Os contrastes em nossa pátria

Robson Stigar

O nosso pais possui inúmeros contrastes de diferentes ordens e instancias, contudo as disparidades educacionais e econômicas saltam aos olhos de nossa opinião pública. Ora, recentemente a ONU divulgou pesquisa acerca da qualidade da educação e da distribuição de renda, é nossa amada pátria está novamente nas últimas posições. Isso deixa clara e exposta a fratura em nosso modelo de ensino e de organização econômica. Com efeito,o seio de nossa sociedade parece estar contaminado com o vírus da inoperância e da imoralidade.

Ora, atribuir às instituições concretas todos os problemas do Brasil é fugir da responsabilidade de cada indivíduo. Mas existe uma hipocrisia maior, a recusa dos fundamentos tradicionais que culmina no pacto da mediocridade, ou seja, permanecemos nas discussões superficiais e achamos que discutir metafísica e filosofia é coisa para quem não tem nada que fazer. É vergonhoso para nós que nos consideramos brasileiros, ouvir certas afirmações de alguns profissionais dizendo que o problema brasileiro é psicológico. Ora, esquecem-se esses "profissionais" que temos realmente como problema é a ausência de fundamento.

Carecemos do habito moral, da ética reflexiva, e não de estruturas sociais materiais defeituosas como causadores de todos os problemas. Contudo, no reino das emoções, falar de razão parece um tema proibido na academia e nos órgãos de formação de opinião nesse pais. Porque tudo se explica pela psicologia e pela má interpretação das ações.

Pois bem, os criminosos possuem problemas emocionais, os sonegadores de impostos sofrem de amnésia,outros sofrem de cleptomania. Enquanto isso, o pobre trabalhador não sofre de nada disso e se causar confusão é preso. O problema é psicológico ou pedagógico, pois temos de mudar nossos padrões de referencia, ou seja, precisamos de PIAGET, VYGOSTKY, não precisamos de um fundamento ontológico e epistemico, metafísico então é coisa de quem tem distúrbio mental e precisa urgentemente de um tratamento.

Parece que há uma imensa distorção, sob todos os aspectos, tudo é relativo, até a ética incorporou o modelo de protágoras, cada umtem a sua. Esse é o Brasil, sabemos que alei do vale tudo também sofreu uma transmutação, passou do tradicional "todos os fins justificam os meios" para qualquer coisa é valida desde de haja prazer,Maquiavel deve estar com vergonha de nossos políticos.

Outra aberração à natureza parece ser discutir princípios morais, afinal a ciência evoluiu, não estamos mais na idade média, e tudo se explica pelas novas formas de inteligência. Para que seguir a Biblia e os seus mandamentos, afinal o Brasil, para não dizer o mundo, é dos espertos.

Contudo, não nos preocupemos tudo isso será resolvido com terapia, existe mais falta de ética do que isso? Estamos presos na moral concreta, e na ética da mediocridade, chegamos ai cumulo de separar o indivisível, o ser humano agora possui a dimensão epistemico separada da ontológica, "o não ser conhece", PARMENIDES deve estar tentando voltar a esse mundo para tentar ser mais claro, pois ele era muito "obscuro", ser claro e distinto como os psicólogos e os pedagogos."O não ser é" se isso for verdade precisamos rescrever a história da civilização ocidental. E além disso render homenagem aos nossos representantes que muito bem cuidam de nossa casa, de nosso ethos.

A verdadeira fonte da moralidade pode ser encontrada em nossas escolas e universidades que ensinam muito bem o prático, porque teoria e filosofia para nada servem. Ora, precisamos de gente no mercado de trabalho que seja prática, resolva os problemas sem muita enrolação. Pois pensar demanda tempo, e ninguém tem tempo. Precisamos usarbem o tempo, não podemos ficar discutindo os fundamentos da moral e da ética, precisamos aplica-los. Esse modelo de raciocínio resulta na completa desvalorização do homem e do seu valor maior a dignidade. Assim, a tarefa dupla do homem consiste em realizar-se pessoalmente e na coletividade. Contudo, aparece no modelo capitalista fundado nomodelo liberal de MILL e SMITH, opõe esses dois níveis, fato agravado pelo modelo educacional e econômico adotado pelo Brasil.

A política deve ter, pelo menos como exigência, a criação de um estilo ético de fazê-la.Esse estilo ético é que falta ao político brasileiro, porque, como dissemos anteriormente, preocupa-se em levar vantagem em tudo. Mas esse comportamento não é somente exclusivo dos representantes do povo, a maioria dos estudantes, professores, trabalhadores, agricultores, profissionais liberais, religioso(a)spensam assim. Isso significa que a curto prazo não existe possibilidade de mudança na mentalidade dos cidadãos brasileiros.

Com efeito, usa-se muito a palavra ética em nosso amado pais, mas na verdade é rara a efetivação dela, e isso é uma contradição que a maioria dos letrados ignora. Contudo, é importante lembrar que a política não pode tornar o homem justo, mas ela pode mudar a realidade social. Assim, a justiça deveria ser a condição anterior para ser um bom político.

Portanto, para ser umbom homem público antes de qualquer outra a condição para que o indivíduo seja um bom político é ser justo. Ora, sendo justo ele saberá governar a vida em comunidade com propriedade e sem excessos. Para os gregos, a preocupação com o bem comum englobava o cuidado do Ethos social, ambiental e global. O zelo pelo relacionamento com os outros, o respeito pelo planeta e a valorização dos recursos naturais era uma característica do oikos, modelo de vida deste povo. Para Hanna Arendt, o fenômeno se explica de certa forma pela separação entre discurso e ação,

O conceito da ética não pode permanecer restrito ao aspecto particular, singular, ou seja, precisa expandir-se e ir além da preocupação singular, tornando-se um conceito e uma ação relacionados ao todo. A conduta ética precisa estar de acordo com a preservação do oikos, ou seja, do meio em que vivemos porque, como afirmavam os gregos, as duas esferas da vida (privada e pública) devem estar em equilíbrio.

Isso significa que na relação social não pode haver hegemonia da necessidade individual e nem a supressão da individualidade pela força da coletividade. O singular não pode anular o comunitário e o comunitário não pode anular o individual. Moralmente, o conjunto de hábitos de um homem não pode se suplantar à comunidade e a comunidade também não pode levar os desvalores éticos para o indivíduo, sabendo que ética é uma reflexão sobre os valores humanos.

Diante do problema da individualidade perante o todo, não configuram um conflito porque o indivíduo é um mundo, uma totalidade. Deste modo, um povo com espírito desenvolvido pode evitar a completa negação que é a guerra, total supressão da ética. Perante a decadência dos valores éticos carecemos deum espírito de brasilidade, o problema parece ser a ausência de fundamento coletivo para a ação pública, mas que se manifesta como um sintoma da prática particular.

A vida pública portanto, seria a mais nobredeferência à um homem honrado e honesto, porém no Brasil inverteu-se esse valor como tantos outros. Existe uma contradição entre àquilo que se vive e o que deveria ser o vida pública e privada no Brasil. A mesma contradição, guardadas as devidas proporções já fora manifestada por MAQUIAVEL, no Príncipe, quando este denuncia o descompasso entre teoria e prática.

Parece, contudo que incorporamos um completo valor da prática de atividades que transgridem as regras institucionalizadas. Ou seja, deve-se falar uma coisa e praticar outra. Isso configura uma fissura moral que implica na eterna manipulação da opinião pública e da sociedade como um todo. Certamente não era essa a intenção de MAQUIAVEL. Assim, o estado pode ser considerado comosendo portador da força repressiva para manter o poder, mas quando todos assumem uma postura ostensiva de violência e de sonegação dos valores, torna-mos totalmente indefesos.

Referências Bibliográficas:

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HABERMAS, J. Conhecimento e interesse. Porto: Martins Fontes, l995.

__________. Teoria da ação comunicativa. Buenos Ayres: Tecnos, l996.

KANT. I. Crítica da Razão Pura. São Paulo: Nova Cultural, 2005. 511p.

MAQUIAVEL, N. O Príncipe. Rio de Janeiro. Bertrhand Brasil. 1995.

TAYLOR, Charles. As fontes do Self. São Paulo: Loyola, l999.