1. Resumo

Os trânsitos culturais entre povos diferentes geram transformações, que são provas empíricas do caráter mutável da cultura, e são manifestadas em diversos segmentos, entre eles, a música. O processo de adaptação de um ritmo ao novo contexto em que se insere, pode ter como resultado o surgimento de outro gênero musical. Foi basicamente assim que a Bossa Nova se desenvolveu. Tendo outras manifestações circulando em sua veia, principalmente o Jazz de Nova Orleans, a Bossa Nova tem sua autenticidade questionada por grande parte da crítica daquele momento na história, e mais do que isso, joga por terra o conceito de gênero musical no momento em que, renegada em sua própria pátria, passa a ser admirada e reinventada pelos grandes nomes do Jazz norte-americano, trazendo à tona a fragilidade desta concepção, que por muito tempo questionou a autenticidade de diversas músicas, por não seguirem fielmente o conceito de gênero musical no qual se inseriam; concepção esta que até os dias de hoje gera discussões. Posto isto, e tendo em vista o intenso tráfego entre o Jazz e a Bossa Nova, é inevitável buscar reconhecer na Bossa Nova brasileira, tendo como referência a música Samba de Uma Nota Só, composta e executada por Antônio Carlos Jobim em 1959, e no Jazz norte-americano, com a música One Note Samba, versão traduzida pelo próprio Tom Jobim em 1960, interpretada por Dizzy Gillespie em 1963 e Ella Fitzgerald em 1969, as peculiaridades estéticas, de forma a investigar as apropriações e misturas que ocorrem, no sentido de propor reflexões acerca do contexto em que ocorrem, e da maneira como são interpretadas, recaindo sobre as finas barreiras que os separam, não tentando definir os motivos que as encaixam em gêneros, mas sim tentando compreender que esta forma de classificação apresenta muitas falhas e, portanto, merece ser discutida, pensada e repensada.

 

Palavras-Chave: Bossa Nova, Jazz, Gênero Musical.