O SISTEMA FAMILIAR E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO OLHAR DA PSICOPEDAGÓGICO Aparecida Roseli Pereira da Silva Celia Paula Luperini Elizete da Silva Paulo RESUMO Esse artigo tem como objetivo refletir sobre o papel da família na compreensão dos problemas de aprendizagem, os envolvimentos e as contribuições do apoio familiar para minimizar essas dificuldades, contextualizaremos acerca das características do funcionamento do sistema familiar contemporâneo e de suas possíveis repercussões na educação e na aprendizagem escolar dos diferentes sujeitos, analisando o processo de aprendizagem frente às relações familiares. O SISTEMA FAMILIAR E AS DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM NO OLHAR PSICOPEDAGOGICO A transformação histórica-cultural é resultante de um constante processo de evolução, ao qual a estrutura familiar vai se moldando e modificando, aos diferentes momentos históricos vivenciados pela humanidade, assumindo características peculiares a partir do tipo de referencia adotada como base para a educação dos filhos em determinada época ou período. Assim a família contemporânea tem criado formas próprias de organização, não mais se limitando ao “tradicional”- pai, mãe, filhos dos mesmos pais, esse fato se da pela conseqüência dos tempos dos tempos modernos, os casais se separam por diversas vezes, passando ou não a conviver com os filhos, frutos das relações anteriores e da nova relação conjugal. Sabemos que qualquer mudança na constituição, na configuração e no funcionamento familiar irá refletir na subjetividade das pessoas, uma vez que a subjetividade se constrói na relação com o outro, no campo do humano, dos afetos. Segundo ACKERMAN “por maiores que sejam as transformações na configuração familiar, essa instituição permanece como unidade básica de crescimento e experiência, desempenho ou falha contribuindo assim tanto para o desenvolvimento saudável quanto patológico de seus componentes.”( ACKERMAN, 1986, p.29) Mediante essa citação, enfatizamos a importância da família para o desenvolvimento de cada um de seus membros, e ao relacionar-mos aos problemas de aprendizagem, em especial é fundamental que tenhamos um olhar atento e globalizado enquanto educadores, afim de melhor avaliar os prováveis fatores estejam intervindo negativamente no processo de ensino aprendizagem, assim como para que sejamos capazes de compreender melhor o papel do sujeito com dificuldade de aprendizagem representa perante sua família. Compreendemos então que são as características particulares de cada família que provem um terreno fértil para a formação de um sintoma na aprendizagem, ao se relacionarem com um tipo de circulação do conhecimento e especialmente com o acionar de um momento diferente e que muitas vezes não aceito pela criança do grupo familiar, esse novo momento acaba refletindo em sua aprendizagem, em seu comportamento em sala e possivelmente desencadeando um problema na aprendizagem. Segundo FERNÁNDEZ: “ao levarmos em consideração que é por meio da interação dos quatro níveis de desenvolvimento humano (orgânico, corporal, intelectual e desejante) que o sujeito constrói novas aprendizagens, também devemos considerar que a construção e a dinâmica de cada um deles sofrem a influência direta da família.”(FERNÁNDEZ, 1991, p.97) O choque entre o sujeito e essa estrutura pode acontecer quando ele toma a iniciativa para romper com esse bloco, buscando sua individualidade, essa situação de conflito pode fazer com que o sujeito apresente dificuldades na aprendizagem. Sendo assim, é preciso que tenhamos a compreensão dos papeis vivenciados pelos integrantes da família para auxiliá-los a vivenciarem situações de diferenciação, como por exemplo em uma família de pais separados. É fundamental que se rompam as amarras da indiferenciação, uma vez que a aprendizagem é uma possibilidade tanto para as crianças como para o adulto de conquistar a autonomia, sendo que esse processo pode sofrer a interferência de desejos de ordem inconsciente pela presença de sistemas familiares estruturados e estruturantes de indiferenciação, os quais são considerados terrenos próprios para o aparecimento de sintomas na aprendizagem. Reconhecer a influência da família na formação global do sujeito exige que a psicopedagogia utilize um modelo diagnóstico, baseado na diferenciação de cada um dos integrantes do grupo familiar. É importante que o psicopedagogo busque olhar a criança com a intenção de conhecê-lo por meio da família. O envolvimento familiar é de grande utilidade para esclarecer em menor tempo e com maior profundidade a etiologia do sintoma e as características de suas pautas, para FERNÁNDEZ: “Para olharmos através da família, é preciso levarmos em consideração concomitantemente os níveis individual, vincular e dinâmico, os quais se entrecruzam, por sua vez, com dois olhares: O que considera principalmente as imagens, sensações e idéias de cada um dos membros do grupo familiar, e o que a equipe terapêutica percebe. No nível individual, o atendimento esta centrado no paciente-de-signado, na sua particular interação organismo-corpo-inteligencia-desejo. No nível vinvular, esta voltado para a investigação da modalidade da circulação do conhecimento entre os membros da família. O nível dinâmico, esta destinado a esclarecer o siatema de papeis necessários para o funcionamentoe manutenção da estrutura familiar e os modelos de interação possíveis.” (FERNÁNDEZ, 1991, p.93) A ação diagnóstica tem como objetivo revelar o segredo da família, que funciona como elemento estruturante em algumas famílias, a informação vinculada com a história do grupo familiar ou estar relacionando a particularidades de um dos seus integrantes que, em geral, são ocultadas parcialmente, com a certeza de que não são desconhecidas por outros elementos do grupo. O segredo pode agir de diferentes maneiras no sujeito e a principal delas é um problema no aprendizado. O ato de guardar um segredo contribui no problema de aprendizagem no caso de crianças que sabem, mas não respondem por escrito, porque é por escrito que ela mostra que sabe. A ação de ter que sepultar uma informação, desperta a dificuldade de simbolização, de inibição cognitiva que dificultam mais as possibilidades de pensar. Se considerarmos que a família é o primeiro grupo do qual o individuo faz parte, ela passa a ter um papel importante no qual se refere ao entendimento das dificuldades de aprendizagem e na condução do processo terapêutico. A família pode ser considerada a base de todas as experiências futuras da criança, uma vez que exerce uma forte influencia sobre seus componentes, podendo facilitar ou entravar o seu desenvolvimento. Para CHAMAT: “O diagnostico das dificuldades de aprendizagem só faz sentido quando leva em consideração a leitura do significado do sintoma apresentado pela criança, na família e para esta”( CHAMAT, 1997, P.75) Para tanto é de extrema importância o educador direcionar olhar para a família do sujeito com dificuldades de aprendizado, pois a compreensão do real significado do não-aprender só se faz mediante a leitura dos papeis assumidos pelos pais e pelos filhos com dificuldades de aprendizagem, conhecendo o papel real do sujeito que se encontra impedido de construir novas aprendizagens e os reais ganhos da família, por meio dos diferentes papeis assumidos diante do problema de aprendizagem do filho, pois a ignorância do significado do não-aprender tem uma função tanto para o sujeito quanto para o grupo ao qual pertence. BIBLIOGRAFIA ACKERMAN, N. Diagnóstico e tratamento das relações familiares. Porto Alegre: Arte Médicas, 1986. CHAMAT, L. S. J. Relações vinculares e aprendizagem: um enfoque psicopedagógico. São Paulo: Vetor, 1997. FERNÁNDEZ, A. A inteligência aprisionada: abordagem psicopedagógica clinica da criança e sua família. Porto Alegre: Artes Médicas, 1991.