Os acordes de uma vida

Como é difícil falar de coisas que não sabemos ou lembramos, mas que sentimos vivas dentro da memória da nossa saudade. Um sábio homem já dizia que a saudade é a presença da ausência. Talvez seja a coisa mais próxima de uma explicação plausível para esse vazio triste e belo que de vez em quando preenche a nossa alma.

Há um tipo de saudade que não se explica, e que por causa dela nossa alma chora: é aquela que nos remete a uma vida da qual não nos recordamos, mas que a sentimos viva dentro de nós, especialmente quando ouvimos determinadas canções.

Talvez isso aconteça porque, na verdade, sintamos saudade de uma vida a qual queríamos ter vivido e da pessoa que gostaríamos de ter sido se pudéssemos reescrever a nossa história. Por isso considero a música um portal mágico, através do qual podemos regressar de volta à vida que criamos pra nós, no nosso mundo ideal, como afirmava Platão.

Hoje, diria que a trilha sonora da minha vida se confunde com a trilha sonora do filme "O amor não tira férias" (Hollyday). Ela contém uma única melodia que se transforma a cada arranjo instrumental, assim como acontece com a música da vida: nunca perde sua essência, mas está sempre se revestindo de novos acordes, conforme o tom dos acontecimentos. Assim, posso sentir todas as minhas saudades ao som de uma mesma canção