O Uso da Pesquisa Virtual e seus Efeitos sobre os Estudantes Universitários

 

Diego Gianni

Faculdade Facinter, Curitiba / PR

RESUMO

O artigo tem como objetivo analisar o uso que os universitários fazem da internet para pesquisas referentes a trabalhos acadêmicos.  Com que freqüência os estudantes recorrem aos sites de busca e com quais objetivos? Por meio de uma pesquisa empírica e também estudos referentes às disciplinas de Sociologia Contemporânea; Pesquisa Jornalística; Comunicação e Linguagens, pretendemos com este artigo estudar de que forma a ferramenta virtual agrega para a atual geração de universitários curitibanos. A internet como ferramenta de acesso as informações é mal quista ou enaltecida por diversos autores, alguns deles apresentados no decorrer deste trabalho científico. A discussão aqui apresentado parte do princípio que a possibilidade multimidiática proporcionada pela web alterou o status quo daqueles que têm acesso a essa ferramenta e, sendo assim, utilizam como meio de pesquisa uma cyber esfera munida de informações. Partindo desse pressuposto, este artigo propõe trazer uma reflexão do contraponto existente entre a informação e o conhecimento, bem como o papel do estudante na condição de estabelecer seus objetivos antes de partir para a pesquisa online. A utilização da web como meio de pesquisa pode, a priori, alcançar resultados positivos ou negativos, dependendo do intuito do pesquisador. A circulação virótica de informações da internet podem, supostamente, acarretar em uma relação ainda mais delicada entre o que é informação e o que é conhecimento.  

 

 

PALAVRAS-CHAVE: Jornalismo; Internet; Pesquisa; Universitários; Conhecimento.

Introdução

 

A possibilidade multimidiática da web resultou em mudanças muito significativas na forma das pessoas se comunicarem, seja pela transmissão, receptação de mensagens e a interação como um todo. Giovanni Sartori, no livro Homo videns – televisão e pós pensamento, dedica parte de seu artigo para discorrer sobre a interatividade que a internet proporciona. Sobre essa questão, o autor faz uma crítica negativa. Na opinião dele, “os profetas do mundo digital fingem não perceber que as interações na rede não substituem as verdadeiras interações”.

Para Sartori, essa interatividade proporcionada pela web é empobrecida e remete as pessoas à falsa sensação de que elas não estão sozinhas diante do teclado do computador. 

“Compartilhamento” é uma palavra chave quando analisamos a interatividade cibernética. No âmbito pessoal, as pessoas compartilham conversas informais por meio das redes sociais. Também compartilham músicas, filmes, livros em PDF, seriados de televisão, entre outros.

Da mesma forma, no campo acadêmico e profissional os internautas compartilham teorias e conhecimento em geral: artigos acadêmicos; monografias; teses; artigos de todos os campos profissionais e troca de informações.

Esse conjunto de fatores possibilitados pelo compartilhamento influencia no comportamento daqueles que tem acesso à esfera online. Muitos teóricos da sociologia não acreditam que a internet (sob a análise do atual quadro da sociedade brasileira) seja um veículo de comunicação de massa, sendo que em torno de apenas 10% dos brasileiros possuem rede de internet em seus domicílios – considerando também, dentre os que não possuem, aqueles que acessam a internet por meio das lan houses.

Por ser uma discussão muito ampla, o foco deste artigo está sobre os estudantes universitários. Pesquisar conteúdo para trabalhos acadêmicos usando sites de busca tornou-se algo intrínseco. Até mesmo os blogs, que foram criados com o propósito de

serem “diários virtuais”, hoje se mesclam ao webjornalismo e adquirem muito das teorias que foram criados para os meios impressos e televisivos. Existe uma discussão entre os comunicólogos a respeito da pesquisa virtual resultar em uma geração que tanto pode ser mais preparada, quanto detentora de um conhecimento que tende a ser fragmentado, quando não impreciso e errôneo – caso o pesquisador não estabeleça uma boa filtragem de busca.

Teóricos da comunicação que se opõe ao uso (muitas vezes) exclusivo que as pessoas fazem da internet para pesquisas, argumentam que a facilidade em pesquisar pela internet tirou de muitos o aprofundamento sobre os mais variáveis temas.

Com base nessa discussão e no que a interatividade da web proporciona, analisamos empiricamente os objetivos dos estudantes universitários em utilizar dos sites de busca para pesquisas e estudos, bem como colocamos em discussão se o resultado de tais pesquisas por acessos virtuais resulta em um conhecimento fragmentado ou não – na percepção dos estudantes entrevistados.

A Geração Que Não Quer Esperar

 

Podemos observar inúmeros exemplos de como a evolução da tecnologia e dos meios de comunicação alterou o comportamento dos jovens.

André Lemos, professor da Universidade Federal da Bahia, escreve em seu estudo (Cibercultura Remix, 2.002) sobre a velocidade da troca de informações propiciada pela internet e o comportamento sociocultural:

“As diversas manifestações socioculturais contemporâneas mostram que o que está em jogo com o excesso e a circulação virótica de

informações nada mais é do que a emergência de vozes e discursos, anteriormente reprimidos pela edição da informação pelos mass

média. Aqui a máxima é “tem de tudo na internet”, “pode tudo na internet”.

Neste mundo de hoje, veloz, ágil e globalizado, as pessoas que dispõe da internet estão cada vez menos acostumadas a “esperar”. Não faz parte do comportamento dessas pessoas, por exemplo, assistirem os intervalos comerciais de um programa de rádio e televisão. Tudo deve ser imediato, instantâneo, de um link para o outro, “na hora que a pessoa quiser”.

O mesmo ocorre no campo acadêmico. Conforme apresentaremos ao final deste artigo com as resultantes de nossa pesquisa, os estudantes aproveitam o recurso da web para economizar o tempo que gastariam selecionando livros em bibliotecas.

Podemos aludir que a internet é a maior enciclopédia do mundo, no sentido de que há nela um armazenamento gigantesco de informações compartilhadas. Seguindo a linha de pensamento do pesquisador André Lemos, os estudantes tem acesso ao conteúdo que quiserem, na hora que desejarem, filtrando as informações que lhes servirem da forma mais apropriada.

A questão das informações resultantes de pesquisas feitas pelo web serem “fragmentadas” e de “pouco aprofundamento” não nos parece válida, sobretudo pelos resultados de nossa própria pesquisa feita com os universitários. E é com esse embasamento que no tópico a seguir apresentamos nossa defesa do uso dos sites de busca para pesquisas acadêmicas.

Filtragem das Informações

Primeiramente, teceremos nestas próximas linhas um argumento contrário aos que creditam aos sites de busca dois fatores negativos: a informação pode induzir o receptor ao erro; a informação tende a ser fragmentada.

Em relação à informação recebida pela web induzir o receptor ao erro, tomemos como exemplo uma biblioteca comum, com seus livros impressos, jornais e revistas jornalísticas. Dentre todo o seu material, também há uma quantidade X de informações que se contradizem umas com as outras. Como exemplo atual e evidente, podemos fazer referência a duas revistas jornalísticas (que pela teoria deveriam ser imparciais, contudo o material informativo que produzem constatam o oposto disso): nestas eleições de 2.010 para a presidência da república, a revista Veja publicou matérias de capa que iam contra a campanha eleitoral de Dilma Rousseff, conquanto a revista IstoÉ - em edição do mês de outubro deste mesmo ano - chegou a apresentar uma capa similar a da revista Veja, porém contra o candidato José Serra.

O exemplo dado serve para argumentarmos que a informação em si, jornalística e/ou histórica, muitas vezes tende a ser parcial (dependendo dos interesses ou simplesmente da ideologia das pessoas que trabalham para determinado veículo de comunicação). Cabem aos leitores de livros, jornais e revistas, assim como os telespectadores da televisão e os ouvintes de rádio, terem a percepção dessa falta de imparcialidade das informações que são remetidas.

Giovando Marcus Ferreira, professor da UFES, escreveu sobre a comunicação pelo viés do paradigma da sociedade de massa: “a influência dos meios midiáticos não reside na maneira como eles fazem o público pensar, mas sim no que eles fazem o público pensar”.

Esta é uma das vantagens que apresentamos em prol do uso dos sites de busca para pesquisas: o público é quem vai atrás das informações, público este que pode se direcionar para vários sites que envolvem o mesmo tema. Os web usuários devem então filtrar e refletir sobre o conteúdo acessado, e para isso, no caso dos estudantes universitários, há a orientação de seus professores acadêmicos. Tais professores direcionam o aluno exatamente para o que ele deve buscar na internet: a versão digital de algum livro, um artigo científico específico, etc. Quando o tema é aberto e o estudante é quem decide por conta própria recorrer aos sites de busca como meio de pesquisa, é papel dele apurar as informações e analisar o que é confiável ou não – como deve ser com todos os meios de comunicação.

 

Conhecimento Fragmentado

A internet é muito mais do que um brinquedo. Evidente que ela nos causa deslumbramento pelo entretenimento que proporciona – como quando no surgimento de invenções como o rádio e a televisão -, a julgar pela multiplicidade de interação e a união de todos os meios midiáticos proporcionados pela web.

Sobre essa junção de todas as linguagens da comunicação em um único veículo, o catedrático da sociologia Manuel Castells escreveu em seu livro “A sociedade em rede”:

“A integração potencial de texto, imagens e sons no mesmo sistema interagindo a partir de pontos múltiplos, no tempo escolhido (real ou atrasado) em uma rede global, em condições de acesso aberto e de preço acessível – muda de forma fundamental o caráter da comunicação. (...) Como a cultura é determinada pela comunicação, às próprias culturas, isto é, nossos sistemas de crenças e códigos historicamente produzidos são transformados de maneira fundamental pelo novo sistema tecnológico e o serão ainda mais com o passar do tempo”.

 

A geração que nasceu neste terceiro milênio tende a achar natural usar dos recursos da internet para trabalhos escolares, bem como pessoas que nasceram em décadas anteriores - e se habituaram ao usa da net para diferentes finalidades -  vêem na internet uma invenção totalmente necessária para suas vidas (a máquina como extensão do homem). São pessoas que se tornaram dependentes da internet, no sentido de que estruturaram suas rotinas com a integração online. O uso da web para fins estudantis e acadêmicos tende a ser crescente, intrínseco e natural.

Descrito isso, a segunda e mais forte crítica existente contra os sites de busca é a de que o conhecimento adquirido tende a ser fragmentado. Mas o que de fato significa saber profundamente sobre determinado assunto? Por acaso a informação recebida de qualquer outro meio de comunicação também não pode resultar em fragmentação de conhecimento?

Por ser a internet uma conexão de redes interligadas mundialmente, podemos refletir que o papel da filtragem dos pesquisadores internautas deve ser mais apurado. Porém, simultaneamente, o acesso que as pessoas conectadas dispõem sobre qualquer assunto é imensamente maior e é acessado quando elas bem desejarem. O conhecimento inserido na web é resultado de uma multiplicidade de pensamentos e teorias. Redes sociais como o Twitter colocaram os “não formadores de opinião” no papel de poderem expor suas opiniões pessoais ou profissionais, algo que muito dificilmente conseguiriam em outras mídias.

Há, portanto, uma “inteligência coletiva”, termo cunhado pelo ciberteórico francês Pierre Lévy. Sobre isso, Henry Jenkins (professor de Ciências Humanas e fundador do programa de Estudos de Mídia Comparada do MIT – Massachusetts Institute of Technology), no livro “Cultura da convergência”, escreveu que:

“ Nenhum de nós pode saber tudo; cada um de nós sabe alguma coisa; e podemos juntar as peças, se associarmos nossos recursos e unirmos nossas habilidades. A inteligência coletiva pode ser vista como uma fonte alternativa de poder midiático. Estamos aprendendo a usar esse poder em nossas interações diárias dentro da cultura da convergência. Neste momento, estamos usando esse poder coletivo principalmente para fins recreativos, mas em breve estaremos aplicando essas habilidades a propósitos mais “sérios”.

 

Googlers, Os Novos Pesquisadores

Como parte essencial deste artigo, apresentamos neste tópico uma pesquisa relacionada à nossa temática (o uso da ferramenta virtual e seus efeitos sobre os universitários). Elaboramos um questionário com perguntas abertas e fechadas relacionadas ao uso que os universitários fazem do principal site de busca existente da atualidade (Google). Foram entrevistados vinte estudantes universitários curitibanos que cursam Comunicação Social na Faculdade Facinter, com faixa etária entre 18 e 25 anos.   

Focamos nossa pesquisa com base nas seguintes indagações: qual o meio de pesquisa mais usado do entrevistado para trabalhos acadêmicos (livros impressos ou internet); no caso de preferência pelo Google como meio de pesquisa, qual a motivação para tal; se há no entrevistado uma preocupação sobre a confiabilidade dos sites direcionados pelo Google; se quando há interesse pelo assunto pesquisado, o entrevistado acessa links relacionados ao tema original de sua pesquisa; e por fim, qual a percepção que o entrevistado tem sobre o Google em termos de agregar ou restringir conhecimento, cultura, inteligência, saber.

Analisando os resultados, obtivemos como resposta que 90% dos estudantes entrevistados preferem à pesquisa virtual para realizarem suas pesquisas acadêmicas. Dentre essa porcentagem quase unânime, 80% usam exclusivamente a internet para pesquisas sempre que possível, enquanto 20% também preferem buscar auxílio em livros impressos, jornais, revistas, rádio ou televisão.

A principal motivação desses estudantes para o uso do site de busca é a praticidade e facilidade para pesquisar sobre qualquer tema solicitado pelos professores. Entre os entrevistados, 70% deles mostraram preferência de (quando possível) ter acesso a livros e artigos científicos em arquivo PDF – no lugar dos impressos disponíveis na biblioteca da faculdade em que estudam.

80% dos estudantes entrevistados relataram ter o zelo de pesquisar em sites confiáveis – no caso, quando não há um site específico previamente direcionado pelo (a) professor(a) para determinado tema. O restante dos entrevistados admitiu acessar o primeiro site que o Google direciona pela filtragem e usar de seu conteúdo para estudos e pesquisas, sem necessariamente acessarem mais sites e apurarem as informações.

Sobre a questão de acessar links relacionados quando há da parte do estudante um interesse maior pelo assunto pesquisado, apenas 30% dos entrevistados responderam de forma afirmativa. Da porcentagem restante (70%), 100% dos estudantes relataram que sem a orientação dos professores para pesquisarem os temas relativos às suas disciplinas, dificilmente usariam do site de busca para pesquisarem especificamente sobre esses temas propostos. 

90% Dos estudantes relataram usar o Google constantemente para pesquisarem temas de seus interesses que não tem ligação direta com a faculdade e com as disciplinas que lecionam.

70% dos universitários entrevistados lêem em média dois livros impressos por mês (por escolhas pessoais, sem necessariamente ter relação com a faculdade). 80% desses entrevistados relataram não comprar jornais impressos, enquanto 60% deles preferem comprar revistas impressas (Veja; Época; IstoÉ; Super Interessante) do que acessar o conteúdo das mesmas pela web.

80% dos entrevistados usam do site de busca para efetuarem pesquisas e preferem obter informações jornalísticas diretamente de sites específicos para isso (UOL; Globo; Terra; entre outros), ou mesmo das revistas impressas já mencionadas e telejornais.

Para a última questão que abordamos com os entrevistados, apresentamos a eles toda a teoria descrita neste artigo e indagamos sobre a pesquisa virtual agregar ou restringir conhecimento para eles. Por termos restringido nossa pesquisa com estudantes entre 18 e 25 anos, entrevistamos, portanto, pessoas que iniciaram a vida escolar sem o acesso a internet e a pesquisa virtual; jovens que foram inseridos no meio desta revolução tecnológica da comunicação e hoje são em muitos níveis dependentes dela.

A totalidade dos entrevistados criticou positivamente o recurso da pesquisa virtual como forma de agregar conhecimento prático e teórico, tanto pelo desempenho deles em efetuar os trabalhos acadêmicos, como na evolução intelectual de cada um.

 

Considerações Finais

 

Entendemos com este trabalho que a questão do aprofundamento sobre determinado assunto, tem mais aparente ligação com os objetivos do pesquisador (em se aprofundar ou não) do que com a forma usada para pesquisa. Os sites de busca oferecem praticidade e facilidade para os estudantes pesquisarem sobre qualquer assunto. A filtragem em relação à confiabilidade dos sites depende do conhecimento e da vontade do próprio pesquisador, assim como ocorre em todos os meios midiáticos: alguns jornais e revistas impressas tem credibilidade o público, outros não.  Também é responsabilidade do estudante comparar informações sobre o mesmo tema em vários sites e acessar links relacionados, para uma melhor base de estudo.

Os resultados de nossa pesquisa, portanto, atribuem a web e seus sites de busca um caráter positivo - como meio de agregar conhecimento aos estudantes e também no sentido de otimizar tempo; mantendo-se, entretanto, o papel do próprio estudante em utilizar do dinamismo e da interatividade da web de forma a aprofundar-se.

        

Referências bibliográficas

CASTELLS, Manuel. Sociedade em rede. São Paulo/SP. Editora Paz e Terra, 2.009.

LEMOS, André. Cultura da Interface. Porto Alegre / RS. Editora Sulina, 2.002.

SARTORI, Giovanni. Homo videns, televisão e pós-pensamento. Universidade do Sagrado Coração, Editora Edusc, 2.001.  

JENKINS, Henry. Cultura da convergência. São Paulo / SP. Editora Aleph, 2.009.