I. OBJETIVOS E FINALIDADES DA PALAVRA DE DEUS.

 

“Tudo quanto, outrora, foi escrito para o nosso ensino foi escrito, a fim de que, pela paciência e consolação das Escrituras, tenhamos esperança.”

 Rm 15.4

 

O leitor da Bíblia e o seu ouvinte são os alvos dela. A proposta do Pai, na leitura de Sua Palavra, é que haja diferença em nossa vida após a meditação.

A Palavra da Verdade tem seus objetivos, além das finalidades, isto é, o que ela pretende alcançar.

O objetivo geral da Bíblia Sagrada é o Reino de Deus, o que podemos perceber ao considerarmos, em resumo, todo o seu conteúdo, desde Adão, passando pelas histórias protagonizadas pelo povo hebreu, o levantamento de profetas, os apóstolos com Jesus Cristo até as revelações do Apocalipse, o qual mostra que o Filho de Deus voltará para buscar os seus e levá-los à Casa Eterna.

Vejamos outros objetivos que podem ser mais detalhados, além de várias finalidades, pois estes nos apresentarão esse Reino e a forma de como chegar até ele.

Analisando de forma geral, as cartas do novo concerto também têm a finalidade de criar um povo puro, santo ao SENHOR, e formar a comunidade cristã com as suas formas administrativas, por meio dos cargos e funções instituídos.

Dentro de uma doxologia de Paulo, descrita em sua carta aos Romanos, há um objetivo da revelação das Escrituras, que é a obediência devida a ela por fé, pois diz: “... e foi dado a conhecer por meio das Escrituras proféticas, segundo o mandamento do Deus eterno, para a obediência por fé...” (Rm. 16.26). E a fé conquista a salvação, a qual é o objetivo do evangelho de Jesus, conforme Paulo, inspirado pelo Espírito Santo, declara em Romanos 1.16b: “... pois é o poder de Deus para a salvação de todo aquele que crê...”

É maravilhosa a revelação do discípulo amado, ao afirmar que o objetivo do Evangelho que escreveu era para se crer que Jesus é o Messias esperado, o Filho de Deus, e que a fé n’Ele dá vida (Jo 20.31). A certeza da salvação aos que creem em Jesus Cristo é mostrada por João, na sua primeira carta, cuja finalidade é confirmar, fazer os irmãos em Cristo saberem que eles têm a vida eterna. (1 Jo 5.13)

O apóstolo Paulo, escrevendo aos Romanos (15.4) mostra que o objetivo das Escrituras é ensinar, pois diz: “... para o nosso ensino foi escrito...”. No mesmo trecho, também está a finalidade dela, que é a de termos esperança (“... a fim de que, pela paciência e consolação das escrituras, tenhamos esperança.”).

Em sua primeira carta aos Coríntios (10.5-11) ele lembra o que está escrito a respeito do mau exemplo dos israelitas no deserto, advertindo contra a cobiça, idolatria e imoralidade. Concluindo, Paulo afirma que essas “coisas foram escritas para advertência nossa...”

Da mesma maneira, o quinto livro de Moisés, o Deuteronômio, atesta que o SENHOR “fez ouvir a sua voz, para te ENSINAR...” (4.36). No mesmo livro Deus ordena quanto ao cuidado que se deve ter com as suas ordenanças: “Ouvi, ó Israel, os estatutos e juízos... para que os aprendais e cuideis em os cumprirdes.” (Dt 5.1). E quando chegasse a oportunidade em que o povo se reunisse todo na Festa dos Tabernáculos, com homens, mulheres e crianças, fossem israelitas ou não, a Lei deveria ser lida, com o intuito de “se aprender, e temer o SENHOR e cumprir as palavras desta lei.”(Dt 31.12)

No livro dos Provérbios, todo o capítulo 7 é dedicado a se evitar a mulher adúltera, sendo que os quatro primeiros versos dão a importância devida a se guardar as palavras do Pai, para, em seguida, narrar os perigos que a mulher infiel oferece aos faltos de entendimento.

Os Provérbios explicam que é agradável guardar o conhecimento no coração, bem como fazê-lo conhecido por meio do que falamos, e que essas coisas promoverão nossa confiança no SENHOR (cf. Pv 22.17-19).

A própria história de Jó, com tudo o que lhe aconteceu na sua retidão, mostra uma lição de fidelidade aos seus contemporâneos, a qual o Deus Onisciente permitiu registro nas folhas da história de seu povo, também para nosso aprendizado. E tal era o desejo de Jó que fossem escritas as suas palavras: “Quem me dera fossem agora escritas as minhas palavras! Quem me dera fossem gravadas em livro!” (19.23)

Eliú, amigo de Jó, é usado pelo Espírito (33.4) para transmitir verdades divinas, ao dizer que Deus, também por visões ou sonhos, fala e abre o entendimento ao homem, com o objetivo de o por a salvo da soberba, afastá-lo do mau intento e guardá-lo da morte. (vv. 14-18)

Escrevendo a Timóteo, Paulo apresenta quatro utilidades das Sagradas Escrituras: o ensino, a repreensão, a correção e a educação na justiça (cf. 2 Tm 3.16). E o conjunto dessas capacidades atuantes na vida do cristão tem uma finalidade (v.17): “a fim de que o homem de Deus seja perfeito e perfeitamente habilitado para toda boa obra.”

Na segunda epístola, Pedro escreve que seu objetivo, nas duas cartas, é despertar a mente dos cristãos por meio das lembranças das Escrituras e dos ensinamentos de Jesus, precavendo contra os zombadores do Reino e discursando em favor das promessas de novos céus: “para que vos recordeis das palavras... ditas pelos santos profetas, bem como do mandamento do Senhor (Jesus)...” (2Pe 3.1,2). E, assim, a carta continua com o apóstolo alertando contra os afrontadores do Reino.

Em Atos (14.8-15), Barnabé e Paulo explicaram aos da cidade de Listra nos seguintes termos: ”... e vos anunciamos o evangelho para que destas coisas vãs vos convertais ao Deus vivo...”. Eles disseram isso para afirmar que o objetivo do evangelho pregado aos habitantes daquele lugar, era o de os converter da mitologia, da idolatria, ao Deus criador de tudo, visto que o povo queria adorá-los após os dois terem curado um paralítico que teve fé para tal.

O SENHOR instituiu tantas leis e ordenanças a Israel porque queria um povo para Si, diferente de todas as outras nações do mundo; queria que as demais línguas reconhecessem a nação escolhida como pertencente a  Yaveh, pois dessa forma, o nome d’Ele seria glorificado. Além disso, o Justo instituiu a Lei (Êx 20.1-7), bem como sacrifícios e ofertas (Lv 1-7), para que o seu povo assim vivesse, e por ela viesse ao coração, à consciência o conhecimento do pecado (Rm 3.19,20; 4.15; 7.7-24). Assim, quando o homem conhece a lei, passa a saber o que é certo e o que é errado.  À vista disso, o pecado é a transgressão da lei (1 Jo 3.4), mas o homem não pode ser salvo pela Lei ou pelas obras dela (Gl 5.1-8; Ef 2.8,9), mas por amor a Deus, pela fé em Jesus para salvação da alma, as quais coisas vão gerar fidelidade ao que na Lei está escrito.

O capítulo 30 de Isaías inicia mostrando a justa ameaça divina contra um povo rebelde que procurava, mais uma vez, afastar-se de seu Libertador, o qual por conta daquela ocasião, e com o objetivo de sempre mostrar o pecado deles, manda ao profeta: “... escreve isso numa tabuinha perante eles... num livro, para que fique registrado para os dias vindouros, para sempre, perpetuamente” (v.8). Ele ordenou isso por Israel ser um povo rebelde, mentiroso e que desprezava a palavra e a pessoa do Eterno (cf. vv. 9-11). As palavras escritas e permanentes na vida do povo serviriam de constante alerta contra a rebeldia, a falsidade e a infidelidade.

Pelo profeta Isaías (48.3), o Deus de Israel revelou: “As primeiras coisas, desde a antiguidade, as anunciei; sim, pronunciou-as a minha boca, e eu as fiz ouvir...”. Em seguida, disse o motivo pelo qual teve de falar antes de acontecer: “Porque eu sabia que eras obstinado, e a tua cerviz é um tendão de ferro, e tens a testa de bronze” (v. 4). Essas três expressões — obstinado, cerviz como tendão de ferro e testa de bronze — referem-se à teimosia de Israel, uma grande e insistente teimosia em permanecer no erro. E o objetivo do Altíssimo, com as predições, era que o povo de Israel não viesse a dizer que os ídolos, as imagens de escultura ordenaram tais coisas acontecerem (v.5), e, assim, fosse desviada a glória do poderoso nome do SENHOR.

Nos seguintes trechos destacados de Jeremias 11.4,5: “... dai ouvidos à minha voz... para que confirme o juramento que fiz... de lhes dar uma terra que manasse leite e mel” (grifo acrescentado), o SENHOR está lembrando Sua ordem e a promessa de bênção aos antepassados daqueles a quem estava Se dirigindo naquele momento. O objetivo de Deus com a obediência à Sua aliança, pelos cidadãos de Israel, era abençoá-los com a tranqüilidade na terra a qual tomaram posse após a libertação do Egito e os anos de castigo. O trecho acima, porém, pertence a um contexto, a uma situação de maldição, pelo fato de o povo ter violado a antiga aliança nos tempos de Jeremias.

Os textos de Jeremias 26.2,3; 36.2, 3, 6-10 expressam a preocupação do SENHOR em que sejam lidas as Sua palavras, com a possibilidade de a cidade de Judá converter-se do seu mau caminho e, assim, Ele desviar o castigo.

No livro das Crônicas (24.18), a ira divina havia acendido contra Judá e Jerusalém por causa da idolatria deles e do abandono da Casa do SENHOR. Não obstante, o Misericordioso lhes deu profetas com o intento de fazê-los voltar, como se vê no v. 19: “Porém o SENHOR lhes enviou profetas para os reconduzir a si...” (grifo acrescentado)

O livro do Apocalipse começa com uma organização descendente das pessoas pelas quais as revelações foram transmitidas: começou com Deus (o autor), que passou para Seu Filho Jesus Cristo, o qual, por Sua vez, repassou ao anjo, este com a tarefa de dirigir a João, para, por fim, revelar a todas as igrejas os acontecimentos do fim dos dias. O objetivo de o Eterno ter feito chegar as revelações ao discípulo amado foi “mostrar aos seus servos as coisas que em breve devem acontecer...” (Ap 1.1)

Lucas (1.3,4) escreveu o Evangelho e o remeteu a Teófilo com o seguinte objetivo: “... para que tenhas plena certeza das verdades em que foste instruído.” Está claro que Teófilo fora previamente doutrinado nos ensinamentos e vida do Filho do Homem, possivelmente pelo próprio Lucas. Percebe-se, também, que o Eterno teve um intento maior, estendendo este evangelho ao mundo.

No texto de Romanos, compreendido do capítulo 9.30-10.10, a palavra-chave é “justiça”. No v. 30, os gentios alcançaram a justificação pela fé, diferente de Israel que, buscando justiça pela lei, não conseguiu (v.31). Na tentativa de justificar-se pela lei, tal empresa é pelas obras. Quanto a isso, o profeta Isaías já havia advertido que nossa justiça é como trapo de imundície (cf. 64.6). Portanto, a lei não justifica, mas tem a função de mostrar, fazer-nos conhecer o nosso pecado (cf. Rm 3.20). No capítulo 10 e verso 4, o apóstolo Paulo chega ao cerne do assunto, explicando que o fim da lei, ou a finalidade dela, é Cristo, Aquele que justifica quem tem a fé. Assim sendo, a justiça que vem pela fé é a descrita nos vv. 8-10, isto é, a fé no Evangelho que traz a salvação.

O amor que Jesus teve e tem por Sua igreja, o levou ao sacrifício que a santificou, passando a purificá-la mediante o ensino da Palavra da Verdade. A essa purificação, Paulo, escrevendo aos efésios (cap. 5, vv. 26b, 27), atribui às doutrinas divinas a característica da água, um elemento universal para lavagem. E essa limpeza, ele termina dizendo que tem o objetivo de apresentar, para Ele mesmo, uma igreja pura.

Dentre o mais objetivos das verdades do Céu, o discípulo amado, em sua primeira carta inspirada (1.3), escreve que anunciou aos destinatários tudo aquilo quanto testemunhou e aprendeu vivendo ao lado do Filho de Deus, com o propósito de esses terem, também, o prazer de desfrutar do aprendizado e da alegria que os apóstolos tiveram, do significado de viver com Cristo. Após isso, João passa a ensinar sobre luz e trevas, verdade e mentira, pecado e purificação para —como mostra o início do capítulo 2— dizer que isso tem a finalidade de os seus leitores serem zelosos em não pecar. E já terminando essa epístola, após discorrer sobre outros assuntos pertinentes à vida cristã, o apóstolo atesta que tais ensinamentos foram abordados com o intuito de os cristãos terem certeza da sua vida eterna (cf. 5.13).