O tempo que escolhemos para ser feliz
Publicado em 29 de novembro de 2010 por Magda Dantas Calíope Sobreira
O tempo que escolhemos para ser feliz
O tempo está frio. Não sinto o calor das tardes quentes do verão. Alguma coisa está diferente, sinto no ar.
Folheio as páginas do jornal em busca de notícias amenas, mas não encontro nada que me acalme e que me faça sentir vontade de continuar. Continuar na estrada, sonhando em meio as pedras que me fazem tropeçar pelo caminho. Não há indícios nem mensagens ocultas nas palavras: tudo é aço e sangue. Não quero mais folhear essas páginas sangrentas.
Buscarei a leveza da música clássica. Sempre me acalmo e durmo, sonhando lembranças boas do meu passado de criança. Prefiro me esconder na música. Me enclausurar nas suas notas suaves, me embebedar na loucura psicodélica da viagem ao imaginário: ao mundo do faz de conta.
A vida está pesada e densa demais. Preciso respirar. Estou sufocando. Não há mais ar respirável nessa realidade. Prefiro a ilusão, a utopia, o sonho que nos faz ter vontade de construir castelos concretos. Mas agora só quero dormir e esquecer, sem ter pressa de voltar à tona, sem desejo de realidade, mais do que de sonho.
Olho em volta e tudo ao meu redor tem cheiro de agonia, de impotência e medo. Será que há alguém nesse planeta que pode me ajudar? Não creio. É lá, nas estrelas, que mora a minha esperança. Vou ficar aqui, olhando da janela do meu quarto ? meu pequeno mundo ? as estrelas lá no céu. Quem sabe um milagre aconteça...
- Acorde! Acorde, Maria! Eu sou o amigo que você tanto esperava.
- Onde estou? Onde estão todos? Será que eu morri?
- Era isso que você queria?
- Não! Nunca! Não era isso que eu queria. Eu só queria ter um pouco de paz. Não consigo ser feliz vendo o mundo desabando ao meu redor, sem poder fazer nada.
- Eu entendo. Falas dos teus irmãos, dos teus pais e familiares, não é?
- Não só deles, também deles, mas antes de mim, da minha vida pessoal, dos meus projetos de vida, dos meus sonhos de criança que não se concretizaram. Apesar de tudo, tenho o que mais precioso poderia desejar: uma vida, em especial, para cuidar e amar, e outra para compartilhar meus sonhos e construir projetos juntos por toda uma vida.
- Você vai poder fazer tudo isso, mas com a calma e consciência necessária daquilo que pode e o que não pode mudar. Você pode escolher três caminhos no tempo: voltar ao passado, regressar ao presente ou dar um salto para o futuro. Escolha aquele que melhor lhe parecer.
- O que acontece se eu não voltar para o meu presente?
- A que presente você está se referindo?
- Como a que presente? A minha vida que eu deixei quando adormeci e vim parar aqui neste lugar, nesta dimensão do irreal, da fantasia dos sonhos.
- Você quer voltar ao momento exato, na sua dimensão planetária, em que você adormeceu para poder chegar até aqui, suponho?
- Suposição correta.
- Se você voltar a esse exato momento do seu tempo, nada será modificado e todas as angústias, dores e sofrimentos seus permanecerão imutáveis, pelo menos até que você se proponha a aceitá-los ou modificá-los, sozinha, ao seu modo e sem qualquer ajuda.
- E se eu voltar ao passado? O que acontecerá com o meu futuro? Eu conhecerei as pessoas que mudaram a minha vida e que a tornaram mais feliz, como as pessoas a quem amo?
- Não sei. Não sou especialista em passado ou futuro. Só lido com questões do presente. Como o seu caso nos pareceu complicado, achamos que poderíamos ajudá-la dando essa oportunidade de escolher permanecer, retroceder ou avançar no seu tempo. A escolha é sua. Não podemos influenciá-la.
- Não podemos quem? Quem mais está envolvido nessa sua suposta missão?
- Os outros Shalays. Somos muitos e ao mesmo tempo, um só. Estamos em toda parte, em todos os lugares, tempos e dimensões. Nosso trabalho é proteger o equilíbrio do universo imaterial. Não podemos deixar que energias negativas acumuladas possam abrir uma fenda entre os nossos mundos. Por isso é que interferimos, quando necessário, na vida dos seres humanos. Não nos interessa sua dor, sua tristeza e desesperança. O equilíbrio de nossos mundos mantém-se com a supremacia dos bons sentimentos e da alegria de viver de cada homem e mulher desse planeta. Por isso amamos as crianças, os especiais ? porque podem ver, ouvir e sentir os dois mundos muito mais do que qualquer outra pessoa a que chamam de normal -, e os mais sábios, aqueles a quem vocês costumam chamar de velhos.
- Então você não é real? Não é uma pessoa? É uma entidade espiritual ou uma espécie de ET?
- Nem uma coisa nem outra e um pouco das duas. Agora chega de perguntas. Precisamos da sua resposta.
- Não posso ver o que vai acontecer no futuro? Só um pouquinho? Algumas cenas rápidas, um resumo das coisas boas e ruins que vão me acontecer e aos que amo?
- Infelizmente isso não faz parte da nossa proposta. O que posso fazer é te dar uma oportunidade de escolher uma data, um ano específico que você considere importante para a sua vida e para o qual queira retroceder, se acaso se arrependa da sua escolha.
- Está bem. Se há algo que eu possa fazer para mudar o que está errado na minha vida e na daqueles que amo, certamente é o passado. Mas antes eu quero saber se levarei comigo a memória de tudo que já vivi, das pessoas que conheci e que aprendi a amar?
- Como lembrar daquilo que não viveu? Das pessoas que não conheceu ainda?
- Mas então de que me adianta voltar ao passado sem minhas memórias, sem os conhecimentos que construí, sem as experiências que acumulei com a vivência de inúmeras situações? Qual a vantagem de regressar ao passado se não posso mudar o meu futuro?
- Você pode, claro que sim! Levará consigo as intuições das coisas e pessoas boas e das ruins. Usará seu coração para guiá-la em suas escolhas e decisões.
- E se as minhas intuições me levarem a outros caminhos que não vivi, a pessoas que não conheci e que, portanto, me afastem daquelas a quem amo agora, no meu momento presente?
- É um risco que terá que correr. Siga o seu coração.
- Não sei se quero mudar a minha vida. Já sofri, chorei, perdi, ganhei, conheci, aprendi tantas coisas, além do mais não quero correr o risco de traçar novos caminhos que me separem de quem amo. Se é só dessa forma que vocês podem me ajudar a ser feliz, prefiro ficar com a minha vida como está. Não quero mudar nada.
- Tem certeza? O tempo está acabando, não podemos nos demorar mais aqui. Essa é a sua decisão?
- É a minha decisão. Estou certa da minha escolha.
- Que bom que você teve a sabedoria necessária para saber valorizar a vida como ela é, com todas as suas desventuras e tragédias, mas também com suas alegrias e compensações. Você fez a melhor escolha. Agora tudo vai ficar bem. Volte a dormir, e quando acordar verá tudo com outros olhos, pois verá com o coração. Ele é sábio, não deixará que se perca novamente.
O tempo está frio. Não sinto o calor das tardes quentes do verão. Alguma coisa está diferente, sinto no ar.
Folheio as páginas do jornal em busca de notícias amenas, mas não encontro nada que me acalme e que me faça sentir vontade de continuar. Continuar na estrada, sonhando em meio as pedras que me fazem tropeçar pelo caminho. Não há indícios nem mensagens ocultas nas palavras: tudo é aço e sangue. Não quero mais folhear essas páginas sangrentas.
Buscarei a leveza da música clássica. Sempre me acalmo e durmo, sonhando lembranças boas do meu passado de criança. Prefiro me esconder na música. Me enclausurar nas suas notas suaves, me embebedar na loucura psicodélica da viagem ao imaginário: ao mundo do faz de conta.
A vida está pesada e densa demais. Preciso respirar. Estou sufocando. Não há mais ar respirável nessa realidade. Prefiro a ilusão, a utopia, o sonho que nos faz ter vontade de construir castelos concretos. Mas agora só quero dormir e esquecer, sem ter pressa de voltar à tona, sem desejo de realidade, mais do que de sonho.
Olho em volta e tudo ao meu redor tem cheiro de agonia, de impotência e medo. Será que há alguém nesse planeta que pode me ajudar? Não creio. É lá, nas estrelas, que mora a minha esperança. Vou ficar aqui, olhando da janela do meu quarto ? meu pequeno mundo ? as estrelas lá no céu. Quem sabe um milagre aconteça...
- Acorde! Acorde, Maria! Eu sou o amigo que você tanto esperava.
- Onde estou? Onde estão todos? Será que eu morri?
- Era isso que você queria?
- Não! Nunca! Não era isso que eu queria. Eu só queria ter um pouco de paz. Não consigo ser feliz vendo o mundo desabando ao meu redor, sem poder fazer nada.
- Eu entendo. Falas dos teus irmãos, dos teus pais e familiares, não é?
- Não só deles, também deles, mas antes de mim, da minha vida pessoal, dos meus projetos de vida, dos meus sonhos de criança que não se concretizaram. Apesar de tudo, tenho o que mais precioso poderia desejar: uma vida, em especial, para cuidar e amar, e outra para compartilhar meus sonhos e construir projetos juntos por toda uma vida.
- Você vai poder fazer tudo isso, mas com a calma e consciência necessária daquilo que pode e o que não pode mudar. Você pode escolher três caminhos no tempo: voltar ao passado, regressar ao presente ou dar um salto para o futuro. Escolha aquele que melhor lhe parecer.
- O que acontece se eu não voltar para o meu presente?
- A que presente você está se referindo?
- Como a que presente? A minha vida que eu deixei quando adormeci e vim parar aqui neste lugar, nesta dimensão do irreal, da fantasia dos sonhos.
- Você quer voltar ao momento exato, na sua dimensão planetária, em que você adormeceu para poder chegar até aqui, suponho?
- Suposição correta.
- Se você voltar a esse exato momento do seu tempo, nada será modificado e todas as angústias, dores e sofrimentos seus permanecerão imutáveis, pelo menos até que você se proponha a aceitá-los ou modificá-los, sozinha, ao seu modo e sem qualquer ajuda.
- E se eu voltar ao passado? O que acontecerá com o meu futuro? Eu conhecerei as pessoas que mudaram a minha vida e que a tornaram mais feliz, como as pessoas a quem amo?
- Não sei. Não sou especialista em passado ou futuro. Só lido com questões do presente. Como o seu caso nos pareceu complicado, achamos que poderíamos ajudá-la dando essa oportunidade de escolher permanecer, retroceder ou avançar no seu tempo. A escolha é sua. Não podemos influenciá-la.
- Não podemos quem? Quem mais está envolvido nessa sua suposta missão?
- Os outros Shalays. Somos muitos e ao mesmo tempo, um só. Estamos em toda parte, em todos os lugares, tempos e dimensões. Nosso trabalho é proteger o equilíbrio do universo imaterial. Não podemos deixar que energias negativas acumuladas possam abrir uma fenda entre os nossos mundos. Por isso é que interferimos, quando necessário, na vida dos seres humanos. Não nos interessa sua dor, sua tristeza e desesperança. O equilíbrio de nossos mundos mantém-se com a supremacia dos bons sentimentos e da alegria de viver de cada homem e mulher desse planeta. Por isso amamos as crianças, os especiais ? porque podem ver, ouvir e sentir os dois mundos muito mais do que qualquer outra pessoa a que chamam de normal -, e os mais sábios, aqueles a quem vocês costumam chamar de velhos.
- Então você não é real? Não é uma pessoa? É uma entidade espiritual ou uma espécie de ET?
- Nem uma coisa nem outra e um pouco das duas. Agora chega de perguntas. Precisamos da sua resposta.
- Não posso ver o que vai acontecer no futuro? Só um pouquinho? Algumas cenas rápidas, um resumo das coisas boas e ruins que vão me acontecer e aos que amo?
- Infelizmente isso não faz parte da nossa proposta. O que posso fazer é te dar uma oportunidade de escolher uma data, um ano específico que você considere importante para a sua vida e para o qual queira retroceder, se acaso se arrependa da sua escolha.
- Está bem. Se há algo que eu possa fazer para mudar o que está errado na minha vida e na daqueles que amo, certamente é o passado. Mas antes eu quero saber se levarei comigo a memória de tudo que já vivi, das pessoas que conheci e que aprendi a amar?
- Como lembrar daquilo que não viveu? Das pessoas que não conheceu ainda?
- Mas então de que me adianta voltar ao passado sem minhas memórias, sem os conhecimentos que construí, sem as experiências que acumulei com a vivência de inúmeras situações? Qual a vantagem de regressar ao passado se não posso mudar o meu futuro?
- Você pode, claro que sim! Levará consigo as intuições das coisas e pessoas boas e das ruins. Usará seu coração para guiá-la em suas escolhas e decisões.
- E se as minhas intuições me levarem a outros caminhos que não vivi, a pessoas que não conheci e que, portanto, me afastem daquelas a quem amo agora, no meu momento presente?
- É um risco que terá que correr. Siga o seu coração.
- Não sei se quero mudar a minha vida. Já sofri, chorei, perdi, ganhei, conheci, aprendi tantas coisas, além do mais não quero correr o risco de traçar novos caminhos que me separem de quem amo. Se é só dessa forma que vocês podem me ajudar a ser feliz, prefiro ficar com a minha vida como está. Não quero mudar nada.
- Tem certeza? O tempo está acabando, não podemos nos demorar mais aqui. Essa é a sua decisão?
- É a minha decisão. Estou certa da minha escolha.
- Que bom que você teve a sabedoria necessária para saber valorizar a vida como ela é, com todas as suas desventuras e tragédias, mas também com suas alegrias e compensações. Você fez a melhor escolha. Agora tudo vai ficar bem. Volte a dormir, e quando acordar verá tudo com outros olhos, pois verá com o coração. Ele é sábio, não deixará que se perca novamente.