O uso da música nas aulas de educação ambiental crítica 

Andrea Oliveira da Fraga Goulart 

Resumo: Ouvir música costuma ser um hábito entre adolescentes, crianças, adultos e idosos. Todos gostam de música e ela costuma embalar todos os momentos da vida. Através deste trabalho propomos trabalhar a educação ambiental crítica a partir de letras de músicas. Elas têm o papel de texto motivador para aulas e provocador de debates e olhares críticos sobre temas de que trata a Educação Ambiental Crítica, como por exemplo, as relações de trabalho, expropriação, capitalismo, consumo exagerado e formas de produção de energia. O artigo propõe ainda a construção de um manual didático, no formato de um blog, onde algumas músicas selecionadas foram relacionadas e exploradas a partir do tema que abordam e com sugestões de questões para discussão como auxílio para o professor.

Palavras-chave: educação ambiental crítica, material didático, letramento científico, música.

Introdução

Encontrar formas de tornar o aluno de hoje no cidadão crítico de amanhã é no momento um dos objetivos de quase todo professor das mais diversas disciplinas. Os Parâmetros Curriculares Nacionais e a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Brasileira orientam o trabalho do professor e das instituições de ensino para a construção de um cidadão atuante e crítico. Mas será que a escola tradicional, que baseia sua rotina na transmissão de conhecimentos, consegue atingir esse objetivo? 

 "A crise geral que se abate sobre o mundo moderno e que atinge quase todas as áreas da vida humana manifesta-se diferentemente nos vários países, alargando-se a diversos domínios. Na América, um dos aspectos mais característicos e reveladores é a crise periódica da educação, confirmando o quadro da atual crise" (ARENDT, 1961, p.2).

            O ensino tradicional encontra-se em crise e é certo que todos buscamos formas de que esse ensino seja agradável, atrativo e cumpra os objetivos determinados, como por exemplo, formar o cidadão. O letramento científico se constitui num grande aliado na conquista deste objetivo uma vez que vai além da simples transmissão dos conhecimentos curriculares, vai inclusive além da própria alfabetização científica e Santos define bem quando coloca que: 

“O termo alfabetização tem sido empregado com sentido mais restritivo de ação de ensinar a ler e a escrever, o termo letramento refere-se ao “estado ou condição de quem não sabe apenas ler e escrever, mas cultiva e exerce práticas sociais que usam a escrita”. (...) adota-se a diferenciação entre alfabetização e letramento, pois na tradição escolar a alfabetização científica tem sido considerada na acepção do domínio da linguagem científica, enquanto o letramento científico, no sentido do uso da prática social, parece ser um mito distante da prática da sala de aula. Ao empregar o termo letramento, busca-se enfatizar a função social da educação científica contrapondo-se ao restrito significado de alfabetização escolar” (SANTOS, 2007, p.479).

De acordo com o conceito de Santos o letramento científico busca enfatizar a função social da educação científica, educa uma pessoa para cultivar e exercer práticas sociais. De acordo com a lei nº 11769 de 18 de agosto de 2008, a música deverá fazer parte do currículo escolar, além de servir como recurso pedagógico. O uso da música nas aulas de ciências pode tornar o ambiente mais favorável a aprendizagem. De acordo com Hummes (2004) a música exerce dez funções na sociedade:

“Baseada na categorização do etnomusicologista Allan Merriam, ressaltando sua importância: 1) Expressão emocional; 2) Prazer estético; 3) Divertimento; 4) Comunicação; 5) Representação; 6) Reação física; 7) Impor conformidade às normas sociais; 8) Validação das instituições sociais e dos rituais religiosos; 9) Contribuição para a continuidade e estabilidade da cultura e 10) Contribuição para a integração da sociedade”. (Hummes, 2004)

Como recurso pedagógico oferece divertimento, comunicação, representações, entre outras funções relacionadas. Neste artigo propomos a criação de um blog, que através da música, ou seja, da análise de letras de músicas antigas e atuais, que podem ser usadas como recurso pedagógico, os professores possam inovar e variar em suas aulas. Com isso espera-se que os alunos tenham mais eficiência em sua aprendizagem. De acordo com OLIVEIRA, et al (2011), "a música, ainda de forma tímida, tem sido utilizada como ferramenta  para ensinar conteúdos de ciências, uma alternativa pouco aplicada no ensino formal (...)”. Com o blog pretendemos ampliar este uso fornecendo subsídios para professores através de sugestões de roteiros de trabalhos e de grupos focais, tendo a música como fator provocador.

Desenvolvimento

A Educação Ambiental (EA) Crítica abandona o modelo conservador de educação ambiental higienista, tratada de forma biológica e amplia seu raio de ação para todos os aspectos sócio-ambientais-culturais possíveis. Analisa a ação do capital nas sociedades e de seu modelo, observa e critica suas causas, identificando os papéis sociais e seus atores. Guimarães:

 “a educação ambiental crítica objetiva promover ambientes educativos de mobilização desses processos de intervenção sobre a realidade e seus problemas socioambientais, para que possamos nestes ambientes superar as armadilhas paradigmáticas e propiciar um processo educativo, em que nesse exercício, estejamos educandos e educadores, nos formando e contribuindo pelo exercício de uma cidadania ativa na transformação da grave crise socioambiental que vivenciamos todos.” (2004)

            A abordagem crítica torna a educação ambiental contra-hegemônica e favorece a reflexão dos papéis sociais de todos envolvidos no processo da crise ambiental. Através do olhar crítico, o educando pode analisar quais são as causas das crises ambientais. Será que a sociedade brasileira, após tantos anos de uma política limitante, de censura, de imposições tem uma população educada para criticar? O olhar que a educação ambiental crítica sugere as pessoas necessita de liberdade de pensar e que elas possam, após um primeiro contato, interagir com os conhecimentos apreendidos, formando opiniões.

            A Educação Ambiental Crítica procura ampliar o olhar dos educandos. Oferece bases para construção de um cidadão que será capaz de olhar para o cenário ambiental que se apresenta atualmente e de não ser apenas sugestionado pelas mídias, mas que possa dialogar com essas informações. Pode-se dizer com isso que a EA Crítica pode contribuir para a formação de um cidadão que se aproprie dos saberes necessários para uma existência social ativa e participante.

            O local propício para esta atividade formadora é a escola. Ela é o ambiente de fomento das novas ideias e de experimentos de ações educativas que priorizam a construção sadia de uma sociedade participativa.  Neste artigo pressupomos que a utilização da música na sala de aula pode favorecer o trabalho crítico porque atua como texto que vai provocar as discussões e suscitar temas interessantes e de acordo com os pontos que a própria EA Crítica trata.

            Com a aprovação da lei nº 11.769 de 18 de agosto de 2008 a música deverá ser conteúdo obrigatório do currículo a partir da data de sua publicação, tendo as escolas três anos para se adaptarem.  A música passará a fazer parte do cotidiano da escola e nada mais próximo da realidade, do que uma metodologia que se aproxime disso. Rosas (2010):

“A música, além de motivar, é um elemento importante na aprendizagem, pois facilita a mesma. A música leva a uma socialização e ambas despertam sentimentos e emoções, alteram estados de ânimo e favorecem o desenvolvimento da criatividade. Sendo assim, a música possui importância vital não somente no ensino presencial, mas também à distância, cujas práticas pedagógicas apoiam-se cada vez mais na tecnologia e as interações entre os sujeitos buscam cada vez mais os aspectos afetivos” (Rosas, 2010).

            Como podemos ver a música está ligada a diversos fatores que predispõe à aprendizagem porque leva a socialização, desperta sentimentos e emoções. Butt (2009) fala que “os alunos, como sabemos, têm estilos de aprendizagem diferentes, o que implica a adoção pelos professores de diferentes de uma variedade de estratégias de ensino”. Com tantas funções que predispõe ao sucesso, pode ser uma estratégia de ensino a ser utilizada pelo professor.  

Criação de um material didático

 

            Não basta apenas indicar a forma de aprendizagem, mas sim oferecer ideias e mostrar como fazer. A criação de um blog de apoio didático ao professor, com sugestões de músicas que possam ser usadas nas aulas de educação ambiental e roteiros de discussão com viés crítico, vem de encontro com a necessidade de se mostrar como fazer, de como oferecer recursos que facilitem a prática pedagógica. E, além de roteiros, o blog também oferece ao leitor textos sobre a educação ambiental crítica, o uso da música na sala de aula e estratégias de montagens de roteiros de trabalho.

            A escolha de um blog se deve a facilidade com que é possível produzir um material de qualidade, com recursos visuais e auditivos, sem custos e de fácil acesso. A divulgação pode ser feita pelas redes sociais ou por e-mails. Desta forma se pode atingir um maior número de pessoas interessadas.

Conclusão

            Ao buscar uma educação ambiental que auxilie na formação para a cidadania não se pode deixar de pensar nos caminhos que se devem seguir para conseguir tal intento. Estes caminhos devem ser possíveis de serem trilhados e os resultados conseguidos devem gerar satisfação. A crítica estabelecida nesta fala sobre ambiente amplia o olhar para além das ações individuais de cuidados e observa as relações de trabalho existentes na sociedade.

Encontrar formas de atingir os objetivos citados é uma das habilidades que o professor deve desenvolver ao longo de sua carreira. O que foi proposto aqui neste artigo, com o uso da música nas aulas de educação ambiental, vai de encontro a esta necessidade. A montagem de um blog que sirva de manual para o uso deste material didático, pode facilitar o uso deste recurso pelos professores, já que o acesso a internet vem sendo facilitado a todos.

Referências Bibliográficas

 

ARENDT, H. A Crise na Educação. Disponível em: <http://redesocial.unifreire.org/ pedagogia-noturno/arquivos/hanna-arendt-a-crise-na-educacao.pdf> Acesso em: 11 jun. 2012.

BRASIL. Lei 11.769 de 18 de agosto de 2008. Disponível em:<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_Ato2007-2010/2008/Lei/L11769.htm>. Acesso em: 20/11/2012.

BUTT, G. O planejamento de aulas bem-sucedidas. São Paulo: Editora Special Book Services Livraria. 2ªed., 2009.

HUMMES, J.M., Por que é importante o ensino de música? Considerações sobre as funções da música na sociedade. Revista da ABEM, Porto Alegre, V. 11, 17-25, set. 2004.

OLIVEIRA, A.D, PILATTI, L.A., FRANCISCO, A.C., ROCHA, D.C. Interação entre música e tecnologia: uma experiência utilizando a web-rádio. Revista Ensaio Pesquisa em Educação em Ciências, Vol. 13, No 3,2011.

PAULA, H.F; LIMA, M.E.C.C. Educação em Ciências, letramento e cidadania. Revista Química Nova na Escola. nº 26, novembro, 2007. Disponível em:< http://qnesc.sbq.org.br/online/qnesc26/v26a02.pdf>. Acesso em: 13, jul. 2012.

ROSAS, F.W., BEAHR, P.A., A importância da música em objetos de aprendizagem. Disponível em: <http://www.nuted.ufrgs.br/wordpress/wp-content/uploads/2010/Artigos/Importancia.pdf>. Acesso:16/11/2012.

SANTOS, W.L.P.; MORTIMER, E.F. Tomada de decisão para ação social responsável no ensino de ciências. Revista Ciência & Educação. v.7, nº1, p. 95-111, 2001.

SANTOS, W.L.P. Educação Científica na perspectiva de letramento como prática social: funções, princípios e desafios. Revista Brasileira de Educação. v.12, n.36, set./dez. 2007.