O Telejornal nas Aulas de Língua Portuguesa

INTRODUÇÃO

Sabemos da enorme necessidade de se buscar novas formas de ensinar a língua materna, pois as que estão sendo usadas hoje não estão sendo eficientes na formação lingüística dos discentes no que diz respeito ao desenvolvimento das habilidades, não só de comunicação, mas de interação. Isso se dá porque não há correspondência entre os avanços das teorias da língua e sua aplicação na realidade do contexto escolar. Assim sendo, nos propusemos a elaborar uma proposta metodológica em que fosse levado em consideração todas essas questões, visando mais eficácia no ensino/aprendizagem de Língua Portuguesa.

PROBLEMATIZAÇÃO


Apesar de todas as novas teorias que apontam para uma nova abordagem do ensino de língua materna, ainda se constata muita dificuldade na aceitação e prática das mesmas, pois, com efeito, o ensino de língua portuguesa, atualmente, continua centrando-se mais em dotar os alunos de capacidade para resolver exercícios gramaticais que em torná-los usuários cada vez mais hábeis da língua materna em suas diferentes modalidades. Ao ensinar a coesão e a coerência, por exemplo, o professor preocupa-se mais em fazer os alunos decorarem os conceitos dos elementos relacionados a esses temas, dando uma lista de exemplos em frases soltas, do que em levá-los a identificar como se dá o uso desses elementos no processo de construção dos textos e de que forma a presença ou ausência deles contribui positiva ou negativamente para o sentido destes. Desta forma, os alunos poderão até saber o que é a ambigüidade, a colisão, o cacófato, a concisão, mas não saberão como identificar isso no texto e o que fazer evitar esses "defeitos" em suas produções.

OBJETIVOS

GERAL:

Despertar no aluno a capacidade de diferenciar os textos jornalísticos de outros gêneros textuais.


ESPECÍFICOS:
 Ter habilidade de produção de textos jornalísticos.
 Produzir textos jornalísticos a partir das noticias do dia-a-dia.
 Empregar o uso dos elementos coesivos e perceber sua importância para a coerência do texto.
 Oportunizar aos alunos instrumentos necessários para a descoberta das expressões oral e escrita como forma de comunicação e interlocução.
 Fazer o aluno detectar a diferença no uso dos articuladores textuais nas modalidades oral e escrita.

REFERENCIAL TEÓRICO

Estamos vivendo em uma época em que todos os dias somos "atropelados" por uma série de mudanças e conflitos em torno de todo o planeta. Guerras, acidentes, políticas, fenômenos naturais geram noticias que entram em nossas casas por vários meios de comunicação ou, até mesmo, por meio de uma conversa com amigos.
O rádio, o jornal, as revistas e a televisão são os recursos mais utilizados, em nosso meio, para transmitir informações, além de serem ricos portadores de textos dos quais o professor pode dispor, dentre eles, a televisão é, hoje, sem dúvida, o mais abrangente veículo transmissor de notícia, isso porque é o mais acessível em todo o mundo; esse é um dos fatores que levamos em consideração ao escolher o telejornal para trabalhar em sala de aula. Dentre outros motivos, destacamos os seguintes: os textos do telejornal são curtos e, muitas das vezes, trabalhados em uma linguagem simples, sem rebuscamento; possuem um encadeamento lógico e transmitem de forma clara e objetiva a mensagem pré-elaborada através de textos escritos.
O uso dos textos jornalísticos em sala de aula pode ser um grande aliado para o desenvolvimento da capacidade critica dos alunos, uma vez que estarão diante de notícias sobre os mais variados assuntos que às vezes acabam agradando ou chocando a população; assim como também, podem ajudar os discentes a produzirem textos coerentes com o emprego adequado dos elementos coesivos, o que lhes propiciará mais segurança no ato de produção de qualquer tipo de texto. Destarte, propusemo-nos, neste projeto, a trabalhar a notícia televisiva, uma vez que o aluno entra em contato com ela, praticamente, todos os dias a um baixo custo se comparada ao jornal impresso e à revista.
O nosso trabalho com gêneros (especificamente do telejornal) se justifica por compreendermos que, no plano de ensino aprendizagem, o conhecimento e o domínio dos diferentes gêneros textuais, não apenas preparam o aluno para eventuais práticas lingüísticas, mas também o levam a aprender como é o conteúdo, a estrutura e a linguagem desses gêneros para que se apropriem de informações a respeito da situação de produção e recepção, tais como a finalidade comunicativa, a situação social em que é produzido, o perfil do interlocutor e, ainda, melhorem sensivelmente a capacidade de produção textual.
Até um tempo atrás, no ensino do Português, a língua era concebida como sistema: ensinar português era ensinar a conhecer/reconhecer o sistema lingüístico, através da análise gramatical. Porém, a partir das teorias enunciativas, muda-se a concepção de língua difundida até então, e esta passa a ser vista como instâncias do uso da linguagem.
Essa nova concepção contribuiu para que se repensasse várias questões referentes ao ensino de língua materna. Foi repensado o papel e função da gramática, a qual não será mais exclusivamente da língua escrita, mas também da língua falada; o texto passa a ser analisado, agora, em uma gramática que ultrapasse o nível da palavra e da frase, trazendo nova orientação para o ensino da leitura e da produçao de textos, agora vistas como processos de interação autor-texto-leitor.
Segundo Soares (1998), essa nova teoria do processo de aquisição e de desenvolvimento da língua materna, oral e escrita, soma-se às novas concepções de língua, de gramática e de textos para alterar radicalmente o ensino de língua, em que o aluno passa a ser considerado "sujeito ativo que constrói suas habilidades e conhecimento da linguagem oral e escrita em interação com os outros e com a própria língua" (Soares. 1998 pg. 59)
Ao pensar a linguagem e a língua em termos de discurso, as ciências da linguagem ampliaram significativamente o conhecimento disponível sobre os processos lingüísticos. Nesse sentido, o ensino de língua deve ser o ensino de uma forma de interagir, e não apenas um conjunto de regras em um sistema. Podemos traduzir isso nas palavras de Rangel (2005, pag. 16)

Conteúdos conceituais próprios da morfologia e da sintaxe tais como estas são concebidas pela tradição, certamente terão um papel a desempenhar nesse processo de ensino/aprendizagem, mas a perspectiva só poderá ser outra: em vez de esperarmos que o conhecimento conceitual da gramática leve o aprendiz a dominar ou aperfeiçoar as práticas da língua, devemos pretender que essas práticas permitam ao aluno intuir a gramática subjacente.

A partir dessas considerações, é inegável a importância do texto ? unidade maior da língua em funcionamento ? como instrumento de ensino e, por conseguinte, a abordagem dos diferentes gêneros textuais, visto que estes são fenômenos históricos ? vinculados à vida cultural e social ? que contribuem para ordenar e estabilizar as atividades comunicativas do dia-a-dia. Essa importância se acentua ainda mais nas aulas de Língua Portuguesa, em que a mesma Língua é simultaneamente o meio, o objeto e o objetivo.
Para adotar o gênero específico do telejornal, embasamo-nos em Dino Preti, que faz considerações significativas em relação à influência que não só esse, mas todos os gêneros da mídia exercem na concepção de ensino da língua portuguesa. Segundo ele, as normas da mídia suplantaram as fronteiras de seu local de produção, para introduzir-se no âmbito das salas de aula e a escola precisa considerar isso, pois, como o próprio Preti diz (1998: 91-92).
hoje, a língua ganhou uma dinâmica mais intensa, porque os grupos sociais interagem mais rapidamente, trocam experiências, trocam experiências de vida e de linguagem. Isso divulga-se com uma velocidade nunca imaginada, contando com a colaboração da mídia, da propaganda, dos modernos sistemas de redes de comunicação. (...) É preciso não esquecer que nossa linguagem vive, cada vez mais, sob a influência dos jornais; da TV e de suas novelas; do rádio; da publicidade e seus efeitos criativos e imprevisíveis.


Sendo assim, procuramos elaborar nossa proposta metodológica com base nas teorias expostas, por acreditarmos que esse é o melhor caminho a seguir se o que desejamos como estudiosos da língua e futuros professores, é aprimorar o nosso conhecimento e transformar o ensino, de forma que este se torne mais eficiente em relação ao que é atualmente.

PROPOSTA METODOLÓGICA


A utilização de textos jornalísticos em sala de aula, ainda não é uma prática constante nas aulas de Língua Portuguesa, e pelo que parece, está muito distante de ser. Os poucos trabalhos pedagógicos com este material não vão além da leitura do texto escrito, com questões de entendimento quase sempre oral, e algum comentário superficial sobre o assunto da matéria jornalística. Visando trazer o jornal para dentro da escola para usá-lo, de fato, no processo de ensino aprendizagem de língua materna e, ao mesmo tempo, fazer com que os alunos tenham a necessidade de ficar bem informados sobre os fatos que acontecem no mundo, na sua época e refletir sobre eles de forma crítica. Nessa perspectiva nos propusemos a montar, a princípio, com eles um modelo de um telejornal, do qual eles serão os repórteres, editores, diretores e apresentadores, para que, assim, tenham consciência dos procedimentos e etapas necessárias na construção desse gênero. Posteriormente, com a parte escrita do telejornal, iremos montar um jornal impresso, fazendo, evidentemente, adequações a esse tipo de produção para que os discentes percebam as diferenças entre as modalidades oral e escrita.
Esses trabalhos serão expostos para os próprios autores como também para a escola em geral. Acreditamos que um objetivo claro e um destinatário específico para a produção, incentiva os alunos a realizarem a atividade com mais empenho e, conseqüentemente, mais qualidade. Sendo assim, sugerimos a seguinte metodologia:
No dia que precede a aula na qual se pretende trabalhar o telejornal, após explicar os topicos coesão e coerência, o professor deverá dizer aos alunos sobre o assunto a ser trabalhado nas próximas aulas, e pedirá a eles que assistam a algum telejornal com a intenção de ver como ele foi apresentado e, ao mesmo tempo, de abstrair alguma notícia que lhes chamou a atenção, para que na próxima aula essa notícia possa ser repassada aos colegas de turma. Se possível, o professor poderá gravar alguns telejornais para repassar em sala de aula.
Posteriormente o professor deverá pedir a cada aluno que escreva a notícia que lhes interessou em um papel, como se ele fosse o jornalista que produziu tal informação. Após a reprodução das notícias, o professor pedirá aos alunos que escolham um colega da turma e façam a troca de seus textos.
Após a troca, o professor deverá fazer questionamentos à turma sobre o telejornal, como por exemplo: qual o tempo aproximado do telejornal a que você assistiu? Qual tempo médio utilizado para a divulgação de uma notícia? As palavras utilizadas pelo apresentador eram de fácil compreensão? Pela entoação do apresentador dava para perceber que ele estava lendo a notícia repassada?
Essas perguntas deverão ser feitas para começar a aguçar a curiosidade dos alunos para que eles já tenham uma breve noção dos próximos passos.
Em seguida o professor dirá aos discentes que eles repassarão, de forma oral como se fossem apresentadores de telejornal, a notícia escrita pelos colegas; para isso deverá dar um tempo razoável para que eles se familiarizem com os textos e procurem a entoação (tom de voz, altura e dicção) que acreditar ser a ideal para dar a notícia. Vale lembrar que o professor deverá agir com bastante cautela, pois muitos alunos são tímidos para falar em público, e que para realizarem a atividade precisarão de ajuda.
Depois da exposição dos textos, o professor fará a apresentação do conteúdo "telejornal", para esclarecer as características próprias do gênero. O motivo de o conteúdo ser repassado é para que os alunos possam fazer outra atividade a partir dos textos de seus colegas, por isso, após a exposição eles devem ser guardados.
Ao término do repasse de conteúdo, o docente deve explicar a estrutura do gênero telejornal, assim como os elementos responsáveis pela coesão e coerência. Em seguida pedirá aos alunos que reescrevam os textos de seus colegas, adequando-os à linguagem jornalística, deforma que não haja distorção daquilo que se quis dizer. Ao adequar esses textos, os alunos deverão levar em consideração, principalmente, os elementos de coesão e coerência, trabalhados na aula anterior, assim como outros tópicos gramaticais que já conheçam e dominem. Enquanto estiverem reescrevendo os textos o professor poderá esclarecer alguma dúvida que possa ter ficado sobre coesão e coerência.
Após serem feitas as retificações dos textos, os alunos deverão reapresentar as notícias, tanto a escrita pelo colega, quanto a que apresenta as modificações, para que possam perceber as diferenças entre um texto jornalístico e o texto comum que utilizamos para repassar uma noticia e compreender o papel fundamental da coesão na construção de um texto, de forma que fiquem conscientes de quanto isso contribui para a boa compreensão do texto do gênero em estudo.
Agora, cada aluno terá a missão de sair pela escola, pelo seu bairro, ou até mesmo pela cidade inteira, em busca de algum fato significante que lhe chame a atenção, para a partir dele, formular um texto jornalístico. Esses textos passarão por uma avaliação para que a turma, juntamente com o professor, selecione as notícias que julgarem mais relevantes para utilizarem na montagem de um telejornal.
Se houver uma câmera de vídeo, poderá ser feita a filmagem desse telejornal para, posteriormente, apresentá-lo aos alunos e funcionários da escola. E depois com a parte escrita do telejornal, as notícias em si, a turma poderá montar um mini-jornal impresso para ser colocado no mural da escola.

CONCLUSÃO


Ao concluir esta proposta metodológica, fica-nos a certeza de que é possível ensinar língua portuguesa sem ser preciso a descrição infinda de regras gramaticais, o que contribui para que os alunos rotulem a disciplina como cansativa, chata e complicada não só pelo conteúdo que repassa, mas também pelas metodologias adotadas pela maioria dos discentes. Com base nesse fato, acreditamos que a adoção de novas formas de ensinar pode até não resolver o problema, mas já é um grande passo na busca da solução ou pelo menos amenização dos problemas que enfrentamos, hoje, no ensino de língua materna.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS


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