A primeira vista parece difícil pensar em um ponto de encontro entre a arte e a ciência. Desde a infância aprendemos na escola disciplinas separadamente, sendo que na arte sempre se prezava pela subjetividade, criatividade e interpretação, e nas disciplinas cientificas, como física e a matemática, valorizava-se sempre a razão, o método e a obtenção de resultados concretos. Poucas vezes o professor se arriscava a estabelecer relações entre os diversos ramos do conhecimento e se assim o fizesse estaria saindo do programa proposto pela escola. Nunca chegávamos até as últimas páginas do livro, onde pareciam estar os assuntos mais interessantes e polêmicos, eram matérias de revistas e jornais que propunham discussão sobre clonagem, alimentos transgênicos, curiosidades sobre as pirâmides do Egito, evolução do homem, questões agrícolas, energéticas e uma série de outros temas multidisciplinares.

Estudamos que as leis de Newton são universais, funcionam para partículas de poeira se deslocando no ar assim como para veículos em movimento, pontes estáticas, para o movimento de astros no espaço e até mesmo para bêbados tentando se equilibrar para andar em linha reta. Enfim, para todo e qualquer corpo material e imaterial que se possa conceber.

A música é uma arte, quando bem tocada, teoricamente deve ter ritmo, harmonia e melodia. Músicos não precisam saber física para cantar e tocar um instrumento, contudo eles sabem que sensíveis mudanças, como uma oitava de diferença entre um instrumento e outro, poderá resultar em perda de qualidade musical. Notas musicais combinadas formam seqüências, escalas e arranjos que resultam em belos e cativantes sons harmoniosos. Físicos também não precisam sair solando uma guitarra como o Angus Young (guitarrista da banda AC/DC), para conhecer e aplicar as leis físicas que regem o som.

O que seriam estes sons senão resultado da combinação entre técnica, arte e ciência. Para emitir som o músico precisa de um instrumento que é o resultado de técnicas de produção muitas vezes bem sofisticadas. Poderíamos questionar: - E quanto aos instrumentos artesanais? Mesmo estes são resultados de certa técnica de fabricação.  O artesão simplesmente confecciona o instrumento da mesma forma que aprendeu, é um conhecimento empírico, mas que dependendo de sua habilidade pode resultar em um ótimo trabalho. Na produção está implícita acústica, materiais, resinas, tintas e uma porção de outras variáveis que influenciarão na arte de tocar.

 Quando o músico produz um som, seja qual for o instrumento musical, ele está produzindo freqüências, timbres e intensidades que pertencem ao campo de estudo da física. Uma música tocando é a combinação de diversas leis universais, e essas leis são imutáveis. Notas musicais são sempre as mesmas, o que difere, são as infinitas combinações obtidas de acordo com a criatividade musical do artista.

 As leis físicas são também música. Quando um astro se movimenta no espaço, é como se estivesse dançando em um ritmo perfeito. Sem errar nenhum passo a Terra fica dançando em torno do Sol e impecavelmente ela completa seu percurso rotineiro.

Por este ângulo pode parecer que a analogia não faz sentido, porque num grupo musical existem vários músicos que tocam instrumentos em notas diferentes. Entretanto os astros também se movimentam em velocidades distintas, se atraem e se repelem com intensidades diferentes conforme sua massa e distância, de maneira que o resultado de todos os movimentos gere uma música tão equilibrada quanto possível. A mesma analogia poderia ser feita para o eletromagnetismo, termodinâmica ou qualquer lei física.

Seria então a encruzilhada ciência/arte nas notas musicais e no movimento dos astros? Talvez nas diminutas notas musicais e também no macrocosmo, nas interações de astros, estrelas e galáxias no espaço sideral.