Oração aos Moços, obra de Rui Barbosa,  o qual desenvolve seu  pensamento inicialmente sob o discurso  “Águia de Haia”. Nas suas primeiras frases, justifica a  ausência no evento para qual foi convidado  e que devido ao seu estado de saúde não pode comparecer.“Não quis Deus que os meus cinquenta anos de consagração ao direito viessem a receber no templo do seu ensino em São Paulo[...]na solenidade imponente dos votos em que ides esposar.”(p.5). Através desta justificativa, Rui Barbosa utiliza como um dos pontos principais para o desenvolvimento do discurso. Tenta ele, quebrar as barreiras, a distância física, que separa o paraninfo dos ouvintes e leitores, da mesma forma que incentiva a construção de uma “presença real, verdadeira”, como se fosse algo sobrenatural. “Direis que isto de me achar assistindo, assim, entre os de quem me vejo separado por distância tão vasta, seria dar-se, ou supor que está se dando , no meio de nós, um milagre?”(p.6).

Ocorre também, uma relação de troca entre o experiente (Rui Barbosa) e os iniciantes (formandos). “[...] um como vínculo sagrado entre a vossa existência intelectual, que se encesta, e a do vosso padrinho em letras, que se acerca do seu termo.” (p.9). Começa por um olhar profundo sobre sua vida, seus feitos, suas aspirações, reflexos de uma consciência singular de um grande jurista, apesar deste, queixar-se da falta de êxito em algumas questões. Constata-se, através destas reflexões, uma relação cristã, que o autor estabelece com os diversos assuntos abordados por todo o texto, assim como na passagem: “Deus me é testemunha que tudo tenho perdoado.[...]’Perdoai-nos ,Senhor, as nossas dívidas, assim como nós perdoamos aos nossos devedores’[...]”(p.14).

Além destas, outros trechos do discurso, tentam justificar ou relacionar atitudes que o jurista tem, e incentiva o ouvinte a ter como ensinamentos. “Amigos e inimigos estão, amiúde, em posições trocadas. Uns nos querem mal, e fazem-nos bem, outros nos almejam o bem, e nos trazem o mal.” (p.15).

A metalinguagem, que o autor utiliza como forma de transmitir e ensinar o papel, enquanto jurista ou homem, e a sua importância no desenvolvimento do saber, não  apenas um conhecimento meramente técnico, mas como forma de reflexão profunda da importância de desenvolver bem o seu trabalho, seja qual for. Adicionado ao trabalho a função essencial da oração, como auxílio de grande relevância, da forma como é exposto no livro: “Oração e trabalho são recursos mais poderosos na criação moral do homem.” (p.18).

A valorização do pensar, não como simples armazenamento de idéias alheias, mas como intensa transformação e produção do que foi absorvido. Nesse momento, o autor, distancia-se do saber teórico e exalta o saber real, com uma crítica a formas de governos que não “enxergam” pela ótica popular, mas de uma perspectiva benéfica e restritiva. Cabe, aos “colaboradores da justiça”, magistrados, advogados, enfim, a tarefa árdua de executar e corrigir os excessos,erros que a lei sancionada,se omite e/ou foge da real situação em que está submetida . É função daqueles, de acordo com suas atribuições, aplicar da melhor forma a lei, excluindo exageros e omissões. “[...] Boa é a lei quando executada com retidão. Isto é: boa será em havendo no executor a virtude, que no legislador não havia.” (p.27).

Rui Barbosa demonstra a importância dos operadores do direito, da lei, estarem conscientes do seu papel e comprometidos com a causa maior, fazer justiça, não com as próprias mãos, mas como a lei determina, enfrentado com coragem, a tarefa árdua de combater “governos de  minoria”. “As duas se entrelaçam, diversas nas funções, mas idênticas no objeto e na resultante; a justiça.” (p.37).

Para encerrar, o autor dá profundos conselhos, esses, reflexos das suas experiências na carreira jurídica, política, particular. Reitera os valores da coragem, moralidade, respeito, ética, com um trabalho insistente, dinâmico, alicerçado em Deus, na salvação individual, como aspectos indispensáveis para um país que busca justiça.

 

  OLIVEIRA, Rui Barbosa de. Oração aos Moços. São Paulo: Martin Claret, 2006.