O surgimento da democracia grega no seio da polis*

A idéia de democracia está diretamente relacionada com a vida na cidade.

Para os antigos gregos, a palavra pólis, que é normalmente traduzida como cidade-Estado, tinha um duplo sentido: societário, ou seja, a cidade como comunidade de cidadãos; e, estatal, ou seja, a cidade como centro de organização do poder político.1

As primeiras póleis foram organizadas de modo a se basear em fidelidades tribais. Eram cidades-Estado pequenas, habitadas por, em média, 5 mil pessoas e governadas, geralmente, pelos cidadãos, homens unidos por laços de parentesco. Estes cidadãos eram bem conhecidos entre si e possuíam um sentimento de vínculo cultural e político.2

Durante a maturidade política da cidade-Estado (século V a.C.), já havia, nitidamente, uma noção de que a forma de governo adotada na pólis derivava muito mais da vontade humana do que dos desejos dos deuses; o que se contrapunha à prática política adotada nas cidades-Estado orientais, nas quais, a forma de governo geralmente expressava a vontade de deuses, monarcas hereditários ou sacerdotes.3

Dentro do pensamento racional e político dos gregos, a evolução da cidade-Estado está diretamente vinculada à separação entre mito e razão. Embora as primeiras cidades-Estado tivessem nascido como instituições religiosas na qual os cidadãos procuravam manter alianças com suas divindades, a emergência de um racionalismo

1 MORAES, João Quartim de. Epicuro, as luzes da ética. São Paulo: Moderna, 1998. p. 53.

2 PERRY, Marvin e outros. Civilização ocidental; uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 1985.

3 PERRY, op. cit.

político levou as tradições religiosas a se conformarem, pouco a pouco, às manifestações da razão, além de terem se enfraquecido por caírem no esquecimento.4

Assim, os problemas vivenciados pelos seres humanos deviam ser discutidos e solucionados no âmbito da esfera de atuação humana e não no âmbito da esfera de atuação divina, como faziam os povos do Oriente Próximo, o modelo mais próximo, no qual, os gregos podiam se balizar. Destarte, os gregos buscavam uma forma de governo pela qual os homens fossem regidos pelos princípios de justiça e igualdade incorporados pela legislação. Por essa época (século V a.C.), um governante com poderes absolutos era inimaginável para os gregos.5

Deste modo, a origem da democracia grega está diretamente relacionada com a vida na cidade-Estado, como afirma Perry,

O princípio de liberdade política, fundamental à política grega e alheio à experiência política do Oriente Próximo, era vital para a conformação do ideal democrático no Ocidente. Atenas é o melhor exemplo dos ideais do Estado democrático.6

* Texto anteriormente publicado como"texto teórico e metodológico" pelo Centro Universitário Claretiano em 2008.

Bibliografia

ARISTÓTELES. Política. Trad. Pedro Constantin Tolens. São Paulo: Martin Claret, 2006.

MORAES, João Quartim de. Epicuro, as luzes da ética. São Paulo: Moderna, 1998. (Logos).

PERRY, Marvin e outros. Civilização ocidental; uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 1985.

4 PERRY, op. cit.

5 PERRY, op. cit.

6 PERRY, op. cit.

Biografia

Antônio de Pádua Pacheco, bacharel em História pela FFLCH-USP, mestrado em História Social pela USP, sob orientação do professor Francisco Murari Pires.