OBJETO DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA Adriana Helena Fernandes de Carvalho Maria Carolina Gomes de Campos RESUMO Este artigo fará uma contextualização a cerca do surgimento da ciência da psicopedagogia, abordando as diferentes definições sobre o objeto de estudo, a partir de alguns teóricos brasileiros, fazendo uma caracterização da multidimensionalidade do objeto de estudo da psicopedagogia. O OBJETO DE ESTUDO DA PSICOPEDAGOGIA Quando falamos da psicopedagogia, logo pensamos em fatores psicológicos que dificultam o aprendizado da criança. Bossa faz duas considerações a apartir do surgimento da psicopedagogia: “a psicopedagogia surgiu na fronteira entre a pedagogia e a psicologia devido a necessidade de atendimento para as crianças consideradas inaptas dentro do sistema educacional, por apresentarem distúrbios de aprendizagem, ou a psicologia pode ter surgido como uma tentativa de explicação para o fracasso escolar, por outras vias que não são a pedagogia ou a psicologia.” (BOSSA, 2007,P.20) A preocupação com as dificuldades no processo ensino aprendizagem e do fracasso escolar indica um peso da concepção organicista, no entendimento de uma problemática que, se afirmava na preocupação psicologia e da pedagogia. Bossa afirma que: “o termo psicopedagogia , ao ter sido inventado, passa a assinalar, de forma simples e direta, uma das mais profundas e importantes razões da produção de um conhecimento cientifico: o ser meio, o de ser instrumento para o outro, seja numa perspectiva teórica ou aplicada.” (Bossa 2007, p.19), Nessa perspectiva, enquanto produção do conhecimento cientifico, a psicopedagogia que nasceu da necessidade de uma maior compreensão do processo de aprendizagem não pode ser aplicada como aplicação da psicopedagogia à pedagogia. Barthes enfatiza o caráter interdisciplinar da psicopedagogia: “O interdisciplinar, de que tanto se fala, não esta em confrontar disciplinas já constituídas, das quais, na realidade, nenhuma consente em abandonar-se. Para que se faça interdisciplinaridade, não basta tomar um “assunto” (um tema) e convocar um torno, duas ou três ciências. A interdisciplinaridade consiste em criar um objeto novo que não pertença a ninguém [...].” (Barthes, 1988, p.99) Reconhecer o caráter interdisciplinar da psicopedagogia significa admitirmos sua especificidade enquanto área de estudos, uma vez que, ao buscar conhecimentos em outros campos, ala cria o seu próprio objeto, condição essencial da interdiscplinaridade. Quando falamos nas disciplinas de pedagogia e psicologia na busca da solução dos problemas de aprendizagem, não estamos fazendo uma mera aplicação de uma a outra, mas sim constituindo uma nova área que, ao recorrer aos conhecimentos dessas duas, pensa em seu objeto de estudo a partir de um corpo teórico próprio, ou melhor que se busca construir, abandonando assim a idéia de ver a psicopedagogia somente como uma aplicação da pedagogia. Os estudos da psicopedagogia estruturaram-se em torno do processo de aprendizagem humana, envolvendo os padrões evolutivos normais e patológicos e levando em consideração a influência do meio, a família, a escola, a sociedade no desenvolvimento. Segundo Bossa: “a psicologia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades internas e externas da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais, procurando estudar a construção do conhecimento em toda a sua complexidade, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhes estão implícitos.”(BOSSA, 2007,P.21) Sendo assim, a necessidade de o psicopedagogo ter um olhar globalizado ao analisaras variáveis que podem estar interferindo no processo de aprendizagem, em vez de se deter apenas no aspecto cognitivo. Do ponto de vista de Scoz: “a psicopedagogia preocupa-se com o processo de aprendizagem com as suas dificuldades e em uma ação profissional deve sintetizar conhecimentos de diferentes áreas do conhecimento, de forma integrada.”(SCOZ, 1991, P.87) Para tanto, esta ai a importância de o profissional da educação esta ter acesso às informações de diferentes ciências como a pedagogia, a psicologia, a sociologia e a psicolingüística de forma a aprofundar os conhecimentos vinculando-os à realidade educacional, de forma a ter uma visão global do aluno. O maior desafios da escolas, na concepção da psicologia, é buscar caminhos que possibilitem ao educador rever a própria pratica e descobrir alternativas possíveis para melhorar sua ação. Para Rubinstein: “a psicopedagogia teve como objetivo fazer a reeducação ou a remediação dos problemas de aprendizagem para, dessa forma, promover o desaparecimento do sintoma.” (Rubinstein, 1992, p.103) Ou seja, o psicopedagogo preocupava-se em buscar o desenvolvimento de metodologias que melhor atendem os portadores de dificuldades, não se preocupando unicamente em sintomas apresentados por meios da utilização de técnicas, mas um olhar de forma global para o sujeito com dificuldades de aprendizagem, a fim de buscar compreender como ele constrói novas aprendizagens, levando sempre em consideração todos os diferentes aspectos envolvidos nessa situação. O objetivo de estudo da psicopedagogia é o sujeito a ser estudado, o seu processo de desenvolvimento e as alterações envolvidas nesse percurso. A característica preventiva propõe que as possibilidades do aprender sejam analisadas de forma ampla, que não fiquem restrita à escola, mas que sejam levadas em consideração as aprendizagens construídas na família e na comunidade. BIBLIOGRAFIA BARTHERS, R. O rumo da língua. São Paulo: Brasiliense, 1988. BOSSA, N. A. A psicopedagogia no Brasil: contribuições a partir da prática. 3ª ed. Porto Alegre: Artmed, 2007. RUBINSTEIN, E. Psicopedagogia : contextualização, formação e atuação profissional, Porto Alegre; Artes Medicas, 1992. SCOZ, B. J. L. Psicopedagogia: contextualização, formação e atuação profissional. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.