Os anos 90 e os desafios da reestruturação
Octavio Augusto C. Conceição. In: FEE, 2000, Porto Alegre. Pág.: 15-44
Economia Gaúcha e reestruturação nos anos 90
Jorge S. Accurso. In: FEE, 2000, Porto Alegre. Pág.: 45-62

Os anos 90 apresentaram níveis superiores de crescimento econômico em relação aos resultados desastrosos da década de 80, por esse motivo o autor Octávio Conceição buscou por meio de sua obra Os anos 90 e os desafios de reestruturação realizar uma análise do processo de mudança e crescimento do período assim como os motivos e consequências do mesmo nas economias periféricas e principalmente na economia brasileira; ao mesmo tempo em que o autor Jorge Accurso, em sua obra Economia Gaúcha e reestruturação nos anos 90 verificou como esse processo de reestruturação interferiu na economia gaúcha na referida década, observando os resultados econômicos nos setores de maior importância de tal economia.
Conforme texto de Conceição (2000) constata-se que enquanto que a palavra que representava a década de 80 era crise, a década de 90 pode ser designada por reestruturação ou mudança, isso se deve as transformações estruturais nos setores da atividade produtiva, que trouxeram mudanças nas esferas macro e microeconômicas.
Tendo presente que a mudança é uma das características mais marcantes do nosso tempo, o processo de mudança interage com o processo de crescimento, alternando-se ao longo do tempo, como produto da própria acumulação capitalista, movida por inovações, descontinuidades e incertezas.
A recente fase da economia nacional na década de 90 resulta de profundas transformações nos hábitos das pessoas, e no modelo de interação da empresa, Estado e trabalhadores. Sendo que os fenômenos de crescimento e desenvolvimento econômico devem ser entendidos como o resultado da incorporação de mudanças tecnológicas e econômicas na estrutura social e política da sociedade.
Porém é necessário fazer uma distinção entre crescimento e desenvolvimento econômico, onde crescimento relaciona-se com dinâmicas econômicas que crescem, diminuem ou permanecem iguais, enquanto que desenvolvimento possui mudanças qualitativas onde são importantes mudanças tecnológicas, comportamentos das firmas e instituições que formam padrões específicos de desenvolvimento.
No entanto a importância da mudança tecnológica, seu procedimento, quais instituições a sustentam exigem a necessidade de três elementos característicos, como sendo um processo que ocorre de forma diferenciada, em meio à incerteza e em um contexto pluralístico.
O questionamento de crescimento econômico iniciou-se a partir da década de 60, e Conceição apresenta duas escolas que estudaram a trajetória do crescimento econômico, a Teoria da Regulação e a Escola Neo-Schumpeteriana, sendo que para ambos o estudo da trajetória de crescimento econômico de longo prazo é de natureza cíclica, onde dado padrão de inovação tecnológica funciona apenas se associado a normas institucionais compatíveis.
Os Neo-Schumpeterianos desenvolveram o conceito de paradigma tecno-econômico ou modelo Freeman-Perez, que sugere que novas tecnologias abrem um amplo leque de oportunidades em novos mercados, que aumentarão a confiança dos empresários com uma longa onda de investimentos expansionário, porém sem adequadas mudanças institucionais jamais se definirá um paradigma tecno-econômico.
A principal distinção entre ambas as escolas está no fato que os regulacionistas priorizam aspectos institucionais e os neo-schumpeterianos priorizam a inovação tecnológica.
As mudanças no paradigma tecno-econômico afetam o comportamento de toda a economia, gerando inovações radicais e incrementais que passam a incorporar novos sistemas de tecnologia, modificando quase todos os ramos da economia. Nesse sentido de mudança de paradigma, insere-se a economia brasileira dos anos 90, que se vincula às mudanças tecnológicas, institucional e econômica.
As condições de mudança na evolução de um paradigma são resultantes da diferença entre o tamanho das oportunidades abertas na transição, bem como da capacidade em extrair o máximo de vantagens, oriundas das condições de adaptabilidade institucional e da criatividade vigentes no País e em suas firmas, pois a primeira instituição afetada pela mudança no paradigma é a firma.
Porém a maioria das firmas não foi projetada para evoluir, não esperam alcançar competitividades por si mesmas e não estão interconectadas, por essa razão a reestruturação necessita da intervenção governamental, que pode ser realizada de três formas; uma em identificar e remover os obstáculos ao avanço, outra que buscaria facilitar algumas iniciativas e mudanças e por fim a que combinaria as anteriores com promoção e direcionamento de mudanças rumo a uma plataforma de consenso.
Contudo o nível de ação governamental implica na definição de toda uma forma de desenvolvimento que passaria a nortear as ações dos agentes econômicos, abrindo um vasto campo de possibilidades, onde o único meio de inserção no novo padrão de desenvolvimento depende da permanente necessidade de renovação e inovação.
A inserção da economia brasileira em qualquer trajetória de crescimento e desenvolvimento econômico encontraram grandes desafios na década de 80 e inicio dos 90, devido a problemas estruturais, onde a política macroeconômica não conseguiu controlar a inflação, gerando instabilidade, aceleração do processo inflacionário, crise fiscal e financeira sem precedentes.
Na busca de uma rearticulação da economia brasileira no novo cenário mundial de transformação, foram implantados o Plano Cruzado em 1986 e o Plano Collor no início de 90, com o objetivo de um combate à inflação, porém ambos falharam.
Os anos 90 marcaram a tentativa de inserção da economia brasileira no contexto de construção e adequação de instituições nacionais. Mas, para tanto, seria necessário a economia contar com um ambiente de estabilidade, sendo que tal foi a função do Plano Real, implantado em 1994, onde a capacidade de gerar, introduzir e difundir inovações passou a exercer papel fundamental para a sobrevivência das empresa.
Nesse sentido fez-se necessário a incorporação da tecnologia na tomada de decisões, assim como a formação de blocos regionais de comércio, que fizeram com que o Estado reaparecesse exercendo funções como suporte da estrutura tecnológica e inovativa.
Entretanto, deve-se salientar que a adoção de políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico, devem estar enraizadas na empresa nacional que possui o papel de principal elemento articulador do desenvolvimento no novo paradigma, onde ações conjuntas de parceria pública e privada abrem leques de oportunidades em novos produtos e processos.
E nesse contexto de reestruturação da economia nos anos 90 Accurso (2000), apresenta em sua obra como tal processo repercutiu na economia Gaúcha, sendo que o estado na década abrangia uma população de 10 milhões de habitantes e representava a quarta economia do país. O autor analisou os setores mais impulsionadores da economia Gaúcha que eram a agropecuária, que no período vinha enfrentando problemas decorrentes do alargamento da fronteira agrícola nacional, com a expansão das lavouras no Centro-Oeste; e a indústria de transformação, por fim analisou o setor de serviços que obteve uma expansão no período.
Observando as taxas de crescimento do PIB gaúcho na década de 90 o autor destaca o crescimento do estado maior que as taxas nacionais, representando 7,5% na economia nacional, ocupando o quarto lugar no ranking das economias no País. Porém o desempenho da economia gaúcha tendo como referência a PIB e o PIB per capita e comparando com os demais estados revela uma relativa perda de dinamismo, mas não suficiente para restringir o seu futuro.
Ao analisar o desempenho da agropecuária gaúcha nos anos 90, constata-se um menor dinamismo na comparação com o dos demais estados, onde o Rio Grande do Sul teve um crescimento de 2.2% a.a inferior aos principais estados, porém, manteve-se na segunda posição no total nacional, somente atrás de São Paulo. Sendo que teve como principal cultura a soja que mesmo com diminuição da área média colhida, teve um maior rendimento, mas ao se comparar o desempenho da lavoura do Estado em relação ao do País, é expressiva a menor produtividade obtida em relação à média nacional.
Em relação à indústria de transformação gaúcha, a mesma apresentou um crescimento nos anos 90 de 4.4% superior à média nacional que foi de 3.1%, esse crescimento fez com que a atividade fabril alcançasse a segunda posição no parque fabril nacional, ficando atrás de São Paulo. Tal resultado foi motivado pela expansão da indústria mecânica, gêneros mobiliários e produtos alimentares.
A atividade do setor de serviços no Rio Grande do Sul apresentou uma expansão menor que a média nacional nos anos 90, com um crescimento de 2,4% a.a detendo 7% da economia nacional, o que lhe confere a quarta posição nacional. Esse crescimento foi impulsionado pelas atividades de comércio, atividades imobiliárias, aluguéis e serviços prestados as empresas e transporte e armazenagem.
Ao final da análise dos referidos textos pode-se concluir que a década de 90 foi representada por um período de intensas e profundas transformações e mudanças, que caracterizaram a década como década da reestruturação, diferentemente da década anterior que foi representada por profundas crises, que na economia brasileira foi impulsionado pelo processo inflacionário.
Verifica-se que tal processo de reestruturação foi alavancado por crescimento e desenvolvimento econômico, oriundo da inserção da tecnologia inovadora em processos e produtos, que representam a sobrevivência das empresas no ambiente de início competitivo.
Esse período além de permitir um crescimento e desenvolvimento econômico nacional também influiu num melhor resultado da economia gaúcha que no período teve crescimento maior que o nacional na agropecuária, na indústria de transformação e no PIB, demonstrando o importante papel da economia gaúcha no cenário econômico brasileiro.
Marcos André Schons
Graduando do curso de Administração pela
Universidade Federal de Santa Maria (UFSM)
Centro de Educação Superior Norte - RS (CESNORS)