GERTZ, Clifford. Observando o Islã: o desenvolvimento religioso no Marrocos e na Indonésia/ Trad. De Plínio Dentzien, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

Franciele Sabrina Tiecher[1]

 

 

Clifford Geertz nasceu em San Francisco em 23 de agosto de 1926. Depois de servir na Marinha dos EUA durante a Segunda Guerra Mundial, ele recebeu um BA de Antioch College em 1950 e um Ph. D. pela Universidade de Harvard em 1956. Em 1970, ingressou no Instituto de Estudos Avançados de Princeton, New Jersey, como professor de ciências sociais, uma posição de rara distinção que ele ainda ocupava em 1995. Ao longo dos anos Geertz recebeu um número considerável de títulos e prêmios, incluindo títulos honoris causa de diversas instituições. Em 1958 e 1959, ele era um membro do Centro de Estudos Avançados em Ciências Comportamentais (Stanford) e em 1978-1979 atuou como Professor Eastman na Universidade de Oxford.

Dentre suas obras destaca-se Observando o Islã: o desenvolvimento religioso no Marrocos e na Indonésia, obra de suma importância principalmente para os antropólogos, concentra-se na Indonésia e no Marrocos onde Geertz concentrou sua longa carreira de pesquisador.

 Observando o Islã está dividido em quatro capítulos e um prefácio: sendo eles Dois Países, Duas Culturas; Os Estilos Clássicos; O Interlúdio dos Seguidores das Escrituras e por fim A luta pelo Real.

No decorrer do livro o autor busca analisar o desenvolvimento do Islã que segundo ele seria  um credo supostamente único, em duas civilizações demasiadamente distintas que é justamente a Indonésia e o Marrocos.

O primeiro capítulo do livro denominado Dois Países, Duas culturas trata dos primeiros contatos e do enraizamento do Islã nos dois países, sendo que o primeiro contato do Marrocos com o Islã ocorreu no século VII, fazendo como que os três séculos que se seguiram o tornassem indestrutível, enquanto que na Indonésia é completamente diferente o Islã só foi introduzido definitivamente  depois do século XIV, e mesmo assim a sociedade indonésia ainda estava fortemente ligada ao estado hindu-budista javanês.

No segundo capítulo Os Estilos Clássicos, o autor trata de duas lendas, a história de duas pessoas que se dissolveram tanto para os marroquinos como para os indonésios como a verdadeira espiritualidade, para os indonésios Sunan Kalidjaga foi aquele que introduziu o Islã em Java.

 “Seja o que for que tenha acontecido, ele é visto como a ponte entre duas altas civilizações, duas épocas históricas e duas grandes religiões: a do hinduísmo-budismo de Madjapahit em que cresceu e a do islamismo de Mataram que o estimulou”. (p.40)

Já para os marroquinos é Abu’ Ali Al-hasan ben Mas’ud Al’Yusi,  um homem que ao contrário de Kalidjaga, tentava dirigir o movimento lutando contra ele, expondo seus ensinamentos e ações as contradições internas que buscava conter, muito inquieto, era um verdadeiro viajante.

As duas figuras citadas acima representam de forma bastante clara as características da religião islã nos dois países.

 “Do lado indonésio, introspecção, paciência, estabilidade, sensibilidade, esteticismo, elitismo e um retraimento quase obsessivo, a dissolução radical da individualidade; do lado marroquino, ativismo, fervor, impetuosidade, ousadia, dureza, moralismo, populismo e uma auto-afirmação que se obsessiva, a intensificação radical da individualidade. (p. 65)

O terceiro capítulo é chamado de O interlúdio dos seguidores das escritas, Geertz inicia o mesmo afirmando que as religiões mudam, e que não é necessário sem estudioso ou mesmo religioso para saber disso.

Segundo ele seria muito difícil conseguir mostrar toda a textura da mudança histórica em tempos recentes tanto na Indonésia quanto no Marrocos, por isso o autor propõe abordar três desenvolvimentos separados, o que facilitaria a compreensão e evidenciaria as mudanças.

Seriam eles: o estabelecimento da dominação ocidental; a influência crescente do Islã escolástico, legalista e doutrinal, vale dizer, das escrituras; e a cristalização de um Estado-Nação ativista. Sendo que nenhum deles ainda foi concluído, e mesmo assim abalaram a velha ordem em ambos os países.

Para o autor, o fato de o período colonial indonésio ser maior que o marroquino chama a atenção, o colonialismo influênciou a economia, também criou situações políticas como à dissociação dos símbolos de legitimidade, as sedes do poder e os instrumentos da autoridade. Na Indonésia pela Holanda e no Marrocos pelos Franceses e Espanhóis.

Obviamente nesse contexto a religião desempenha um papel de suma importância, “de maneira curiosamente irônica, o envolvimento intenso com o Ocidente trouxe a fé religiosa para mais perto do centro da autodefinição desses povos do que ela costumava estar”. (p.75).

Segundo Geertz, na Indonésia o movimento geral em direção ao Islã das escrituras, e não ao islã do transe ou do milagre, tem sido associado com a palavra santri, termo em javanês para “estudante religioso”. No Marrocos não teve um nome único e de fato apresentou um desenvolvimento menos capsular, mas centrou-se também em torno da mesma figura, ali chamada taleb. (p.76)

O quarto e último capítulo são intitulados de A luta pelo Real, Geertz, trata a respeito da antropologia citando Malinowski e Lucien Lévy-Bruhl, e a questão do pragmatismo primitivo e do misticismo primitivo, para Geertz, Malinowski tinha uma concepção deficiente, ele estava errado em considerar que esse mundo é formado por técnicas de enfrentar a vida, e não por uma maneira -uma delas-  de conceber a vida.

Para o autor a principal característica das crenças religiosas, por oposição a outros tipos de crenças [...] é que são vistas não como conclusões de experiências, mas como de anterior a ela. (p.106)

A obra Observando o Islã: o desenvolvimento religioso no Marrocos e na Indonésia é sem sombra de dúvida uma execelente obra que nos fornece um panorama de dois países tão distintos, com observações pertinentes e essenciais para o entendimento do desenvolvimento da religião em tais países.

Enfim a obra busca fazer pontes entre o Marrocos e a Indonésia, Geertz consegue de forma demasiadamente lúcida tratar de assuntos distintos e interligá-los fazendo com que o leitor consiga adentrar no mundo de ambos os países.

Portanto, Observando o Islã é uma obra de fácil entendimento, que nos mostra a complexidade do islamismo em suas diferentes formas e manifestações, e uma obra fundamental para antropólogos e apaixonado pelo assunto.

REFERÊNCIAS

 

GERTZ, Clifford. Observando o Islã: o desenvolvimento religioso no Marrocos e na Indonésia/ Trad. De Plínio Dentzien, Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.

GERTZ, Clifford. http://www.answers.com/topic/clifford-geertz Acessado em 21 de dezembro de 2013.



[1] Acadêmica do VII período de História pela Universidade Federal de Rondônia.