O mundo precisa de escritores que expressem a paz. Leitores estão cansados de encontrar nos livros a violência que eles já observam na vida real. Estão exaustos de ler cenas sangrentas em que braços são arrancados e fragmentos de ossos carborizados são descritos tão precisamente que até quem não sabia que um fêmur rachado ao meio sangra violentamente passa então a saber.
     As pessoas não querem mais abrir um livro inocente e encontrar tripas em decomposição. A humanidade precisa de uma literatura que lhe proporcione a fuga à realidade. Ela necessita de uma página escrita que lhe mostre o inverso da crueldade, da morte, das córneas arrancadas quicando no chão, do grande pedaço de couro humano pendendo das costas de alguém, dos fragmentos de cérebro grudados no banco traseiro do carro acidentado.
    Hoje em dia são procuradas as descrições espirituais do ser humano, e não as anatômicas ou carnais. As pessoas não querem descrições de músculos cadavéricos, nem de fluidos pancreáticos ou biliares. Nem ao menos precisam saber sobre o cheiro ácido desses fluidos ou sobre o aroma metálico do sangue misturado a eles.
    A sociedade precisa mesmo se afastar desse tipo de banalização da morte. Ela precisa acreditar que a vida é algo mais do que simples amontoados de órgãos que crescem e depois se desintegram. Por esse motivo eu escrevo a paz aos meus semelhantes.