É raro ver a insensibilidade fisgar o poeta

e se, por acaso, atrever-se a flagrá-la

rondando o habitat transitório desse

podes saber que não se trata de poeta

nem de aspirante das palavras

permeadas pela infinitude do afeto.

 

Talvez um estado de desatino

possa ludibriar tal ilusão

de modo que se faça intrusa

e habite a alma por um instante

o transparecendo indiferente.

 

Talvez o silêncio estampado

na aparente distância
percorra o seu andar

comprometendo o olhar do outro

que atento a transitoriedade

flerta a abstração

 

Mas a dúvida assola

feito grude no sapato.

Encomoda, mas não tira o sono!

   

Não, o poeta não seria capaz

de mentir a ausência

a viveria ao seu modo

não a deixaria se caso o tomasse

mas a sorveria feito vinho

servido em taça de cristal.

 

Poeta insensível não habita oceanos

e mesmo (in)sano não limitaria o verbo

pois a cisma o aniquilaria

se não o conjugasse.

 

Até rolaria noites à dentro

em tom de lamento

caso acolhesse as pessoas do singular

e abandonasse as do plural!