UNIVERSIDADE ESTADUAL VALE DO ACARAÚ- UVA

CENTRO DE FILOSOFIA, LETRAS E EDUCAÇÃO- CENFLE

LITERATURA INGLESA IV

PROFESSOR DR. MARTOM TAMAS GEMES

ACADÊMICO: FRANCISCO LEANDRO LOURENÇO

 

 

O suspense, a ironia e o mistério na obra “Os assassinos” de  Ernest Hemingway

 

 

Os assassinos é uma das brilhantes obras do estadunidense Ernest Miller Hemingway que nasceu em 1899, em Oak Park, Illinois (EUA). Poucos escritores tiveram uma vida tão intensa quanto Hemingway, cuja carreira poderia ter saído de um de seus romances de aventura. Apresentou-se como voluntário para trabalhar como motorista de ambulância na França durante a Primeira Guerra Mundial, mas foi ferido e ficou hospitalizado por seis meses. Depois da guerra, como correspondente de guerra baseado em Paris, encontrou os escritores americanos expatriados Sherwood Anderson, Ezra Pound, F.. Scott Fitzgerald e Gertrude Stein. Stein, em particular, influenciou seu estilo conciso

Nessa obra, assim como em “ Kew Gardens” percebemos no início da obra o uso de uma técnica narrativa chamada câmera eye, uma técnica na qual percebemos o desenrolar da ação através de uma perspectiva externa como se os acontecimentos em volta não interessasse ou nem existissem. Percebemos também um narrador heterodiegético auctorial no momento que ele diz que Al era um homem que usava chapéu-coco e um sobre tudo negro e ainda especifica que o mesmo tinha duas fileiras de botões; que ele era um homem de rosto pequeno e pálido e que tinha os lábios apertados. Ou seja, o narrador heterodiegético auctorial é aquele que possui todos os privilégios, que sabe de tudo, que explica a cena explicitamente.

A grande onda cultural do modernismo, que surgiu na Europa e depois se espalhou para os Estados Unidos nos primeiros anos do século XX, expressava um sentido de vida moderna pela arte como uma ruptura brusca com o passado. À medida que as máquinas modernas mudavam o ritmo, a atmosfera e a aparência da vida diária no início do século 20, muitos artistas e escritores, com graus variados de sucesso, reinventavam formas artísticas tradicionais e buscavam radicalmente outras novas.

Nessa obra Hemingway faz uma crítica a violência que assola os EUA nos pós guerra, pois mesmo Sammit sendo uma cidade interiorana dos Estados Unidos os mesmos presenciam uma cena atípica com a entrada de dois assassinos atrás de liquidar Andresson, por conta de um favorzinho a certo amigo; a partir de então percebemos um ar de mistério, pois em nenhum momento é revelado motivo de tal desejo, ou melhor, ordem.

No momento que o narrador faz uma descrição das características dos assassinos, de seus gestos e ações, ou seja, do que ele observava, passamos a ver a narrativa a partir de uma perspectiva externa, é como se víssemos a história a partir do olho de uma câmera, se assemelhando assim a um discurso jornalístico, o qual descreve os acontecimentos levando-nos a crer que são fatuais. Como podemos observar no trecho a seguir:- Vou querer presunto e ovos – disse o homem chamado Al. Ele usava um sobretudo preto abotoado na frente. O rosto era pequeno e pálido e tinha os lábios finos. Usava um cachecol de seda e luvas

 

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Give me bacon and eggs,” said the other man. He was about the same size as Al. Theirfaces were different, but they were dressed like twins. Both wore overcoats too tight forthem. They sat leaning forward, their elbows on the counter. (pág. 2)

 

 

O momento que os assassinos entram no restaurante deixam claro que andam atrás do Andresson para matá-lo, porém não revelam o motivo de tal desejo, também pode ser caracterizado como uma característica do estilo jornalístico, pois do início até o fim fica esse ar de suspense e de mistério em torno desse trama o qual conduz toda a narrativa.

Após eles revelarem que andam atrás do lutador, o narrador cria em nós, leitores, aquele clima de suspense, aquela pergunta que não quer calar; será que a qualquer momento o Andresson irá entrar e será executado? E esse mesmo clima de suspense é reforçado a cada momento que a porta se abre revelando-nos um novo freguês e a cada momento que eles decidem dar mais dez minutos, mais cinco minutos aumentando assim a possibilidade para que o ex- boxeador venha de encontro da morte.

Outro momento onde podemos perceber esse clima de suspense é o fato de acharmos que o crime irá se consumar, porém os assassinos nos surpreendem ao desistir de tal desejo. Outro fato que sustenta-nos nesse clima de suspense, é a expectativa de acharmos que após Andresson saber através de Nick, que o mesmo está sendo procurado para ser morto irá fugir, em busca de se manter vivo, porém ele não se abalou permanecendo o mesmo imóvel sobre a cama como quem espera a morte chegar.

Outro ponto forte dessa narrativa é a ironia, onde podemos notá-la explicitamente no trecho a seguir, observe:

 “This is a hot town,” said the other. “What do they call it?”

“Summit.”

“Ever hear of it?” Al asked his friend.

“No,” said the friend.

“What do they do here nights?” Al asked.

“They eat the dinner,” his friend said. “They all come here and eat the big

dinner.”

 “That’s right,” George said.

“So you think that’s right?” Al asked George. (pág. 2)

 

Nesse trecho percebemos a ironia com a qual eles se referem à pacata cidade de Summit. O fato de o Max chamar o George de espertinho, também pode ser caracterizado como uma ironia, pois ele o faz repetidas vezes.

Podemos perceber traços de ironia no momento que George pergunta o por que eles vão matar o boxeador, o que ele fizera para merecer tamanha sentença; e o assassino responde ironicamente que Andresson nunca fizera nada contra eles, nunca tivera nem a oportunidade e de vê-los e aquele seria a primeira e última e que tal serviço era apenas um favorzinho a um amigo.

Foram esses e outros recursos que levaram Hemingway a topo das obras primas do conto moderno, ou seja, o uso de uma linguagem simples, uso do discurso direto e uma dialogia simples e curta.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

 

HEMINGWAY, Ernest. “Os assassinos”.In: As aventuras de Nick Adams. Trad.: Hélio Pólvora. São Cristóvão: Antenova, s/d; pp. 54-63

VANSPANCKEREN, Kathryn. Panorama da literatura dos Estados Unidos. Acessado em:

http://www.embaixada-americana.org.br/HTML/literatureinbrief/chapter06.htm08/06/13

PARREIRA, João Tomaz. Um naturalismo a maneira de Hemingway. Acessado em:

http://www.bestiario.com.br/15_arquivos/Um%20naturalismo.html08/06/13

http://www.letraslivres.no.comunidades.net/index.php?pagina=1758345904_03.Acessado em 08/06/13

http://www.unibg.it/dati/corsi/3410/20235-The%520Killers%20by%20Ernest%20Hemingway.pdf Acessado em 08/06/13