Introdução

O ser humano, em todo seu processo evolutivo, demonstrou nitidamente a necessidade de progredir e evoluir em relação ao seu conhecimento, até mesmo, para ter uma vida mais digna e notoriamente para a evolução da espécie. Sabemos que o conhecimento empírico nos afirma através das experiências, que o conhecimento científico, além da experiência, quer saber como as coisas funcionam. Mas não estamos aqui para discutir ciência e senso comum, e sim para mostrar de forma colaborativa, que em qualquer tempo, existe algo tão importante quanto aprender: ensinar. Qualquer aprendizado advém do ensinamento. E tão importante quanto ensinar e aprender, é a forma de como se ensina.

O Desafio

Os maiores desafios dos educadores, ou seja, dos transmissores de conhecimento da escola moderna, não é somente deter o saber, mas sobretudo encontrar as melhores práticas de transmiti-lo. E quando nos direcionamos as séries iniciais do ensino fundamental da educação brasileira é ainda mais necessário inovações e  metodologias diferenciadas. Pois, as crianças do mundo tecnológica e globalizado necessitam de técnicas que acompanhem o seu tempo, ao modo que vêem as coisas por outro ângulo.

Segundo Jean Piaget, no “Estágio Operatório Concreto, que varia em média dos 7 aos 11 de idade, a criança desenvolve noções de tempo, espaço e velocidade, ordem,casualidade,..., já sendo capaz de relacionar diferentes aspectos e abstrair dados da realidade. Não se limita a uma representação imediata, mas ainda depende do mundo concreto para chegar à abstração.” É neste estágio que está um dos maiores desafios dos professores da educação básica. Fase também, em que as crianças estão fazendo muitas descobertas e tentando fazer assimilações, onde tudo e qualquer coisa vira euforia e falatório; nada passa despercebido e tudo é questionado em busca de  respostas convincentes. É preciso, sem dúvida, muito jogo de cintura e insight contínuo por parte do professor, que não pode se contentar apenas com o feijão e arroz da sala de aula, mas sim, buscar novas e apetitosas formas de transmitir conhecimento. Portanto, é imprescindível que o mestre trabalhe, indiscutivelmente com aquilo (metodologia) que é interessante para a criança e que de fato esteja em coerência com o seu estágio de aprendizagem, apesar de termos consciência de que os estágios descritos por Piaget sejam apenas proposições. “O nível mental da criança é que determina como o professor deve apresentar as situações didáticas, pois, em cada estágio do desenvolvimento a criança tem uma maneira diferente de aprender” (PRÄSS, 2012, p. 13).

Aprender e Ensinar

É fato, que educar é função primordial da família, e que ensinar é a função da escola. Mas, o que nos cabe, no entanto, é ensinar aquilo que convém, e sobretudo, aquilo que gera conhecimento e consequentemente, que transforma. Pois, é através do conhecimento que ganhamos subsídio e alicerce, tanto para o nosso desenvolvimento intelectual como profissional.

Mas, o que seria etimologicamente, aprender? Segundo o dicionário online, “(Etm. do latim: apprendere); passar a ter conhecimento sobre; instruir-se”. Sendo assim, podemos concluir que aprender é saber, é passar a ter autoridade sobre o que foi ensinado. Aprender vai além de entender conteúdo, é saber fazer deste conteúdo, base para seu crescimento e progressão intelectual.

Ainda, o aprendizado advém da necessidade de aprender. Aprendemos a cuidar do nosso corpo pela premência de estar limpo; aprendemos a nos alimentar pela obrigação de saciarmos a fome, etc. É portanto, notório que o aprendizado precisa de um fator motivacional. E se tratando de crianças nesta faixa etária (7 aos 11 anos) é essencial que o educador se aproprie de técnicas motivadoras e mostre ao aprendiz que o aprendizado deve ser constante. Segundo PIAGET, o ato de aprender: É uma construção contínua, comparável à edificação de um grande prédio que, na medida em que se acrescenta algo, ficará mais sólido, ou à montagem de um mecanismo delicado, cujas fases gradativas de ajustamento conduziriam a uma flexibilidade e uma mobilidade das peças tanto maiores quanto mais estável se tornasse o equilíbrio.” (PIAGET, 1990 p. 12)

Sustentamos assim, a ideia de que o aprender tem sim um ponto de partida, mas em sua plenitude, não tem exatamente um ponto de chegada. É preciso que aticemos as crianças à busca de conhecimentos incessantes. É este o papel preponderante do professor que vê o aprendizado além da superfície da sala.

E de fato, o que seria ensinar? De acordo com o dicionário online, “(Etm. do latim: insignare); Transmitir conhecimento sobre alguma coisa a alguém”. Poderíamos acrescentar ainda queensinar é difundir experiência; é instigar o educando a fazer suas análises e descobertas através de impulsos que lhes foram dados. Paulo Freire, na carta aos professores, disse: ...ensinar e aprender se vão dando de tal maneira que quem ensina aprende, de um lado, porque reconhece um conhecimento antes aprendido e, de outro, porque, observado a maneira como a curiosidade do aluno aprendiz trabalha para apreender o ensinando-se, sem o que não o aprende, o ensinante se ajuda a descobrir incertezas, acertos, equívocos. (FREIRE, 1993, p. 27-38)

Quem ensina, aprende continuamente, ou seja, reaprende e reformula o conhecimento já obtido, até então. Podemos aprender até com a forma do outro aprender. E isso se faz naturalmente. Pobre daquele que em seu ingênuo egoísmo acredita que o saber transferido é armas para o inimigo. Milena Leão, diz: “Não tenho medo de compartilhar conhecimento. Essa é a única coisa que as pessoas não poderão roubar de mim, pois ninguém nunca sabe igual, mesmo que saiba a mesma coisa”.

Ensinar e aprender: práticas que devem trilhar os mesmos pomares em busca da fantasia e da emoção de novas descobertas. Toda e qualquer criança tem a fantasia e a imaginação necessária para flutuar na imensidão do conhecimento indispensável para a sua progressão e crescimento como pessoa. Porém, é essencial que haja profissionais com a capacidade de compreender esta necessidade e acima de tudo, que não permita que se interrompa esta viagem sem limites e sem fim ao mundo do conhecimento.

Conclusão

Em virtude, o que as crianças incluídas neste estágio precisa verdadeiramente é serem vistas como capazes de protagonizar o seu próprio aprendizado e o seu conhecimento. “Vygotsky partia da ideia que a criança tem necessidade de atuar de maneira eficaz e com independência e de ter a capacidade para desenvolver um estado mental de funcionamento superior quando interage com a cultura” (VYGOTSKY, 2007. apud PRÄSS, 2012, p. 19). Este envolvimento deve acontecer de forma natural e sadia, dando ao educando a oportunidade de fazer suas próprias análises e descobertas.  “O professor deve motivar os estudantes para que eles mesmos descubram relações entre os conceitos e construa proposições…” (PRÄSS, 2012, p. 23).

No estágio das Operações Concretas proposto por Piaget, a teoria nos remete a fazer analogias com intuito de encontrar as melhores práticas. Mas sobretudo, nos leva a uma reflexão sucessiva sobre o processo de ensino aprendizagem. Será que estamos ensinando ou apenas transmitindo conteúdo? Será que é esta a melhor estrutura ou estamos apenas cumprindo mal o nosso ofício? Questionamentos surgirão enquanto nos submetermos a árdua missão de ensinar, mas com certeza, estaremos em processo constante de busca de novas metodologias e de melhores formas para fazer muito mais do que até então, fazemos.

REFERÊNCIAS

Aprender. (2015, 22 de julho). Dicio Dicionário Online de Português. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/aprender/>

Ensinar. (2015, 22 de julho). Dicio Dicionário Online de Português. Disponível em: <http://www.dicio.com.br/ensinar/>

FREIRE, Paulo. Professora sim, tia não. Cartas a quem ousa ensinar. 10. ed. São Paulo: Olho D’Água, 1993.

LEÃO, Milena. Pensador. Disponível em: <http://pensador.uol.com.br/frase/ODE3NTM5/>

PIAGET, Jean. Seis estudos de Psicologia. Rio de Janeiro: Forense Universitária Ltda, 1990, p.12.

PRÄSS, Alberto Ricardo. Teorias de Aprendizagem. 2012.05. 57 f. Monografia de conclusão de pós-graduação - Universidade Federal do Rio Grande do Sul, 2012.