Os desafios para o jovem aprendiz: As expectativas da autonomia ao respeito social

 

Johnny Everton Pinheiro de Borba

Resumo

O presente relatório corresponde a uma analise sobre o incentivo para o primeiro emprego como forma de inclusão não apenas do mercado de trabalho, mas também na sociedade de crianças de estão em situação de acolhimento. O quanto o incentivo pra o primeiro emprego promove a autonomia nos jovens que, ainda em condições de vulnerabilidade, aprendem a sentir-se útil e responsável em sua vida. Ter um olhar voltado nas capacidades de desenvolver novas condições de existência do sujeito, é confiar nas capacidades de crescimento do sujeito, vendo-o de forma integral e todas suas potencialidades e assim garantir condições mais que suficientes é um dos desafios das equipes de atendimentos.

Palavra chave: Jovem Aprendiz; criança abrigada; empatia.

Introdução

O trabalho de jovens sempre é assunto de discussão e muitas vezes de muita polemica. Felizmente existem condições para que haja o trabalho de forma licita no país. Um exemplo é o Jovem Aprendiz que garante o primeiro emprego para quem não teve oportunidade que começar no mercado de trabalho. “As principais normativas específicas sobre atividades laborais na adolescência são o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA Lei nº 8.069) e o Decreto 5.598/2005, que regulamenta o trabalho de adolescentes a partir de 14 anos inseridos em Programas de Aprendizagem Profissional (PAP)”, (Silva & Trindade, 2013). Assim o jovem que necessita de trabalho para garantir conhecimento profissional e um futuro, esta amparado por leis federais que o ajudarão neste processo.

Conforme Silva & Trindade (2013), o Decreto nº 5.598/2005 garante ensino profissionalizante para jovens entre 14 e 24 anos por um período de 24 meses como aprendizes deste oficio. Entrar no mercado de trabalho é um passo muito importante para o jovem estar inserido na vida adulta, sendo de vital relevância para o convívio em sociedade e ter autonomia por seus próprios meios. “A categoria Independência aloca conteúdos sobre a conquista de certa autonomia em relação aos pais, principalmente financeira”, (Silva & Trindade,2013), e isso torna o individuo ainda mais próximo do convívio social.  “A dimensão no trabalho, juntamente à escola e à família, vem sendo apontada como um dos condicionantes da inserção no mundo adulto para uma significativa parcela da população jovem em nosso país, especialmente para aqueles que necessitam trabalhar para ajudar no sustento da família” (Camarano, 2004 conforme citado por Marco & Chaves de 2010).

Sobre o ponto de vista de crianças em situação de abrigo onde seus direitos foram violados, a condição de ter controle de sua vida tornasse importante para desenvolver novas técnicas que assegurem sei crescimento pessoal. Para Bleger 1984, citado por  Arpini (2003), e muitas situações o abrigo acaba por representar novamente as negligencias que a criança foi retirada. “elas acabam por criar as mesmas dificuldades, sofrimentos e abandonos já vividos por essas crianças e adolescentes, reeditando, assim, a mesma relação que a sociedade estabeleceu com esses sujeitos ao abandoná-los e isolá-los”.

 

Descrição do caso

Duas adolescentes que procuram a psicóloga e a assistente social para encontrar emprego e uma das portas de entrada foi o programa Jovem Aprendiz que muitas empresas ofertam junto as vagas de emprego efetivas. Durante o período da manha varias empresas foram cadastradas e a expectativa das adolescestes para o mercado de trabalho.

 

O primeiro emprego: a expectativa no mercado de trabalho

Segundo o ECA (1990), é proibido o trabalho a menores de 14 anos, exceto na condição de aprendiz. Desta forma, a contratação de aprendizes é regulamentada pelo Decreto no 5598/2005. Ter dificuldade em encontrar o primeiro emprego não faz com que o jovem tenha anseios ainda maiores, principalmente devido as condições do país atualmente. E isso torna-se ainda maior quando o jovem ainda essa em situação de colhimento tendo que recomeçar sua vida longe de sua família.

A questão do abandono e da violência em relação à criança e ao adolescente vem a muito preocupando determinados setores da sociedade. E deixar jovens ainda em exposição, a outras formas de violação, é algo que as equipes de trabalho no acolhimento se esforçam para que não aconteça, mas que cada jovem tenha condições mais que suficientes para desenvolver-se. “Além das condições físicas, características psicológicas do posto de trabalho devem ser consideradas, tais como pressões de chefias, tomadas de decisão, raciocínio, entre outras” (Amazarray, et. Al. 2009).

A exposição a novos desafios também podem ser algo frustrante para o jovem aprendiz, e deve ser trabalhado desde o inicio, da entrevista ao primeiro dia no emprego, para que haja condições necessárias para que torne-se mais empático para com este nova etapa.

A responsabilidade a que estarão sendo submetidos, é um dos grandes desafios dos primeiros dias no trabalho. Muitas destes jovens saíram de uma situação em que não existiam limites, cada decisão era tomada a partir de suas vontades, ou a vontade de quem os dominava e em muitas dela colocaram-nos em risco.

Mesmo sendo um lugar de passagem, o acolhimento deve garantir que possam retornar para suas famílias com autonomia e responsabilidades, mas que isso nem sempre acontece. Para muitos a instituição  de acolhimento é concludente.  Conforme Arpini (2003): “Muitos sabem que a entrada em instituições pode representar o corte definitivo com sua família, e, embora esta seja marcada pela violência, a possibilidade de ficarem sozinhos é também muito assustadora...”. assim desta maneira ter uma oportunidade de emprego vai garantir um futuro melhor para o jovem que quer aprender uma profissão.

 

Da empatia a condições mais que suficientes

Compreender as necessidades dos adolescentes este em facilitar seu desenvolvimento organísmico. Todos possuem um tempo de crescimento pessoal, desta forma atitudes facilitador como incentivar os jovens a buscar uma nova identidade dentro de seu próprio auto-conceito e através de uma ressignificação deste conceito sobre si, traz atitudes e evolução de novas tendências no individuo. “ Ser visto como um adolescente que vive em uma Instituição de abrigo é ainda um forte estigma social e, sobretudo, uma marca muito forte que eles passam a carregar, pois as pessoas, via de regra, julgam que uma criança ou adolescente institucionalizado carrega algum problema em sua bagagem” (Arpini 2003). Esta mudança de ver-se fora dos paradigmas de uma criança abrigada vai além das crenças pessoais do individuo fruto do processo social e cultural em que está inserido. Ver o outro sem julgamento ou preconceitos, é entendê-lo de forma incondicional, não havendo com isso limites para acreditar que o jovem em seus primeiro emprego possa superar suas potencialidades. Pagès 1976 citado por Almeida (2009) diz:  “A consideração positiva incondicional de Rogers é, digamos, um amor, mas um amor não ambivalente, diferente de todas as formas de amor-fuga, que o termo habitualmente adquire. É uma espécie de afeição desesperada e lúcida, que liga dois seres separados, unidos somente por sua condição comum de serem separados”.  Isso também significa vê-la de forma empática, respeitando suas necessidades e fragilidades ajudando no crescimento pessoal. Para Rodrigues e& Ribeiro (2011): ““... entendida no senso comum como a capacidade de “se colocar no lugar do outro”, a empatia vem sendo considerada uma das habilidades mais abertamente valorizadas, transformando‑se em objeto de crescente interesse de investigação”.

Estar em acolhimento pode ser interpretado pelo jovem como um desafio muitas vezes de difícil superação. Ainda que para sua própria segurança, as condições de manter-se protegida por leis federais, não garante uma real ressignificação psíquica. Muitas crianças e adolescentes passam desde a dificuldade de aceitação de si mesmo e de compreender o outro para terem um bom relacionamento dentro de normas pré-estabelecidas para o melhor convívio dos internos. Ter a possibilidade retomar suas vidas e tornarem-se independentes é uma das principais razões para o incentivo ao primeiro emprego. Rogers e Kinget 1977, citado por Sá Campos & Cury (2009) diz: “Todo ser humano tem a capacidade de compreender- se a si mesmo e de resolver seus problemas de modo suficiente para alcançar a satisfação e eficácia necessárias ao funcionamento adequado. (...) Ele tem igualmente uma tendência para exercer esta capacidade. (...) Esta capacidade é entendida como integrante de seu conteúdo natural, (...) mas a atualização eficaz desta potencialidade não é automática...”

Considerações finais

Para muitos jovens estar colhido limita sua percepção de crescimento e desenvolvimento social, além de ocasionar a perca do convívio de sua família original. Quando nos deparamos com a realidade de crianças e adolescentes que procuram seu retorno a suas famílias e consecutivamente para sua sociedade, é importante que  durante sua passagem no acolhimento, os responsáveis pelo cuidado e zelo promovam sua autonomia, facilitando seu crescimento pessoal, retornando ao convívio social como indivíduos mais autênticos e verdadeiros consigo e com os outros sem as amarras do passado.

               

Referências

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