Estudante: Claudio José Bezerra de Aguiar

Tarefa: "Quem é o sujeito da ética conforme a ética filosófica? E conforme a ética cristã? Discorra sobre a questão (2-3 pág.)"

Obra:Ética teológica e filosófica. Apostila de estudos da INTEGRALIZAÇÃO do curso de

BACHARELADO EM TEOLOGIA. Dr. Claus Schwambach

São Bento do Sul – SC

O sujeito na ética filosófica e na ética cristã

  Ética são as formas e comportamentos qualificados como bons e ruins. Sendo que esta é atribuída a agentes que fazem uso das ações que se enquadram dentro deste parâmetro ético. A necessidade da ética só existe por razão de haverem agentes de ações. Assim, para compreender como são pautadas as qualificações éticas, se faz precisão de uma compreensão antropológica desses agentes, que são os sujeitos da ética, tanto filosófica como cristã.

  O sujeito da ética filosófica é a pessoa, que Boécio (480-524 d.C.) define como “a substância do indivíduo de natureza racional”. A pessoa tem substância própria, e capacidade de relacionar com outras pessoas. Nesse respaldo, a teologia Medieval, embasada no dualismo de Aristóteles, acreditava que a pessoa tinha uma subsistência, mas ontologia onde a graça de Deus era infusa no homem. O que Lutero refutou, afirmando o homem não ter substância nenhuma em si mesmo, tudo que recebe é externo, como a graça de Deus.  No pensamento iluminista, René Descartes apresenta a pessoa como o ser que consegue pensar, o que atribui realidade a sua existência. Tudo o mais é relativo, sendo que só é real, aquilo que pode ser comprovado empiricamente. Immanuel Kant observava a pessoa como um ser autônomo, capaz de realizar boas coisas sendo guiado pela razão, não havendo necessidade de meios externos a ele, para guiarem seu comportamento. A religião era apenas uma motivação para o agir moral. Com isso Kant ao queria anular a religião, apena queria separar fé e ciência. A fé seria apenas um impulso para uma recompensa do agir corretamente. Sem uma religião o mundo tende para caos, pois as pessoas não veriam razão para um comportamento moralmente aceitável. Deus é a razão de boas praticas, porque ele motiva com promessas os que agirem assim, e com castigo os que agem de outra forma. Com o idealismo alemão o pensamento de Kant se dividiu. Fichte assumiu que o ser humano é absoluto, não precisando nem da religião ou Deus para motivar suas ações. E Hegel concluiu que o saber sobre Deus não é motivacional, mas um conhecimento especulativo. Sendo que tudo que engloba o conhecimento, as ações, os acontecimentos não passam de um conhecer da história e um destino para onde se caminha. Os marxistas se opõem a esse pensamento, afirmando que as pessoas são os agentes transformadores da história, não apenas conhecedores dela. O existencialismo foi contra Hegel e os marxistas, pois sua preocupação não foi a história, mas os indivíduos da mesma. O que abriu caminho para Friedrich Nitzsche. Que proclamou a morte de Deus. O homem agora esta no trono e dita as suas regras, diz o que é certo e errado. Em decorrência impera o relativismo. Onde tudo é relativo, as ações morais, o pensamento e até a própria vida. A única realidade é o homem. O homem no centro de todas as coisas, mas sem razão para um comportamento moral, acaba perdendo sua identificação. Assim surge uma busca pela identidade, que Willian James e Mead asseguram ser adquirida pelo diálogo com outras pessoas, onde a identidade se forma pela influência da sociedade e influência os outros. A identidade e formada de fora para dentro. Sigmund Freud articulava o contrário. Para ele a identidade se formava dentro das pessoas desde sua infância. Enquanto outros discorriam que a identidade se forma em meios aos conflitos sociais, e outros ainda asseveram que a identidade é algo que nunca está pronto, mas sempre se construindo. Assim o sujeito da ética filosófica é sempre a pessoa que está em busca de descobrir o que ela é, o que ela deve fazer e por que. O sujeito não é acabado, mas busca se descobrir como indivíduo dentro de uma sociedade. 

  Na ética cristã continua a ser o indivíduo o sujeito, porém esse não é dominado por sua razão meramente. Este é um ser dividido em duas ou três partes, corpo e alma ou corpo, alma e espírito, e cada uma delas tem uma função específica. Segundo o pensamento grego e Medieval a carne e a parte responsável pelas más ações, os pecados e as outras pelas boas ações, e essas davam acesso a Deus. Lutero, refutar a questão do acesso a Deus. O contato com Deus não depende de nenhuma das partes do ser humano, conforme o contexto bíblico depende apenas do coração. A resposta que o coração dá a Deus atribui uma pessoa como incrédula ou de fé.

  O sujeito da ética cristã pauta seu comportamentos naquilo que se encontra nas Escrituras. Com essa base, a igreja católica romana faz distinção entre imagem e semelhança de Deus. O primeiro é os atributos intelectuais que permanecem no homem de uma forma enfraquecida. O segundo foi totalmente perdido. No entanto o homem tem dentro de si algo de bom a alma e o espírito, que estão encoberto pelo pecado, mas fazem com que homem dentro de si tenda para Deus. A graça completa algo que está dentro do homem. Contudo, Lutero observou que não há diferença entre imagem e semelhança. A imagem é todo ser humano, aparência, capacidade se viver em família, de relacionar com Deus, de socializar e de dominar a criação. K. Barth argumenta que o homem perdeu a imagem de Deus, mas pode conquistá-la em Cristo. O homem precisa de Deus e não pode viver sem Ele, e sua imagem se manifesta na capacidade do homem se relacionar com Deus.

  Outro ponto importante do sujeito da ética cristã está na concepção de pecado, porque é neste critério que ela faz maior diferença entre ética filosófica. Primeiro porque a ética filosófica está centrada no ser humano, enquanto a ética cristã esta focada em Deus. Segundo porque a primeira os comportamentos visam a comunhão com os homens, e a outra visa comunhão com Deus. Por esta razão na ética cristã o pecado não é simplesmente uma fraqueza, ou falha que se possam ser cometidas contra outras pessoas. O principal foco do pecado é a aversão a Deus, a inimizade e o afastamento de Deus.

  A ética cristã vê o homem como pecador, devido ao pecado original que esta dentro de todas as pessoas, e praticador de pecados, porque sua natureza o leva a pecar constantemente. Por isso sua tarefa é levar o ser humano a um confronto frente suas responsabilidades para com Deus como seu criador. E mostrar que Deus quer ajudar as pessoas a superarem o afastamento causado pela queda, por meio de sua graça que se manifesta na pessoa de Jesus Cristo.

  A pessoa que aceita a graça de Cristo não deixa de ser pecadora, doravante que ela pode ainda praticar atos ruins e atos bons. De cunho protestante se vê que a pessoa é dotada de uma capacidade externa que lhe atribui força para vencer o pecado advindo da experiência de libertação operada por Cristo e da pregação do evangelho. A consciência é uma auxiliadora nesta tarefa, visto ser ela uma capacidade interior das pessoas capazes de distinguir entre o certo e o errado. Na idade média Tomás de Aquino declarava que a consciência é pura e não foi corrompida pela queda, ela é a “voz divina” dentro do homem. Lutero refutou proferindo que não há nada no ser humano que não tinha sido afetado pela queda, uma consciência limpa só poderia vir da graça, do perdão e da fé. No idealismo a idéia se aproxima da idade média. Kant ditava que o homem é autônomo e a consciência é pura, enquanto Hegel afirmava que a consciência poderia errar, por isso precisava de auxílio das experiências externas a ela. Nietzsche expunha que ela era a fraqueza do homem, não servindo para nada apenas para atrapalhar as ações das pessoas. Como este argumentava sobre a morte de Deus, sua reflexão se torna de pouco valor para uma ética cristã, visto que esta prioriza Deus. Em suma o sujeito da ética cristã é a pessoa que se coloca debaixo da graça de Deus, como cria Lutero, e vive uma vida pautada nas diretrizes da palavra de Deus, como um meio de mostrar sua gratidão para com a liberdade que Deus a condicionou. O viver ético se mostra como uma forma de amor para com Deus.