CONTO

O ùltimo dia

Susana Ramos de Vasconcelos Batista¹

Há muito tempo acho que já não sou necessário a este mundo, aliás achava, agora tenho certeza. Decidi que hoje seria o grande dia que poria fima minha estadia neste martírio que teve inicio no dia em que aqui cheguei.

Não sei por que por que perco tempo escrevendo estas últimas linhas e adio ainda um pouco a minha tão esperada ida, mas, sinto que devo me explicar e isentar de qualquer culpa aqueles que comigo conviveram.

A minha insatisfação vem do simples fato de estar vivo, e ter que viver o mesmo dia pelo resto da vida. Tenho tudo para ser feliz, porem não sou.

Escolhi como cenário, o lugar por onde várias vezes derramei infindas e doloridas lágrimas. Nestas paredes impregnadas com as minhas aflições e desesperos, ao me lembrar em sonho que seria por uma noite apenas o meu descanso e que ao amanhecer teria que dar cinco passos até a saída do meu quarto e retornar ao meu suplício.

Hoje serão os últimos cinco, e estes me levarão ao encontro da felicidade. Sentei-me na cama, levantei o colchão, desamarrei as tiras que prendiam no estrado o revolver que comprei por uma barganha no centro da cidade de um moleque. Acomodei-o em minhas mãos como quem segura um filho adormecido. A luz do poste que adentrava pela janela, clareava exatamente o bem feito, dando-lhe um brilho quase sobrenatural. O reluzir dele, me ofuscava os olhos.

Lembrei-me ainda anestesiado pela visão magnífica, que antes de ir, deveria esclarecer tudo para que não deturpassem a história. Pus a arma cuidadosamente do meu lado, comecei a escrever esta carta. Daqui para frente escreverei o que irá acontecer, quando chegar o fim das minhas palavras. Eu prometo que cumprirei a risca o roteiro aqui anunciado. Terminada a carta a colocarei em cima do meu travesseiro.

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¹ Acadêmica do 8° período do Curso de Letras Habilitação em Língua portuguesa da Universidade Estadual Vale do Acaraú – UVA.

Pegarei a arma irei carinhosamente até a janela em busca da luz que refletirá em meu amigo. Agora o brilho será muito mais intenso. Segurá-lo-ei com minha firme mão direita, ansioso para ouvir enfim a música que mais esperei: o estourar dos meus miolos!

Coloquei a carta em cima do travesseiro...

PS: Haaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa! Aquele moleque!