OLHAR A SOCIEDADE PARA ENTENDER O INDIVÍDUO, OU PARTIR DELE PARA COMPREENDER A SOCIEDADE? UMA ANÁLISE DAS CONCEPÇÕES SOCIOLÓGICAS DE EMILE DURKHEIM E MAX WEBER

 

Leonildo José Figueira
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A presente análise pretende compreender os conceitos de Fato Social e Ação social, propostos respectivamente por Emile Durkheim e Max Weber, bem como o contexto histórico da produção de suas obras, verificando pioneirismo desses autores para o nascimento da Sociologia como ciência, possibilitando, dessa maneira, o olhar sociológico na contemporaneidade. Visamos, dessa maneira, trabalhar tal tem ética com alunos da primeira série do ensino médio, cujos objetivos específicos listamos a seguir.

Talvez nossa ´pretensão não seja produzir um plano de trabalho docente de modo a esgotar todas as questões relacionadas aos conceitos e as teorias de Weber e Durkheim; talvez pela impossibilidade de fazê-lo, ou pelo simples fato de desejar apenas tecer alguns apontamentos e possibilidades de trabalho em sala de aula.

De maneira prática podemos verificar as filiações teórico filosóficas e metodológicas de ambos os autores, bem como o contexto em que viveram e elaboraram suas teorias; Refletir e caracterizar o conceito de Fato Social em Emile Durkheim; Trabalhar e exemplificar o conceito de Ação Social em Max Weber; Abordar as normas e a educação da produção/reprodução da sociedade como um fator social, segundo Durkheim; Analisar o fator econômico-religioso ou as afinidades entre o espírito do capitalismo e a ética protestante; Pensar os Estados Modernos e a Cidadania para Durkheim e Weber; Mostrar a relação entre as novas estruturas dos Estados Nacionais e os tipos de liberdades civis e políticas que lhes seguem; Diferenciar em Durkheim e Weber as diferentes concepções de socialismo como sistema social e de valores, discutindo a dimensão especificamente social presente em cada definição; Abstrair o conhecimento para convertê-lo em imaginação sociológica de maneira coerente e de acordo com a proposta da disciplina.

Estudar os clássicos da Sociologia nos permite conceber a cientificidade da disciplina, e os fatores de ordem metodológica. Visamos também, possibilitar um olhar sociológico criticamente formado, metodologicamente preparado e teoricamente orientado para pensar/repensar as questões de ordem social do mundo que nos cerca, apontando suas causas, desdobramentos e até mesmo, possíveis soluções, uma vez que os clássicos representam a base do pensamento sociológico contemporâneo.

Em se tratando de um plano de ensino, sugerimos um trabalho para 4 aulas, nas quais alguns recursos poderão ser utilizados para dinamizar o ensino, mantendo sempre a cientificidade do mesmo.

Metodologicamente, iniciaremos contextualizando os teóricos clássicos da Sociologia em tempo e espaço para, em seguida, abordar suas obras e conceitos. Exibiremos algumas imagens para exemplificar e entender os conceitos de Fato Social, Solidariedade, Coesão, Anomia entre outros termos caros à sociologia Durkheimiana. Em seguida outras imagens poderão ajudar na compreensão dos conceitos de Ação Social, Racionalidade, Ética Protestante, Espírito do Capitalismo, entre outros.

Considerados os grandes clássicos da Sociologia (juntamente com Karl Marx) os autores Durkheim e Weber explicam e vivenciam a lenta consolidação, no mundo ocidental, da figura do cidadão livre e tratam da estratificação social, conflitos entre grupos. Busca-se levar os alunos a analisarem o papel das revoltas e das greves como fatores que evidenciam as contradições do capitalismo. Analisaremos o papel do Estado como agente da classe dominante, a burocratização da esfera estatal e o crescimento em tamanho e complexidade da esfera jurídica na consolidação de uma nova cidadania. Novamente, por meio de uma análise comparativa, os alunos são levados a confrontarem as diversas definições de Estado presentes nos Clássicos da Sociologia e a compreenderem o papel do cidadão no mundo democrático. No mesmo âmbito, podemos refletir as distintas concepções de socialismo como sistema social (forma de governo e sistema econômico), discutindo a dimensão social (a questão dos valores humanos) presente em cada Definição. Esse tema permite diferenciar os três autores e mostrar como Weber e Durkheim, cada um a sua maneira, contestaram e procuraram separar a visão marxista de história e a tese desenvolvida por Marx, segundo a qual o socialismo seria a consequência inevitável do desenvolvimento do capitalismo.

Alguns filmes (trechos) podem ser pertinentes para algumas análises e reflexões. O filme Tempos Modernos (Modern Times). Direção de Charles Chaplin. Estados Unidos: Continental, 1936. (87 mim), último filme mudo de Chaplin,  mostra como era a vida dentro de uma fábrica nos EUA dos anos 1930, enfocando criticamente a alienação produzida pela linha de montagem e a especialização do trabalho. Faz uma crítica em tom de comédia aos diferentes estilos de vida de patrões e operários, mostrando como os conflitos entre esses dois novos grupos sociais surgiram no dia a dia da fábrica.

No filme, A classe operária vai ao paraíso. Direção de Elio Petre. Itália: Versátil Home Video, 1971. (126 min), o personagem principal representa um operário típico da Itália que, ao perder um dedo em um acidente de trabalho, se envolve em um movimento de protesto. Entretanto, ele se divide entre os desejos de consumo e o movimento sindical. O filme apresenta o beco sem saída ideológico da maioria dos trabalhadores.

O filme, Inimigo do estado (Enemy of the State). Direção de Tony Scott. Estados Unidos: Buena Vista Pictures, 1998. (128 min), gira em torno do assassinato de um parlamentar estadunidense. Ele é morto por discordar de uma lei que atenta contra as liberdades individuais em nome da segurança nacional.

O documentário, SICKO. Direção de Michael Moore. Estados Unidos: The Weinstein Company, 2007. (113 min), apresenta, de forma irônica, uma análise comparada da situação atual dos sistemas de saúde nos EUA, na França, na Inglaterra e em Cuba.

Todos os filmes devem ser assistidos e avaliados pelo professor quanto a sua adequação antes de serem exibidos pelos alunos, especialmente em relação a classificação indicativa.

Como instrumentos de avaliação faremos a leitura do texto A Cultura da Mandioca pelos Apurinã, disponível em: http://www.museudoindio.org.br. Em seguida proporemos algumas questões suscitando uma reflexão de como se dá a divisão do trabalho lidado à mandioca, que é a alimentação mais importante do referido grupo. Verificaremos o tipo de solidariedade definido por Durkheim, que corresponde à sociedade dos Apurinã. Observaremos a imagem de Tarsila do Amaral Operários, 1933. Óleo sobre tela, 150 x 205 cm, para provocar uma interpretação, por escrito, a partir da explicação que Durkheim construiu para a relação entre indivíduo e sociedade.

A partir da música de Gilberto Gil, Cérebro eletrônico, pensar a racionalidade e seus limites, definida por Max Weber. Podemos indicar o filme Sicko, já citado anteriormente, para ser assistido na íntegra em casa; em sala de aula, em grupos construir uma descrição da forma como alguns países, como a Inglaterra, França, Cuba e Estados Unidos, organizam seus sistemas de saúde. O documentário permite uma comparação entre um modelo socialista e vários modelos de sistema de saúde em países capitalistas.

Referências Bibliográficas                                             

BOMENY, Helena. Tempos Modernos: tempos de Sociologia. Vol. Único. São Paulo: Editora do Brasil, 2010.

COSTA, Cristiana. Sociologia: Introdução à ciência da sociedade. 2º ed. São Paulo: Moderna, 1997.

DURKHEIM, Emile. Definição de socialismo. In: FRIDMAN, Luis Carlos (Org.). Emile Durkheim, Mex Weber: socialismo. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993. p. 35-65

OLIVEIRA, Márcio Sérgio Batista Silveira de. Sociologia: Ensino Médio, 1º série. Curitiba: Positivo, 2010.

WEBER, Max. Conferência sobre o socialismo. In: FRIDMAN, Luis Carlos (Org.) Emile Durkheim, Mex Weber: socialismo. Rio de Janeiro: Relume-Dumará, 1993. p. 85-128.