OS DIFERENTES PERSONAGENS DA EDUCAÇÃO INCLUSIVA

Maria José Peixoto de Oliveira Santana
Graduada em letras pela FAFILE-Carangola- M.G., 1996
Professora Efetiva de Português do Ensino Fundamental - Ciclo III e IV - Prefeitura Municipal de Campinas S.P.
[email protected]


Resumo: O presente artigo enfoca a questão da inclusão do aluno surdo no ensino regular, sobretudo do papel do professor e sua figura central neste processo para o qual muitas vezes se sente despreparado e só, tomando para si responsabilidades e funções que também são da escola, família, poder público e de toda sociedade. O professor tem se sentido sozinho e, sobretudo, responsabilizado pelo fracasso escolar, que na verdade é resultado da falta de políticas públicas educacionais e sociais coerentes com a realidade, e de responsabilidades não assumidas por outros personagens deste grande processo que é a educação inclusiva. O que fazer para que de fato a inclusão aconteça? Sabemos que a inclusão é um procedimento que não se faz apenas por decreto ou modismos, deve envolver uma reestruturação de culturas, políticas e práticas de nossas escolas. Sendo, portanto, responsabilidade de todos (escola, estado, família, sociedade) e não apenas do professor.

Palavras-chave: inclusão, aluno surdo, responsabilidades.

Abstract: This article focuses on the question of inclusion of deaf students into mainstream education, particularly the role of teachers and their central figure in this process to which they often feel unprepared and alone, taking on responsibilities and functions that are also school , family, government and throughout society. The teacher has felt alone and above all, responsible for school failure, which is actually a result of lack of educational and social policies consistent with reality, and liabilities not assumed by other characters in this great process that is inclusive education. What to do to actually adding to happen? We know that inclusion is a procedure that is not made only by decree or fads, must involve a restructuring of cultures, policies and practices of our schools. Is therefore the responsibility of everyone (school, state, family, society) and not just the teacher.

Keywords: inclusion, deaf student, responsibilities.

Introdução

Atualmente a nossa sociedade se abriu para uma grande discussão no âmbito educacional que é a ?Educação Inclusiva ?considerada "um grande desafio" para todos.
Toda esta discussão está paramentada no direito de os alunos com dificuldades educacionais especiais estudarem no ensino regular, ou seja, fazerem parte do processo educacional denominado Educação Inclusiva, traduzida como educação para todos.
O que se tem observado é que há uma implementação deste direito, porém uma ausência de condições reais para que haja uma efetiva inclusão, embasada no respeito ao ser humano e que garanta não só o acesso, mas também, a permanência na escola, e principalmente, igualdade de aprendizagem.
O que fica evidente é que há necessidade de reformulações, mais clareza e coerência diante de uma realidade não tão favorável, porém, já posta. Torna-se então necessária mais comunicação entre os que planejam as mudanças, os que as executam e os que delas participam como coadjuvantes ou como sujeitos da aprendizagem para que assim possa-se sanar ou derrubar as barreiras que obstruem ou impossibilitam o sucesso da inclusão.
Dentre as inúmeras questões que demandam reformulações está a formação do professor que em sua grande maioria acolhe estes alunos, mas não têm muitas condições de oferecer-lhes uma educação de qualidade devido a sua falta de formação para a educação inclusiva.
Muitas vezes, o fracasso escolar ou especificamente o da inclusão, independente do fator que o motivou, incorre sobre o professor, que é sempre apontado como bode expiatório das mazelas e dos descaminhos que a educação brasileira vivencia nos dias atuais.
Porém, é preciso ressaltar que muitos são os personagens responsáveis por estes descaminhos, não devendo, o professor, trazer para si todas as responsabilidades, pois, não cabe só a ele promover ações, implementar mudanças, embora seja evidente seu papel protagonista deste processo.
Há muitos outros responsáveis!
Porém, muitos estão tão distantes que quase não aparecem; outros simplesmente se omitem ou não se fazem atores efetivos desta peça tão complexa que demanda organização, persistência e firmeza em seus propósitos.
Promover a inclusão também é dever do Estado, da família e responsabilidade de toda a sociedade. Sociedade, esta, que se transforma a cada dia, cultuando valores tão contrários aos de uma convivência harmoniosa, de respeito, paz e solidariedade humana. Tornando assim, as pessoas frias, individualistas, preconceituosas, se fazendo mais árdua a tarefa da escola. Mais precisamente a do professor - que desvalorizado, ameaçado muitas vezes pela violência que já assalta as escolas- ainda precisa realmente acreditar que tem nas mãos a oportunidade de mudar, ressignificar, criar, disciplinar e reconstruir o ser humano e, sobretudo, transformar a sociedade.
Para que este processo educativo inclusivo aconteça de fato é preciso que TODOS se envolvam realmente em sua construção, reafirmando seus papéis e suas responsabilidades.
Enquanto a maior prática efetiva dos envolvidos for encontrar culpados para o caos que assola a educação brasileira, muita coisa deixará de ser feita, e alunos sem respaldo e uma orientação unificada e compromissada, continuarão a se resvalarem por um mar de tempestades completamente sem bússola e sem direção.
Realmente não dá para apontar culpados, mas dá para cada um assumir suas responsabilidades, que é um dever e que com certeza, fará a diferença e promoverá as soluções tão esperadas e necessárias.

O complexo caminho da inclusão

Diante do complexo caminho da inclusão, muitos são os personagens necessários para que ela aconteça, para tanto, todo o elenco deve estar preparado e sintonizado em prol do sucesso do espetáculo maior: uma educação de qualidade e oferecida a todos, independente de suas condições físicas, intelectuais, sociais, emocionais, linguísticas e outras.
A Educação inclusiva tem sido o grande foco de discussões na sociedade atual, pois importantes conquistas legais foram alcançadas principalmente para a área da surdez, como a valorização da cultura surda, a oficialização da LBS - lei n° 10.436-2002 que reconhece a Língua de Sinais como meio legal de comunicação e expressão - regulamentada pelo decreto 5626-2005 - que também dispõe sobre a inclusão da Libras como disciplina curricular, a oferta de cursos de formação de professores, de instrutores e de intérpretes, a implantação da língua de sinais na educação do surdo. Somando-se a uma conquista maior: o direito de todos os alunos com deficiência terem a inclusão e permanência no ensino regular dispostos na Declaração de Salamanca (UNESCO-1994). Por meio dela foi fomentado o direito de alunos com deficiência ou não, estudarem juntos, reafirmando o direito de todas as pessoas à educação conforme Declaração Universal dos Direitos Humanos de 1948 e renovando o empenho da comunidade mundial, na conferência Mundial sobre a Educação para Todos, de 1990, de garantir esse direito a todos, independente de suas diferenças particulares.
Mas, a efetivação destes direitos ainda é foco de discussões e controvérsias entre os envolvidos, os que planejam e criam leis, quem as executa, o deficiente, a família e a sociedade em geral, uma vez que ainda há uma enorme diferença entre o que garante a lei e o que realmente é oferecido nas escolas.
De que maneira tem-se dado esta inclusão? Todos os alunos estão tendo supridas suas expectativas e necessidades de aprendizagem conferidas pela lei?
Pesquisas e vivências educacionais têm mostrado que não. Em muitos casos eles figuram nas escolas como fruto de um processo dito inclusivo que nada é além de uma inserção num espaço que não respeita a sua cultura, as suas limitações, não valoriza nem reconhece suas potencialidades e tampouco lhes oferece condições para um real crescimento como cidadão.
O que se observa é que a maioria das escolas ainda não está preparada para esta inclusão tão idealizada e propagada.
Segundo Carvalho (2004, p. 110) "inserir esses aprendizes nas escolas comuns, distribuindo-os pelas turmas do ensino regular, como "figurantes", além de injusto, não corresponde ao que se propõe no paradigma da educação inclusiva e, de igual modo, não vamos contribuir para seu desenvolvimento integral", ou seja, "oportunizar acesso ao sistema de ensino aos indivíduos com necessidades especiais e estes não conseguirem se adaptar devido a escola não está pronta para recebê-los, pode contribuir mais uma vez para a segregação". (FRANCELINI; MOTTI, 2001)
Muitas são as barreiras que impossibilitam esta inclusão, entre elas está o distanciamento entre os que (planejam e os que executam as leis e mudanças educacionais) acarretando, às vezes, inviabilidade de implementação mediante as realidades existentes. Especialmente no que condiz aos professores que apesar de serem um dos personagens principais desta trama, em sua grande maioria angustia-se com o fato de se depararem com mudanças e situações para as quais não estão preparados, sendo vistos por muitos planejadores com "meros" executores do processo educativo, sem vez e voz nas elaborações e decisões.
Nesse sentido Zagury (2004, p. 45) nos diz que:



No Brasil, as mudanças educacionais têm sido de ?papel?, ocorrem na ?lei?. Mas lá na sala de aula, o professor não recebe o treinamento de que necessita para efetivar com segurança o novo modelo. Muito menos chegam a ele os suportes necessários de infra-estrutura-física, material, ou os equipamentos que poderiam ao menos possibilitar alguma chance de sucesso. Ainda sobre o professor afirma que se espera muito deles, mais do que é possível realizar nas atuais condições da escola.

Isto contradiz a realidade do que exige o processo educacional e a constatações e afirmações como a de Chalita (2004, p.161):

O professor é a alma de qualquer instituição e por mais que se invista na equipagem das escolas, em laboratórios, bibliotecas, anfiteatros, quadras esportivas, piscinas, campos de futebol -sem negar a importância de todo esse instrumental- tudo isso não se configura mais do que os aspectos materiais se comparados ao papel e a importância do professor.

Diante de tal constatação, como explicar que a maioria dos professores que recebe alunos surdos nas escolas regulares não sabe interagir com a língua natural deles, a LIBRAS; instrumento vital para o processo de inclusão, pois, a relação do sujeito com a língua vai produzir a diferença. Processa-se aí de antemão, a maior das barreiras para a integração do aluno surdo que é a barreira da comunicação. Com isso pode-se constatar que "O aluno surdo ainda continua sendo ignorado, pela escola, na sua necessidade de comunicação, resultando em um processo de ensino/aprendizagem ineficiente". (NICOLUCCI; LIMA; DIAS, 2004, p.45).
Haverá inclusão com esta realidade?
A LIBRAS é a língua natural dos surdos e a eles confere sua cultura e, sobretudo, a sua identidade. Tê-la como elemento de comunicação que lhes garanta desenvolvimento e com isso, maior integração, já é assegurado por lei, portanto, é um direito do surdo que não está realmente sendo concedido.
Como se sentem estes alunos que não compreendem e não são compreendidos no contexto escolar onde não veem valorizada sua cultura de modo que possam contribuir para o crescimento do grupo?
Segundo Dorziat (2009, p. 59) "O espaço escolar para os surdos tem importância transcendente. Muito mais que local de estudo, deve-se constituir de espaço de troca, de interação, já que há clara tendência ao isolamento na família e em grupos sociais mais amplos, por razões óbvias".
Como se sente este professor que percebe que a formação recebida ainda é insuficiente para o trabalho na diversidade e que tem plena consciência de que não basta "acolher" - embora seja extremamente importante- que é preciso ensinar e dar a estes alunos condições reais de aprendizagem?
Que suporte pedagógico e formação técnica foram ou têm sido oferecidos a estes profissionais, haja vista demanda existente?
Se defendemos oportunidades iguais a todos, como podemos oferecer um ensino deficiente na inclusão sobre a perspectiva da normalidade onde se promove ações iguais desconsiderando o direito a igualdade de oportunidades como nos afirma Carvalho (2004, p. 35) "O direito à igualdade de oportunidades e que defendemos enfaticamente, não significa um modo igual de educar a todos, e sim dar a cada um, o que necessita em função de seus interesses e características individuais. A palavra de ordem é equidade, o que significa educar de acordo com as diferenças individuais, sem que qualquer manifestação de dificuldades se traduza em impedimento à aprendizagem".
Para Baptista (2003) as mudanças exigidas pela educação inclusiva exigem investimentos contínuos, mudanças legislativas, projetos políticos pedagógicos coerentes, construção de novos espaços e dispositivos. Dessa forma, educação inclusiva quer significar uma educação de qualidade e não pode ser baseada na solidariedade aos alunos com necessidades especiais como único pressuposto. A escola continua tendo sua especificidade que é a educação.
A solução para as barreiras da inclusão perpassa ao dueto professor/aluno. Exige reformulações de currículo, projeto político pedagógico coerente, mudanças atitudinais dos professores, mudanças sistemáticas nas políticas nacionais e, sobretudo, um envolvimento de toda a sociedade, inclusive da instituição mais próxima ao aluno a família.

A relevância da relação família e escola

Ser surdo numa sociedade planejada para ouvintes consiste em um viver árduo e que exige muitas lutas e um enfrentamento constante com o desconhecido, pois, ainda não há consciência social no sentido de respeito às diferenças e reconhecimento de que ser "diferente não é ser deficiente".
Este olhar social preconceituoso tem fulminado muitas esperanças e levado a segregação, muitos deficientes não compreendidos na sua totalidade como "ser capaz" de realizações e sucessos na vida pessoal e profissional.
Esse preconceito não é uma realidade apenas dos espaços escolares, mas é um processo discriminatório de vários grupos, inclusive da própria família, que em pesquisa (REVISTA NOVA ESCOLA, 2006) é responsável por 27,4% das atitudes preconceituosas recebidas pelos portadores de deficiência seguidos de outros lugares que também apresentam esta mesma postura de rejeição, violando assim os direitos humanos: a escola 20,9%; igreja 7%; vizinhança 68%; transporte coletivo 40%; hospitais 9% ruas praças e locais públicos 4,5%.
Segundo Walber; Silva (2004) "... e temos ainda pessoas escondidas em casa pelos familiares porque sentem vergonha de ter um filho com deficiência". Essa intolerância à diferença é fomentada pela sociedade que induz as pessoas a qualificar as coisas e os indivíduos dentro da normalidade padronizada por ela, sendo muitas vezes, pautada pela falta de informação.
Ainda referenciada na pesquisa supracitada, podemos perceber que a resistência da família em aceitar a diferença é muito grande, isto se baseia na reação dos familiares ao saber da deficiência da criança no qual 73% não aceitam imediatamente, 2% rejeitam e apenas 25% dizem tê-la aceito quando receberam a notícia.
Muitas vezes, essa "não-aceitação imediata", esse processo de "luto" vivido pela família que pode passar logo ou durar anos, vai criando entraves que se agravam no tempo em que esta criança é alvo de rejeição, não tendo assim suportes psíquicos, cognitivos, afetivos que os permita desenvolver naturalmente. Entraves, estes, que podem ser agravados quando esta criança sai do espaço familiar e passa a conviver com novos grupos, às vezes, ainda mais intolerantes. Ainda neste mesmo levantamento, afirma a pesquisadora Terezinha Moreira Lima, uma das autoras, que 62 % das crianças com deficiência já sofreram algum tipo de discriminação em diferentes situações, inclusive na escola.
Há pais que não aceitam que seus filhos se relacionem com alunos deficientes e acham que quando estes são postos na escola regular, rebaixam o nível de ensino. Há também muitos pais que ainda acham que é doença. Este comportamento de intolerância dos pais é passado para os filhos causando atitudes de rejeição e de preconceito.
Na verdade, a falta de conhecimento sobre o assunto é que tem gerado esta intolerância, pois muitos desconhecem que todos ganham com estas interações.
Quanto à escola, cabe o papel de combater este preconceito, levando informações e esclarecimentos. Para tanto, todos os agentes do contexto escolar (equipe gestora, professores, funcionários em geral, guardas), devem adotar posturas que contribuam para o fortalecimento do respeito à diferença, assumindo assim, uma postura consciente e clara de quais princípios inspiram a convivência social, se colocando nas relações humanas como educadores que são. Segundo La Taile (2008) a dimensão moral da criança deve ser trabalhada desde a pré-escola. Ética se aprende, não é coisa espontânea.
Porém, diante de uma sociedade competitiva, em que determinados aspectos são sobrevalorizados, a diferença entre as pessoas torna-se desigualdade. Muitos valores são invertidos, muitas vezes, propagados pela mídia e sua tática de aliciamento voltada para o consumismo, bombardeando crianças e jovens em formação.
A verdade é que a escola não tem conseguido "sozinha" formar valores condizentes a ação de respeito mútuo, cooperatividade, solidariedade e muitos outros valores que regram uma conduta de paz nos ambientes escolares. Prova disso são os inúmeros casos de violência mostrados a cada dia pela mídia e muitos outros não mostrados que fazem parte de uma realidade velada vivida por seus partícipes.
A violência nas escolas já é uma chocante e admissível realidade e, sobretudo, a violência que chega aos mestres que apesar de terem o papel de propiciar um ambiente acolhedor, tranquilo, respeitoso e de paz, especialmente para promover a educação inclusiva, em muitos casos não conseguem evitar a violência contra si próprios.
Uma pesquisa realizada pela APEOESP em conjunto com o DIEESE apresentada na Reportagem do jornal Correio Popular 13/12/2010 comprova que para "57,5% dos professores num universo de 1.615 professores da rede pública estadual, a violência nas escolas é a situação que mais provoca "sofrimento no ambiente escolar".
Muitos, porém, apesar de serem aterrorizados pela situação de insegurança preferem não falar nem se expor temendo represálias ou que, mais uma vez, seja reprisada sua incompetência quanto educador, como é mostrado em inúmeras reportagens e entrevistas onde o professor é sempre apontado como principal responsável pelo fracasso escolar.
É, portanto, de suma importância frisar que para promover uma educação inclusiva e de qualidade é indispensável considerar a influência negativa deste fator no nosso sistema educacional, porque de certa forma, tolhe atitudes positivas necessárias para viabilidade da inclusão. É preciso que haja um ambiente favorável à aprendizagem, pois, em um ambiente harmonioso, há maior possibilidade de ocorrer um melhor aprendizado.
É claro que esta não é a realidade de todas as escolas, também não pode ser mais visto como uma exceção de escolas que não conseguem gerenciar seus espaços. Não podemos nos tornar cegos e fingir, pois, já não são mais atos esporádicos, infelizmente, tem-se tornado uma rotina, acontece em muitas escolas e exige providências sérias, reais e urgentes!
O que pensar de um contexto educacional que almeja uma inclusão verdadeira onde nem o mestre se sente seguro e respeitado, quanto mais conseguir proporcionar segurança e respeito aos seus alunos?
Isto mostra o estado de abandono e descrédito que o sistema de ensino amarga, onde há muito tempo, vem-se presenciando crescentes atos de violência e falta de limites, a famosa "indisciplina". Pesquisa feita com educadores por Zagury (2004) aponta que 43% dos docentes pesquisados veem como principal problema em sala de aula "a indisciplina". E que, segundo eles, é um dos maiores desafios a serem enfrentados.
Será que esta realidade já não foi muito justificada ou até mesmo ignorada ?
Para chegar ao ponto em que chegou há de se imaginar que muita coisa precisa ser reformulada, refletida, ressignificada, não só por ações específicas dos professores, mas de todos os que compõem esse complexo cenário do Sistema Educacional.
Com esta realidade rondando as salas de aula e a violência fazendo parte da rotina de muitas escolas, onde o medo é o intruso cada dia mais incômodo nas relações, como pensar com segurança na inclusão e garantir igualdade de oportunidade para todos?
Segundo editorial do já referido jornal 15/12/2010 os jovens demonstram comportamento violento, sem limites, reflexo de uma educação desestruturada de uma sociedade consumista onde valores morais são superficiais, e que muitas vezes tem suas atitudes justificadas e apoiadas pelos próprios pais.
Diante disso, torna-se preciso pensar muito sobre os valores a ser ensinados a estas crianças e jovens.
Valores nos quais a família sempre teve papel primordial e que boa parte encontra-se hoje, apartada.
Isto também se confirma nas reflexões de Zagury (2004, p. 89) "A família abriu mão de seu papel essencial de geradora de ética e de primeira agência socializadora de novas gerações" isto resultou numa transferência de responsabilidades à escola, que se sobrecarrega em seus papéis não conseguindo sozinha dar conta do que é de sua responsabilidade e do que lhe é automaticamente imposto.
Pensar que a sociedade mudou e que o modelo de família não é mais o mesmo por si só, já não pode mais justificar o abandono e a ausência de muitos pais na educação dos filhos.
A família precisa refletir sobre a importância de seu papel e o quanto ela faz a diferença no aprendizado e na formação dos filhos. De acordo com pesquisas e especialistas na área da educação, o vínculo entre a família, escola, professor é fundamental para promover a eficácia na aprendizagem.
As primeiras lições recebidas pela criança, seja ela deficiente ou não, são de grande importância e poderosas influências na formação do caráter.
Esta é a palavra do SENHOR, "Instrui o menino no caminho em que deves andar e até quando envelhecer não desviará dele" (Prov. 22:6); o que nos faz reforçar a importância da família como 1ª instituição educacional da criança.
Ellen White (1947, p. 134) nos afirma em seu livro: Conselhos aos professores, pais e estudantes que:

As crianças que no lar formam hábitos de obediência e domínio próprio terão pouca dificuldade na vida escolar, e escaparão de muitas tentações que assediam os jovens... Com tal disciplina as crianças quando mandadas à escola, não serão causa de perturbação ou ansiedade. Serão um apoio aos professores e exemplo de animação aos condiscípulos.

A autora (1947, p.133) conclui enfatizando o que é hoje o grande apelo da escola - a presença da família. "Quando os pais, porém, compreendem as responsabilidades que lhes cabem, muito menos trabalho restará ao professor". É claro que lembrar aos pais o seu papel e suas responsabilidades não exime o professor nem a escola de suas responsabilidades como agentes educadores e formadores de cidadãos imbuídos de valores humanos. Mas, certamente, se ambos trabalharem em comunhão se reforçarão e terão êxito no que tanto almejam: oferecer uma educação de qualidade capaz de transformar vidas e contribuir para formação integral de todos com humanização e igualdade. "Assim a grande obra dos pais e mestres é a formação do caráter. A formação do caráter é formação de toda existência e fica para a eternidade" (ELLEN WHITE, 2010, p. 55).
Ainda quanto à formação integral da pessoa, quer seja pelos pais ou pela escola, estudos científicos dos últimos 50 anos, comprovam que os primeiros anos de vida são realmente de vital importância, não podendo assim ser desconsiderados.
Com isso "considera-se, no âmbito mundial, que a Educação Infantil terá um papel cada vez maior na formação da pessoa, no desenvolvimento de sua capacidade de aprendizagem e na elevação do nível de inteligência..." (PNE).
O novo Plano Nacional de Educação deixa evidente a intenção e a necessidade de se valorizar a Educação Infantil, haja vista a demanda social que levam muitos pais a delegarem a outros ou às escolas a educação destas crianças numa fase em que ela é vital para a sua formação.
A educação infantil é a primeira etapa da Educação Básica. Ela estabelece as bases da personalidade humana, da inteligência, da vida emocional, da socialização. As primeiras experiências da vida são as que marcam mais profundamente a pessoa. Quando positivas, tendem a reforçar, ao longo da vida, as atitudes de autoconfiança, de cooperação, solidariedade, responsabilidade {...}. Se a inteligência se forma a partir do nascimento e se há "janelas de oportunidade" na infância quando um determinado estímulo ou experiência exerce maior influência sobre a inteligência do que em qualquer outra época da vida, descuidar desse período significa desperdiçar um imenso potencial humano. Ao contrário, atendê-la com profissionais especializados capazes de fazer a mediação entre o que a criança já conhece e o que pode conhecer significa investir no desenvolvimento humano de forma inusitada. (Novo PNE- Diretrizes- Educação Infantil)

Pode ser este um dos caminhos possíveis dentre os vários que se haverá de encontrar para se salvar a formação humana e construir uma sociedade mais justa e mais solidária pautada numa educação humanizada onde princípios como a igualdade sejam verdadeiramente respeitados.
Mas, para que estes descaminhos se revertam e não promovam mais fracassos no contexto da educação será preciso que todos os personagens que de alguma forma são responsáveis por ela e almejam uma sociedade mais justa, se unam, possam se ouvir e refletir. Só assim será possível encontrar novos caminhos e promover ações em todos os âmbitos, que sejam capazes realmente de garantir o direito de todos a uma educação de qualidade.
Ainda segundo Zagury (2004, p. 90):

É preciso rever -com urgência ? a questão da autoridade e dos limites (aí compreendidos como a relação equilibrada entre direitos e deveres dos alunos) dentro do contexto família-escola, sem o que dificilmente poderemos alcançar o objetivo "qualidade na educação". A instituição escola precisa reencontrar-se com seu papel de autoridade, sem que isso represente autoritarismo. O professor necessita ter o apoio e a sustentação da sociedade para concretizar uma ação socializadora.

E para sustentar a necessidade de valorização do professor é preciso urgentemente fixar um novo olhar que se traduza em esperança a todos aqueles que tanto têm lutado por uma educação melhor. E que mesmo quando não se sentem preparados, têm aberto o coração para receber os surdos e procurado oferecer o máximo de si para promover a inclusão destes alunos no ensino regular.
Que a sociedade ouça as palavras da presidente do Brasil: Dilma Rousseff (2011), que em seu discurso mostra um olhar bastante realista sobre a educação brasileira. "Só existirá ensino de qualidade se o professor e a professora forem tratados como verdadeiras autoridades da educação, com formação continuada, remuneração adequada e sólido compromisso dos professores e da sociedade com a educação das crianças e jovens."
O que se pode afirmar é que todos os professores almejam mudanças, preparação e valorização que os permitam acolher "todos os alunos" sem exceção, com dignidade e ações de qualidade que promovam trocas de conhecimentos, interações de culturas e o desenvolvimento digno e humano que os permitam escrever suas histórias de sucessos e progressos no livro da vida. Compartilhando assim com o pensamento de Dewey (1971, p.29) "a educação não é preparação nem conformidade e sim VIDA".

Além dos muros da escola há muitos responsáveis pela educação e pela inclusão

Quanto à responsabilidade de criar cidadãos éticos De La Taille (2008) nos diz que "em primeiro lugar é preciso lembrar que criar cidadãos éticos é uma responsabilidade de toda a sociedade e suas instituições {...} moral, ética e cidadania se aprendem não são espontâneas".
Sendo assim, todos os que fazem parte desta sociedade independente das profissões que exerçam, devem se fazer personagens atuantes e assumirem a responsabilidade de educar de alguma forma. Dentro ou fora da escola, na rua, em casa, no ônibus, no parque, no shopping..., não importa, pois onde quer que se esteja pode-se espalhar a semente do respeito, da igualdade, da tolerância, do amor, da paz, da solidariedade... É preciso vivenciar a valorização humana de todas as formas, ter atitudes responsivas e inclusivas, pois, favorecerão, com certeza, o surgimento de uma sociedade mais solidária, mais justa e igualitária.
Se todos os cidadãos que compõem esta sociedade se silenciarem diante das barbáries da intolerância, do preconceito, da violência, das injustiças, da falta de respeito ao ser humano; se acomodarem diante das catástrofes provocadas pela inversão de valores arraigados como uma peste em nossa sociedade ajudarão a criar os monstros que já existem e que habitarão as crianças e jovens em formação. Monstros, estes, que excluem, infelicitam pessoas quando valorizam o ter mais que o ser, quando menosprezam a diferença.

Metodologia

Esta pesquisa está classificada nos critérios de pesquisa bibliográfica para o embasamento teórico.
Partindo da pesquisa realizada, os dados foram analisados a partir de leitura crítica e redação dialógica a partir dos autores.

Considerações finais

Promover uma educação inclusiva é um compromisso que toda a sociedade tem que assumir. Só assim, com todos juntos refletindo e se entregando de corpo e alma a práticas de nova ética e de novos valores, será possível transformar a sociedade atual com seus torpes e doentios conceitos. Tornando-a inclusiva de fato. Podendo, portanto, suas escolas receberem, acolherem, permitirem a permanência e garantirem igualdade de aprendizagem para todos, independente de condição social, física, intelectual, cultural e outras.
A inclusão, portanto, não é uma responsabilidade só da escola, ou só do professor, mas, uma responsabilidade social, sendo, porém, uma responsabilidade de cada um e de todos.
Quanto à angústia que muitos professores sentem, a solução é se tornarem críticos e militantes maiores da educação de qualidade; ampliar seus campos de luta em prol de seus direitos como: a valorização profissional. Ter um trabalho digno em que sejam proporcionadas condições de oferecerem uma educação de qualidade que tanto lhes cobram e a qual os alunos merecem, necessitam e têm direito.
Não se calar, se intimidar, nem tomar para si responsabilidades de outrem.
Clamar a todos e mostrar suas responsabilidades e seus respectivos papéis, promovendo assim, uma consciência social, afinal, este é o seu grande e nobre papel!
É crucial acreditar e lutar por melhores oportunidades de trabalho e, sobretudo, de aprendizado para todos: alunos e professores. É tempo de luta, mas também de esperança. Esperança de poder ver o dia em que a sociedade reconheça e valorize verdadeiramente seu grande legado à humanidade.
Apesar das mazelas e de tudo que o faz abater, é preciso despertar o educador que talvez se encontre adormecido, pois a sua missão de educar só tornará impossível se desistir de si mesmo e deixar de acreditar em suas próprias ações.
Afinal, os educadores são a alma da escola e esta é a grande esperança de transformação social. Sendo assim, será preciso abrir alas para adentrar no palco da vida os personagens veramente principais "os alunos" que têm o direito de sonhar, de terem esperanças, serem respeitados, construírem seus projetos de vida com dignidade e hombridade, pois como descreveu Rubem Alves: "Um educador é um fundador de mundos, mediador de esperanças, pastor de projetos" para tanto será preciso apostar nos projetos dos alunos que são projetos de sonhos, projetos de vida. E mediar a construção destes sonhos e projetos, sempre foi o grande objetivo de todo educador.
Com isso, os educadores devem despertar os sonhos atrofiados pelas mazelas educacionais que há anos foram se calcificando produzindo uma carapaça opaca, sem brilho, sem luz, transformando-os em professores cheios de angústias, medos e incertezas.
Sonhar é preciso! Sem sonho não há vida! Sem vida não há educação!
Sem educação jamais teremos inclusão.

Educadores são como velhas árvores. Possuem uma face, um nome, uma ?história? a ser contada. Habitam um mundo em que o que vale é a relação que os liga aos alunos, sendo que cada aluno é uma ?entidade? sui generis, portador de um nome, também de uma ?história?, sofrendo tristezas e alimentando esperanças. E a educação é algo para acontecer nesse espaço invisível e denso que se estabelece a dois. Espaço artesanal. (ALVES, 2006, p. 19).

Referências bibliográficas

ALVES, R. Conversas com quem gosta de ensinar. 9ªed. SP: Papirus, 2006.

BAPTISTA, C. R.. Sobre as diferenças e as desvantagens: fala-se de qual educação especial? In Psicologia e educação: multiversos sentidos, olhares e experiências. Porto Alegre: Editora UFRGS, 2003.

CARVALHO E.R. Educação inclusiva: com os pingos nos "is". Porto Alegre: Mediação, 2004.

CHALITA, G.B.L. Educação: a solução está no afeto. São Paulo: Gente. 2004.

DEWEY, John. Vida e Educação. São Paulo: Edições Melhoramento, 1971.

DORZIAT, Ana. O outro da educação. Pensando a surdez com base nos temas identidade/diferença: currículo e inclusão. Rio de Janeiro: Vozes, 2009.

FRANCELIN& MOTTI. Questões atuais sobre o ensino para deficientes auditivos no Brasil. Revista Espaço. nº 16 julho/dezembro 2001.

JORNAL CORREIO POPULAR. Campinas 13/12/2011-Reportagem e 15/12/2011, Editorial.

LA TAILE, Yve. REVISTA NOVA ESCOLA. edição 213, junho/julho- 2008.

LEI N° 9394/96 ? Lei de Diretrizes E Bases Da Educação Nacional ? 1996. Capitulo V da Educação Especial. In www.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/lei9394_ldbn2.pdf. Acesso em janeiro de 2011.

NICOLUCCI, D. P.; LIMA, M. B., DIAS, T. 2004. A inclusão sob um olhar especial: a vez e a palavra do educando surdo. In site: www.ines.gov.br/pags revista texto 3 htm. Acesso em dezembro de 2010.

NOVO PLANO NACIONAL DE EDUCAÇÃO. Diretrizes- Educação infantil, 2011. In www.mec.gov.br/arquivos/pdf/pne.pdf Acesso em janeiro de 2011.

Revista Nova Escola. Inclusão: vamos lutar contra o preconceito. Edição 196, outubro, 2006.

UNESCO. Declaração de Salamanca. 1994. In www.mec.gov.br/seesp/arquivos/pdf/salamanca.pdf. Acesso em janeiro de 2011.

WALBER, V.B; SILVA, R. N. (2004) As práticas de cuidado e a questão da deficiência: integração ou inclusão. in site www.deficienteciente.com.br/.../deficiência-e-questão do 06. html. Acesso em janeiro de 2011.

WHITE; E. Conselhos aos professores, pais e estudantes. www.museuvirtualellenwith.com.br. Acesso em dezembro de 2010.
ZAGURY, T. O professor refém. São Paulo/Rio de Janeiro: Record, 2006.