorizando o uso da leitura e da escrita de textos em sala de aula.      Sendo assim, o objetivo deste trabalho foi investigar como o professor vem trabalhando os gêneros textuais na sala de aula da Educação de Jovens e Adultos, buscando compreender se essas práticas ajudam a formar o aluno leitor. Dessa forma, o interesse em pesquisar os gêneros textuais surgiu da minha prática escolar como pedagoga, hora lecionando no ensino fundamental I e como já trabalho com a diversidade de gêneros textuais tive a curiosidade em saber como os gêneros podem ajudar a construir o leitor crítico e a motivar os alunos da Eja para a leitura. Como suporte teórico para a análise desta investigação, recorremos à teoria bakhtiniana do gênero do discurso, a análise e crítica literária de autores que estão inseridos neste contexto, tais como: Marcuschi, Faraco, Coutinho, Cereja, Freire, Koch, entre outros que estudam textos, gêneros textuais e a leitura como suporte para a inserção sócio-cultural dos alunos. Sendo assim, aconselhamos aos professores aliar a suas práticas efetivas um discurso inovador incorporando atividades constantes de leitura com o uso dos gêneros, deixando o aluno como o centro da prática educativa e que ele adquira uma postura crítica para se tornar um cidadão pleno e consciente do seu papel no dia a dia na sociedade. É importante que os professores saibam que, muito do que consideramos equívocos são práticas que podem ser repensadas a partir de suas experiências cotidianas, do contato com outras leituras.

Palavras Chave: Gêneros Textuais, Educação de Jovens e adultos, Leitura.

 

 

Introdução

            Este trabalho apresenta uma reflexão sobre ‘’Os Gêneros textuais no processo de construção do aluno leitor na educação de Jovens e Adultos’’- e reflete sobre a importância do trabalho que o professor pode desenvolver, priorizando o uso da leitura e da escrita de textos em sala de aula. Sendo assim, a proposta deste trabalho é investigar como o professor vem trabalhando os gêneros textuais na sala de aula da Educação de Jovens e Adultos, buscando compreender se essas práticas ajudam a formar o aluno leitor.

            Dessa forma, o interesse em pesquisar os gêneros textuais surgiu da minha prática escolar como pedagoga, professora do ensino fundamental I e valorizar o trabalho com a diversidade de gêneros textuais, compreendendo sua importância para a formação do gosto pela leitura nos alunos e alunas, tornando-os leitores críticos.

            Como suporte teórico para a análise desta investigação, recorremos a teoria bakhtiniana do gênero do discurso e de autores como: Marcuschi, Faraco, Coutinho, Freire, Koch, entre outros que discutem textos e gêneros textuais relevantes para o ensino e aprendizagem da leitura bem como para o desenvolvimento do gosto pela leitura.

            Para tanto, desenvolvemos uma pesquisa qualitativa e adotamos uma perspectiva teórico metodológica ampla e flexível recorrendo as contribuições de autores como Gil, Minayo e outros ligados à temática em questão, Como instrumento de pesquisa foi utilizado questionários aplicados aos professores do 1º e 2º segmentos de duas escolas localizadas em João pessoa, sendo uma Escola Estadual e a  outra Municipal.

             Assim, reconhecendo a especificidade dessa situação e a necessidade dos alunos da Eja de construírem uma leitura crítica da realidade que o cerca a fim de lhes proporcionar novas perspectivas na sua vida pessoal e profissional, pois, o trabalhar com gêneros textuais permite aos professores relacionar diferentes áreas de conhecimento, contribuindo para o aprendizado da leitura e da escrita e, ainda para a compreensão clara de gênero de estabelecer um discurso inovador com a prática efetiva, possibilitando ao aluno crescer como sujeito crítico da aprendizagem.

Conceito de texto e gênero  

            Atualmente, os conceitos utilizados para definir texto, ao contrário do pensamento tradicional difundido pela gramática normativa, orientam-se sob uma visão enunciativa e ou comunicativa na qual se busca ensinar os usos da linguagem ao invés de análise da língua. Texto (do latim textus, tecido) é toda construção cultural que adquire um significado devido a um sistema de códigos e convenções: um romance uma carta, uma palestra, um quadro, uma foto, uma tabela são atualizações desses sistemas de significados, podendo ser interpretados como textos. (KLEIMAN e MORAES,1999, p. 62).                                                

            Os textos organizam-se “a partir de natureza temática, composicional e estilística, que os caracterizam como pertencentes a esse ou aquele gênero. Desse modo, a noção de gênero, constitutiva do texto, precisa ser tomada como objeto de ensino” (BRASIL, 1998, p. 23).

            Por isso, a riqueza e a diversidade dos gêneros do discurso segundo Bakhtin (2010, p.262)

’são infinitas por que são inesgotáveis as possibilidades da multiforme atividade humana e porque em cada campo dessa atividade é integral o repertório de gênero do discurso, que cresce e se diferencia à medida que se desenvolve  sua  complexidade num  determinado campo.

            Assim, vale salientar a grande heterogeneidade dos gêneros do discurso sejam eles orais e ou escritos. Para Marcuschi (2003, p.3 - 4) “os gêneros textuais manifestam-se através da oralidade e da escrita, sendo materializados através de situações comunicativas recorrentes”. Na visão do autor, são os textos que circulam em nossa vida cotidiana com padrões sócio-comunicativos característicos definidos por sua composição, objetivos enunciativos e estilo concretamente realizado por forças históricas, sociais, institucionais e tecnológicas.

            Nos Programas Curriculares Nacionais de Língua Portuguesa – PCNLP, a noção de gênero refere-se, assim, a famílias de textos que compartilham características comuns, embora heterogêneas, como visão geral da ação à qual o texto se articula, tipo de suporte comunicativo, extensão, grau de literalidade, por exemplo, existindo em número quase ilimitado (BRASIL, 1998, p.22).

            Dentre os inúmeros gêneros que circulam entre nós, podemos destacar: reportagem jornalística, canção, conto, telegrama, fábula, bilhete, receita culinária, curriculum vitae, bula de remédio, e-mail, artigo de opinião, poema, piada, carta,, aula expositiva, rótulos, lista de compras e assim por diante. Esses são apenas alguns exemplos. Desse modo, tendo em vista que esses textos são instrumentos comuns ao relacionamento das pessoas no dia a dia, temos de considerar outro fator de extrema relevância na atividade social: o contexto.

            Quando contextualizamos o conhecimento, as informações transmitidas adquirem sentido mais amplo, o que possibilita maior assimilação dos conceitos abordados. Os gêneros não são enfocados apenas pelo viés estático do produto, mas principalmente pelo viés da produção. Isso significa dizer que a teoria estreita correlação entre os tipos de enunciados (gêneros) e suas funções na interação sócioverbal entre os tipos e o que fazemos com eles no interior de uma determinada atividade social: o contexto.

            Segundo Faraco (2009, p.127), Bakhtin conceitua gêneros do discurso os  tipos relativamente estáveis de enunciados que se elaboram no interior de cada esfera da atividade humana”. Face aos enfoques tradicionais da questão dos gêneros que privilegiavam as formas em si e chegavam a operar normativamente sobre sua reedificação, algumas observações são relevantes. Ao dizer que os tipos de gêneros são relativamente estáveis, Bakhtin (2010, p.127) enfatiza “a importância da historicidade dos gêneros e à necessária imprecisão de seus caracteres”. Historicidade significa chamar a atenção para o fato de os tipos não serem definidos de uma vez para sempre. Assim, o repertório de gêneros de cada atividade humana vai diferenciando-se e ampliando-se à medida que a própria esfera social se desenvolve e fica mais complexa. Assim, Faraco (2009, p.128) comenta que Bakhtin articula uma compreensão dos gêneros que combina estabilidade e mudança; reiteração (à medida que aspectos da atividade recorrem ) e abertura para o novo ( à medida que aspectos da atividade mudam).   Desse modo, o gênero renasce e se renova em cada etapa do desenvolvimento da literatura e em cada obra individual de certo gênero.  É isso que constitui a vida do gênero.

            Portanto, o gênero é um representante da memória criativa no processo do desenvolvimento literário e que precisamente por isso, o gênero é capaz de garantir a unidade e a ininterrupta continuidade de seu desenvolvimento, pois, os gêneros são considerados instrumentos de medir e de dar forma as produções de textos, viabilizando a materialização de uma atividade de linguagem. Além de conteúdos internos aos próprios gêneros, a própria seleção dos gêneros que deverão ser abordados ao longo das séries ou ciclos escolares possibilita a elaboração de uma progressão curricular mais articulada, algo praticamente inexistente nas escolas. Assim, considerando as diferentes culturas e comunidades existentes, os gêneros textuais ou discursivos utilizados para este fim dependerão das instituições sociais que os propõem ou exigem, isto é, cada gênero representará um contexto social determinado.

 

Linguagens na EJA 

         Todos os diversos campos da atividade humana estão ligados ao uso da linguagem. Compreende-se perfeitamente que o caráter e as formas desse uso sejam tão multiformes quanto os campos da atividade humana. Segundo Bakhtin (2010, p.361) “o gênero é um representante da memória criativa no processo do desenvolvimento literário. Precisamente por isso, o gênero é capaz de garantir a unidade e a ininterrupta continuidade de seu desenvolvimento”. Dessa forma, os estudos literários devem estabelecer o vínculo mais estreito com a história da cultura e a literatura como parte inseparável desse processo e não pode ser entendida fora do contexto, pois é com o exercício pleno de cidadania  e  cultura de um povo que emerge a essência do universo literário.

            O ensino tradicional de língua aborda a leitura e a produção de textos a partir de uma tipologia conhecida como descrição, narração e dissertação. Assim, nessa perspectiva toda produção escrita é vista apenas em seus aspectos estruturais, desconsiderando as questões históricas, sociais e culturais que determinam o texto. A teoria dos gêneros textuais revolucionou o entendimento da questão, mostrando que, todas as práticas comunicativas sociais, quer na modalidade oral, quer na modalidade escrita da língua, são realizadas por meio de gêneros.

            Para dissertar sobre gêneros textuais é bom ter em mente a certeza de sua inteira relação com a prática das atividades orais e com a produção escrita, tendo em vista que ler e escrever se completam, mesmo sendo atividades distintas. Já sabendo da relação dos gêneros textuais com a leitura e com a escrita, pode-se dizer que os gêneros não são instrumentos vazios e fixos de criatividade humana, são acontecimentos flexíveis que surgem das necessidades e das atividades sociais e culturais, como bem nos diz Marcuschi (2003, p.19) “já se tornou trivial a idéia de que os gêneros textuais são fenômenos históricos, profundamente vinculados à vida cultural e social”.

            Diante desse pressuposto, fica clara a contribuição dos gêneros na organização das atividades comunicativas cotidianas. Atividades estas, que não estão só relacionadas ás práticas diárias de leitura e de escrita desenvolvidas no contexto escolar, ou nas atividades correspondentes à disciplina de Língua Portuguesa, mas também, em todas as outras situações de comunicação.

            Assim, seguindo o pensamento de Marcuschi não é possível construir ou elaborar um conceito único e sistemático sobre gêneros já que, segundo o autor, eles não são “formas estruturais estáticas e definidas de uma vez por todas”. Portanto, gêneros textuais são fenômenos sociais, históricos e culturais, os quais fazem parte de nossas vidas, enquanto elementos da comunicação. Os gêneros textuais são conhecimentos necessários hoje no mundo das pessoas que buscam se renovarem e requalificar-se, principalmente na área da educação.

            Assim, interagir pela linguagem, segundo os PCNs (1998, p.20), “significa realizar uma atividade discursiva”. Isso significa que as escolhas feitas ao produzir um discurso não são aleatórias ainda que possam ser inconscientes, mas decorrentes das condições em que o discurso é realizado. Ou ainda, isto quer dizer que, quando o sujeito interage verbalmente com o outro, o discurso se organiza a partir das finalidades e intenções do locutor, dos conhecimentos que supomos o interlocutor ter sobre o assunto, do que serem suas opiniões e convicções, simpatias e antipatias, da relação de afinidade e do grau de familiaridade que têm e da sua posição social. Isso tudo determina as escolhas do gênero no qual o discurso se realizará dos procedimentos de estruturação e da seleção de recursos linguísticos. Em geral, é durante o processo de produção de textos que as escolhas são feitas, e que nem sempre de maneira consciente.

            Marcuschi (2003, p. 22) define os tipos textuais assim “usamos a expressão tipo textual para designar uma espécie de sequência teoricamente definida pela natureza lingüística de sua composição (aspecto lexicais, sintáticos, tempos verbais, relações lógicas). Mesmo com essa definição, continuam os equívocos ao usar a expressão tipo de texto, no nosso dia a dia, inclusive em livros didáticos, exemplificando, a notícia de jornal é um gênero textual, assim como o prefácio de um livro ou carta pessoal e não um tipo de texto. Diferentes dos gêneros, que são inúmeros os tipos textuais estão especificamente organizados em categorias conhecidas como: narração, argumentação, exposição, descrição e injunção.

            Assim, é notório que em todos os gêneros se realizam tipos textuais e mais, pode ser que ocorra a realização de dois ou mais tipos em um só gênero, como se observa também quando dizemos que este ou aquele texto é narrativo, descritivo ou argumentativo, estamos ai cometendo um equívoco, pois não estamos nomeando um gênero e sim um tipo de texto. A partir de então, sabemos que trabalhar com os gêneros é uma oportunidade ímpar de lidar com a língua, nas mais diversas formas no nosso dia a dia.

A leitura e os gêneros textuais

  

            O domínio da língua tem estreita relação com a possibilidade de plena participação social, pois é por meio dela que o homem se comunica, tem acesso à informação, expressa e defende pontos de vista, partilha ou constrói visões de mundo, produz crescimento. Assim, só pela leitura, acreditamos que, o homem será capaz de apropriar-se do que lhe é de direito e conscientizar-se do que deve conservar e preservar no mundo em que vive, agindo e interagindo de forma participativa e transformadora. Nessa visão, Freire (1986, p.35) diz que “quanto mais refletir sobre a realidade, sobre sua situação concreta, mais emerge, plenamente consciente, comprometido, pronto a intervir na realidade para mudá-la”.

            Entendemos, portanto que o trabalho com a leitura deve ser uma prática constante no ambiente escolar quanto fora dele. Por meio dela, os conhecimentos linguísticos e textuais serão acionados e valorizados. Alem disso, os alunos jovens e adultos serão induzidos a refletir sobre o processo de criação e veiculação dos textos lidos. Segundo Freire (1987, p. 13) “desde muito pequenos aprendemos a entender o mundo que nos rodeia. Por isso antes mesmo de aprender a ler e a escrever palavras e frases, já estamos lendo bem ou mal, o mundo que nos cerca”.

            Partindo desse pressuposto vê-se a necessidade de enfatizar a leitura e a escrita como habilidades fundamentais do processo ensino e aprendizagem, uma vez que, é impossível ensinar ou aprender sem a constante presença da leitura e da produção escrita, pois, entendemos que o objetivo da prática do ensino de Língua Portuguesa é despertar o aluno para um mundo novo, o da construção de pensamentos, formando assim um público discente capaz de viver ativamente em uma sociedade, sendo participativo, atuante, capaz de se comunicar em qualquer ambiente, mostrando seu senso crítico, posicionando de maneira responsável nas mais diversas situações da vida, lendo e produzindo textos.

            Assim, sabemos que não há fórmulas mágicas para se tornar um leitor. Há sim, estratégias capazes de se apontar caminhos que possam estimular o aluno a ler, a partir de elementos adaptados pelos sentidos ou pela intuição. A leitura é um poderoso e eficaz instrumento que amplia e diversifica as visões de mundo; de modo que nenhuma nação chega a se tornar realmente desenvolvida, com situação sócio-econômica estável, se não for uma nação de leitores engajados no processo.

            Dessa forma, é preciso facilitar e promover a vontade de ler. Só se aprende a ler, lendo, por isso, o professor é o principal mediador da leitura e sua responsabilidade em escolher bem os textos a serem lidos é de fundamental importância para o ato de ler seja algo verdadeiramente importante na vida do aluno. A leitura não pode ser vista como obrigatória, mas que possibilite criar um laço de interação entre o aluno leitor da EJA e o texto, para que ele possa ler o mundo em que vive ativa e criticamente.

 APRESENTAÇÃO E ANÁLISE DOS RESULTADOS

         Antes de iniciarmos a apresentação e análise dos resultados, nomeamos cada professor pesquisado relacionado à disciplina que leciona para um melhor entendimento  das análises dos dados. Vejamos: P1.Professor de Matemática e Religião;P2. Professor de Língua Portuguesa; P3. Pedagoga; P4.Professor de Geografia; P5. Professor de História; P6. Pedagoga; P7. Professor de Artes; P8. Professor de Matemática e Ciências; P9. Professor de História; P10. Professor de Língua Portuguesa; P11. Professor de Língua Portuguesa; P12. Professor de Geografia.

Quanto ao Gênero e a Faixa Etária

            De acordo com os dados evidenciados observa-se que dos 12 professores pesquisados, 11 são do sexo feminino, o que corresponde 91.67% e  que apenas 01 dos 12 professores pesquisados é do sexo masculino, ou seja, 8.33%. Através desse índice relevante, observa-se que nas duas escolas pesquisadas a predominância é das mulheres na docência na educação de jovens e adultos.

           Dos doze professores pesquisados, podemos observar no quadro abaixo, que quase metade dos professores está na faixa etária entre 50 e 56 anos.

Faixa etária

Nº  de professores

% de professores

30 a 35

04

33%

40 a 48

03

25%

50 a 56

05

42%

                 Quadro 1: Faixa Etária   

               Fonte: Questionário da pesquisa aplicado aos professores      

           

Formação dos professores

 

            Observa-se que dos doze professores pesquisados 100% são graduados nas mais diversas áreas do conhecimento, inclusive com licenciatura plena e que destes, 5 docentes possuem pós- graduação. Dessa forma, nota-se que os professores estão conscientes da necessidade de aperfeiçoamento, pois sabemos que estamos em constante formação.

           Assim afirma Pinto (1997) que o aperfeiçoamento é uma condição permanente do educador que sensibiliza seus estímulos intelectuais e os saberes linguísticos, pois a formação representa para os professores uma conquista relevante e reconhecedora da sua autonomia. Constatamos ainda, que dos 12 professores pesquisados todos responderam numa escala de 1 a 30 anos ter experiência com a educação de jovens e adultos.  

Gosto pela leitura

 

       Verificando os dados abaixo, notamos que os professores na sua maioria gostam de ler e que não buscam mais a leitura pelo fato de não terem tempo, mas que mesmo assim, procuram esforçar-se para por em dia a leitura. Vejamos:Sete professores responderam sim, o que corresponde a 58.33%; dois responderam que gosta muito de lê, isso corresponde a 16.67%; um docente enfatizou que sim, que gosta de lê, mas que não tem tempo, perfazendo um percentual de 8.33%; e dois docentes relataram que gostam de lê, correspondendo a 16.67. Assim, através da leitura e só através dela o professor poderá formar um pensamento aguçado e consequentemente tornarem bons escritores através do conhecimento adquirido e do exercício da leitura. Para Freire (1989 p.27):

A leitura verdadeira me compromete de imediato com o texto que  a mim se dá e a que me dou e de cuja compreensão fundamental me vou tornando também sujeito. Ao ler não me acho no puro encalço da inteligência do texto como se fosse ela produção apenas de seu autor ou de sua autora. Esta forma viciada de ler não tem nada que ver, por isso mesmo, com o pensar certo e com o ensinar certo.’’

            Portanto, é necessário que o professor tenha a visão de formar leitores com capacidade de ler e escrever bem. Para isso, é necessário ter em mente que ler e escrever são inseparáveis para o processo ensino aprendizagem e quem escreve bem consequentemente lê bem e vice versa.

Gêneros textuais que lê no dia-a-dia

            De acordo com a descrição abaixo, dos doze professores pesquisados aos serem perguntado que tipos de textos eles lêem no seu dia a dia, um leque de variedades serviram como respostas, veja:

P1: Atualidades, política, religião e matemática

P2: De tudo um pouco- poesia, conto, romance, fábulas, histórias fantásticas, jornal, atualidade.

P3: Quando leio, livros de valorização do ser.

P4: Textos informativos, jornais e revistas.

P5: Revistas, jornais, livros, notícias da Net.

P6: Informativos (jornais, revistas); instrutivos (livros).

P7: A Bíblia e textos relacionados ao meu trabalho, revistas Escola e Veja

P8: Revistas, jornais, Escola.

P9: Atualidade.

P10: Livros de auto-ajuda  

P11: Jornais, revistas: Escola e Veja.

P12: Jornais e revistas.

            Para Nakata (2010, p.54) “ler sobre os livros é tão importante quanto ler os livros. É preciso começar a entender os diferentes estilos e recursos linguísticos usados pelos autores sem deixar de lado as práticas de leitura”. Observa-se, portanto que a prática de leitura no universo pesquisado é notória, porém é observado também à carência de texto literário, pois apenas um professor afirmou gostar de tudo um pouco, incluindo então, o conto, a fábula, o romance, histórias fantásticas, entre outros. Muito se fala do poder da literatura e de como a escola é um lugar privilegiado para estimular o gosto pela leitura.

Como trabalho a leitura de textos na sala de aula

 

              Na pesquisa perguntou-se aos professores como eles costumam trabalhar com a leitura de textos na sala de aula, e o universo de resposta, conforme citação abaixo foi o mais diversificado possível. Na íntegra:

P1: Na parte de matemática, destacando a compreensão para interpretar as situações – problemas e colher os dados importantes.

P2: Costumo ler o texto – começo sempre à leitura e vou pedindo para que um leia uma parte, depois da análise reflexiva, estudo do vocabulário e interpretação.

P3: Através de textos, trabalho a gramática em cima do texto.

P4: Leitura compartilhada, leitura coletiva, interpretação de texto em grupo, pesquisa individual e em grupo.

P5: Lendo junto com os alunos e explicando. Montando perguntas e respostas/fichamento.

P6: Geralmente trabalho com textos que trazem os educandos para uma roda de conversa, tais como notícias, músicas, poesias, etc.

P7: Leitura silenciosa, leitura compartilhada e coletiva, com interpretação oral e escrita.

P8: Compreensão e interpretação, explicando os conteúdos de acordo com o texto dado e lendo com os alunos.

P9: Com textos já construídos que nos deixem uma lição de vida.

P10: Lendo os textos com os alunos, explicando, fazendo reflexões...

P11: Com muita dificuldade, por que não temos como tirar cópias nem temos livros (EJA).

P12: Começo com uma leitura, em seguida o estudo do vocabulário e depois a interpretação do texto, nasce então os comentários e as reflexões.

            Segundo Smith (1989, p.17): “não existe muita diferença entre ler e pensar, melhor dizendo, a leitura é um pensamento estimulado pela língua escrita, em que a atividade mental centra-se na compreensão de um texto escrito”. Afirma ainda que:  a leitura é uma atividade construtiva e criativa, tendo quatro características distintas e fundamentais: é objetiva, é seletiva, é antecipatória e é baseada  na compreensão, tema sobre os quais o leitor deve claramente, escrever o controle.

            É importante ressaltar a importância da leitura e o quanto faz bem no cotidiano do aluno leitor para o seu crescimento e desenvolvimento lingüístico. É relevante que o professor no seu dia a dia procure levar para a sala de aula variedades de leituras que possa gerar no aluno a empatia e, assim o gosto e o prazer pela leitura.

Gêneros textuais trabalhados com os alunos

            Vejamos o que disseram  os  professores pesquisados quando perguntamos os gêneros textuais que trabalham com os alunos.

P1: Textos bíblicos.

P2: Fábulas e contos, letra de músicas e  textos informativos.

P3: Poesias, versos, entre outros.

P4: Os que informam algum fato recente, local, nacional ou global.

P5: Revistas e jornais e até o próprio livro didático.  

P6: Notícias, cartas e o trabalho com músicas.

P7: Contos e poesias.

P8: Livros didáticos, revistas, jornais.

P9: Poemas.

P10: Literatura.

P11: Narração, descrição.

P12: Contos, poemas, textos fantásticos e outros relacionados à minha disciplina.

           Assim, nota-se nas observações dos professores uma variedade de respostas, e que na sua maioria equivocadamente, os pesquisados chamam de gêneros textuais, mas que na verdade nem todos são, havendo, portanto  um  grande engano que certamente confundirá o aluno no processo ensino-aprendizagem, principalmente, por serem eles sujeitos e que já chegam a escola  com um déficit de conhecimento muito grande, além da carência de material didático encontrada.

            Como afirma Santos (2009, p.137-138): a mediação da leitura pressupõe a formação do mediador enquanto leitor e leitor de textos literários. A relevância do conhecimento prévio acumulado não somente em suas vivências cotidianas, mas também, no processo de construção do conhecimento que pauta sua existência, deve ser observada na significação do texto selecionado para leitura, conformando-se como uma estrutura individual de abordagem do texto.            

            Nesse sentido, os docentes que atuam na EJA necessitam repensar suas práticas para que possam melhor articular-se em sala de aula, beneficiando o aluno com um suporte lingüístico relevante e que possa contribuir para a sua formação na condição de aluno leitor.

Gêneros textuais preferidos pelos alunos

            Quando se perguntou aos professores: Dentre as variedades de gêneros textuais trabalhados quais seus alunos preferem, é bom ressaltar que as respostas foram diversificadas e que houve docente que não respondeu, foi o caso do P10, professor de Língua Portuguesa, vejamos dados abaixo:

P1: Os que lhe dão conhecimento para discernir sobre as sua escolhas e a diversidade de doutrinas.

P2: Fábulas.

P3: Poesias e mensagens.

P4: Narrativas e descritivas.

P5: Revistas e jornais.

P6: Notícias e letras de músicas.

P7: O conto.

P8: Os livros didáticos.

P9: Textos informativos.

P10: (a professora é graduada em letras, não respondeu a indagação); P11. Narrativas e aventuras ou histórias engraçadas;

P12: Romance e contos.

            Nessa análise observa-se que as preferências dos alunos da EJA, conforme respostas dos professores são as mais diversas possíveis. Nesse sentido, as habilidades de escrita e de leitura devem ser aplicadas considerando sempre a diversidade dos gêneros textuais e a prioridade de repensar sua prática no mundo da educação de jovens e adultos.

             Magalhães (2007, p.22) enfatiza que: ’’é  relevante levar em consideração que o fato de o aluno não encontrar prazer na leitura, ocorre muitas vezes por ele não achar que a leitura é muito fácil’’, e  aqui vale a pena atentar para a questão de que, talvez não saiba ler direito, ou que ainda não tenha colocado a sua disposição, o material que atendesse aos seus interesses e, consequentemente, as suas necessidades.

            É importante que os alunos da Educação de Jovens e Adultos sejam estimulados sempre, mesmo os mais inibidos, para que percebam a importância do ler, do opinar e argumentar em função de um texto ou ponto de vista apresentado. . Freire afirma (1986, p.14) que “o diálogo pertence à natureza do ser humano, enquanto ser de comunicação. O diálogo sela o ato de aprender, que nunca é individual, embora tenha uma dimensão individual”.

Atividades realizadas em sala de aula para incentivar o gosto pela leitura no aluno

            De acordo com os professores ao ser perguntado o que você faz em sala de aula para incentivar o gosto pela leitura e torná-la mais prazerosa para o aluno, cada um deles adota uma prática e na sua diversidade responderam fazer algo que traga prazer, conforme transcrição abaixo:

P1: Estimulando com perguntas sem embaraço e atribuindo notas aos trabalhos que forem realizados.

P2: Trabalho sempre produção e paradidáticos – logo depois o fichamento, o desenho e a pintura nas produções textuais fazem muito bem ao aluno.

P3: Costumo fazer o momento de leitura com livros paradidáticos deixando-os à vontade para que leiam o que gostam.

P4: Antes de ler o texto, faço um comentário sobre o tema.

P5: Primeiramente, prezo pelo silêncio para uma melhor interpretação, depois abrimos um debate.

P6: Busco o cotidiano de cada um e textos que os envolvam.

P7: Roda da leitura / motivá-los com premiações para os que lerem o número de livros estipulados.

P8: Trazendo para sala de aula vários textos, debatendo com eles o que acontece no dia a dia deles e sua comunidade.

P9: O uso de livros de literatura que existem na escola, textos informativos, fábulas.

P10: Leio com os alunos, peço para que eles reflitam sobre o texto, refaçam o texto com suas palavras ou escrevam um comentário, dando sua própria opinião.

P11: Como falei anteriormente fica muito difícil trabalhar sem material, mas tento trazer o que é possível e que interessa pra eles.

P12: Tornar a leitura prazerosa é um processo, não se consegue no piscar de olhos, ainda mais numa sala de adultos, cansados como é a realidade dos meus alunos. Procuro então, levar para sala de aula textos que não sejam longos, que tragam uma lição.

            Nessa prática Meirelles (2010, p.49) afirma que “para começar, é preciso compreender que antes de analisar e refletir sobre os aspectos formais da literatura (...) o aluno têm que gostar de ler e isso só se faz de uma maneira: lendo, lendo, lendo”. Nesse sentido, cabe à escola dar acesso às obras e ensinar os chamados comportamentos leitores, ou seja, viajar na aventura com os personagens, comentar o enredo, buscar textos semelhantes, ler sobre o autor do texto, trocar indicações literárias e tudo pelo prazer que a literatura proporciona de nos levar a outros lugares e épocas. Segundo Freire (1986, p.32):

Não há ensino sem pesquisa e pesquisa sem ensino. Esses que fazeres se encontram um no corpo do outro. Enquanto ensino contínuo buscando, reprocurando. Ensino porque busco, indaguei, porque indago e me indago. Pesquiso para constatar, constatando, intervenho intervindo, educo e me educo. Pesquiso para conhecer o que ainda não conheço e comunicar ou  anunciar a novidade. 

            Sendo assim, é possível desenvolver um processo de formação para os professores no sentido de repensar sua prática e a partir desta pensar tomar atitudes que possam rever os saberes docentes. É oportuno observar, que o fazer é necessário, considerando o envolvimento nas relações do ensinar e aprender.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

            A pesquisa permitiu-nos refletir sobre alguns aspectos que envolvem as necessidades dos alunos da Eja frente ao acesso aos diferentes gêneros textuais e ao desenvolvimento do gosto pela leitura, percebendo ainda, as condições reais de ensino com os gêneros textuais.

            Em relação às práticas educativas vinculadas ao uso dos gêneros textuais, percebemos que os professores P2, P10 e P11 de língua portuguesa respectivamente, afirmaram uma relevância às fábulas, contos, letras de músicas, entre outros, mas entendemos que eles percebiam a leitura de formas diversificadas, dando importância mais ao ato de ler por obrigação ao invés do incentivo pela leitura prazerosa. Um professor retrata a falta de material, outro menciona a questão do fichamento e da produção textual, revelando uma falta de compreensão do verdadeiro sentido do aprender.

            E o mais intrigante posicionamento foi uma das professoras entender  que o gênero textual da sua prática pedagógica era a literatura, uma vez que “literatura” não faz parte dos gêneros,  já o P11(Português) confunde totalmente gênero com tipo textual e ainda retrata a falta de material, abordando a questão de que trabalha apenas o que é possível e interessante para o aluno. Os professores P4, (geografia), P5 (história) e P8 (matemática/ciências) enfatizam a questão do entendimento do texto, esclarecendo a importância do tema, mas ao indicar os gêneros trabalhados em suas aulas, confundem gênero e com recurso.

            Os docentes graduados em pedagogia também dizem ser relevantes o uso  dos gêneros, mas o P3 ( pedagogia) aborda que poesia e verso são os gêneros utilizados, nos dando a idéia de que poesia é uma coisa e verso é outra. Os professores da área de geografia (P4; P12) têm uma prática marcante, pois eles abordaram a importância da poesia e dos contos, apesar de também confundirem o que é gênero. Esses profissionais embora não sabendo o que é gênero, no que diz respeito a leitura indicam um posicionamento positivo e interessante para a Educação de Jovens e Adultos - Eja, valorizando os contextos de vida e a realidade dos alunos, uma vez que menciona textos de circulação social e expressivos no que diz respeito às lições de vida. Observamos também professores que lecionam duas disciplinas, como é o caso de P1 e P8, ambos ensinam matemática e religião/ciências. P1 professor de matemática e religião,  enfatiza que, apenas há possibilidade de utilizar gêneros na disciplina de religião, esquecendo-se da Matemática, como se cálculo também não fizesse parte de gêneros, com inúmeras possibilidades, como a problematização de uma notícia por exemplo. Em religião, o professor acredita que o único recurso é a Bíblia, como se ensino religioso fosse apenas textos bíblicos.

            Diante disso, pode-se dizer que apesar dos doze professores pesquisados, possuírem graduação e uma boa parte, pós-graduação em diversas áreas do conhecimento, eles estão trabalhando os gêneros textuais, na sua maioria de maneira equivocada, havendo, portanto a necessidade de rever suas práticas pedagógicas, para que oportunizem vivências aos alunos na sala de aula levando em consideração os diferentes textos presentes em seu cotidiano.

            Portanto, mediante os dados da pesquisa conclui-se que o professor deve aliar um discurso inovador com sua prática efetiva, incorporando atividades constantes de gêneros textuais a partir das experiências do cotidiano dos alunos da Eja, a fim de que docentes e discentes adquiram uma postura crítica no processo de ensino aprendizagem, tornando-se cidadãos plenos e conscientes do seu papel na sociedade.

   

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