O homem se humaniza, não só por que pensa, mas principalmente por que trabalha. Afirma-se, inclusive, que não foi o pensamento, mas o trabalho que fez o homem. O fato é que o homem vive, sobrevive e faz o mundo a partir do trabalho. O progresso da humanidade se deve menos ao pensamento que ao trabalho. Foi a ação laboriosa do homem, ao longo de milhares de anos que gerou o mundo em que vivemos.

Podemos dizer que só o homem trabalha. As demais espécies realizam atividades próprias da sua experiência genética ou por que são impelidos a isso por forças externas à sua vontade.

Só o homem age, intencionalmente, movido pelas vontades, transformando o meio em que vive, e beneficiando-se disso. Quando o homem põe uma semente na terra, espera com isso colher os frutos e tirar disso algum benefício. Quando um animal, atrelado a uma carroça, transporta a ração que irá comer mais tarde, não o faz intencionalmente, nem porque está com fome, mas porque um homem o atrelou à carroça. Por mais prenhe de capacidade de germinação que seja uma semente de milho à frente de uma galinha, nunca deixará de ser só mais um grão de milho a ser engolido. Mas para o homem, mesmo faminto, a semente de milho pode implicar em várias espigas, graças ao trabalho. O trabalho, portanto, é um dado cultural, sendo uma manifestação da própria cultura, mas também um elemento próprio da espécie humana.

Pelo trabalho o homem pode se desenvolver, recriar o mundo, expandir suas potencialidades e capacidade criativa. Pelo trabalho o homem domina o mundo e a natureza, libertando-se do medo para asenhorear-se de tudo que o circunda. A natureza que era causa de medo, gerando mitos e deuses, passa a ser só mais um elemento utilizado para gerar aquilo que o homem-trabalhador necessita.

Realizado individualmente, o trabalho potencializa a capacidade criativa do homem. Quando realizado coletivamente ajuda no processo de desenvolvimento social. O trabalho, portanto não deve ser visto nem transformado em instrumento de tortura (o tripalium, de onde se origina a palavra, representa a canga que o escravo carregava no pescoço), mas como possibilidade de redenção do homem.

No entanto existe uma visão negativa a respeito do trabalho. Isso se deve ao fato de, ao longo dos séculos, a sociedade ter se tornado mais complexa, surgindo a dominação do homem pelo homem, de uma classe sobre outra. Por ter surgido o acúmulo de excedente e a perspectiva do lucro. A visão negativa a respeito do trabalho, portanto, se deve à visão capitalista do trabalho: em vez de instrumento criativo passou a rotina reprodutiva; em vez de desenvolver a liberdade passou a ser instrumento de dominação e até castigo, quando se é obrigado a fazer o que não se gosta, por necessidade de sobrevivência; em vez de progresso de todos passou a ser usado para enriquecimento de alguns. Em síntese o trabalho deixa de ser instrumento de realização humana para ser utilizado como mecanismo de alienação e de dominação.

O trabalhador aliena sua força de trabalho e é dominado pelas circunstâncias que o obrigam a executar determinadas atividades para as quais não está predisposto nem sente atração. Ao alienar sua força de trabalho o trabalhador acaba alienando, também, sua consciência o que permite à classe dominante exercer com mais facilidade a dominação contra as reações, movimentos grevistas, etc. E isso é feito a partir do argumento: "se você não quer, tem muitos outros esperando a sua vaga"... e a necessidade obriga o homem a passar a vida executando algo que não gosta mas que tem necessidade de fazer para alimentar a si e aos seus dependentes. Trata-se de uma nova forma de escravização.

Alienação é um conceito marxista para explicar a relação do trabalhador com o trabalho e o fruto desse trabalho. O fruto do trabalho, na sociedade capitalista, não pertence, ao trabalhador; ele apenas produz bens que não lhe pertencem e aos quais, na maioria das vezes, nem poderá comprar. Pelo seu trabalho o trabalhador recebe só um salário (de sal – que já foi usado como moeda!) com o qual deve sobreviver. Muitas vezes a situação do trabalhador é pior do que a do escravo. Aquele recebia tudo de seu dono; este recebe o salário (em muitos casos mínimo) com o qual deve satisfazer todas as suas necessidades e às de sua família. Mas, pela consciência alienada, acredita estar em situação melhor do que a do escravo, pois, acredita, é livre. Livre para viver subjugado pelo seu dia-a-dia de trabalho.

O trabalhador só tem, de seu, a força de trabalho pelo qual recebe o salário. Recebe, também, uma carga de propaganda consumista intimando-o a entrar na loja onde são vendidos produtos dos quais não tem necessidade. E a propaganda, em nome de uma necessidade fabricada, lhe obriga a comprar o que não precisa. Assim, além do trabalho ser alienado o resultado do trabalho, mediante a dominação ideológica e publicitária, também é alienante. Temos assim um trabalho alienado que gera um consumo alienado, numa sociedade alienante em que vivem trabalhadores alienados.

Uma mudança está em andamento, na sociedade atual. O processo de automação, informatização e globalização da produção e da economia. Resta saber se isso ocasionará mais dominação ou o início de um processo de libertação. Cada vez menos postos de trabalho estão sendo oferecidos a operários; os antigos postos estão sendo tomados por autômatos, dispensando os trabalhadores.Hoje, cada vez mais se valoriza não o bom empregado, mas a pessoa empreendedora e criativa. Pois esta, sendo criativa, pode ser mais lucrativa...

Diante dessa realidade são feitas algumas observações, em relação ao trabalhador do futuro: deverá estudar cada vez mais; haverá cada vez menos funções em que será necessária a força física; os postos de trabalho tradicionais tendem a diminuir, surgindo outras atividades principalmente na área dos serviços, entretenimento e da educação. Chega-se afirmar que a principal "mercadoria" dos próximos tempos é o Conhecimento. Daí a necessidade do estudo. A afirmação que hoje se faz é de que o "trabalhador do futuro" deverá ser um prestador de serviços e cada vez menos operário, no sentido tradicional. Os trabalhos do futuro seriam na área de educação, informação-formação e prestação de serviços. Resta saber se isso permitirá e possibilitará uma maior realização do homem ou será mais um mecanismo de exclusão e concentração de renda...

Outro questionamento que precisa de resposta é o problema do estudo-formação. Sem querer negar a necessidade de um processo continuado de formação e de estudo, isso não implica, necessariamente na equação: mais formação/estudo = mais emprego. Se todas as pessoas do planeta, concluírem a escolarização de nível superior, mesmo assim permaneceriam desempregados. Portanto a crise no mundo do trabalho não é por falta de formação, mas por falta de postos de trabalho. Daí a importância de surgirem mais tipos de trabalhos e, é claro, a necessidade de mais formação para que sejam "inventados" novos serviços; para que sejam criadas novas formas e modelos de trabalho e de oferta postos de trabalho.

Por ora, no atual modelo capitalista, permanecemos encenando o seguinte provérbio:

"Todos os dias, quando o sol desponta nas savanas africanas, a gazela sabe que tem que correr mais do que o leão ou morrerá em suas garras e será devorada. Todos os dias raiar do sol nas savanas africanas o leão sabe que tem que correr mais do que a gazela para apanhá-la ou morrerá de fome. Todos os dias, ao amanhecer, não importa se você é gazela ou leão: comece a correr!"

Neri de Paula Carneiro – Mestre em Educação, Filósofo, Teólogo, Historiador.

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