O USO DO CINEMA NA SALA DE AULA

* Luciette Gomes Amorim


RESUMO
O presente ensaio propõe um novo olhar para a realidade educacional por meio do cinema que se revela de forma desconhecida e independente, já que estamos diante de um contexto dominado por imagens é necessária a diversificação de linguagens por nossos educadores a fim de potencializar o ensino,o cinema com arte será aliado da educação a fim de formar sujeitos.Deste modo se não sabemos que não vamos solucionar mas de certa maneira amenizaremos uma das maiores preocupações a falta de estímulos em crianças e jovens na escola, nas salas de aula principalmente quando elas são de história .O professor deve adotar o cinema como fonte de saber histórico, elementos que refletem sensibilidade, racionalidade, estão ali inseridos assim como a socialização compartilhada na troca de informação nos debates estabelecidos.


Palavras-Chave: Sala de aula, Escola, Cinema, Ensino de história.


É observável o grande impacto do cinema e o seu poder na transmissão de idéias, diante desta função ele é para o historiador, professor de história um recurso não mais marginal. Deste a revolução dos Annales a historiografia incorporou a importância da diversificação das fontes ampliando assim seu campo de investigação, criticando a história factual, é então nesta circunstância que ele adquire status de objeto de analise histórica. O documento não é mais somente o escrito, oficial a palavra ganha um sentido mais amplo de modo que a imagem, o som passam agora a serem validos como registros. A historiografia caminha por outro viés onde os grandes personagens e fatos não são mais centrais, abrem-se espaços para uma "Nova História" e novas abordagens.
A iconografia deve ser criticada juntamente com o contexto no qual estava inserida já que esta não está imune a manipulações ideológicas e é produto da sociedade, da época que a produziu é de suma importância está atento a este detalhe. Quando refiro-me ao cinema é no sentido mais amplo filmes de ficção, documentários e que como novos objetos de pesquisas requerem novas técnicas de analise. Dois importantes cineastas russos Dziga Vertov e Serguei Esenstein ainda na época do cinema mudo empenharam-se em refletir sobre a natureza da imagem cinematográfica e por esse debate passa a idéia de filme como construção de uma realidade e não como fiel representação desta.
O filme tem um valor histórico, pedagógico isto é inegável. É neste contexto que ele passa a ser analisado muito alem do fator estético ou do entreterimento, mas sim como deixa explicito Marc Ferro um possível agente da história. De acordo com Napolitano (2005) o cinema é um vasto campo onde são sintetizados a estética, o lazer, os valores sociais mais amplos. Divertimento, arte, documento há quem diga que ele distorce a realidade, mas há também quem aposte no seu poder de mudar ou criar outra realidade, Não se pretende com ele debater a fidelidade dos fatos transmitidos, se eles estão ou não reconstituídos de forma correta, mas sim refletir sobre um dado acontecimento, sobre temáticas que estão explícita ou implicitamente ali expostos. Desde sua invenção pelos Irmãos Lumière no final do século XIX são inúmeros os temas por ele abordados políticos, filosóficos, científicos, sociais, culturais entre outros. Portanto fica evidente que a linguagem e o conhecimento por eles abordados devem ser usados no ensino de história para a melhor formação do sujeito e como qualquer outro artifício usado na formação histórica ele também exige uma preparação teórica.
Filmes que compõem o cinema novo movimento datado da década de sessenta são um bom exemplo para ratificar o que foi dito anteriormente, o filme deve ser analisado com o contexto que o produziu , faz nos refletir sobre um dado acontecimento, traz alguma denuncia, são inúmeros os aspectos que devem ser levados em conta deste o movimento da câmera, os vários ritmos que compõem as imagens estáticas ou não, o som e etc. Com esta função didática ele ainda encontra resistência seja por parte do professor ou da instituição, dificuldade no uso das tecnologias ou da falta destas, pois sabe-se que o sistema educacional brasileiro passa por uma crise e que muitas escolas não possuem nem mesmo cadeira para acomodar os alunos que dirá uma TV .Há uma desmotivação e cientes estamos que esta crise não será resolvida somente com o uso deste recurso.
Contradição ou não vivemos em um mundo virtual e que se modifica constantemente, novas formas de comunicação surgem e o professor passa a ser mediador do conhecimento que era seu privilégio no ensino tradicional, entretanto este modelo já não se adapta a nossa realidade, é necessária uma revolução no modo de ensinar a história que para muitos alunos se torna completamente inútil, é preciso que o currículo se ajuste a essa nova condição. Os recursos áudios visuais usados corretamente darão ao ensino de história a eficácia que ele deve ter, para tanto é preciso vincular este ao real, ao nosso presente, dar-lhe utilidade, como escreve Walter Benjamim "a História esta sempre no devir", não é algo inerte cheio de nomes e datas, não é um campo onde as coisas estão ordenadas, ao contrário elas se movimentam e estas mudanças não estão necessariamente ligadas umas as outras. Ao admitir este novo elemento na sala de aula estamos contribuindo para o rompimento com o sistema dito tradicional.
Mas é preciso está alerta e logo nos perguntamos: Quais os filmes seriam indicados para desenvolver um bom trabalho na sala de aula?Neste caso faz-se necessário uma reflexão sobre os objetivos que pretendem ser alcançados, quais serão os possíveis debates ou indagações que poderão surgir, qual o publico alvo? Obviamente a disciplina é história contudo não se deve privilegiar somente filmes históricos mas também aqueles que expõem outras temáticas.Lembro-me de Tempos Modernos de Charles Chaplin com uma temática social que incita o pensar sobre o mundo moderno ,industrial ,cada vez mais mecanizado .Contudo é preciso planejamento do mesmo modo que relação entre o conteúdo preparado para a aula e filme para que este não se torne uma mera ilustração .
Percebe-se o cinema com o papel educativo, motivador das aulas que pode ser usado tanto no ensino fundamental quanto no médio. Levá-lo a sala de aula não é tarefa fácil caso o objetivo não seja compreendido, a atividade que deveria ser prazerosa acabará desmotivando o aluno deixando-o traumatizado com as aulas de história que o professor intelectual exibe filmes que para ele não tem sentido algum.O docente assumirá o papel de mediador ,afinal o recurso não fala por si só,propondo reflexões mais ambiciosas para que desta forma o aluno expectador tenha a possibilidade de torna-se crítico.Está didática tem o dever de provocar o entusiasmo , a interpretação ,o desejo de descobrir sempre mais, aprimorar seu olhar sobre o mundo, as vivências sendo assim haverá o cuidado da seleção optando por conteúdos que não agridam valores culturais , morais , religiosos ou que se deixem levar pelo etnocentrismo.
O cinema não é ingênuo desta forma nós também não devemos ser, a prática desta linguagem nos dará base para lermos todos os seus elementos e interpreta-los da melhor forma possível.Usar esta metodologia no processo educativo implica em sensibilizar os alunos desenvolvendo nos mesmos novas formas de refletir sobre o mundo que não está somente nos livros didáticos o qual estamos acostumados ou acomodados .Muita coisa já mudou, isto é fato, mas falta ainda a possibilidade , liberdade não só de integrar o cinema na escola como também a música ,o teatro enfim a arte em geral .Entendemos destas forma o filme como ambíguo já que para os professores ele faz parte ou é parte do material preparado para aula enquanto para os alunos em seu cotidiano está associado a diversão .Cabe então aproveitarmos este potencial para estimularmos o ensino ?aprendizado O gosto pelo cinema será o ponto de partida para o sucesso iminente .

Considerações Finais

Mas não nos empolguemos apesar de todo o seu potencial nem todas as aulas são compatíveis com este recurso, seu uso exagerado ao invés de enriquecer acaba sendo impertinente. Concluindo, então vale a pena ressaltar que o vídeo dá significado, em sintonia com as aulas ele ilustra, aproxima situando os alunos de ambientes nunca antes visitados. A interdisciplinaridade tão almejada no currículo seria alcançada através de suas múltiplas abordagens. Para viabilizar a formação destes sujeitos históricos vale o uso deste recurso mostrando que a experiência histórica é muito diversa e vai além de nomes, datas, fatos, grandes personagens contidos nas páginas do livro como queria a História Positivista. Destaca-se a cinematografia como uma parceira que nós futuros professores possemos andar de mãos dadas neste árduo cominho que se tornou o ensino brasileiro.


*Estudante do IV semestre do curso de História da Universidade do Estado da Bahia UNEB-CAMPUS IV - Jacobina



BIBLIOGRAFIA

BENJAMIM, Walter. Obras escolhas. Vol.1. Magia e técnica, arte e cultura. Ensaios sobre literatura e história da cultura. São Paulo: Brasiliense, 1987, p.222-232.

FERRAZ, Liz de Oliveira Motta. História e Câmera: Luz câmera e transposição didática. Publicado na Revista Eletrônica O Olho da História. n9, ano12,Salvador, dezembro2006

FERRO, Marc. O conhecimento histórico, os filmes, as mídias. In: Revista Eletrônica O Olho da História. Disponível em www.oolhodahistoria.ufba.br

NAPOLITANO, Marcos. Como Usar o Cinema na Sala de Aula. 2ª ed. São Paulo: Contexto, 2005.

ROCHA, Glauber. "Uma Estética da Fome". Arte em Revista (AnoI/NumeroI) na edição de janeiro/Março de 1979.

KORNIS, Mônica Almeida. Historia e cinema: um debate metodológico. Estudos Históricos. Rio de Janeiro, v.5, n10, p.237-250, 1992.

FILME: Tempos Modernos (Modern Times, EUA 1936)Direção: Charles Chaplin, 87 min. preto e branco, Continental.