Autora: Kelly Porto Ribeiro, Radialista graduada em Comunicação Social com ênfase em Rádio e TV pela Universidade Metodista de São Paulo.

 

 


O VIDEOCLIPE: ASPECTOS E CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA



O Gênero Musical

 

 Segundo Christine Veras (2007), o Musical como gênero cinematográfico desenvolveu-se a partir do cinema sonoro. Assim como a invenção do cinema foi um marco, mudando as formas de ver, pensar e reproduzir a realidade, a chegada do som no cinema também foi.

Os filmes passaram a ser imaginados, roteirizados, produzidos e assistidos de forma diferente. Agora os personagens falavam e o filme, pela primeira vez, representava a união propriamente dita da imagem com o som. 

Ainda segundo Christine Veras, o primeiro filme falado foi “O cantor de Jazz”, do norte-americano Alan Crosland, em1927. Apartir daí, deu-se início a um período de transição e adaptação, no qual qualquer filme cuja fonte sonora era mostrada na tela (podendo ser com cantores ou instrumentos) era considerado Musical.

Mesmo nos primeiros musicais, o espectador ouvia apenas aquilo que os personagens ouviam. Todas as fontes sonoras eram mostradas, sendo atores, cantores, instrumentos, etc. Mas com o passar do tempo, o próprio Gênero Musical superou esse conceito, dividindo-se em diferentes estilos musicais.

Veras (2207) ainda diz que as primeiras experiências sonoras que foram bem sucedidas foram usadas até sua banalização. Um exemplo disso eram os espetáculos que faziam uso do som e serviam de inspiração e adaptação para o cinema, como os shows da Broadway.

À medida que os projetos musicais foram crescendo, os criadores começaram a notar melhor o valor do som. Percebeu-se o tanto de significado e enriquecimento que o som e a música proporcionavam combinados a imagens. Agora o elemento musical não apenas ilustrava, como também complementava a narrativa no vídeo.

Essas mudanças na forma de perceber o som mudaram também o Gênero Musical, como um todo. Surgiram variações como o musical de ambiente universitário, a opereta adaptada, musicais do período de esforço de guerra e, depois, as biografias de músicos, intérpretes e compositores (VERAS, 2007).

Geralmente nos musicais, principalmente nos clássicos, os personagens principais eram representados por um casal de namorados. A fórmula de sucesso consistia no encontro do casal e começo do namoro, conflitos no relacionamento, e por fim no reencontro com final feliz. Até hoje são produzidos Musicais que seguem este fio condutor.

A encenação no Musical varia entre o movimento realista e a combinação de ritmos da dança. Os personagens dançam e cantam quase o tempo todo; suas ações são definidas pela música. A trilha sonora mistura a música e os sons diegéticos com os diálogos, fazendo com que o espectador entre no mundo de fantasia dos personagens.

Em alguns exemplares do gênero, a narrativa pode ser interrompida pelos números musicais, mas desde as décadas de 1940 e1950, adança e o canto foram cada vez mais inseridos na história.

Em relação à linguagem cinematográfica, os enquadramentos e a montagem procuram sempre dar dinamismo. A linguagem clássica cinematográfica alia-se ao Gênero Musical. A câmera também “dança”, fazendo com que o espectador se envolva mais com o clima do filme.

Hollywood produzia muitos musicais em sua “Era de Ouro”. Isso porque a função principal dos filmes deste gênero é entreter, dever que Hollywood cumpri muito bem, aliás

Segundo Christine Veras (2007), nos períodos de guerra o gênero se fortaleceu, pois o entretenimento dos Musicais fazia com que os espectadores fugissem de sua realidade e acreditassem mais em dias melhores. Todos os conflitos nos filmes eram resolvidos sempre com uma grande festa.

Pode-se dizer que os Musicais norte-americanos buscavam sempre refletir e guiar tendências culturais do público, adaptando-se ao contexto político e social. Afinal, a cultura de um povo sempre será um fator determinante na adaptação de um Musical.

No Brasil, mais precisamente nos anos 60, os festivais de música popular brasileira e seu forte público ajudaram a criar o gênero musical na televisão. O primeiro festival de MPB foi promovido pela, hoje extinta, TV Excelsior, em 1966; e o segundo, pela TV Record, em 1967. Tais festivais abriram caminho tanto para o gênero, que mais tarde, apareceria cada vez mais na grade de programação das emissoras que disputavam a audiência, quanto para os músicos e cantores, que eram convidados para programas de televisão.

O videoclipe, diferentemente dos outros formatos, explora outras expressões artísticas; não só a do cantor ou conjunto tocando a sua música ao vivo, como uma performance. Ele aparece como um espaço aberto a mentalidades inventivas, explorando novos limites para uma composição plástica visual. Limites que por muitas vezes são quebrados pelo próprio formato.

O videoclipe é visto por muitos como uma forma de expressão artística, capaz de dar continuidade ou novas conseqüências a atitudes experimentais tomadas anteriormente no cinema de vanguarda dos anos 20, o cinema experimental dos anos 50 e 60, e a vídeo-arte dos anos 60 e 70 (MACHADO, 2000; p.173).

Segundo Machado (2001), o gênero musical tem forte expressão pela sua forma gestual, o modo como o artista interpreta visualmente a sua canção, como ele se expressa ao tocá-la ou cantá-la, fazendo o mesmo de forma natural, respondendo ao som que está acostumado a tocar.

 

Gesto é todo movimento corporal que adquiri um papel significante na interpretação musical. Ele se distingue, portanto, dos movimentos involuntários ou não-expressivos do intérprete (como virar a página de uma partitura). Se considerarmos que a qualidade ou a eloqüência de certos atributos do som como a dinâmica e o timbre são conseqüências diretas do modo como o intérprete ataca o seu instrumento e invoca todo o seu corpo para produzi-los, não é preciso muito esforço para compreender que a imagem do gesto faz parte do discurso musical tanto quanto qualquer elemento especificamente sonoro. (MACHADO, 2000: pág.162)

               

A música é formada não somente pela expressão do artista em seus instrumentos ou em sua voz, mas também por sua interpretação de modo geral. Além da composição e produção das letras e melodia, há também a performance do cantor ou da banda na apresentação ou execução da música. São imagens e sons que levarão o público a lembrar-se da obra como um todo

Assim, podemos concluir que a música se traduz em um traço totalmente expressivo de seu autor, da mesma forma que um gesto também pode ser visto de tal maneira. Dessa forma, o material sonoro traz as marcas do gesto de seu autor

Acima disso, muitos artistas e intérpretes musicais se preocupam em aperfeiçoar a sua técnica gestual, dotando-se de uma elegância visual e de uma eloqüência sinestésica, bem como uma adequação à ideia musical que se quer transmitir (MACHADO, 2000; p.162).       

O Videoclipe

 

O Videoclipe é um pequeno filme, praticamente um curta-metragem, cuja duração está ligada (mas não limitada) á duração de uma música. É a ilustração ou a mensagem visual de uma canção. 

Segundo Arlindo Machado (2000, p.173) “é um formato enxuto e concentrado, de certa duração, de custos relativamente modestos se comparados com os de filmes ou de um programa de televisão, e com um amplo potencial de distribuição”.

Entretanto, nem todos os videoclipes têm curta duração. O clipe “Thriller” de Michael Jackson, por exemplo, possui mais de treze minutos de duração.

O videoclipe é uma forma contemporânea de narrar histórias, na qual, não necessariamente há uma narrativa clássica. Freqüentemente há elementos como fragmentação, antirrealismo e transgressão às regras. Muitas vezes o videoclipe é definido como um amontoado de imagens sem sentido, voltado somente ao apelo sensorial.

Há videoclipes extremamente “plásticos”, nos quais os cuidados com a estética são muito importantes, até mais do que a narrativa. Alguns, inclusive, não narram nenhuma história, sustentando-se apenas pelo visual e sensorial. Entretanto, há também os videoclipes que contam narrativas bem feitas, mesmo que sejam ainda bem diferentes das formas tradicionais de narrativa.

Inicialmente, era chamado apenas de número musical; depois foi chamado de “promo”, referindo-se a “promocional”, e somente a partir dos anos 80 foi nomeado “videoclipe”. Clipe, que significa “recorte” ou “grampo”, leva à ideia de imagens rápidas e enfatiza justamente o produto, o lado comercial.

Mas, além disso, também é caracterizado pelo ritmo das imagens. Em determinados momentos, o destaque no vídeo, não será a imagem em si, e sim a relação de grafismo visual e seu ritmo.

Compondo-se de imagens que são rapidamente assimiladas e, talvez, esquecidas logo depois, é algo que provoca variadas sensações no espectador e deixa até mesmo inscrições subliminares em seu aparelho perceptivo.

Assim, o videoclipe agrega conceitos de cinema, televisão, publicidade e dos sistemas de consumo da música. Representa a continuidade direta da linha de desenvolvimento traçada pela vídeo-arte. Tanto para um, como para outra, trata-se de buscar soluções a uma questão que já atormentou antes outros sistemas de expressão: como fazer casar, de forma mais orgânica possível, a faixa de som com a faixa de imagem? Esse é o problema por excelência que compete ao videoclipe resolver.

É difícil definir o videoclipe em poucas palavras, pois este formato é caracterizado pela diversidade de temas, linguagens, etc. Podemos então, citar algumas características que estão presentes na maioria dos videoclipes:

  • Quebra dos padrões tradicionais de narrativa
  • Falta de preocupação com relações de causa e efeito ou tempo e espaço
  • Edição sincronizada com o ritmo da música
  • Personagens
  • Mistura de realidade com fantasia
  • Promoção e comercialização dos artistas

Segundo Maciel (2005, p.20), o candidato mais forte a ser classificado como o primeiro videoclipe é o vídeo de “Bohemian Rhapsody”, primeiro hit do Queen. Isso porque foi graças ao clipe, exibido milhares de vezes na TV, que o álbum da banda chegou ao topo de vendas, e, além disso, em sua estrutura, podemos perceber várias características de videoclipes, como efeitos especiais e a alternância entre performance da banda e narrativa ficcional.

Na década de 1950, o videoclipe nasce com a arquitetura e a computação (MACIEL, 2005). No final da mesma década, surge na BBC, o programa musical Special. E nos anos 60, com apoio da arte pop, este tipo de programa se propaga pela programação. Alguns exemplos: Ed Sullinvan’s Show, The Monkeys e The Archies. Nos anos 70, destaca-se ainda mais, pois passa a ter a filosofia como elemento importante, além de criticar a cultura ocidental.

Hoje, já desenvolvido, avança com a tecnologia e marca presença não só na música, mas também na moda, no cinema e na internet, fazendo parte já do cotidiano das pessoas.

Segundo Goodwin (1992, p.189-198) há uma linha do tempo em que podemos ter uma ideia da evolução do videoclipe.

Linha do Tempo de Goodwin

1921: Oskar Von Fischinger começa a produzir filmes animados sincronizados com jazz e música clássica na Alemanha

1927: “O Cantor de Jazz” é a primeira peça audiovisual

1934: Fischinger produz “Komposition in Blau”

1940: Fischinger trabalha em “Fantasia”, da Disney

1941-47: “Panoram Soundies”

1952: Estreia “Bandstand”, na WFIL-TV, Filadélfia. Um show que apresenta peças similares a videoclipes.

1953: “The Wild One”, com Marlon Brando,

Estreia em Londres “Teen Club”, primeiro programa jovem da BBC

1956: Elvis Presley aparece pela primeira vez na TV americana, no “Stage Show”

Estreia de Elvis no cinema com “Love me Tender”.

“Rock around the Clock”, com Bill Haley e The Comets, “The Girl Can’t Help It”, estrelado por Little Richard.

1957: Elvis Presley aparece no “The Ed Sullivan’s Show” (filmado da cintura para cima)

Estreia de “Six- Five Special”, na BBC

“Jailhouse Rock”, com Elvis Presley

Estreia em cadeia nacional, na ABC-TV de “American Bandstand”

1960: “G.I.Blues”, com Elvis Presley

Introdução na Europa do jukebox Scopitone, com vídeo colorido

1963: Estreia de “Ready, Steady, Go!” na ITV

1964: Começam as transmissões na BBC do “Top oh the Pops”

Beatles aparecem no “The Sullivan’s Show”

O Scopitone chega aos Estados Unidos

1965: “Help”, filmclip dos Beatles

“Ready, Steady, Go!” troca a dublagem pela performance em estúdio

“The T.A.M.I. Show”

Transmissão televisionada de concerto dos Beatles, no Sea Stadium

“Hullaballo” estreia na NBC

1967: Filmclips dos Beatles “Penny Lane” e “Strawberry Fields Forever” produzidos

“Don’t Look Back”, documentário sobre Bob Dylan

BBC produz especial experimental “Magical Mistery Tour” dos Beatles

Beatles e amigos apresentam “All You Need Is Love” ao vivo pela BBC e transmitido no mundo para 200 milhões de telespectadores

1968: “Yellow Submarine”, desenho animado dos Beatles

Estreia de “The Archie Cartoon Show”

Especial de TV “Elvis”, estrelado por ele mesmo

1969: “One Plus One”, dos Rolling Stones

“Sugar, Sugar”, dos The Archies alcança a primeira posição das paradas, promovido pelo videoclipe de desenho animado

1970: “Music Scene”, da ABC, pretendia fazer “rock sério” para a televisão dos Estados Unidos

“The Partridge Family” (Família Dó-Ré-Mi) estreia na ABC-TV

“The New Seekers” fazem anúncio da Coca-Cola, com a canção “I’d Like to Teach the World to Sing”, que se torna um single de sucesso mundial

“Woodstock”, documentário vencedor do Oscar

 “Let It Be”, último filme dos Beatles

Segundo Maciel, de1970 a1981, ainda foram produzidos mais filmes musicais, especiais de TV, concertos televisionados, documentários e videoclipes feitos para transmissão em canais abertos. Em 1981, surge a MTV (Music Television), um dos primeiros canais de TV a cabo que tinha como elemento principal a música. Sua programação inicial consistia em 24 horas de videoclipes ininterruptos.

Tendo o histórico e as características gerais, podemos partir para uma análise do videoclipe junto à dramaturgia.

Dramaturgia e Videoclipe


A dramaturgia hoje é um elemento frequenteem videoclipes. Ahistória e o conceito principal são transmitidos através da interpretação de atores, ou até mesmo dos próprios integrantes da banda. E na maioria das vezes, a dramaturgia vem acompanhada por uma edição com cortes rápidos de uma imagem para outra, aonde os fatos não precisam necessariamente seguir uma ordem cronológica. O videoclipe torna-se mais enriquecido, tanto na parte visual, como também na ideia que passa ao telespectador.

E assim como a dramaturgia está presente nos videoclipes, o inverso também acontece. Na novela “Vamp”, que foi ao ar entre 1991 e 1992, pela Rede Globo, houve uma inovação na linguagem de telenovelas. A novidade era a gravação de várias cenas em formato de videoclipe, ou seja, seqüências de imagens sem falas, com sucessão rápida de planos e muita ação.

A história girava em torno da personagem Natasha, uma cantora interpretada por Cláudia Ohana. O clima da novela era preenchido com muita música, suspense, comédia, e por jovens. Logo, esse público foi o que mais se identificou com a novela, que tinha um enredo diferenciado e elementos que lhe chamavam a atenção, como as cenas similares a videoclipes.

Este tipo de técnica deixa o vídeo mais interessante, com mais ritmo e causa uma sensação diferente no espectador. Atualmente, este tipo de linguagem é muito comum, não apenas em novelas, mas principalmente em filmes, como “Corra, Lola, Corra” e “Pulp Fiction – Tempo de Violência”, por exemplo.

Sabendo como a dramaturgia se relaciona com o videoclipe, podemos partir agora para uma análise mais aprofundada do formato, abordando seus diversos elementos, a narrativa e a linguagem em si.

 Narrativa

Segundo Durá-Grimalt (1988) há três tipos de narrativas nos videoclipes. O primeiro é composto por aqueles que possuem uma narrativa clássica, em que há a apresentação dos personagens (claramente definidos fisica e psicologicamente), o conflito e por fim a solução.

O segundo tipo é composto pelos videoclipes não-lineares, isto é, aqueles que apresentam uma história sem fim ou entrecortada, cujos personagens não estão muito bem definidos. Teoricamente, o artista encenaria junto com outro ator ou faria vários papéis.

É onde entra a questão dos artistas apresentarem-se como eles mesmos ou como personagens. Questão que deve ser pensada com cuidado, pois deve-se levar em consideração a imagem que o artista já possui perante às pessoas. Mesmo como personagem, o artista deve estar sempre coerente com sua imagem na mídia e com os desejos de seu público.

Em alguns casos o artista pode cantar ou tocar para a câmera, e ao mesmo tempo, ou logo depois, aparecer como personagem. Em outros, ele simplesmente exerce sua função de músico, enquanto os atores ficam encarregados pela dramaturgia. Há vezes, em que o artista entra apenas com a voz e os instrumentos. E ainda há casos, típicos do mundo pop, em que há a caracterização de um personagem fixo para determinado artista. É o que ocorre, por exemplo, com Marilyn Manson.

Goodwin (1992) chama este último caso de “exceder o personagem”, ou seja, o personagem não é criado especificamente para o videoclipe ou história. Isso faz com que uma rede intertextual seja criada e que o público identifique o artista como a figura caracterizada.

Isso também ocorre com Madonna, mas neste caso, ela não aparece sempre como a mesma figura; ao contrário, criou-se uma expectativa pela surpresa. Os espectadores nunca sabem qual será seu próximo visual, ou atitude.

O terceiro tipo de videoclipe, segundo Durá-Grimalt, é composto pelos clipes que rompem os padrões tradicionais. De certa forma, esta categoria engloba a grande maioria de videoclipes. Até mesmo os de narrativa clássica lidam de modo diferente com o tempo e o espaço.

Ainda que procurem seguir os padrões tradicionais, as narrativas têm de estar estreitamente ligadas principalmente à música. Há os videoclipes que possuem mais independência na relação imagem-som, porém, a mesma tem de ser feita sempre de maneira coerente e regrada. Há também os que funcionam como uma simples ilustração, isto é, uma tradução visual da letra. Mas o necessário sempre é imagem e som relacionados, mesmo havendo uma ruptura proposital de algum som ou trecho de música.

Elementos e linguagem

Os elementos que formam o videoclipe são: a música, a letra e a imagem, que manipulados, interagem para provocar a produção de sentido. “O que importa é menos a intenção de se contar uma história e mais o desejo de se passar uma overdose de sensações, através de informações não relacionadas, acompanhando sons – o ritmo das imagens” (SALLES, 1985).

As características de como estes elementos são construídos incluem a montagem, o ritmo, os efeitos especiais (visuais e sonoros), a iconografia, os grafismos, e os movimentos de câmera, entre outros.

A montagem é o processo de justaposição de imagens diferentes filmadas separadamente. A mudança de uma imagem para outra é chamada de "corte", e cada intervalo entre um corte e outro recebe o nome de "plano". Na montagem de videoclipes, este intervalo costuma ser muito curto. A iconografia diz respeito à origem das imagens usadas como referência cultural, ao repertório visual utilizado no clipe. Muitos videoclipes fazem referências a figuras de outras expressões culturais, como a literatura, o teatro, as artes plásticas e o cinema, entre outros. Às vezes esse tipo de referência é feito sob a forma de paródia. O grafismo é a introdução de elementos gráficos, como tipografia (letras e algarismos), desenhos, animações e formas geométricas, ou quaisquer elementos não filmados, na imagem final (MACHADO, 1996).

Letras

 

A letra da música é um elemento importante na construção de um videoclipe. Tanto nos exemplos em que a narrativa segue fielmente a letra, como também naqueles em que há mais independência entre as duas. Até mesmo a ausência de uma letra provoca conseqüências na dimensão visual do clipe.

É na letra que se encontra normalmente, a essência da canção e, algumas vezes, do videoclipe. Os assuntos mais comuns nas canções pop estão relacionados a estados de alma, como por exemplo, o amor.

Este tema aparece de várias formas e na maioria dos conflitos presentes. O amor entre homem e mulher, pais e filhos, indivíduo e sociedade, etc. Isto faz com que o apreciador sinta-se identificado com o que ouve e vê; resultando assim no efeito de autoria, ou seja, ele mesmo poderia ter sido o autor da letra.

Ainda em relação ao conteúdo da letra, e á mensagem lingüística, há dois casos:

  • A música em si tem presença maior do que a mensagem transmitida; os elementos musicais são os suportes do videoclipe.
  • A música propriamente dita, e as imagens podem ser até repetitivas; o que garante a força da canção e do videoclipe é a mensagem transmitida através da letra.

Muitas letras são escritas em primeira pessoa. Nos conflitos, geralmente há uma segunda pessoa, o “tu”, a quem o “eu” se refere. Já nos clipes, é muito comum os artistas cantarem e tocarem diretamente para a câmera, como se estivessem se relacionando diretamente ao espectador. Com isso, em muitos videoclipes, há um jogo entre o “tu” (a que se refere a música), e a pessoa que assiste ao vídeo.

Em relação ao tempo verbal, o mais comum é o presente. Porém, isso não impede que sejam usados elementos como flashbacks no clipe.

Como geralmente não há nenhum marco de tempo concreto, há uma liberdade maior para as narrativas em relação às letras. Há videoclipes que se passam no presente, e ao mesmo tempo, possuem verbos no passado nas letras de suas músicas. O contrário também ocorre, como por exemplo, no clipe de Marisa Monte “Amor I Love you”.

O emprego freqüente de rimas e repetições de refrões ou estrofes também se relacionam com o vídeo. Nos clipes, isso favorece e justifica a repetição de imagens. Também é normal encontrar-se em determinada letra a presença de um campo semântico, ou seja, um conjunto de palavras que, associadas, sugerem uma ideia.

Um exemplo deste último caso é o clipe “The Zephyr Song” da banda Red Hot Chilli Peppers, em que há palavras na letra como: brisa (zephyr), papa (kite), hélice (propeller), voar ((to) fly), levitar (levitate) e aviador (aviator). Todas elas remetem-se à mesma ideia e colaboram para que esta seja evidenciada no vídeo.

Imagem

A forma de criar imagens e encadeá-las surgiu com as possibilidades visuais do cinema. Enquadramentos diferentes, movimentos de câmera complexos, montagem acelerada, saturação de cores, contrastes exagerados, alternâncias imprevisíveis entre câmera lenta, normal e acelerada, imagens granuladas, alternância entre preto e branco ou outras cores, e muitas outras técnicas.

Um efeito interessante é a manipulação e mistura de cores e formas. Dependendo de como forem usadas, podem gerar uma impressão proposital de artificialidade. É neste ponto que se evidencia o conhecimento de realidade simulada, presente no clipe.

Há também muitos outros efeitos de edição, como a sobreposição e as transições entre planos, originando em conflitos, também propositais, de ângulos e enquadramentos.

Todos esses efeitos, usados com freqüência, geram, conseqüentemente, uma interdependência entre forma e conteúdo.

Ás vezes esses efeitos e técnicas podem ser usados de forma aleatória, como diz Pedro Pontes (2003). Porém, há muitos exemplos de videoclipes com dramaturgia e narrativas. Nestes casos, o uso dessas técnicas-expressivas pode ser feito também no sentido de ajudar a traduzir o roteiro, assim como fazem muitos cineastas. De qualquer forma, o diretor de videoclipes deve possuir um vasto repertório de estilos e técnicas de filmagem.

Ken Dancyger (2003) intitula o conceito estético e de montagem dos videoclipes de Estilo MTV. Ele faz uso da expressão set-piece para exemplificar este tipo de linguagem nos filmes de longa-metragem. Essa expressão sintetiza a ideia de um fragmento que tem autonomia estética, narrativa ou de sentido dentro da obra. Esse fragmento é, em si, uma seqüência ou uma cena brilhantemente executada com autonomia de obra. (Dancyger: 2003, 201; rodapé)

Seguindo a linha do autor, podemos definir um set-piece como uma seqüência composta por planos que se complementam de maneira direta, apresentando uma ligação dentro da narrativa, por meio de um elemento nela contido (este elemento pode ser um personagem, um local, um objeto da história); ou indiretamente, neste caso, as imagens seriam complementares apenas de uma maneira estética, por cores, estilos, efeitos; ou semiológica, de forma que as imagens tivessem um mesmo significado subjetivo. Esta seqüência é marcada por uma trilha sonora que está em simbiose com as imagens, ou seja, uma enfatiza a outra, complementando-se.

Dancyger cita exemplos de filmes como “Assassinos por natureza”, “O Resgate do Soldado Ryan” e “O Tigre e o Dragão” para mostrar como um set-piece funciona dentro de uma narrativa extensa. Tais podem enfatiza-lá, bem como quebrar a linha de tempo nela existente, agindo sempre de forma complementar para a mesma.

Em relação ao tempo em vídeo musical, o tempo é qualquer um. O tempo e o espaço são obliterados, de modo que os seus realizadores têm mais liberdade para fazerem usufruto da imaginação (Dancyger: 2003, 192). O que não significa que todo videoclipe seja obrigatoriamente desvinculado de um tempo cronológico ou de uma narrativa linear.

O que o autor tenta enfatizar é o modo como as imagens são encaixadas e sobrepostas em uma mesma seqüência, qual a sua ligação com relação à narrativa, e sua importância, tanto plástica (visual) como contextual (ligada à história).

(...) devemos ver o estilo MTV não apenas como uma nova forma de contar história visualmente. Parte narrativa, parte atmosfera, som intenso e imagem rica, a fórmula tem um apelo marcante na nova geração de realizadores de filmes e vídeo cuja experiência visual é preponderantemente a televisão.

As escolhas de montagem ajudam o realizador a obliterar tempo e espaço. Ao usar muitos close- ups e planos fechados ao invés de planos abertos, bem como o uso do primeiro plano sobre o fundo do quadro. (Dancyger, 2003, p.197).

Algumas pessoas criticam a montagem dos clipes, por ser rápida demais, com planos de curta duração e com um grande número de tomadas dentro do mesmo quadro. Como Arlindo Machado (2005, p.178) diz em seu livro, isso ocorre porque as imagens do clipe foram contaminadas pela sua trilha, convertendo imagem em música, numa calculada, rítmica e energética evolução de formas no tempo. O videoclipe busca também algo como uma nova visualidade, de natureza mais gráfica e rítmica do que fotográfica.

Segundo Machado, podemos considerar três grandes grupos de realizadores de videoclipe:

  • O mais primitivo: faz clipe promocional; apenas uma ilustração para uma canção já existente.
  • Realizadores vindos do cinema ou do vídeo experimental: junto com compositores e intérpretes ousados, transformaram esse formato de televisão num campo amplo e aberto para a reinvenção do audiovisual.
  • Músicos que além de compor e interpretar suas obras, também fazem a concepção visual de seus vídeos.

Esse último grupo está introduzindo mudanças fundamentais no conceito de clipe. Agora o vídeo passa a ser pensado dentro de um processo mais integrado de autoria, que inclui tanto a música quanto a iconografia. Em alguns casos, trechos das músicas podem ter sido compostos exclusivamente por causa de uma solução plástica, algum efeito visual preconcebido. O clipe não é necessariamente, algo que vem depois da música composta. Nesse caso ele faz parte do processo integral da criação. Agora imagem e som nascem juntos, as imagens se integram aos sons.

Linguagem artística 

O videoclipe é um produto desarmônico, no qual há elementos contemporâneos e expressões artísticas.  Atingiu tal poder, em termos de linguagem, que hoje exerce influência em outras mídias. No cinema, no telejornalismo, nas telenovelas, nos jogos de videogames, nos desenhos animados, etc.

Esta mídia desarmônica resume-se em imagens “recortadas” e não necessariamente duradouras, as quais são articuladas em certo ritmo. O efeito rítmico, movimentador da desarmonia, funciona dependendo da duração da imagem na tela e como ela se articula com a antecedente e subseqüente.

Por esses motivos que surgem cada vez mais acusações em relação aos videoclipes e seus diretores. Já foi dito inúmeras vezes que os clipes são meros produtos da ideia “o belo pelo belo”.

Porém, os videoclipes não tratam apenas de estética. Segundo Néstor Garcia Canclini, o videoclipe é um “elemento da contemporaneidade que presentifica a hibridização cultural”. É o que provoca a ruptura no conjunto fixo de arte-culta-saber-folclore-espaço-urbano. Juntamente às histórias em quadrinhos, videogames, e outros, o videoclipe, é responsável pela não hierarquização da cultura e pela banalização dos bens culturais simbólicos que se reconheciam até o momento como “intocáveis”. (CANCLINI, 1998: 174)

Partindo desses conceitos de ruptura, a partir do cruzamento entre as culturas erudita, popular e massiva, percebemos que o videoclipe é uma mídia transtemporal. Isto significa que ele representa o deslocamento, a convivência e a mistura de tradições, e principalmente, a renovação de regras simbólicas, que encontram formas novas na sociedade contemporânea.

Além da simples busca pela estética, há principalmente a busca pelo modo correto de causar determinada sensação no público e transmitir a mensagem desejada.

Com a análise do formato, vamos partir agora para a história do videoclipe, afinal, é necessário tomarmos conhecimento de como foi sua origem e seu desenvolvimento, para o compreendermos nos dias atuais.

CONTEXTUALIZAÇÃO HISTÓRICA

Os Precursores

           

Segundo Guilherme Maciel (2005, p.17), a primeira forma de juntar imagem e som, foi feita pelo cinema. Os filmes, que antes eram mudos, a partir do início do século XX, passaram a ter acompanhamento musical. Mesmo não sendo gravada no próprio filme, a música era sincronizada com as imagens e executada ao vivo por uma orquestra. Entretanto, a música era composta de acordo com as imagens projetadas, o inverso do que costuma ser feito com os videoclipes, que são feitos com base nas músicas já prontas.

Maciel ainda diz que nos anos 20, algumas apresentações de jazz começaram a ser gravadas em película, os chamados “soundies” ou “números filmados”. Já nos anos 40, os filmes da Disney já utilizavam a união sincronizada entre a música e o som, em seus desenhos animados.

Fora do cinema, havia os Scopitone jukeboxes, máquinas que executavam músicas e possuíam uma tela onde eram visualizadas algumas imagens, simultaneamente. Eles eram fabricados na França, mas eram mais encontrados nos Estados Unidos.

Na década de 50, foram feitos os primeiros filmes de rock’n’roll para jovens. Alguns estudiosos do "videoclipe musical" identificam cenas de Gene Kelly em Cantando na Chuva (de 1952) e Elvis Presleyem Jailhouse Rock(de 1957), como o início deste tipo de vídeo.

Os Beatles também começam a produzir peças musicais nessa mesma época e lançam o longa-metragem em animação “Yellow Submarine”. Logo após, outros artistas seguiram este exemplo e produziram mais algumas peças audiovisuais, que promoviam sua imagem e suas músicas. Estas eram veiculadas principalmente na programação televisiva dos Estados Unidos e Inglaterra.

Na década de 1970, os musicais também proliferam no cinema. Filmes como “Grease – Nos Tempos da Brilhantina”, “Os Embalos de Sábado à Noite” e “Abba – O Filme”, são exemplos de grande sucesso entre jovens. Como conseqüência, houve uma aproximação das indústrias cinematográfica e fonográfica, e alguns clipes com as trilhas dos filmes começaram a ser produzidos, promovendo a música e o filme ao mesmo tempo.

Enquanto isso, no Brasil, programas como “O Fino da Bossa”, de Jair Rodrigues e Elis Regina, os “Festivais da MPB”, vindos da TV Excelsior, e a “Jovem Guarda”, de Roberto Carlos tinham como objetivo divulgar a música brasileira. Todos esses programas eram transmitidos pela rede Record.

Em 1974, shows e musicais internacionais gravados eram atração no "TV2 Pop Show", na TV Cultura. Também em 1974, aGlobo lançou o "Sábado Som". Em 1975, pela Tv Rio, ia ao ar o programa "Top of the Pop", programa que existe até hoje. Em 1977 o "Panorama Pop" era atração na TV Tupi.

Essas produções eram feitas para serem exibidas em telões de boates, aberturas de shows, etc. Já o programa da Rede Globo, "Fantástico", ilustrava algumas músicas com performances, balés e histórias.

Em 1980, musicais infantis são introduzidas na programação da Rede Globo. Na faixa de programas surgem “Sexta Super” e o especial “Vinicius para Criança”, que acabou sendo mais conhecido pelo nome do álbum infantil que o inspirou: “A Arca de Noé”.

Em 1981, surgiu na TV Cultura o primeiro programa voltado exclusivamente para o videoclipe. Era o "Som Pop". Outras emissoras também fizeram programas do mesmo gênero, como a Bandeirantes, em 1983 com o programa "Super Special", a Manchete, com o "FM-TV", a Record com o "Video Clip Roll", e o "Clip Clip", na Rede Globo, todos no ano de 1984.

Alguns desses musicais já exibiam vídeos musicais ou videoclipes já com elementos de teledramaturgia. Muitos foram inspirados em filmes de grande sucesso, como os já citados “Grease - Nos Tempos da Brilhantina” e “Os Embalos de Sábado à Noite”.

E mesmo com tantos programas de videoclipes em emissoras diferentes da Rede Globo, as estreias ocorriam sempre no “Fantástico”. Isso permanece até o surgimento da MTV Brasil, canal que era dedicado exclusivamente à música e ao videoclipe. A rede Globo ainda tenta manter o monopólio dos videoclipes e fazer com que os eles continuassem estreando no “Fantástico”, mas não demora muito para a MTV tirar esse direito da grande emissora. Até hoje, clipes de alguns artistas, como Madonna, estreiam no “Fantástico”, mas logo depois já estão presentes na programação da MTV.

Música Alternativa

Segundo o site “Wikipédia.org”, o termo rock alternativo começou a ser usado na década de 1980, para definir gêneros musicais que possuíam influências do punk rock, mas não se encaixavam em nenhuma categoria presente na época.

Ainda segundo o site, de modo geral, o “alternativo” servia para classificar a maior parte dos gêneros surgidos na década de 1980 e que se tornaram conhecidos apenas na década seguinte. Dentre estes gêneros estão principalmente: o “indie rock”, o “college rock”, o “post-punk” e o “rock gótico”.

A música alternativa é lembrada sempre como uma nova vertente do rock, porém, elementos de folk, jazz, música eletrônica e reggae também são encontrados. É comum a comparação entre bandas ou artistas pertencentes ao gênero alternativo. Existem muitos exemplos de diferenças, e não de semelhanças, entre eles. Isto porque a música alternativa pode ser definida como qualquer som que se aproxime do rock, mas que não se enquadrou em nenhuma vertente desse estilo musical, podendo ter ou não características de outros gêneros musicais.

A música alternativa costuma ser caracterizada pela mistura de sons, influências e até mesmo pela quebra de padrões na forma de execução, ou seja, com o uso de diferentes instrumentos, escalas, cadências, métricas, etc. Geralmente os artistas do meio alternativo gostam de ousar em suas composições (tanto na música em si, como também nas letras) e até mesmo no próprio visual.

Há uma forte relação entre o alternativo e a independência da indústria fonográfica. Muitas vezes o principal meio de divulgação e venda de seus produtos (música, álbuns, videoclipes, etc) é através da internet. E é por este motivo, independência entre banda e mercado, que freqüentemente bandas independentes são rotuladas como “alternativas”.

 O Videoclipe Atualmente

Desde seu nascimento até os dias de hoje, o videoclipe mudou muito. As tendências estilísticas e conceituais já não são mais as mesmas do início do videoclipe. Aquela velha história de que o clipe é construído em cima da imagem glamorosa de determinado artista ou banda, vai aos poucos sendo superada e substituída por um tratamento mais livre da iconografia.

O videoclipe, entretanto, pode dispensar inteiramente o suporte narrativo e o seu público já está preparado para aceitar imagens sem nenhum significado imediato, sem qualquer denotação direta, sem referência alguma no sentido fotográfico do termo, desde que o seu movimento seja harmônico com o da música. (Machado, 1988, p. 170)

Como diz Machado (1988), não há necessidade de existir uma ligação direta entre a narração e as imagens. O vídeo em si, não precisa obrigatoriamente transmitir o que diz a letra da música. É necessário apenas que a linguagem esteja em harmonia com a canção, em termos de som e ritmo.

Atualmente, há uma liberdade maior na criação de ideias e histórias no videoclipe. O que antes era visto apenas como uma forma de se comercializar artistas tornou-se, em muitos casos, um exemplo de expressão artística. O videoclipe está deixando de ser um simples adendo figurativo à música, e está se tornando uma estrutura moto-visual de natureza musical.

Além disso, há hoje muito mais recursos para a produção, pós-produção e finalização. A qualidade de vídeo e imagem melhora cada vez mais. Com a criação da TV digital, em um futuro breve, será possível ver os videoclipes veiculados na TV com uma qualidade de imagem muito superior a que estamos acostumados.

Apesar de ainda não chegarem aos altos custos de produções cinematográficas ou programas de TV, os videoclipes passaram a ser mais caros, por ter produções maiores dos que os de antigamente. Sendo um dos principais produtos da indústria fonográfica, é muito importante para promover os artistas e colocá-los na mídia.

“Outra tendência importante do atual videoclipe é o abandono ou a rejeição total das regras do “bem fazer” herdadas da publicidade e do cinema comercial. O que vale agora é a energia que se imprime ao fluxo audiovisual, a fúria desconstrutiva e libidinosa que sacode e dissolve as formas bem definidas impostas pelo aparato técnico. (...) Em lugar da competência profissional ou da mera demonstração de um bom aprendizado das regras e truques do feudo audiovisual, agora presenciamos o retorno a um primitivismo deliberado, à imagem “suja”, mal iluminada, mal ajustada, mal focada e granulada, o corte na rebarba, a câmera sem estabilidade e sacudida por verdadeiros terremotos, todas as regras mandadas para o vinagre e todo o visível reduzido a manchas disformes, deselegantes, gritantes, inquietantes.” (MACHADO, 2001, p.177)

Os videoclipes são cada vez mais inovadores, tanto em efeitos especiais, fotografia e direção de arte, como também nas demais expressões, na dramaturgia e na elaboração de conceitos. Alguns exemplos citados pelo próprio Machado (2000) são: Milk e Stupid Girl da banda Garbage, Fredom, Bulls on Parade e People of the Sun da banda Rage Against the Machine, e Left of Reckoning e Driver 8 do R.E.M.

 “Numa época de entreguismo e de recessão criativa, o videoclipe aparece como um dos raros espaços decididamente abertos a mentalidades investidas, capaz ainda de dar continuidade ou novas conseqüências a atitudes experimentais inauguradas com o cinema de vanguarda dos anos 20, o cinema experimental dos anos 50-60 e a videoarte dos anos 60-70”. (Machado, 1998, p. 173)

           

No videoclipe não há restrições em relação à linguagem artística. Seus criadores sentem-se livres para experimentar, inovar ou seguir modelos diferentes dos tradicionais. Hoje, o público que assiste aos clipes não espera um vídeo dentro dos padrões televisivos, com enquadramentos já pré-definidos e sem muitas novidades; ao contrário, esperam algo que se aproxime mais da linguagem cinematográfica, com uma liberdade maior de criação e efeitos visuais.

Com o tempo, o videoclipe além contar com maiores produções, começa a ser realizado, também, por cineastas. Nomes como Martin Scorsese, Spike Lee, David Lynch, Brian de Palma e Riddley Scott são exemplos dos que já se aventuraram no mundo do videoclipe. Outros diretores começaram pelo videoclipe e depois migraram para outras obras audiovisuais. No Brasil podemos citar Éder Santos (realizou clipes para Uakti, Câmbio Negro e Milton Nascimento), Sandra Kogut (fez clipes para Fausto Fawcett, Ed Motta e Fernanda Abreu), Walter Silveira (clipes para Gang 90 e as Absurdettes) e Tadeu Jungle (que realizou um clipe para Arnaldo Antunes).

Mas mesmo com toda essa preocupação em torno dos videoclipes, alguns artistas insistem em não produzir ou então aparecer o menos possível em seus clipes, substituindo performances da banda por imagens abstratas ou dramaturgia apenas. Isso porque não concordam em comercializar de forma exagerada suas músicas, indo contra as vontades das gravadoras. Eles crêem ser desnecessário um clipe para divulgar seu trabalho, ou até mesmo como uma decisão estética intencional. Alguns exemplos de bandas que seguem ou seguiam esta linha são: Pink Floyd e New Order.

Em alguns clipes os intérpretes nem estão presentes, ou suas imagens são utilizadas de forma discreta, como se fossem personagens secundários dentro do vídeo. Isso tem possibilitado um salto qualitativo no tratamento visual dos clipes e ao mesmo tempo permitido que a imagem seja trabalhada como textura, tapeçaria cromática e sofra a mesma interferência ou processamento que já ocorre na música. O videoclipe passa a ser agora encarado como uma forma autônoma, na qual podem praticar exercícios audiovisuais mais ousados. (Machado, 2005, p. 176)

A Proliferação nos Diversos Meios de Comunicação

Os videoclipes nasceram e transformaram-se em um sucesso na televisão, tanto que se gerou um costume de relacionar os videoclipes à própria TV (o que acontece não somente com os videoclipes, mas com todo outro tipo de programa televisivo). Era comum assisti-los em canais ou programas específicos, ou até mesmo inseridos na programação de canais “convencionais”.

Contudo, com a evolução da tecnologia o videoclipe chegou com força total na Internet, nos sites de compartilhamento de vídeo, acolhendo o público da MTV e dos programas de música existentes na televisão.

Devido às novas mídias, os videoclipes podem ser ainda mais difundidos agora do que na época em que só estavam presentes na televisão. A internet está presente em quase todos os lugares; e os celulares e aparelhos como o Ipod, que armazenam vídeos, fazem com que clipes sejam vistos com mais facilidade e freqüência.

REFERENCIAL BIBLIOGRÁFICO

 Teses

MACIEL, G. Hibridismo e intertextualidade: aparições da televisão nos videoclipes. Faculdade de Comunicação Multimídia, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2005. 138 páginas. Tese (Pós-Graduaçãoem Comunicação Social)

SCHARF, M. A linguagem do videoclipe: decifrando o código secreto dos jovens. Faculdade de Comunicação Multimídia, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2005. 127 páginas. Tese (Pós-Graduaçãoem Comunicação Social)

REIS, J. Isto não é TV, é MTV: linguagem da MTV brasileira. Faculdade de Comunicação Multimídia, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 2006. 114 páginas. Tese (Pós-Graduaçãoem Comunicação Social)

ARONCHI de Souza, José Carlos. Gêneros na televisão brasileira : Um estudo da programação. Faculdade de Comunicação Multimídia, Universidade Metodista de São Paulo, São Bernardo do Campo, 1997. 170 páginas. Tese (Pós-Graduaçãoem Comunicação Social

Livros

MACHADO, Arlindo. A arte do vídeo. São Paulo : Editora Brasiliense, 1988. 225p.

MACHADO, Arlindo. A televisão levada a sério. 4ª edição. São Paulo: ENAC, 2005. 244p.

MACHADO, Arlindo. Maquina e imaginário: o desafio das poéticas tecnológicas. 2ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo,1996. 313p.

XAVIER, Ricardo. Almanaque da TV. Editora OBJETIVO, 2000. 285p.

DANCYGER, Ken. Técnicas de Edição em Cinema e Vídeo: história, teoria e prática. Rio de Janeiro: Elsevier, 2003. 624p.

CANCLINI, Néstor. Culturas Híbridas: Estratégias para entrar e sair da modernidade. 2ª edição. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 1998. 392p.

Textos e Artigos

PONTES, Pedro. A linguagem do videoclipe e as questões do indivíduo na pós-modernidade. Porto Alegre. Nº 10. 2003

COELHO, Lílian. As relações entre canção, imagem e narrativa nos videoclipes. Belo Horizonte. 2003

SOARES, Thiago. Videoclipe: O elogio da desarmonia. 2004

VERAS, Christine. O Gênero Musical Reinventado. 2007

SALLES Jr., Walter. Vídeomakers ou a nova desordem da Imagem. Folha de São Paulo, 5.10.1985, Folha lustrada.