Segundo o dicionário Michaelis Online (2010), a palavra leitura refere-se à ação ou efeito de ler, arte de ler, aquilo que se lê. Já para Zaccur apud Macedo (1999), ler provém de legere que significa, no seu sentido próprio, colher, recolher. Nesse sentido, a autora destaca dois movimentos: do ser que colhe pistas e informações que estão no mundo exterior e as recolhe para si. “Portanto, ler é descobrir caminhos, conhecer e reconhecer o mundo a nossa volta” (MACEDO, 1999, p.123).

            Para Faria et al (2005), entende-se leitura como o método de proferir em voz alta ou para si  mesmo o texto impresso, ação individual que se faz correndo os olhos pelas linhas, transformando sinais visuais e luminosos em sinais sonoros mentais. Ou seja, ler implica acima de tudo, conhecer, interpretar, decifrar. Ler significa também eleger, escolher, distinguir os elementos mais importantes da­queles que não o são

No conceito de Zilberman apud Magalhães e Silva (2007, p. 8), “tudo começou quando a sociedade precisou criar um código reconhecido e aceito por todos, o qual seria usado para operar as relações familiares, sociais e econômicas”, portanto, no relato da autora, começamos a ler desde quando nascemos, pois começamos a decodificar todos os sinais emitidos por todos ao nosso redor.

Com o tempo, segundo Magalhães e Silva (2007), passou-se, então, a preocupar-se com a escrita, a forma em como fixar os códigos estabelecidos. 

Inicialmente, as anotações eram feitas em tabuletas de argila, mais tarde em papiros, depois em pergaminhos, papéis de baixo custo, mas perecíveis, onde o escriba documentava a informação oral recebida, seja do poeta, seja do administrador que desejava contabilizar seus ganhos e propriedades. Este trabalho individual, especializado e de difícil circulação, prolongou-se até o século XV da era cristã, quando a invenção dos tipos móveis e da impressão mecânica propiciou, pela primeira vez, a produção em escala industrial de textos impressos (MAGALHÃES e SILVA, 2007, p.12)

Diante da indagação de como compreender a codificação de tantas informações a serem lidas e divulgadas, ainda segundo as autoras, a escola surge como meio de ensinar os povos na leitura, a qual, mesmo não disponibilizando de pessoal qualificado para a referida tarefa, a escola designa aos escravos da época, que aprendiam a ler, a ensinar a ler, a decifrar decodificar as palavras.

Assim, a leitura, como produto de uma escola atuante e preocupada em valorizar a educação, passou a ocupar uma posição de destaque em nossa sociedade contemporânea. Adquirindo então conhecimento, era possível ao indivíduo ascender ao mundo do conhecimento, fazendo parte da sociedade capitalista. Dessa forma, segundo Zilberman apud Magalhães e Silva (2007, p.13), “a história da leitura faz parte da história da sociedade capitalista, onde a política, para valorizar a leitura como idéia, precisa estar vinculada ao fator econômico”.

Portanto, nesse processo de crescimento, a história da leitura se liga intimamente à história da educação, elegendo a escola como espaço de aprendizagem, valorização e consolidação da leitura. Conforme enfatiza Barone apud Magalhães e Silva (2007, p.14), “é importante enfatizar que a aprendizagem da leitura e da escrita traz questões para o aprendiz, mais amplas, que rompem os limites estreitos colocados pelas diferentes abordagens teóricas”.

A leitura passa a ser então um ato de abertura para o mundo.

Dentro desta explicação, conforme expõe Lerner (2002), na atualidade a leitura está presente em várias situações cotidianas das pessoas, tomando como exemplo, a dimensão pública: 

os políticos lêem em voz alta seus discursos ao público; nos grupos de estudo há uma leitura compartilhada daquilo que se está discutindo; diante dos exemplares expostos em uma banca de jornal,as pessoas lêem e comentam as notícias que vão aparecendo. Há também uma leitura compartilhada na intimidade: a leitura do jornal da manhã, a leitura noturna de contos para os filhos (LERNER, 2002, p.60).

A autora expõe ainda que realmente, a leitura e a escrita aparecem sempre inseridas nas relações com as outras pessoas, supõem interações entre leitores acerca dos textos: “comentar com outros o que se está lendo, recomendar o que se considera valioso, discutir diversas interpretações de uma mesma obra, intercambiar idéias sobre as relações entre diferentes obras e autores” (Id., 2002, p.61).

Referente ainda à didática da leitura, os projetos devem ser dirigidos para a realização de propósitos sociais da leitura, conforme explica Lerner (2002)

ler para resolver um problema prático (fazer uma comida, utilizar um aparelho, construir um móvel); ler para se informar sobre um tema de interesse [...]; ler para escrever, quer dizer, para produzir o conhecimento que se tem sobre o tema do artigo que a pessoa está escrevendo [...] ; ler para buscar informações específicas que se necessitam por algum motivo – o endereço de alguém ou o significado de uma palavra , por exemplo. [...] Os projetos vinculados à leitura literária se orientam para propósitos mais pessoais: lêem-se muitos contos ou poemas, para escolher aqueles que se deseja compartilhar com outros leitores; lêem-se romances, para se internar no mundo de um autor, [...] ou para viver excitantes aventuras que permitem transcender os limites da realidade cotidiana (LERNER, 2002, p.80). 

Dessa forma, leitura torna-se uma atividade permanente na condição humana, uma habilidade a ser adquirida desde cedo. Lê-se para sonhar, viajar, manipular o próprio tempo, envolvendo-o em idéias, acontecimentos e fazendo-o interagir com o mundo de forma mais atraente.

Nesse sentido, faz-se evidente compreender a afirmação de Paiva (2010), quando expõe que enquanto mudanças fundamentais no pensamento humano e nas tecnologias de produção permanecem num contexto histórico, alterando o livro como chance comunicativa e mediação de linguagens múltiplas, desafiando o leitor e incrementando sua acessibilidade, ler deve continuar a ser um processo incorporado à vida social, a leituras utilitárias e a lugares de ação criativa.

Compreende-se assim, que, através do encontro com as mais variadas formas de literatura, os homens têm a oportunidade de ampliar, transformar ou enriquecer sua própria experiência de vida. Nesse sentido, a literatura apresenta-se não só como veículo de manifestação de cultura, mas também de ideologias

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

FARIA, Ana Lúcia de; MELLO, Suely Amaral; (orgs). O mundo da Escrita no Universo da Pequena Infância – polêmicas do nosso tempo. Campinas, SP: Autores Associados, 2005.

LAJOLO, Marisa. Do mundo da leitura para a leitura do mundo. São Paulo: Editora Ática. 1994.

LAJOLO, Marisa; ZILBERMAN, Regina. Literatura Infantil Brasileira: história & histórias. São Paulo, Editora Ática, 2006.

LERNER, Delia. Ler e escrever na escola: o real, o possível e o necessário. Porto Alegre, Artmed, 2002. 

LOCKE, J. Ensaio acerca do entendimento Humano. São Paulo: Editora nova cultura. 1997. (Coleção Os Pensadores)

MACEDO, Stella Maris Moura de. Cultivando o Prazer da Leitura: o prazer de ler desde pequeno. In. Salto para o Futuro: Ensino fundamental / Secretaria de Educação à Distância. Brasília: Ministério da Educação, SEED, 1999. 224 p.

MAGALHÃES, Cristiane de Carvalho. SILVA, Patrícia Maria da.  A importância do professor na formação do aluno leitor da educação de jovens e adultos. Brasília,2007.Disponívelem:<http://www.conhecer.org.br/enciclop/2007B/IMPORTANCIA%20DO%20PROFESSOR.pdf> Acesso em: 02 Dez. 2010.

MARICATO, Adriana. Professora pode tornar-se leitora com formação e prazer. Revista Criança do Professor de Educação Infantil, nº 41, nov.2006.p.33-34.

MEIRELES, Elisa. Leitura muito prazer. Revista Nova Escola, São Paulo, ano XXV -n.234, p.48-57, ago. 2

PAIVA, Ana Paula. Quando a Leitura se Torna Uma Brincadeira. Revista Pátio – Educação Infantil, Ano VIII, nº 24, jul/set. 2010. p.12-15.