O texto tem por objetivo explanar de forma prática e compreensiva, a maneira como a noção de tempo histórico pode e deve ser trabalhada na 4º série (5º ano) do Ensino Fundamental, salientando as metas que devem ser atingidas, para que os alunos possam, realmente, apreender e compreender o que está sendo transmitido, fazendo com que aquilo que está sendo discutido na sala de aula, possa relacionar-se com a realidade extra-escolar, com seu cotidiano de forma harmônica e intrinsecamente ligada uma a outra.
Nesse contexto os conteúdos a serem trabalhados foram divididos em dois semestres, formando um ano letivo completo. No primeiro semestre, os assuntos utilizados em sala seriam: a representação do tempo na história do Brasil, a cultura indígena e a cultura do colonizador, ou seja, do branco.
Para trabalhar a representação do tempo na história do Brasil, a sugestão apresentada propõe ao professor iniciar o trabalho construindo uma linha de tempo, desde o "descobrimento" até os dias atuais, enfocando fatos que marcaram a história do país e que os alunos se recordam. O professor deve deixar claro, que para fazer tal linha do tempo, os alunos precisam saber quanto tempo dura um século, como se representa um século e fazer essa representação de forma correta, com medições iguais para facilitar a aprendizagem. Durante esse processo devem surgir muitas questões, as quais o professor tem que está preparado para responder, sem constranger o aluno.
A cultura indígena deve ser exposta na sala de aula de forma correta, sem mitos, sem deturpamento da cultura, com textos coerentes e que retratem, de fato, a realidade dos indígenas, seus costumes, seu modo de vida, para que sejam desfeitos preconceitos, tais como enxergar o índio como um selvagem, preguiçoso ou marginalizado. Deve ser destacado que os indígenas possuem uma cultura e modo de viver próprio e tem que ser respeitados por todos. Por isso os professores devem estimular os alunos a conhecerem melhor essa cultura, e se possível, interagir com ela, através de contato com indígenas ou visitas a locais onde vivem, ou tem a sua cultura representada, como museus, assim como trabalhos de pesquisa também são excelentes para a retratação dessa cultura.
Ainda no primeiro semestre, é sugerido trabalhar a cultura do branco colonizador, que corromperam totalmente a importância do papel dos indígenas na história do Brasil. Para trabalhar este conteúdo em sala é sugerido ao professor, através de mapas, mostrar aos alunos os caminhos marítimos que os colonizadores percorreram até chegar aqui e "descobrir" o Brasil, deparando-se com outras culturas (índios) e ressaltando seu relacionamento com elas. Pode-se também mostrar como eram os moldes familiares dos colonizadores e relacioná-los com os que existem hoje na sociedade, comparar as moradias, a alimentação, as vestimentas e os costumes.
Já no segundo semestre letivo os temas que devem ser trabalhados são: a organização da vida do brasileiro pelo branco e a cultura do negro.
No trabalho feito com a organização pelos brancos na vida dos brasileiros, fato que se iniciou com a chegada dos portugueses no Brasil na época de seu "descobrimento", é importante mostrar aos alunos que, inicialmente, os portugueses dominavam tudo, todos os índios que aqui existiam lhes eram submissos, escravizados e castigados caso não obedecessem. Houve insatisfação por parte dos brasileiros que aqui residiam e não queriam mais ver o Brasil como "quintal" de Portugal. Nisso surgiu uma batalha que teve por lema "Independência ou Morte", liderada por D. Pedro I. Posteriormente foi proclamada a República pelo Marechal Deodoro da Fonseca, mudando mais uma vez o sistema político brasileiro. Todo esse processo político pode ser representado em sala através da construção de uma linha de tempo que especifique em cada época o regime político vigente, para que os alunos compreendam todas essas mudanças e os motivos que leram a elas.
O último conteúdo a ser trabalhado é a cultura negra. É de suma importância ressaltar como os primeiros negros chegaram ao Brasil, o porquê de suas vindas, como eram tratados, ou melhor, mal-tratados pelos brancos, a discriminação que sofriam, a forma desumana como viviam aqui, sendo escravizados covardemente, sem direito a questionar ou ao menos falar o que pensavam. O professor deve mostrar aos alunos as injustiças sofridas pelos negros, o preconceito, a discriminação, o aniquilamento de sua cultura, de sua tradição. Para isso podem ser feitas visitas a centros de cultura negra ou museus que contenham trabalhos sobre essa cultura. Assim como também podem ser realizadas pesquisas que retratem a realidade dos negros, desconstruindo estereótipos. Também é importante revelar aos alunos os motivos que levaram a abolição da escravatura no Brasil, que não foi apenas um ato de bondade, mas tem um fundo econômico por trás. Neste conteúdo também pode ser utilizada a construção de linhas de tempo, mostrando quando os negros chegaram aqui, quando foram libertados, quanto tempo durou a escravidão. Vale ressaltar que este conteúdo deve ser trabalhado durante todo o ano letivo e não apenas em período predeterminado.
Como podemos ver todos os conteúdos aqui apresentados, possuem sugestões que auxiliam o professor a trabalhar de forma riquíssima em sala de aula. Para isso, o educador deve está comprometido e interessado em mudar ou inovar a sua prática, com motivação e preocupado com a aprendizagem de seus alunos. Expondo os conteúdos de forma criativa, estimulando a curiosidade, o conhecimento, despertando o interesse no aluno naquilo que está sendo exposto em sala, provocando a participação do aluno, o diálogo, através de dúvidas, questões de seu conhecimento prévio a respeito dos conteúdos, mesmo que seja o mínimo possível. Esta interação é fundamental, pois o respeito pela bagagem cultural que o aluno traz para escola provoca uma troca recíproca de informações entre aluno e professor. O professor não vive sobre um pedestal, nem é o dono da verdade universal e absoluta. Assim como também o aluno não é incapaz, inapto ou incoerente em tudo que diz. Todos, educador e educando, estão abertos para aprender e apreender cada vez mais.
Acreditamos que no momento em que o professor deixar de ser um mero transmissor de conteúdos e passar a ser um educador reflexivo, certamente mudanças significativas irão acontecer no cenário educacional brasileiro.
O professor não pode e nem deve se acomodar na profissão, perder o entusiasmo pelo que faz. Todo profissional pode ser maravilhoso em sua função, só basta ter força de vontade e disposição. É muito fácil colocar toda a culpa no "sistema". Mas se cada uma das pessoas que fazem parte desse "sistema" não fizer sua parte, mesmo que pequena, nada irá mudar.
A falta de condições dignas para a educação sempre existiu e muito dificilmente irá deixar de existir. Cruzar os braços e ficar esperando nossos alunos evoluírem, serem cidadãos autônomos, críticos e criativos, através de nossas aulas chatas, monótonas e enfadonhas, nunca irá acontecer.
Mesmo com toda dificuldade que existe podemos tentar amenizar o caos da educação pública no Brasil. Um professor pode fazer a diferença, ser um mestre brilhante, mesmo com as inúmeras dificuldades existentes.
A estrada é longa, árdua e sofrida, mas "um caminho de mil léguas começa com um passo". Não podemos esquecer jamais de uma famosa frase dita por um de nossos filósofos populares (o qual desconhecemos o nome) e que geralmente as pessoas usam quando estão diante ou superam uma dificuldade: "Eu sou brasileiro e não desisto nunca".



REFERÊNCIA



PENTEADO, Heloísa Dupas. Metodologia do ensino de história e geografia. São Paulo: Cortez, 1994.

ROCHA, Ruth. Minidicionário da Língua Portuguesa. São Paulo: Scipione, 1998.