Nomeação responsável

Os nomes têm origem e significação, portanto nomear as pessoas representa um ato de bastante relevância que exige dos pais responsabilidade e orientação, tendo em vista que a liberdade na hora de escolher como se chamará o(a) filho(a) vem causando constrangimento a muitos indivíduos.

Ao se observarem histórias de nomeação, ou seja, circunstâncias que levaram os pais a escolherem determinados nomes para seus rebentos, notam-se razões diversificadas das quais resultam combinações nada originais envolvendo o nome do pai e da mãe, homenagens variadas, estrangeirismos inexplicáveis e desnecessários, com dobramento imprevisível de letras, além de exotismos vexatórios, como se observa, respectivamente, em Roselber, resultado da aproximação de Rose e Elber, Cruyffer, homegem a jogador holandês, Franncyelly, uso de letras dobradas desnecessariamente, e Rolando de Ladeira Abaixo, nome exótico que demonstra a falta de seriedade na hora de registrar uma criança.

É por isso que Roberto Pompeu de Toledo escreveu um artigo em que discute essa questão e chama de nome de “pobre” os estrangeirismos usados pelas pessoas humildes na nomeação de seus descendentes, uma vez que isso destaca a síndrome do colonialismo, quando tudo da metrópole era melhor do que da colônia. Assim, as pessoas costumam valorizar mais o que é de fora e se esquecem de engrandecer suas raízes culturais e linguísticas, pois pensam que o som de outros idiomas pode ser considerado mais bonito que o do português. Também pouco se importam esses ingênuos com os significados de suas nomeações, por isso caem em contradições sem saber, quando escolhem Bianca, que significa branca, para uma criança negra, ou se incomodam quando o filho Murilo é chamado de murinho, já que desconheciam que tal nome significa pequeno muro.

É claro que o critério encantamento por um nome pode ser determinante na hora da escolha, e a significação pode ser ignorada, mas uma pessoa informada e responsável não deve desconsiderar aspectos importantes diante de momento tão marcante, haja vista que o receptor do nome pode ficar infeliz com a escolha e carregar a infelicidade até o fim de seus dias, o que será um sacrifício enorme causado pelos pais e palpiteiros de plantão.

Por isso, assim como os índios, que, ao passar por determinados rituais, trocam de nome, torna-se interessante a proposição de uma lei que autorize as pessoas, ao completarem dezoito anos, a escolherem se querem continuar com os nomes que receberam dos pais ou se querem mudar.  É verdade que a lei já autoriza a mudança de nomes exóticos, quando causam vexame, e a inclusão nos nomes de elementos consagrados culturalmente, como aconteceu com Lula, que incluiu sua marca em seu nome. Mas é preciso avançar mais nessa questão, pois existem muitos sujeitos insatisfeitos com seus nomes e precisam carregar cotidianamente tais nomenclaturas, por isso mentem sobre seus nomes, quando poderiam mudar de nome, uma só vez, aos dezoito anos, isso sem falar nos indivíduos que assumem sexualidade diferente ao longo da vida, já que hoje até a troca de sexo é possível.

A ideia pode parecer estranha, mas, se for praticada, evitará muitos traumas e expandirá a democracia, pois ser obrigado a carregar a vida inteira um nome de que não se gosta é uma imposição social inaceitável, talvez por isso não seja mais obrigatório que a esposa adote o sobrenome do esposo, assim como já é possível ao marido adotar o sobrenome da mulher, uma alteração na cultura que pode gerar mais abertura nessa temática.

Outra renomeação precisa acontecer no tocante a profissões marcadas pela desvalorização. O gari, por exemplo, indispensável à saúde, pois sem o trabalho dele haveria enorme proliferação de doenças, poderia ser chamado de agente ambiental, para ganhar contexto mais atualizado e valorizado de sua atuação.   

Como se sabe, os nomes carregam significações religiosas, sociais e culturais relevantes, por isso precisam ser levados a sério por quem nomeia pessoas, profissões e até mesmo objetos, valorizando assim a responsabilidade linguística de quem se comunica por meio da linguagem verbal.

 Jean Carlos Neris de Paula