Obesidade na gravidez: revisão da literatura

Publicado em 25 de março de 2013 por Thais de Robertis Azevedo

Obesidade na gravidez: revisão da literatura

 * Thais de Robertis Azevedo   **Oswalcir Almeida de Azevedo

Artigo de Revisão

--------------------------------------------------------------------------------------

Resumo:

Objetivos: Descrever as condições patológicas da gestante relacionadas com a obesidade e apresentar os riscos para a gestante e para o concepto, associados à obesidade da gestante, conforme descrito em estudos publicados no mesmo período. Método: Revisão integrativa da literatura, A busca de material de referência foi realizada nas bases de dados SCIELO, MEDLINE e LILACS, As palavras chaves usadas para busca dos artigos indexados foram: gravidez, gestante e obesidade, usando-se os termos em português e inglês de forma combinada. Resultados: As gestantes obesas acabam possuindo o risco de terem problemas como hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, aumento do risco de trombose e complicações na hora do parto. Entre as complicações que ocorrem com o concepto devido a obesidade gestacional foi encontrado, a macrossomia, má formação congênita, alterações do tubo neural, morte fetal, grande para idade gestacional, sofrimento fetal, aspiração de mecônio. Conclusão: A obesidade materna pode ter grande influencia da gravidez, e que essa condição, causa consequências tanto para gestante quanto para o feto, sendo também responsável por complicações relacionadas ao parto e sua indução do parto. 

--------------------------------------------------------------------------------------

 Abstract:

Objectives: To describe the pathologic conditions related to pregnancy obesity and presenting risks to the mother and the fetus, associated with obesity in pregnant women, as described in studies published in the same period. Method: Integrative literature review, the se arch for reference material was performed in SCIELO databases, MEDLINE and LILACS, The key words used to search for articles indexed were: pregnancy, pregnancy and obesity, using the words in Portuguese and English combined. Results: The obese women end up having the risk of having problems such as gestational hypertension and preeclampsia, gestational diabetes, increased risk of thrombosis and complications in childbirth. Among the complications that occur with gestational fetus due to obesity was found, macrosomia, congenital malformations, neural tube changes, fetal death, large for gestational age, fetal distress, meconium aspiration. Conclusion: Maternal obesity can have great influence of pregnancy, and that this condition causes consequences for both mother and for the fetus and is also responsible for complications related to childbirth and its induction of labor.

--------------------------------------------------------------------------------------

 * Enfermeira, formada pelo Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP) cursado Enfermagem em Saúde Coletiva com atuação no PSF (programa de saúde da família).

 ** Enfermeiro, Docente do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP)- Orientador. 

INTRODUÇÃO

Ao longo dos anos vem sendo observado, no Brasil, um aumento da desnutrição e obesidade na população em geral, de maneira que a obesidade tem se tornado um problema emergente de saúde pública, em diversos grupos etários e regiões do país, particularmente entre as mulheres (ANDRETO et al, 2006).

Nos últimos anos o país vivencia uma fase de transição epidemiológica, onde a condição de morbimortalidade da população tem mudado, de forma que as doenças infecciosas e parasitarias estão dando lugar às doenças crônicas, sendo a obesidade uma destas doenças (PADILHA, 2007), a qual, conforme Ades e Kerbauy (2002) atinge crianças, adolescentes e adultos, tornando-se um dos problemas mais graves de saúde pública, sendo considerada, segundo estes autores, uma doença crônica e multifatorial caracterizada pelo acúmulo excessivo de tecido adiposo no organismo.

            As mulheres, quando obesas, podem desenvolver problemas como câncer de mama e útero, anormalidades menstruais, infertilidade, diabetes mellitus gestacional, apnéia obstrutiva do sono, desordens reprodutivas e abortos (VALLE; DURCE; FERREIRA, 2008). Neste estudo o foco principal será a ocorrência de transtornos na saúde da mulher, durante o período gestacional, associados de algum modo à obesidade.

Vários autores descrevem a ocorrência de problemas gestacionais relacionados com a obesidade. Rodrigues et al (2008) relatam que o ganho excessivo de peso materno durante a gestação pode estar associado a complicações como macrossomia, aumento da taxa de cesariana, diabetes mellitus, hipertensão e retenção de peso pós-parto.

Outro estudo, realizado por Dode e Santos (2009), do qual participaram 4243 gestantes, revelou que mulheres obesas apresentam risco gestacional duas vezes maior de desenvolver diabetes mellitus quando comparadas com mulheres com menor índice de massa corporal (IMC).

Também o feto pode sofrer influência decorrente da obesidade materna tendo complicações como ma formação do tubo neural, mecorssomia e aparto prematuro (HAN et al, 2011).

Declarações como estas motivaram a elaboração do presente estudo de revisão da literatura que busca descrever os riscos e condições patológicas decorrentes da obesidade, para a gestante.

OBJETIVOS

 - descrever as condições patológicas da gestante relacionadas com a obesidade, de acordo com o que é apresentado pela literatura publicada no período entre 2001 e 2011;

- apresentar os riscos para a gestante e para o concepto, associados à obesidade da gestante, conforme descrito em estudos publicados no mesmo período.

 MÉTODO

A pesquisa foi elaborada seguindo o método de revisão integrativa da literatura. Este tipo de estudo de revisão procura “reunir e sintetizar resultados de pesquisas sobre um delimitado tema ou questão, de maneira sistemática e ordenada, contribuindo para o aprofundamento do conhecimento do tema investigado” (MENDES; SILVEIRA e GALVÃO, 2008). Conforme Sousa; Silva e Carvalho (2010) revisões desta natureza permi­tem a inclusão de estudos experimentais e não-experi­mentais e combinam dados da literatura teórica e empírica contribuindo para uma compreensão mais abrangente do fenômeno.

A busca de material de referência foi realizada nas bases de dados SCIELO, MEDLINE e LILACS. As palavras chaves usadas para busca dos artigos indexados foram: gravidez, gestante e obesidade, usando-se os termos em português e inglês de forma combinada. Também foi considerado e o ano de publicação, sendo selecionados textos publicados entre os anos 2001 á 2011.

Os estudos foram selecionados num primeiro momento a partir da leitura dos títulos e resumos tendo como critério de seleção tratar as alterações causadas pela obesidade na gravidez, a disponibilidade de acesso gratuito aos textos completos pela internet. Os artigos selecionados na primeira averiguação foram acessados eletronicamente para leitura do texto completo sendo então confirmada ou descartada sua inclusão no trabalho.

A seleção realizada com as palavras chaves, nas bases de dados citadas resultou num total de 4.731 artigos, dentre estes haviam 613 artigos de texto completo, 40 artigos foram excluidos por estarem em outros idiomas (Alemão, Francês, Noroeguês), 96 artigos foram excluidos por terem ano de publicação anterior a 2001. Quando feita a leitura dos títulos e resumos, considerando-se os critérios para inclusão, restaram 24 artigos. Uma segunda avaliação, foi realizada mediante a leitura completa dos textos para comprovar se a abordagem dos temas desenvolvidos se adequava aos critérios de inclusão propostos. Após esta análise permaneceram 12 artigos.

Os 12 artigos excluídos na segunda etapa da seleção dos textos foram retirados pelos seguintes motivos: por terem linhas de estudo que levaram a resultados que não se enquadravam com objetivos a serem estudados nessa pesquisa focado mais o fator cultural, emocional, alimentar, familiar ou se focaram apenas na patologia como diabetes ou hipertesão sem se relacionar com a gestante.    

Dentre os 12 trabalhos usados nesta revisão, sendo quatro prospectivos, quatro de revisão, dois de análise retrospectiva, dois de análise transversal. No levantamento realizado para esta revisão não foram encontrados ensaios clínicos controlados.

CONCLUSÃO

Em relação aos objetivos dessa revisão, ou seja, identificar quais são as alterações causadas pela obesidade na gravidez de acordo com a literatura atual, foi possível observar que a literatura do período considerado revelou coincidência na descrição dos achados entre diferentes estudos feitos por autores que abordaram pacientes em regiões com população com características socioeconômicas diversas.

Pela descrição dos autores foi possível constar que as alterações relacionadas com a obesidade materna podem ser divididas em dois grupos: aquelas que acometem a gestante e as que acometem o concepto.

a)    Complicações que acometem o concepto

Dentre as complicações que ocorrem com o concepto, pode-se perceber que a macrossomia (excesso de peso dos recém-nascidos) foi a alteração mais frequentemente encontrada pelos autores tendo oito estudos que confirmaram sua ligação com a obesidade durante a gravidez. Apenas um dos estudos, realizado por Castro (2004) relata ter encontrado baixo peso ao nascer relacionado à obesidade materna.  

Outra alteração encontrada nos estudos pesquisados foi a má formação congênita, que pode ser definida como todo defeito na constituição de algum órgão ou conjunto de órgãos que determine uma anomalia morfológica estrutural presente no nascimento devido à causa genética, ambiental ou mista (SEBIRE, 2001). Este tipo de patologia foi reconhecida nos estudos de Valle, Durce e Ferreira (2008) e Roman et al (2007), que relatam que crianças de mães obesas apresentam 2,5% maior probabilidade de desenvolver alterações do tubo neural.

Outra ocorrência grave relacionada à obesidade materna encontrada nesta revisão foi a morte fetal. Ela ocorre em uma proporção 11% a mais em gestantes obesas do que em mulheres com peso adequado, o que foi comprovado por seis dos estudos pesquisados, como o de Cedergren (2004) realizado com 3.480 mulheres com obesidade mórbida, onde se percebeu que as mulheres obesas tinham uma tendência maior a morte fetal quando comparadas com aquelas que apresentavam IMC adequado, e que esse fato, estava relacionado a causas como a aspiração de mecônio, sofrimento fetal, óbito neonatal precoce, e recém nascido grande para a idade gestacional.

 

b)   Complicações que acometem a gestante

Já quando buscamos saber os problemas que ocorrem com a gestante percebemos que hipertensão gestacional e pré-eclâmpsia foram as mais citadas havendo sete estudos que as relatam entre os achados. Dentre eles o realizado por Atalah e Castro (2004), com 883 grávidas, o qual comprovou que gestantes obesas apresentaram índice maior de hipertensão ao se comparar com o grupo controle.

Quanto à diabetes gestacional, quatro estudos relataram ligação entre esta patologia e a obesidade. Dentre estes o estudo de Cerqueira, Passini e Gonçalves (2005) realizado com 52 mulheres, procedentes do Ambulatório de Pré-Natal de Baixo Risco do Hospital das Clínicas, pelo qual foi possível comprovar que mulheres obesas tinham uma tendência a maior incidência de diabetes gestacional quando comparadas com as de IMC dentro do normal que é entre18.5 á 24.9.

Os autores Frattesi e Correa (2010) mencionam em seu estudo que gestantes obesas possuem um aumento no risco para trombose e também do risco cardiovascular, relacionados ao aumento da taxa de coagulação causada pela gravidez e à maior dificuldade da circulação.

Além dos problemas já citados, foram também encontradas alterações relacionadas ao parto.  Em quatro estudos foi revelado que mulheres obesas possuem maior dificuldade para a indução do parto. Isso ocorre, de acordo com Frattesi e Correa (2010) pois o miométrio de gestantes obesas, que apresentam elevados níveis séricos de colesterol, contrai-se com menor força, menor frequência e possui menor fluxo de íons de cálcio (Ca2+).

Outros seis estudos afirmaram que houve uma maior taxa de cesarianas no grupo de mulheres obesas quando comparadas ao de IMC adequado devido dificuldade de dilatação do colo uterino e contração. Já Calle et al (2009) mencionam o aumento do numero de semanas de gestação; Roman et al (2007)  aumento do numero de consultas de pré-natal, Nogga et al (2009) aumento do uso de analgesia, Cedergren (2004) fala sobre a distócia de ombro, Seberi et al (2001) mencionam o risco aumentado de hemorragia pós-parto e dificuldade de dilatação do colo uterino.

Estas foram as alterações encontradas nos estudos em pauta, que levam o profissional a

CONCLUSÕES

Diante os artigos pesquisados nessa revisão concluo que, a obesidade materna pode ter grande influencia da gravidez, e que essa condição, causa consequências tanto para gestante quanto para o feto, sendo também responsável por complicações relacionadas ao parto e sua indução. 

Quanto à identificação das alterações causadas pela obesidade na gravidez foi mostrado pela literatura que as mais comuns que acarretam as gestantes foram hipertensão e pré-eclâmpsia, diabetes gestacional, trombose e risco cardiovascular.

Já quanto ao concepto foi mostrado que macrossomia, má formação (relacionada alterações do tubo neural), baixo peso ao nascer e morte fetal foram às alterações mais encontradas.

Houve também problemas relacionados ao parto como a dificuldade de indução do parto, aumento da taxa de cesariana, aumento do numero de semanas gestação, aumento do uso de analgesia, distorcia de ombro, risco aumentado de hemorragia e dificuldade de dilatação do colo uterino.

Assim fica provado a relação de risco entre a gravidez e obesidade, o que nos direciona como profissionais da saúde, a prestar uma assistência mais criteriosa e qualificada a esse grupo de mulheres, oferecendo a elas um pré-natal que minimize as consequências da obesidade causadas a gestante e seu concepto.  

BIBLIOGRAFIA

ANDRETO, L.M.; SOUZA, A.I.; FIGUEIROA, J.N; CABRAL, J.E. Fatores associados ao ganho ponderal excessivo em gestantes atendidas em um serviço público de pré-natal na cidade de Recife, Pernambuco, Brasil. Cad. Saúde Pública. Rio de Janeiro, v.22(11): pg.2401-2409, Nov, 2006.

 ADES L, KERBAUY RR. Obesidade: realidades e indagações. Rev Psicol USP. São Paulo, v.13(1): pg.197-216, 2002.

 ATALAH, E.; CASTRO R. Obesidad materna y riesgo reproductivo. Rev Méd Chile. v132; pg. 923-930, 2004

 BODNAD,L. M.; WISNER, K. L.; KOLKO, E. M.; DOROTHY, K. Y.; HANUSA, B. H.

Prepregnancy body mass index, gestational weight gain and the likelihood of major depression during pregnancy. National Institutes of Hfalth. 2009 September ; 70(9): 1290–1296. doi:10.4088/JCP.08m04651.

 CALLE, M.; ARMIJO, O.; MARTIN, E.; SANCHA, M.; MAGDALENO, F.; OMENACA, F.; GONZALEZ, A. Sobrepeso y Obesidad Pregestacional como Fator de Riesgo de Cesarea y Complicaciones Perinatales.

 CERQUEIRA, H. G; PASSINI, R.; PEREIRA, B. G. Obesidade e Gravidez: Avaliação de um Programa Assistencial. Rev. Ciênc. Méd., Campinas, v.14(6), pg.503-514, nov./dez., 2005

 DODE, Maria Alice Souza de Oliveira; SANTOS, Iná da Silva. Fatores de risco para diabetes mellitus gestacional na coorte de nascimentos de Pelotas, Rio Grande do Sul, Brasil. Cad. Saúde Pública, Rio de Janeiro, n.25, v.5, pag. 1141-1152, mai, 2009.

 FRATTESI, F. F.; CORRËA, M. D. Obesidade e complicações gestacionais. Rev. FEMINA. vol 38, nº 5, Maio 2010.

 GDERGREN, M. Maternal Morbid Obesity and the Risk of Adverse Pregnancy Outcome. Rev. Amareican College of Obistetricians and Gyenecologists. v. 103, n.2, FEBRUARY 2004.

 HAN,Y.S.; HA, E.H.;PARK, H.S.; KIM,Y.J.; LEE, S.S. Relationships between pregnancy outcomes, biochemical markers and pre-pregnancy body mass index. International Journal of Obesity. 2011,v.35, pg.570–577.

 MARGIE, H.; DAVENPORT, M.; CAMPBELL, K.;, MOTTOLA, M. Increased incidence of glucose disorders during pregnancy is not explained by pre-pregnancy obesity in London, Canada. Davenport et al. BMC Pregnancy and Childbirth., 2010, v10, n.85. Disponível em: http://www.biomedcentral.com/1471-2393/10/85.Captado: 05-04-2012.

 NGOGA, E.; HALL, D.; MATTHEYSE, F.; GROVE, D. Outcome of pregnancy in the morbidly obese woman. SA Fam Pract, 2009, v. 51, n. 1, pg.39-41

 PADILHA, P.C. et al. Associação entre o estado nutricional pré-gestacional e a predição do risco de intercorrências gestacionais. Rev. Bras. Obstet. v.29(10); pg.511-8, 2007.

 RODRIGUES, P.L. et al. Determinants of weight gain in pregnant women attending a public prenatal care facility in Rio de Janeiro, Brazil: a prospective study, 2005-2007.

ROMAN, H; ROBILARDL, P.Y.; HULSEYLLL,T.C.;LAFFITTEL, A.;KOUTEICHLL, K.; MARPEAULL, L.; BARAUL, G. Obstetrical and neonatal outcomes in obese women. West Indian med. j. vol.56 no.5 Mona Oct. 2007.

 VALLE,C.P.; DURCE, K.; FERREIRA, C.A.S.A. Conseqüência fetais de Obesidade Gestacional. Rev. O Mundo da Saúde. v.32(4); pg.537-541,  2008.

 SEBIRE, N. J.; JOLLY, M.; HARRIS, J. P.; WADSWORTH, J.;JOFFE, M.;  BEARD, R. W.; REGAN, L. Maternal obesity and pregnancy outcome: a study of 287 213 pregnancies in London. International Journal of Obesity. 2001, v. 25, pg.1175-1182.

 MENDES, K.D.S, SILVEIRA, R.C.C.P, GALVÃO, C.M. Revisão integrativa: método de pesquisa para a incorporação de evidências na saúde e na enfermagem. Texto Contexto Enferm, Florianópolis, 2008 Out-Dez; 17(4): 758-64.

 SOUZA, Marcela Tavares de; SILVA, Michelly Dias da; CARVALHO, Rachel de. Revisão integrativa: o que é e como fazer, Einstein, São Paulo. 2010; 8(1):102-6.