O VINCULO AFETIVO RESOLVENDO CONFLITOS DE INDISCIPLINA, ESTREITANDO LAÇOS E GERANDO MUDANÇAS PARA A APRENDIZAGEM.

Dulcelena da Costa Villela
Pedagoga e aluna do curso de Pós Graduação em Psicopedagogia do Centro Universitário Adventista de São Paulo (UNASP), Campus de Engenheiro Coelho.
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Ainda que eu fale a língua dos homens e dos anjos, se não tiver amor, serei como o bronze que soa ou como címbalo que retine. (Iº CORÍNTIOS, Cap.13, vers.1)

Me movo como educador, porque primeiro me movo como gente. (FREIRE, 1996, p.106).

Resumo: O presente artigo aborda como tema principal "O vinculo afetivo resolvendo conflitos de indisciplina, estreitando laços e gerando mudanças para a aprendizagem", e tem como meta expor de forma prática que os laços afetivos que o educador tem para com seu aluno, interferem de forma significativa na sua formação pessoal, em seu comportamento e processo de aprendizagem. Também se pretende estimular a reflexão sobre as possíveis causas da indisciplina em sala de aula. O tema está fundamentado em teorias sobre o desenvolvimento humano, práticas docentes, conversas com alunos, professores e observações realizados em salas de aula. Reconhece a importância do papel da escola e de seus educadores como construtores do conhecimento e mediadores do desenvolvimento cognitivo e afetivo, associados a fatores orgânicos e sociais. É relevante, pois se trata de sentimentos nobres que quando trabalhados de forma consciente e solidária obtém-se resultados positivos tanto na vida escolar quanto na vida pessoal do aluno, eliminando ou amenizando a indisciplina e gerando um campo propício para a aprendizagem.

Palavras-chave: limites, afetividade, indisciplina, individualidades, práticas docente.


Abstract: The main subject of this article is the emotional link as a way to solve indiscipline conflicts, narrowing bonds and generating learning changes. Its purpose is to show on a practical way that the emotional bonds between educator and student interfere significantly in their education, behavior and learning process. It also has the intention to stimulate the reflection about possible indiscipline reasons in classroom. The subject is based on human developing theories, teaching practices, conversations hold with students and teachers and comments made in classroom. It recognizes the importance of the role that school and its educators play as knowledge builders and moderators for the cognitive an affective development in association with social and organic factors. It is relevant as it is about noble feelings, having positive results in students lives, reducing or eliminating indiscipline and creating a propitious learning atmosphere.

Key works: limits, affection, indiscipline, individuality, teaching practices.

Introdução

A educação brasileira tem sido discutida em todos os seus aspectos. Visando eliminar a indisciplina, surge a busca por novas metodologias e estratégias, sufocam-se as aulas com projetos, muitas vezes, não contextualizados e quando o assunto é a aprendizagem, pensamos logo na formação continuada dos professores. Com tudo isso, nos esquecemos do principal, o mais importante, aquele que sem ele, a escola e o educador perdem o seu sentido, deixam de existir, "o aluno".
Frente às experiências e acontecimentos observados em salas de aula, pude perceber que o aluno, que não se encaixa no perfil da turma e reflete isso na indisciplina, é colocado como mero coadjuvante, em um palco onde deveria ser o protagonista, o palco da educação.
Lançar mão de novos métodos, estratégias e elaborar bons projetos são importantes, assim como a formação continuada de todos os profissionais envolvidos no processo de ensino, pois é através do funcionamento harmonioso entre todas as áreas cognitiva, social, motora e afetiva, que a escola conseguirá fornecer um ensino de qualidade e melhorar sua perspectiva em relação à indisciplina. Também se faz necessário a valorização e o respeito ao professor, pois o que vejo hoje é uma sobrecarga de trabalho e salários abaixo do piso de algumas profissões que sequer exigem o ensino médio.
Mas, para que ocorram mudanças na educação, só isso não basta, faz-se necessário um trabalho individualizado, onde quebrar barreiras e transpor fronteiras passa a ser um desafio para o educador, onde este, não se limita apenas na transmissão de conteúdo, mas também na educação de valores e princípios, ajudando o aluno a se tornar um cidadão autônomo e crítico, capaz de conhecer e respeitar direitos e deveres e tem o diálogo como uma de suas principais ferramentas na construção do conhecimento e do relacionamento interpessoal.
Cury (2008, p.32) ensina que "conversar é falar sobre o mundo que nos cerca, dialogar é falar sobre o mundo que somos".
Para um bom trabalho pedagógico é imprescindível um ambiente acolhedor com novas estratégias educacionais onde o professor domine os conteúdos e traz novas metodologias. Já o trabalho de afetividade requer competências individuais, onde o amor e o posicionamento (capacidade em se colocar no lugar do outro) são essenciais para um resultado positivo.
Nesse contexto, a atuação psicopedagógica em conjunto com a pedagógica, torna-se vital para o relacionamento interpessoal, a fim de reconhecer o aluno como um ser único que traz em sua bagagem conhecimentos que precisam ser aprimorados, sistematizados, repassados e acima de tudo respeitados.
Também é necessário levar em conta a bagagem emocional e familiar deste aluno, incluindo seu contexto social.
A aprendizagem não se circunscreve a uma etapa concreta da vida nem ao contexto da escola, mas começa desde o nascimento, até antes, continua por toda a vida e tem lugar em numerosos âmbitos, não necessariamente escolares. (UNESCO, 2006, p.32)
O professor precisa conhecer o seu aluno além dos limites da sala de aula, ter a sensibilidade de enxergar além do olhar e saber ouvir o que ele pede através do seu comportamento.
A aprendizagem ocorre quando há identificação, motivação e cumplicidade entre educador e educando. Na prática, pude constatar que a cognição e a afetividade se entrelaçam.
Fernández (1991, pp. 47-52) nos diz que "Para aprender, necessitam-se de dois personagens (ensinante e aprendente) e um vínculo que se estabelece entre ambos. (...). "Não aprendemos de qualquer um, aprendemos daquele a quem outorgamos confiança e direito de ensinar."
Entretanto não devemos nos esquecer da razão, pois, ela direciona e justifica, e jamais banalizar nossas emoções, e as de nossos alunos, pois são elas que alimentam e nutrem a aprendizagem.
Segundo Dantas (1990) a razão e emoção caminham juntas, convivem em um processo dialético, se completam.

Indisciplina

Segundo a Revista Nova Escola (2009, p.79) "indisciplina é a transgressão de dois tipos de regras, morais e convencionais. Morais são as construídas pela sociedade, que visam o bem comum e o principio ético. Convencionais são definidos por um grupo com objetivos específicos".
Já o minidicionário Houaiss da língua portuguesa (2004, p.412) nos define indisciplina como desobediência, insubordinação.

Regras

Segundo Mattos (2008, p.34):

Regra é aquilo que regula, dirige, rege ou governa, é a fórmula que indica ou prescreve o modo correto de fazer algo, é aquilo que está determinado pela razão, pela lei ou pelo costume. As regras formam um conjunto explícito e formal de prescrições que expõem os principais requisitos quanto à atitude do indivíduo que integra uma determinada sociedade.

Se nossa meta é formar cidadãos críticos e autônomos, respeitando suas individualidades, não podemos impor regras e disciplina, devemos sim, discuti-las, analisá-las e criar novas regras a partir de um consenso visando o bem comum, pois o aluno deve ter consciência da necessidade de se adaptar a diferentes meios, respeitando os princípios éticos, morais e religiosos.
Portanto, disciplina não se impõe, conquista-se com exemplos e organização.


Comportamento

O dicionário Aurélio (p.169) nos define comportamento como a "maneira de se comportar; procedimento, conduta, ato, compor."
Analisando os três termos: indisciplina, regra e comportamento e assumindo a postura de professor mediador, acredito que a indisciplina deixa de ser um problema e torna-se um desafio visto que regras são criadas por sociedades e grupos que vêm sofrendo mudanças ao longo da história, o que ontem era proibido hoje não é mais e o que não se deve fazer hoje, amanhã provavelmente poderá.
A própria educação está mudada, e hoje não vê o aluno como subordinado ao mestre, mas sim um agente na troca de conhecimentos e experiências.


A indisciplina em sala de aula

O professor está doente. Excesso de trabalho, indisciplina em sala de aula, bombardeio de informações, desgaste físico e, principalmente a falta de reconhecimento de sua atividade são algumas das causas de estresse, ansiedade e depressão que vêm acometendo os docentes .

Os altos níveis de indisciplina vivenciados em sala de aula e conhecidos através dos diversos veículos de comunicação vêm tomando proporções que, além de prejudicar a aprendizagem estão influenciando na saúde física e mental de educando e educadores.
O aluno indisciplinado, geralmente, não realiza as atividades propostas, não demonstra interesse, procura dispersar a sala através de seu comportamento e sempre consegue chamar a atenção dos demais.
Na maioria dos casos o professor não tem controle sobre a classe e não conseguem solucionar ou sair de situações criadas. Irritado e estressado, esse professor costuma se afastar do trabalho e o fracasso das aulas é atribuído somente ao aluno.
Entre as práticas indisciplinares observadas em sala de aula, o aluno indisciplinado costuma, andar constantemente pela sala, danificar material dos colegas, jogar materiais nos colegas e pelas janelas, conversar em tom de voz alta, principalmente com quem está fora de sala. Usa ainda de agressão verbal e física, gosta de provocar, sempre diz o que irá fazer, rasga e joga muitos papéis, além de gostar de narrar acontecimentos e se colocar sempre acima dos demais.

Práticas docentes e observações em salas de aula

Atualmente, a tarefa que se espera de um professor é um tanto mais ampla do que transmitir conhecimentos aos seus alunos, o que, faz muito pouco tempo, era sua atividade principal para o que se preparava. Agora fazem falta muitas outras habilidades, sem as quais é difícil conseguir que os alunos progridam na aquisição do saber: o diálogo com os alunos, a capacidade de estimular o interesse por aprender, a incorporação das tecnologias da informação, a orientação pessoal, o cuidado do desenvolvimento afetivo e moral, a atenção à diversidade do alunado, a gestão da aula e o trabalho em equipe. (MARCHESI, 2006, pp. 59-69)

Concordando com a citação acima de que nós, educadores, não podemos nos limitar apenas na função de transmitir conhecimentos, mas temos sim de suprir as demais áreas, cognitiva, emocional, social e moral, relatarei algumas experiências em classes das séries iniciais do ensino fundamental, 4º e 5º anos (3ª e 4ª séries). Essas experiências mostram que é possível fazer a diferença na vida de um aluno, quando tudo e todos caminham ao contrário.
O que pretendo não é generalizar, mas sim, gerar mudanças através da conscientização de educadores, para que posicionamentos sejam revistos, habilidades desenvolvidas e sentimentos floresçam, gerando assim um vínculo de amizade e afeto entre educadores e educandos em prol da aprendizagem.

(...) se a educação atua como agente promotor de mudança, essa atuação se dará devido à força das idéias e das atitudes que ela difunde (e que) o potencial transformador da educação está no sucesso que tem em fazer com que sejam aceitas socialmente idéias e práticas que contribuem para desencadear ou acelerar o processo de mudança em algumas esferas da vida social. A educação, num sentido mais amplo, e a escola, num sentido mais restrito, têm grande poder de difundir novas visões, valores e atitudes que podem alterar radicalmente as instituições sociais (...) ela tem condições de fazer com que as causas necessárias à mudança, conflito, idéias, inovações, tecnologias, etc. ? se tornem socialmente efetivas. (FERREIRA, 1993, p.220).

No ano de 2006, em uma sala de 4ª série, recebi um aluno que já trazia consigo uma extensa ficha repleta de suspensões e advertências, inclusive um processo por agressão física contra um professor. Era rebelde, indisciplinado, agressivo e desafiador.
Já em 2009, em uma sala de 3ª série, tive a oportunidade e o prazer de lecionar para uma aluna que apresentava um perfil semelhante. Digo que foi um prazer, porque pude confirmar que o posicionamento utilizado no primeiro caso teve resultados positivos em ambos.
Nos dois casos, inicialmente, lancei mão de novos métodos, novas estratégias, projetos e atividades diversificadas, tais procedimentos ajudaram, mas não resolveram. Refleti, mudei minha postura e visão de educadora, em vez de enxergá-los apenas como mais um aluno entre tantos, comecei a vê-los como únicos.
Quando reconhecemos que o aluno é um ser único e especial, e fazemos uso de ferramentas como o diálogo, a paciência, o reconhecimento e acima de tudo o amor pela vida, o desafio de conquistar quando todos já desistiram, começamos a ganhar forças percebemos que tudo é possível, os obstáculos começam a ser derrubados.
Ao longo dos anos letivos em cada caso, as mudanças aconteceram, o que a maioria acreditava ser um deserto, com certeza era terra fértil, onde com muito cuidado, sensibilidade, preparo profissional e trabalho em parceria com a equipe diretiva, coordenação e pais envolvidos, foram arrancados os espinhos e após regar muito, os frutos começaram aparecer. Sentimentos como amizade, lealdade, sinceridade e solidariedade entre outros, desabrocharam.
Intervenções foram realizadas, pois com o estreitamento do vinculo afetivo, o aluno, que até então sempre se recusava a fazer suas atividades e não queria aprender, começou a realizar as lições e a se esforçar para recuperar o tempo perdido.
Correções também foram aplicadas, limites e regras foram impostos, pois se há indisciplina não há aprendizagem, porém, em todas as medidas o diálogo e a firmeza em saber se posicionar, do professor, se fizeram presente e a punição nunca encontrou lugar, pois a escola é um lugar de educação, onde devemos sempre levar o aluno a reflexão.

Aprender normas é estar imerso em um contexto que acolhe e informa sem cessar; é participar em atividade práticas próprias desse contesto ? práticas que convidam a conduzir-se de certa maneira e que transmitem essa forma de se conduzir, é encontrar-se inúmeras vezes com seus iguais e com adultos, e receber em cada encontro alguma informação que deverá ser interpretada e encaixada no conjunto de coisas já conhecidas; finalmente, é também estabelecer uma relação calorosa com seus iguais e com os adultos, de maneira a ter motivos afetivos para esforçar-se no sentido de assimilar as normas da nova situação. (...) Contextos, práticas, encontros e afeto propiciam experiências que devem ser interpretadas para dar sentido a cada um dos elementos normativos de uma situação. (PUIG, 2004, p.177).

Hoje, todos esses alunos (citei apenas dois entre tantos outros casos), ainda vêm me procurar, para uma conversa, matar saudades e contar sobre seus estudos, alguns até querem continuar em minha sala de aula, mesmo quando passam para a série seguinte, questionam porque não vou com eles.
O vinculo afetivo torna-se tão essencial, que esses alunos quando o conquistam, costumam regá-lo sempre através da amizade e carinho pelos seus professores.
Esses alunos procuram se esforçar na aprendizagem para agradar seus professores sente prazer em mostrar cada atividade realizada em seu caderno.
Para chegar ao aluno, é necessário que o educador crie estratégias e recursos compatíveis com seu perfil, pois assim conseguira não só ensinar o aluno, mas prepará-lo para a vida.
Maria Jose citada por Silva, (2007, p. 67) nos relata que:

No meu primeiro ano de magistério, eu trabalhava numa turma em que todos eram repetentes. Eu preparava aulas, material, falava, falava, falava. Mas as crianças não me ouviam. Gritavam, jogavam coisas, se espetavam. E então um dia eu descobri que eles eram pedras. E resolvi que, se eles eram pedras, se eu queria trabalhar com eles, se eu queria falar com eles, eu tinha que ser pedra e mais um pouquinho.

Para Grandmazon (2010, p. 32):

A afetividade é a essência da vida humana, é um princípio de ação, uma forma de dar forma a alguém, e de atender as necessidades uns dos outros. O amor é a resposta as perdas necessárias, mas não desejadas. É de suma importância organizar essas emoções no processo ensino aprendizagem

Gostaria de encerrar esses relatos e depoimentos com a seguinte frase "há um mundo a ser descoberto dentro de cada criança e de cada jovem". (CURY, 2008, p. 10)


O papel do educador

Mais do que ensinar conteúdos, cumprir programas e projetos, o professor deve ajudar o aluno em sua própria construção, ou seja, as questões ligadas à moral e à vida em sociedade devem ser tratadas como conteúdos de ensino, desenvolvendo habilidades de diálogo e cooperação. Eliminar ou amenizar os conflitos, gerando assim um campo propício para a aprendizagem.

A nossa função de professor é de grande responsabilidade, pois temos que desenvolver no aluno valores humanos indispensáveis para a sua boa formação, tais como: disciplina, respeito, capacidade de trabalho, iniciativa, honestidade, cidadania, ética, moral, conhecimento das diferenças individuais, educação para o convívio social, amor, gratidão, humildade, trabalho em grupo ou equipe etc., assim como servir de mediador no processo de desenvolvimento de suas habilidades e competências .

Algumas estratégias aplicadas e observadas durante as aulas auxiliaram o professor a resolver a indisciplina em sua sala de aula e a estreitar ou criar vínculos afetivos, entre elas conhecer a vida, rotina, e emoções do aluno, conhecer a sua história cultural, familiar e social, fazer associações entre nomes e personalidades que fazem a diferença na vida dos alunos, os quais eles admiram, com a importância dos estudos, atrair os alunos para a aula, mostrando-os que valem a pena conhecer, construir e conquistar, permitir que os alunos reflitam sobre as regras e seus comportamentos, avaliar transgressões, saber dosar reações e não deixar de solucionar nenhum problema, por mais simples que seja, planejar aulas e dominar conteúdos manter-se firme em suas decisões, desde que essas sejam coerentes.
O professor deve acima de tudo, respeitar as individualidades e ter consciência de que cada aluno é único e necessita de estratégias diferenciadas.

Metodologia

Esta pesquisa está classificada nos critérios de pesquisa bibliográfica para o embasamento teórico.
Partindo da pesquisa realizada, os dados foram analisados a partir de leitura crítica e redação dialógica a partir dos autores apresentados

Considerações finais

A aprendizagem vem sendo prejudicada pelos elevados índices de indisciplinas, assim como, também a saúde dos professores está cada vez mais comprometida, por ficar exposto a tais situações.
Quando não há disciplina na sala de aula, dificilmente chega-se ao objetivo proposto. Porém, não acredito que a indisciplina seja uma barreira intrasponível para o trabalho do professor.
O professor que constrói vínculos com seus alunos consegue alterar o comportamento deles, nem que seja apenas no ambiente escolar, o que são raros, pois, nas práticas docentes relatadas neste artigo, as mudanças refletiram também na vida pessoal do aluno.
O Educador não deve se distanciar de sua função no processo cognitivo do educando, deve estar sempre preparado e atualizado, pois o aluno de hoje é autônomo e crítico. Deve ter a consciência de que trabalha com crianças e jovens únicos, que trazem consigo uma história pessoal e particular.
Segundo Ferreiro (1998) desenvolver uma pedagogia da diversidade é o que necessitam os tempos modernos, se a escola quer alçar valores morais fortes contra as descriminações de todo tipo que nos espreitam.
Segundo o relatório da UNESCO, sobre educação para o século XXI, a escola além de promover competências básicas, deve proporcionar condições para o exercício pleno da cidadania, para tanto, propõe quatro pilares: Aprender a ser, aprender a fazer, aprender a conhecer, Aprender a viver juntos.
Quero destacar o quarto pilar, pois, acredito que vem a completar nossa prática docente.
Aprender a viver juntos desenvolvendo a compreensão e valorização do outro, a percepção das formas da interdependência, respeitando os valores do pluralismo, a compreensão mutua e a paz.
Segundo o relatório da UNESCO da comissão internacional sobre a educação para o século XXI. (1996, p.45), "a educação encerra um tesouro".
Quero lembrar que sem qualquer diploma, sem recursos de capacitações, o maior professor soube ensinar um grupo nada homogêneo, onde as características e personalidades de cada um eram totalmente opostas, alguns impacientes e rebeldes, outros calmos e dóceis. O mestre dos mestres, Jesus Cristo, olhou para cada um de seus doze apóstolos com olhar de quem acredita, confia e respeita, pois em momento algum obrigou os seus a seguirem-no.
Não tinha salas de aulas equipadas e materiais didáticos modernos, porém, tinha o que todos procuravam o ensinamento para a vida. Suas estratégias e metodologias eram embasadas no amor, no afeto e respeito às individualidades.
Hoje, embora tenham escolas bem equipadas, bons materiais didáticos, infinitos recursos e acima de tudo excelentes professores que acreditam na educação, pois caso contrário, não teriam sobrevivido à degradação da profissão, ao desrespeito do sistema governamental e a salários que em breve não serão mais baixos e sim mínimos.
"A valorização social e econômica da profissão é crucial para atrair e reter os melhores profissionais" (UNESCO, 2008, p.67), ainda falta o amor, pela arte de educar e pelos nossos educandos.

Tudo o que diz respeito ao aluno deve ser de interesse do professor. Ninguém ama o que não conhece, e o aluno precisa ser amado! E o professor é capaz de fazer isso. Para quem teve uma formação rígida, é difícil expressar os sentimentos; há pessoas que não conseguem sorrir. O professor tem de quebrar as barreiras e trabalhar suas limitações e dos alunos. Chalita (2001, p.165)

Referências bibliográficas

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