Preciso sair daqui!
Chego até a janela; preciso respirar! Pois o ar presente entre essas quatro paredes não é o suficiente para me manter viva.
Chamo pelo vento meu amigo inconstante, enquanto seguro as grades da janela.
Há tanto, tanto tempo tenho grades na janela!
Lembro de um tempo onde elas não existiam e eu não pensava em fugir. Mas fugir de que?
Naquele tempo queria ficar, acreditava que tudo que queria e precisava estava ali.
Ah! As ingenuas certezas da juventude!
Tinha força e coragem para sair e começar de novo, quantas vezes fossem necessarias.
Poderia voar, experimentar o mundo, a vida, provar o sabor de tudo e todos, mas não quis sair.
Hoje, num repente notei as grades na janela.
Não sei como surgiram. Talvez tenham sido criadas lentamente pela vida, para que eu pudesse ir me acostumando á elas .
Hoje, quero fugir, me libertar, recomeçar, mas não consigo! Tenho grades nas janelas.
Quem sabe, talvez, as tenha tambem em meu coração!
Por isso chamo pelo meu amigo, o vento e peço a ele que, com sua força e sua sabedoria divinas, de quem conhece a tudo e a todos, que me encontre, me envolva, me transpasse.
Que leve para o nada todo o mal que me envenena e quando, numa segunda lufada ele vier, que deixe pulsando e impregnado em meu coração, toda a coragem, beleza, força, saude e alegria.
Que me desperte o amor, a generosidade, a magia e a sabedoria.
Vento! Vento! Vento! Traz de volta minhas mulheres! Todas elas!
Que volte minha bruxa e minha fada!
A curandeira e a parteira!
A jardineira e a cozinheira!
A mãe e a filha!
A esposa e a amante!
Que voltem sem demora, a santa e a meretriz!