OS ESCRAVOS DO SÉCULO XXI

 

         Há 120 anos deu-se por encerrada a escravidão no Brasil. Nos outros países da América também terminou a escravidão – a mancha negra de todos os povos americanos.

          Fazendo um breve resumo, passo a perguntar: será que ainda não existem escravos? Veremos então.

          O funcionário precisa acordar cedo, pegar seu carro e rapidamente ir ao serviço enfrentando engarrafamentos,sinaleiros, acidentes e às vezes ainda chega atrasado sendo que até já cortaram o seu ponto. O operário e outros trabalhadores precisam esperar ônibus, enfrentar filas e às vezes andar quilômetros a pé para chegar ao serviço. Geralmente o trabalho inicia às 7 horas, terminando às 17 horas, porém muitos trabalham até às 22 horas. Os filhos com as esposas quase não conseguem ver o pai, pois ele sai com escuro e com escuro volta. Só nos finais de semana é que a família se vê reunida. Mas quantos vão para o serviço e não voltam mais, sendo que muitas vezes não se descobre o paradeiro da pessoa.

          As mulheres deste século enfrentam problemas piores que o dos homens, pois além de trabalharem fora de casa, ainda tem que dar conta do serviço caseiro. E a mulher ao lado do homem enfrenta dia a dia a rotina da vida.

          Os sofrimentos continuam com os rígidos regimentos impostos. Os fulanos precisam obedecer os regimes dados, pois estão sujeitos à sansões.

          Por outro lado um grande surto de doenças tem atingido todo o mundo: o câncer, a tuberculose, a Aids e tantas outras.

          Além disso ninguém mais se entende hoje em dia e há muitas guerras onde milhares e milhares de pessoas já perderam a vida, seja pelas metralhadoras, sejam  pelas bombas que levam os pobres seres que lutam, lutam e acabam vencidos pela morte.

          Será então que não existem escravos em nosso tempo? Existem sim e nós somos os escravos do século XXI. Nós, só nós, poderíamos ser. Nós operários, nós funcionários, nós presidiários, nós governantes e governados, todos nós de todos os Estados, de todos os países do mundo.

          Hoje não há tempo para descansar um pouco, de tomar um fôlego, de tomar uma fresquinha, temos que trabalhar para o progresso, para não passarmos fome, para vivermos um pouquinho melhor, ter a nossa casinha e criar nossos filhinhos para serem os próximos escravos.

          E continuam os corre-corres dos escravos do século XXI – acidentes, mortes, injustiças que nós mesmos praticamos com nós e com nossos próximos que, aliás, já não estão bem próximos assim. É uma luta, uma sede constante de vencer, de adquirir algo e nem podemos parar na estrada porque senão a poeira tapa nossos olhos e a gente não pode andar com olhos fechados para não cair em buracos.

          Dizem que estamos na época da ciência, na era da máquina, na era espacial. A verdade é que somos escravos de tudo isto, pois não mais conseguimos viver sem a ciência e sem as máquinas.

          Nunca se viu tanta fartura como em nosso tempo, no entanto agora é que existe o maior índice de fome de todos os tempos. Nunca teve uma ciência médica tão desenvolvida como a nossa, mas estamos vendo milhares de pessoas morrendo com graves doenças.

          E os escravos dos escravos continuam vivendo com suas enormes cargas nos ombros, caindo de um lado, arrastando-se por outro, apanhando do tempo. Parece que quanto mais se luta para ser feliz, mais a felicidade demora para chegar. Aliás, quem pode ser feliz vendo uma pessoa esvaindo-se em sangue, ou doente, ou com fome, sendo roubado? Quem? Pode ser que exista alguém, não se pode duvidar, pois no meio de coração de terra pode haver um de pedra, mas ao contrário ninguém.

          A luta continua e nem sabemos onde vai acabar. Os hospitais estão lotados, os presídios, as favelas, os hospícios, continuam recebendo mais, sempre mais.

          Por outro lado grande número de acidentes, de incêndios, desabamentos e tudo quanto é tipo de destruição continuam. Parece que o bicho está soldo.