II. INTRODUÇÃO
O propósito deste estudo é valorizar todo e qualquer tipo de documento, sejam eles: orais, escritos, iconográficos e até mesmo os jornalísticos.
O que costumamos chamar de documento histórico são reproduções de fontes primárias utilizadas pelo pesquisador, essas fontes são evidências do passado.
Na construção do pensamento histórico acreditava-se que o documento seria fiel ao fato histórico, pois, sua escrita era a prova cabal do evento acontecido, de uma verdade única e absoluta.
Com a inserção de novas abordagens, novos problemas e objetos na pesquisa historiográfica, hoje podemos vislumbrar um consenso entre os historiadores e pesquisadores que essas fontes podem ser escritas ou não e o uso delas enquanto documentos são fundamentais para a pesquisa científica.
No século XIX, há uma valorização do documento escrito, que se converteu no fundamento do fato histórico, ou seja, a concepção de que o documento falava por si só.
Ao historiador, cabia a transmissão dos fatos ou conhecimentos produzidos, a extração da informação dos documentos sem modificá-los ou interpretá-los em nada, a idéia baseia-se apenas no mundo físico/material. "O positivismo é, portanto uma filosofia determinista que professa, de um lado, o experimentalismo sistemático e, de outro, considera anticientífico todo o estudo das causas finais". (RIBEIRO, 1982 p.16).
No século XX, nasce a idéia de que caberia ao historiador a missão da construção do conhecimento sobre o passado, com novas concepções sobre a autenticidade e valor dos documentos e fontes.
A história da humanidade, em sua realização, constitui-se pela inter-relação de fatos, processos e dinâmicas que, através de movimentos dialéticos e da ação de sujeitos históricos, individuais ou coletivos, transformam as condições de vida do ser humano ou se empenham em mantê-las como estão. (...) a história oral é um procedimento metodológico que busca, pela construção de fontes e documentos, registrar, através de narrativas induzidas e estimuladas, testemunhos, versões e interpretações sobre a História em suas múltiplas dimensões: factuais, temporais, espaciais, conflituosas, consensuais. ((DELGADO, 2006, p. 15)
Passa-se a interrogar o passado, e seus personagens mortos ganham vida através dos questionamentos dos pesquisadores, a história oral passa agora a ser mais uma metodologia de pesquisa, ocupando novos espaços e construindo a identidade de um personagem, isto é, há uma melhor compreensão do momento vivido.
É através dessa nova concepção do estudo e ensino de História, com a interação de novos elementos do conhecimento e a interdisciplinaridade das áreas, que a Nova História surge com a proposta de interagir com outros teóricos e especialistas, como; antropólogos, economistas, psicólogos e sociólogos. Inúmeros trabalhos passaram a serem desenvolvidos, levando a uma revolução historiográfica.
Da produção intelectual no campo da historiografia no século XX, a história dos Annales seria interpretada como uma interação entre a história e as ciências sociais. Segundo Peter Burke (1990), observou-se que os Annales trazem a tona uma perspectiva global de conceber o conhecimento histórico, como novas abordagens, novos conhecimentos, novas fronteiras que estão fragmentando a todo instante, assim como a idéia de documentos.
O ensino de história, juntamente com a produção do conhecimento, passa a ser uma das principais preocupações de todos os interessados para que a disciplina histórica não fosse mero transmissor de fatos, uma repetição de fazeres, de práticas pedagógicas que incorporam novos elementos, os novos atores sociais.
É através desses referenciais teóricos que se percebe que o conhecimento histórico deve ter novas abordagens, problemas e leituras, pois ao trabalhar com documentos em sala de aula, devemos observar atentamente os PCN´s (Parâmetros Curriculares Nacionais), para a construção de um conhecimento conjunto que envolve a escolha de interpretações, reflexões e organização de informações, interpretação, análise, localização espacial e ordenação temporal de uma série de acontecimentos da vida coletiva que foram registradas.
A pesquisa em sala de aula, a leitura crítica e substanciada dos livros didáticos e o manuseamento de documentos primários em arquivos deve ser uma das maneiras de construção do conhecimento. O professor deve estar engajado nessa proposta, observando junto com seus alunos essa construção do conhecimento, levantando fontes, analisando todos os documentos, incorporando, através das suas aulas, novos elementos de pesquisa, interagindo sempre com os espaços da memória.
Eleger uma questão, selecionar registros que tratem do assunto, contextualizar, decodificar e construir uma ou mais versões desse tema são as tarefas básicas desse tipo de trabalho. E, para tanto, cabe ao professor de História, como um bom historiador, orientar seus alunos a lidar com a diversidade de dados, pois só cada vez mais raras as análises históricas alicerçadas por um único tipo de documento. (SAMARA, 2007, p. 167).
Nessa perspectiva, há um maior sentido para que os alunos escrevam e pesquisem mais os temas que melhor os atraiam, pois além do texto existe o contexto da sua realidade, do seu interesse e um universo de documentos que irá contrapor ou fundamentar sua pesquisa.
Nessa mudança metodológica o professor começará a usar os documentos, como; jornais de época (quando possível), documentários ou outros recursos didático- pedagógicos que servem como fonte de estudo. O uso do documento em sala de aula pode ser considerado um instrumento pedagógico eficiente e insubstituível, por possibilitar o contato com o passado abstrato ou por favorecer o desenvolvimento intelectual.
O uso de documentos em sala de aula pode favorecer a introdução do aluno no pensamento histórico, desenvolvendo uma autonomia intelectual capaz de propiciar a construção de análises críticas da sociedade em uma perspectiva temporal. "Um documento pode ser usado simplesmente como ilustração, para servir como instrumento de reforço de uma idéia expressa na aula, pelo professor ou pelo texto do livro didático". (BITTENCOURT, 2004, p 19).
É através do pensamento histórico, ou melhor, do entendimento histórico, que o aluno poderá compreender as guerras, a questão agrária, a guerra fria, o imperialismo e outros temas estudados. Os documentos, a iconografia e as reportagens ajudarão o aluno a entender o passado contextualizando o seu presente. O aluno passa a buscar informações sobre o tema que está estudando com a ajuda de seu professor, podendo assim, formar grupos de estudos, cada grupo poderá apresentar à turma trabalhos pesquisados e produzidos por eles. Cada aluno passa a compreender os acontecimentos, e a vida em sociedade de cada época através de suas pesquisas, podendo até mesmo utilizar a história oral. Dessa forma os alunos vão aprender a história dos homens sem decorar datas, nomes, acontecimentos, pois, nos dias de hoje a palavra decorar não tem mais espaço nas aulas de História.
"É o presente que faz aflorar questões objetivas e concretas que nos desafiam ? e com essas questões em mente é que buscamos respostas no passado". (BOSCHI, 2007, p 15). A História não se encontra pronta e acabada, ela está em constante modificação, e o documento somente irá ajudar ao aluno na sua compreensão dos acontecimentos atuais. No "mundo acadêmico", os estudos se voltam para a importância do documento primário, para a interpretação do professor/ aluno nas suas entrelinhas.
O aluno, que sempre quer saber mais, pode pesquisar em outras fontes e encontrar não somente um trecho do documento, que trás seu livro didático, mas encontrar o documento na íntegra e as várias formas de interpretação que se pode fazer de um documento. Como, exemplo, uma carta de alforria, por exemplo, o aluno bem orientado não saberá fazer as devidas interpretações.
Lucien Febvre (1946), um mestre da história das sensibilidades e das mentalidades, aponta para a importância de penetrar nas maneiras de ver e de sentir uma época, ou seja, de interpretá-la.
A história tradicional preocupa-se exclusivamente com as camadas superiores da sociedade, os reis, os grandes revolucionários, as guerras e revoluções políticas e econômicas determinadas sempre por essas camadas. Já a história social, ao contrário, interessa-se pelo estudo da camada da sociedade excluída, de toda forma de participação e integração nos meios culturais, econômicos, políticos dessa sociedade. São justamente os excluídos que passam a fazer parte dessa Nova História.
A nova história é a história escrita como uma reação deliberada contra o "paradigma" tradicional, aquele termo útil, embora impreciso, posto em circulação pelo historiador ciências americano Thomas Kuhn. Será conveniente descrever este paradigma tradicional como "história rankeana".Poderíamos também chamar este paradigma de a visão do senso comum da história, não para enaltecê-lo, mas para assinalar que ele tem sido com freqüência considerado a maneira de se fazer história, ao invés de ser percebido como uma dentre várias abordagens possíveis do passado. (BURKE 1992 p.10).
Os livros didáticos trazem para o professor/ aluno, além de informações, trechos de documentos, que ilustram os temas estudados. Cabe ao professor se perguntar até que ponto os trechos de documentos usados pelos autores nos livros didáticos podem ajudar na compreensão do tema que está sendo estudado. Nesse sentido alguns questionamentos são necessários, como; o direcionamento entre pesquisa e ensino com documentos primários contribuirá para um melhor processo de aprendizagem? Se contribui como deve ser o uso do livro didático no cotidiano do aluno e qual a sua relação como a primazia da manuseamento pelo aluno? Como interagir ensino e pesquisa através dos espaços da memória e os livros didáticos. O manuseamento de
documentos pelos alunos em arquivos, centros de documentação e outros espaços de guarda da memória são suficientes para o entendimento de um evento histórico crítico?

REFERENCIAS
BITTENCOURT, Circe Maria Fernandes. Ensino de História: Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez, 2004.
BOSCHI, Caio César. Por que estudar História? São Paulo: Ática, 2007.
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BURKE, Peter. A Revolução Francesa da Historiografia: A Escola dos Annales (1929 1989). 3. ed São Paulo: EDUSP, 2003.
DELGADO, Lucília de Almeida Neves. História oral: memória, tempo, identidades. Belo Horizonte: Autêntica, 2006.
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