O SUICÍDIO E A VIDA ETERNA

Quando eu contava apenas seis anos de idade, minha mãe, que vivia uma fase marcada por recrudescida perturbação mental resolveu dar cabo da própria vida, e cometeu destarte o malfadado suicídio.

E, como se não bastasse essa opção desditosa, ela chamou-me a mim e à minha irmã, então com dez anos de idade, para assistirmos ao seu ato deveras covarde.

A uma distância de apenas quatro metros do meu belo nariz suicidou-se minha pobre mãe...

Poucos anos antes dessa cena macabra cometera suicídio o meu tio, irmão de minha mãe.

E seis anos após a morte de minha genitora, chegava eu em casa depois de um cansativo dia de trabalho (Era eu então vendedor ambulante de picolés e sorvetes); e meu pai, trôpego de tanta bebida alcoólica, aguardava tão-somente a minha chegada para se despedir de mim, já com um revólver apontado para a sua cabeça.

Só não levou a efeito o seu infortúnio porque foi impedido por mim e por um vizinho nosso.

Isto foi em Setembro. No mês seguinte, Outubro, ele morreu num leito hospitalar, vítima de um fulminante ataque cardíaco...

Consoante o Dicionário, suicidar-se é dar a morte a si mesmo; matar-se. Causar a própria ruína.

O suicídio é, portanto, ruinoso, e contraria frontalmente ao Sexto Mandamento do Senhor Deus: “Não matarás” (Êx.20:13; Dt.5:17; Mt.5:21; Rm.13:9)

Ao dizer o Senhor Deus “Não matarás”, isto se aplica primeiramente a mim, isto é, primeiro eu não devo me matar; e, por conseguinte, ao meu próximo.

Este Sexto Mandamento faz coro com o Supremo Mandamento do Amor: “A ninguém devais coisa alguma, senão o amor recíproco; pois quem ama ao próximo tem cumprido a lei. Com efeito: Não adulterarás; NÃO MATARÁS; não furtarás; não cobiçarás; e se há algum outro Mandamento, tudo nesta palavra se resume: AMARÁS AO TEU PRÓXIMO COMO A TI MESMO” (Rm.13:8,9)

A Bíblia Sagrada, por ser um Livro Completo e Perfeito, mostra-nos pessoas cometendo o suicídio, por motivos vários.

Mas quero analisar aqui somente um, por ser o mais famoso.

Nos Insondáveis Desígnios do Senhor Deus, Judas Iscariotes foi escolhido para compor o Colégio Apostólico do Senhor Jesus Cristo, sem, contudo, ter sido crente, salvo pela Graça Bendita de Deus.

Muito antes do seu nascimento, Judas o traidor foi predito pelas Escrituras Sagradas como o guia daqueles que prenderam a Jesus (Sl.41:9; Zc.11:12; At.1:16).

Com efeito, somos informados sobre a índole pecaminosa desse homem, já como discípulo de Jesus: “Mas Judas Iscariotes, um dos doze discípulos, aquele que o havia de trair disse: Por que não se vendeu este bálsamo por trezentos denários e não se deu aos pobres? Ora ele disse isto, não porque tivesse o cuidado dos pobres, MAS PORQUE ERA LADRÃO e, tendo a bolsa, SUBTRAÍA o que nela se lançava” (Jo.12:4-6). “Respondeu-lhes Jesus: Não vos escolhi a vós os doze? Contudo um de vós é diabo. Referia-se a Judas, filho de Simão Iscariotes; porque era ele o que o havia de entregar, sendo um dos doze.” (id.6:70,71)

E o que fez ele, quando tudo lhe parecia perdido?

“Então Judas, (...) FOI ENFORCAR-SE” (Mt.27:3-5). “Ora, ele adquiriu um campo com o salário da sua iniquidade; e PRECIPITANDO-SE CAIU PROSTRADO E ARREBENTOU PELO MEIO, e todas as suas entranhas se derramaram” (At.1:18).

E qual foi o seu destino?

“... e nenhum deles se perdeu, senão o FILHO DA PERDIÇÃO, para que se cumprisse a Escritura” (Jo.17:12). “... do qual Judas se desviou PARA IR AO SEU PRÓPRIO LUGAR” (At.1:25).

Sansão não se suicidou, como muitos acreditam e propagam. Eu, particularmente, não acredito, visto que Sansão é exatamente o oposto de Judas Iscariotes.

Escolhido por Deus desde o ventre de sua mãe, para ser um nazireu de Deus, um dos Juízes que Deus suscitou para livrarem os filhos de Israel da mão dos que os despojavam, Sansão nasceu e morreu como homem de Deus.

Ele se deslanchava operante na Obra do Senhor, mas, por causa de desobediência, acabou nos moinhos do cárcere filisteu, com os olhos arrancados pelos filisteus.

Então, numa fervorosa oração a Deus, Sansão pediu-lhe fortalecimento, PARA ELE SE VINGAR DOS FILISTEUS PELOS SEUS DOIS OLHOS, e não para cometer suicídio. Para suicidar-se a pessoa não precisa de forças, pois é a fraqueza que move a pessoa ao suicídio; ou seja, o suicídio é tão-somente para os fracos.

Oração prontamente atendida, ele abraçou-se com as duas colunas em que se sustinha a casa, repleta de cerca de três mil homens e mulheres; e arrimando-se nas colunas, bradou: “MORRA EU COM OS FILISTEUS! Inclinou-se com toda a sua força, e a casa caiu sobre os chefes e sobre todo o povo que nela havia. Assim foram mais os que matou ao morrer, do que os que matara em vida.” (Jz.16:30)

Assim morreu Sansão, em pleno exercício da Causa do Senhor, e por isso ele consta da privilegiada lista de nomes da propriamente chamada Galeria dos Heróis da Fé, na Epístola aos Hebreus, 11:32.

É-me difícil entender e aceitar um crente, um salvo, cometer suicídio, porque a Bíblia Sagrada informa-nos que o crente TEM A MENTE DE CRISTO (1Co.2:16).

Ora, como é possível alguém que pensa e ama como Cristo, cometer a infelicidade do suicídio?

Tenho cá as minhas dificuldades em entender...

Mas, se isto porventura acontecer, sabemos que nada, mas ABSOLUTAMENTE NADA separa o crente, o salvo, do Amor de Deus: “Porque estou certo de que, NEM A MORTE, (...) nos poderá separar do Amor de Deus, que está em Cristo Jesus nosso Senhor” (Rm.8:38,39)

Quando o Apóstolo Paulo disse NEM A MORTE, ele quis dizer NEM A MORTE, ou seja, a morte em todas as suas matizes.

Paulo generalizou. Ele não especifica se é a morte por afogamento ou por queimadura, se é por velhice ou por moléstia, se é por homicídio ou por suicídio, e etc.

Paulo disse NEM A MORTE; e nem a morte significa mesmo nem a morte.

Agora, é bom fixar-se na mente, que a ideia e a concretização do suicídio são a culminância de uma profunda depressão pela qual passa a pessoa; agravada pelos sintomas da loucura, ou o recrudescimento da mesma.

Jó, quando passava pelos piores embates de sua vida, foi aconselhado por sua mulher a cometer o suicídio. Mas Jó lhe disse: “Como fala qualquer DOIDA, assim falas tu...” (Jó 2:9,10)

O suicídio é mesmo para os fracos, covardes e doidos.

E o diabo, que não perde tempo no exercício de suas ações malignas, labuta inste pela morte de alguém, pois ele “não vem senão para roubar, MATAR e destruir”, opondo-se totalmente ao Senhor Jesus Cristo, que veio para que tenhamos vida, e a tenhamos em abundância (Jo.10:10)

Outras formas evidentes de se cometer suicídio, embora gradualmente, é o enveredar-se ao alcoolismo, ao tabagismo, às drogas alucinógenas, à gula e à promiscuidade.

O fanatismo, em todas as suas nuanças, também é outro caminho que conduz ao suicídio. Já estamos acostumados com os noticiários sobre os fanáticos do futebol, sobre os invasores de escolas estudantis e sobre os homens-bomba, estes últimos com suas religiosidades insanas.

Eu penso que até o adultério é uma forma de suicídio, visto que ele causa a própria ruína: “O que adultera com uma mulher é falto de entendimento; DESTRÓI-SE A SI MESMO, quem assim procede. Receberá feridas e ignomínia, e o seu opróbrio nunca se apagará” (Pv.6:32,33)

Concluo dizendo que o fato de alguém desejar e até mesmo pedir a Deus a morte, não se lhe constitui em pecado, visto que grandes e destacados servos de Deus a desejaram: O Profeta Moisés (Nm.11:15); o Profeta Elias (1Rs.19:4); Jó (3:11; 10:18-22); o Profeta Jeremias (15:10; 20:14-18); o Profeta Jonas (4:3,8,9); e o Apóstolo Paulo (2Co.5:8; Fl.1:23). Pecado é, pois, a concretização voluntária desse desejo, ou seja, dar a morte a si mesmo.

E dar a morte a si mesmo, com toda certeza não agrada a Deus, porque não é proveniente da fé; “e tudo o que não provém da fé é pecado” (Rm.14:23)

A morte do homem é um imperativo do Senhor Deus, e a ela segue imediatamente o Juízo: “E, como aos homens ESTÁ ORDENADO MORREREM uma só vez, vindo depois disso o Juízo” (Hb.9:27). Portanto, ninguém pode ordenar a minha morte, nem mesmo eu posso, mas tão-somente Deus, E isto Ele faz no seu Soberano Tempo, O TEMPO DE DEUS, pois a sua Palavra diz que “Há tempo de nascer, e tempo de morrer.” (Ec.3:2)

Não posso morrer antes do meu tempo determinado; então, como o Salmista eu quero também dizer: “Não morrerei, mas viverei, e contarei as obras do Senhor” (Sl.118:17)

Quanto à minha mãe, onde estará ela agora?

De bom grado deixo para o Senhor Deus a resposta desta pergunta envolta de mistério, pois Ele, como Justo Juiz (2Tm.4:8), como “Juiz de toda a terra” (Gn.18:25), conhece os corações de todos (1Sm.16:7; 1Rs.8:39; 1Cr.28:9; 2Cr.6:30; Jr.17:10; Mt.9:4; Mc.2:8; At.1:24; Ap.2:23) e “julga segundo a obra de cada um” (1Pd.1:17)

E, quanto às nossas obras e ao Julgamento de Deus, esta é a Palavra que nos foi revelada: “Porque Deus enviou o seu Filho ao mundo, não para que julgasse o mundo, mas para que o mundo fosse salvo por Ele. Quem crê nEle não é julgado; mas quem não crê, já está julgado; porquanto não crê no Nome do Unigênito Filho de Deus. E o julgamento é este: A luz veio ao mundo, e os homens amaram antes as trevas que a luz, porque as suas obras eram más. Porque todo aquele que faz o mal aborrece a luz, e não vem para a luz, para que as suas obras não sejam reprovadas. Mas quem pratica a verdade vem para a luz, a fim de que seja manifesto que as suas obras são feitas em Deus.” (Jo.3:17-21). Palavras do Senhor Jesus Cristo. Amém.

Lázaro Justo Jacinto