Os Flamboyants e eu...

"As flores dos flamboyants, dentro de poucos dias, terão caído. Assim é a vida. É preciso viver enquanto a chama do amor está queimando..." (Rubem Alves)
Diz-se que uma árvore sem flores chorava a sua desdita no meio da floresta. Tupã, Deus de todas as coisas, apiedou-se e ordenou, com voz de trovão: "Que os raios de fogo do sol ardente transformem esses ramos verdes em milhares de flores rubras como o fogo". A ramaria da mata afastou-se e o milagre aconteceu. A partir de então, o flamboyant passou a destacar-se nas paisagens verdes.
Não sei por que tenho essa relação com os flamboyants, o fato é que eles me emocionam. Há poucos dias, atravessando São Paulo em direção a Minas Gerais, as árvores exuberantes, que atingem até 15m de altura, ostentando uma folhagem cor de fogo ou amarelo-alaranjado, ficavam ao longo das rodovias a me acenarem. Difícil impedir o olhar de buscá-las. Em meio ao verde da mata nativa, elas se destacam majestosas e simples, reinam sozinhas encantando os viajantes. Quando pude, fiz centenas de fotos, não há nada mais bonito do que as cores vermelha, laranja e amarela que suas flores apresentam, ficando mais cintilantes com o sol a pino. Em meio à paisagem natural, as árvores exibem mil flores em forma de chamas acesas para o alto. Parecem exibir-se à nossa vista, e nos proporcionam um sentimento de euforia, de paixão pelas riquezas das nossas paisagens, simbolizadas pela exuberância das suas cores, folhas e flores.
Sendo do sul, não teria uma razão mais específica para ter essa relação de amor pelos flamboyants. Seria mais natural gostar dos ipês amarelos ou roxos, mais comuns aqui em minha terra. As lembranças de minha infância na terra paulista, não são tantas a ponto de influenciar nesse fato, mas, sem motivo aparentemente, as flores vermelhas trazem para mim um significado, um chamado marcante como se tivéssemos uma história juntos.
Lembrando o poeta, uma letargia apossou-se de mim, pensei no amor, na ineficácia de querermos o que não podemos ter, na temporalidade do ser humano, na inutilidade das queixas, das desavenças, do orgulho que impede as pessoas de serem felizes. Pensei nas flores dos flamboyants, tão lindas e efêmeras, mas dignas de se apreciar enquanto vivas. Como o amor... Como o amor...