O velho banco

Para muitos era apenas um velho banco.
Rústico, sem pintura, armado em cima de três cepos de mulateiro.
As pessoas que nele se assentavam não percebiam que o banco havia sido assentado em cima de três cepos de mulateiro.
Do lado esquerdo do banco havia um pé de cajueiro.
Do lado direito havia um pé de goabeira, meio embolado com um pé de tamarineiro.
Poucos metros adiantes do banco, como que a escorar o barranco,
havia um pé de mulateiro. 
Cheio de graça, o mulateiro esbanjava vida.
Bem-te-vis, sabiás, pipiras e sanhaçus, depois de se alimentarem de cajus, goiabas e pequenos insetos que grassavam na vegetação à beira do rio, abrigavam-se de tardezinha nos galhos do mulateiro. 
Japiins, bicos de brasa, galos campinas e até pula barranco, vez por outra, também pousavam nos galhos altos do mulateiro. 
Virando a cabeça dava pra vê do banco as casas comerciais construídas de frente pro rio,
Onde hoje se sobressaem, revitalizadas, no chamado centro histórico.
Em frente ao banco corre o rio.
Sentado naquele velho banco a vi pela primeira vez.
Morena, baixinha, cabelos negros, escorridos nos ombros, seguia faceira.
De tanto admirá-la um dia ganhei dela um olhar...
N’outro dia, ela, vestindo um modelinho estampado, tipo jardineira, passou novamente naquele lugar e a mim dedicou outro olhar, mais demorado...
Numa bermuda branca de puro jeans, combinada com uma camisa amarela, de puro linho, de frisos pretos nas mangas, e belos sapatos pretos, tipo mocassim, alimentava a esperança de dela ganhar um novo olhar.
Impaciente, virava a cabeça, mas não a via...
De repente senti uma mão tocar suavemente o meu ombro,
Passei as mãos rapidamente sobre o assento do banco tentando limpá-lo e em meio a um súbito nervosismo a convidei a sentar-se.
Então vi estampar-se no rosto dela o mais lindo sorriso, enquanto se acomodava delicadamente ao meu lado.
Num lampejo da mais tênue ousadia, convidei-a para irmos ver um filme, no cine Rio Branco, onde Christopher Atkins e Brooke Shields, adolescentes, exibiam-se em "A Lagoa Azul”, tornando o ambiente do cinema desafiadoramente estimulador...
Nossas mãos se entrelaçaram e nossas bocas se aconchegaram num beijo suave.
O filme já não importava mais...